O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou nesta segunda-feira (21) que o Brasil continuará negociando com os Estados Unidos, apesar da ameaça de tarifa de 50% sobre importações brasileiras a partir de agosto. Segundo ele, a área econômica já desenvolve um plano de contingência para apoiar os setores que podem ser impactados pelas medidas anunciadas por Donald Trump. Alan Ghani e Nelson Kobayashi analisaram. Reportagem: Aline Becketty Comentaristas: Alan Ghani e Nelson Kobayashi
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00:00Vamos aqui para o Brasil porque o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou hoje que o Brasil não vai parar de negociar com os Estados Unidos em relação ao tarifaço dos Estados Unidos.
00:11Aline Beckett está de volta aqui com a gente. O que mais disse o ministro nessa entrevista, Aline?
00:17O ministro deu uma entrevista hoje mais cedo à rádio CBN em São Paulo. Ele destacou alguns pontos em relação a esse tarifaço anunciado por Donald Trump de 50% em cima dos nossos produtos.
00:33Ele chegou a destacar que o Brasil não está sozinho nessa disputa contra os Estados Unidos com relação a essa tarifa que nós enfrentamos no cenário global de dificuldades e que isso é influenciado muito ali por movimentos políticos da extrema direita.
00:49Ele falou que há uma ameaça à democracia, aos interesses nacionais, reforçando que isso tudo aqui no Brasil está associado à família Bolsonaro, que está concorrendo contra os nossos interesses nacionais.
01:03Ele chegou a dizer também que a diplomacia do Brasil segue ativa, encabeçada pelo ministro e também vice-presidente Geraldo Alckmin, que vem conversando com os setores produtivos, os setores que serão mais afetados por essa tarifa de 50% para poder buscar uma solução em relação aos Estados Unidos.
01:22A diplomacia brasileira, ela segue aí em atividade planejando essa negociação.
01:27Há um plano de contingência também, o ministro disse que o governo brasileiro já está preparando todos os cenários possíveis, aguardando também, inclusive, as respostas à carta que foi enviada aos Estados Unidos e que os Estados Unidos ainda não respondeu.
01:43Ele disse que há uma proporcionalidade e moderação, não podemos agir da mesma forma que os Estados Unidos, ou seja, não vai haver uma retaliação direta com as empresas americanas em relação a esse tarifaço.
01:56Ele descartou o PIX, disse que o PIX está fora de questão, apesar dos ruídos que foram levantados e também de uma suposta investigação realizada pelos Estados Unidos em cima do PIX, que é brasileiro.
02:09Ele disse que não há aí nenhuma medida de retaliação em relação ao PIX, está fora de questão.
02:15Em relação à lei da reciprocidade, embora a proposta seja ali por um parlamentar bolsonarista, essa lei é vista como um instrumento para poder chamar a atenção sobre a irracionalidade das tarifas,
02:29não como uma retaliação imediata que é o que muitos vêm falando, que a lei de reciprocidade só poderia ser utilizada ali no último caso, nos últimos dos últimos,
02:38quando não conseguir, de fato, fazer uma negociação com os Estados Unidos, na mesa ali, essa articulação com o governo brasileiro e o governo americano.
02:49Aí sim seria aplicada uma medida ali da lei de reciprocidade.
02:53Mas ninguém consegue conversar normalmente com o Trap.
02:56Foi o que Haddad, o ministro da Fazenda, desculpe, chegou a falar hoje nessa entrevista, que ninguém consegue ali conversar normalmente com o Trap.
03:05Em relação à meta fiscal para 2026, ele garantiu que não haverá uma revisão da meta fiscal para 2026 e que o governo vai entregar o melhor resultado fiscal nos últimos 12 anos.
03:17Em relação à diversificação de mercado, ele explicou que uma parte é significativa das exportações para os Estados Unidos,
03:25poderá ser redirecionada para outros parceiros, mas isso vai levar um tempo.
03:30As ações estão sendo feitas a nível de empresas, não de setores inteiros.
03:36Então, a gente chegou a separar um trecho da sonora do ministro Haddad sobre toda essa situação em relação ao tarifácio.
03:43Vamos ouvir.
03:45Numa situação como essa, de agressão externa injustificável, o Ministério da Fazenda se prepara, conforme eu disse, para todos os cenários.
03:54Então, nós temos plano de contingência para qualquer decisão que venha a ser tomada pelo presidente da República.
04:02Mas eu insisto em dizer, o Brasil jamais saiu e jamais sairá da mesa de negociação,
04:07porque não há compreensão da nossa parte de que essa situação perdure para benefício mútuo, tanto dos Estados Unidos quanto do Brasil.
04:19Pode ser que nós tenhamos que recorrer a instrumentos de apoio a setores que injustamente estão sendo afetados.
04:27E são setores que têm relações de décadas com os Estados Unidos.
04:34Bom, então o ministro chegou a reforçar aí que o Brasil vai continuar no campo diplomático,
04:40tentando fazer essa negociação e que a diversificação dos mercados, ela pode acontecer.
04:44Parte dessas exportações que vão para os Estados Unidos podem ser redirecionadas, mas isso leva um tempo, segundo o Fernando Haddad.
04:52Vê o Nonato.
04:53Muito obrigado, Aline Beckett, direto de Brasília.
04:56Assunto também para a gente tratar aqui com o nosso comentarista, o Alan Gani.
05:00Segue aqui no estúdio com a gente.
05:01O Gani, são várias as possibilidades aí que o ministro está dando e trazendo nessa entrevista.
05:07Por outro lado, como você citava anteriormente, o distensionamento parece distante.
05:12É, exatamente, né? Ele acabou de confirmar isso, o Nonato.
05:16O que preocupa, evidentemente...
05:18Agora, o que ele deve continuar fazendo é justamente, mesmo com a tarifa de 50%, continuar negociando.
05:26Ele não deve escalar colocando tarifas recíprocas, porque daí a gente vai dobrar o problema.
05:33Aliás, eu digo mais.
05:34Mas colocar uma tarifa protecionista contra os Estados Unidos é pior do que a gente ter uma tarifa de proteção,
05:42protecionista para exportar para os Estados Unidos, porque isso traria inflação,
05:48isso prejudicaria várias indústrias que dependem de tecnologia e equipamentos dos Estados Unidos.
05:53Portanto, a saída que tem é insistir exaustivamente no caminho da negociação,
06:01enquanto isso vai abrindo outras frentes.
06:03Ou seja, vai diversificando, vai costurando acordos comerciais com outros países,
06:09mas jamais colocar a tarifa recíproca.
06:13Inclusive, o próprio Ronald Reagan tem um vídeo aí que é emblemático, circula nas redes sociais,
06:18dizendo o seguinte, quando você coloca um protecionismo contra o outro país,
06:22dá, numa primeira impressão, uma sensação de que você tem uma vantagem,
06:27que o seu país saiu beneficiado.
06:30Mas, na verdade, é exatamente o contrário, dizendo Ronald Reagan.
06:35Ou seja, o protecionismo acomoda a indústria nacional.
06:39O protecionismo faz com que essa indústria viva de subsídios do governo,
06:44traz inflação para o país.
06:46Portanto, o Brasil não deve aplicar tarifas recíprocas,
06:50seguindo a receita do próprio Ronald Reagan.
06:53E falando em tarifas recíprocas, né?
06:55A gente sabe que o governo tem já à mão a lei da reciprocidade.
06:59Mas, então, nesse primeiro momento, o Brasil não deveria ir por aí, né?
07:04Mas deveria ficar com ela na manga ali o tempo todo para negociar nessa tentativa de,
07:09olha, eu tenho aqui a lei da reciprocidade, mas vamos tentar negociar,
07:13vamos achar um caminho que seja bom para os dois lados.
07:16Soraya, legal a sua pergunta.
07:17Eu acho que é uma arma, né?
07:19Você ter essa carta na manga, é uma arma muito pequena.
07:22Porque, ok, para os Estados Unidos também se acaba prejudicando,
07:25colocando tarifas contra eles,
07:27mas é uma arma perto do que os Estados Unidos podem fazer com a gente.
07:33É uma arma pequena.
07:34Portanto, você pode, sim, deixar na manga,
07:37mas sem utilizar um som, um tom beligerante contra os Estados Unidos.
07:43E sempre buscar o caminho da conciliação.
07:46Quer dizer, você vai só para o tom mais beligerante como a última opção.
07:52Caso contrário, mantenha o caminho diplomático e mantenha também a abertura a outros mercados.
07:58Vamos lembrar que quando os Estados Unidos colocam 50% contra o Brasil,
08:01eles também estão saindo no prejuízo.
08:04Essa leitura aqui que eu estou tentando passar para a nossa audiência, por quê?
08:09Porque você está encarecendo produtos para a população dos Estados Unidos.
08:14No caso, produtos ligados ao agronegócio.
08:18Portanto, o protecionismo é um remédio que volta contra si mesmo.
08:21Pode virar contra a própria força da economia americana.
08:24Agora, Nelson Kobayashi, diante disso tudo que o ministro Haddad falou nessa entrevista na manhã de hoje,
08:31tem também a questão política em relação ao presidente Lula.
08:35Porque muitas vezes o presidente Lula está em algum reduto com os seus apoiadores
08:40ou em algum tipo de inauguração ou algo desse gênero,
08:43e desanda a falar de improviso, e a coisa acaba não tendo sintonia com aquilo que o ministro está pregando.
08:49E talvez nesse momento o ideal seria você ter um discurso único, não, Kobayashi?
08:52Sim, mas parece que não há. Não há um discurso único.
08:55O presidente Lula tem um discurso muito mais incisivo, mais crítico às ações do presidente americano
09:00do que o vice-presidente, o ministro da Fazenda e alguns outros do governo
09:04que estão tentando resolver pela via diplomática.
09:06O presidente Lula é naturalmente um analógico na era digital.
09:10E quando ele fala ali para a sua plateia, talvez não tenha de pronto a dimensão
09:14de que de imediato essa informação já chega nos Estados Unidos.
09:18Então, ele que se acostumou a fazer discurso para os estudantes nos encontros da UNE,
09:22para os militantes sindicais nos encontros dos sindicatos, a mesma coisa para o MST,
09:29falando para a plateia em outra época, hoje ele precisa considerar que o que é dito por ele
09:34chega no mesmo tempo, em tempo real, também para o mundo todo.
09:39E em relação aos efeitos políticos disso tudo que está acontecendo,
09:42talvez o presidente Lula até queira que, de fato, a taxação entre em vigor.
09:47Porque, politicamente, tirando de fora dessa análise todo o impacto negativo econômico no Brasil,
09:55politicamente ele está ganhando com isso.
09:57Porque, para a maior parte da população, tem se entendido que isso vai ficar na conta do Bolsonaro.
10:03Aliás, o presidente Lula está insistindo nesse discurso de empurrar o efeito negativo de tudo isso
10:08para a conta do Eduardo Bolsonaro e do Jair Bolsonaro.
10:12E isso serve a ele para aquela retroalimentação da polarização,
10:16o discurso polarizante que eleva a chance dele para 2026,
10:21que é o voto de rejeição do outro, de rejeição ao Bolsonaro.
10:25E ele, como antagonista, se vale disto.
10:28Claro que ele pensa também, politicamente, porque, pela primeira vez nesse Lula 3,
10:32isso foi que a chave virou positivamente, nas redes sociais em especial, para o presidente Lula.
10:38Tanto que as pesquisas mostram aí, na última semana, um freio na onda de impopularidade
10:42e, pela primeira vez, ele consegue resgatar a popularidade que tanto precisa para a campanha de 2026.
10:49Jair Bolsonaro, presidente Lula, ambos estão enxergando nisso, nessa crise, uma oportunidade,
10:54mas quem está surfando melhor essa onda é o presidente da República, o presidente Lula.
10:57Mas, Ocoba, você acha que essa janela de oportunidades, se a gente pode dizer assim, ela se sustentará?
11:05Tudo vai depender, né, Soraya?
11:07Neste momento, tem dado certo do ponto de vista eleitoral, simplesmente eleitoral falando.
11:12E aí, da fala do ministro Fernando Haddad, que a gente viu há pouco,
11:16ficou uma dica ali, deu a entender, que talvez o governo já esteja pensando
11:21em alguma política pública econômica de compensação para o setor mais afetado.
11:27Talvez algum programa para garantir o emprego da indústria do aço,
11:30talvez algum programa de subsídio para os produtores de laranja, enfim.
11:36Esse governo não tem vergonha, nem cautela nenhuma, de dar subsídio, de dar apoio, de criar programa.
11:41Depois eles fazem até uma votação para isso sair fora da contabilização do arcabouço fiscal.
11:47Então, talvez seja mais uma oportunidade aí de se criar um programa
11:51para capitanear o enredo político necessário para o presidente Lula para 2026.