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  • há 5 meses
O aroma adocicado e forte exala ocupando todo o espaço próximo do bacuri. Apesar de ser menos conhecida que o cupuaçu e o açaí, o bacuri possui um lugar especial no coração dos paraenses. A fruta herança indígena se encontra na Amazônia e em parte de alguns estados do Nordeste brasileiro. A polpa é conhecida por ser a matéria-prima, principalmente de doces e sorvetes.

Na Amazônia, a colheita da fruta está diretamente associada a sistemas agroflorestais, que ajudam a preservar a floresta e colaboram na renda de comunidades tradicionais.

Reportagem: Vito Gemaque
Imagens: Thiago Gomes
Edição: Karla Pinheiro (Supervisão Tarso Sarraf)

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Transcrição
00:00Primeira questão é mencionar que o bacuri é uma das nossas frutas mais apreciadas,
00:08é um produto da nossa sociobiodiversidade amazônica,
00:12ela ocorre mais nesta parte oriental da Amazônia,
00:16aqui pegando um pouco do Maranhão e um pouco do Amapá,
00:20mas sobretudo no nosso estado, do Pará,
00:22e é uma fruta apreciadíssima, uma fruta nobre,
00:27uma fruta muito especial, pelo seu sabor, pela sua textura,
00:34pelo seu simbolismo e importância para o nosso povo amazônida.
00:42É uma fruta que eu digo que é especial também,
00:45porque a sua safra ocorre num período muito curto,
00:51num período muito pequeno, específico, entre final de dezembro
00:56até fevereiro, março.
00:59Então, quando é o momento da produção do bacuri,
01:03as pessoas costumam correr às feiras, aos mercados,
01:08porque eu digo que é uma fruta que chega e acaba muito rapidamente.
01:13O bacuri é considerado uma fruta azeda, vamos dizer assim, né?
01:19Procicada para um sabor mais incorpável.
01:25É uma fruta que é muito importante para a nossa imunidade,
01:29porque é riquíssima em vitamina C,
01:33que é uma vitamina fundamental para o combate de viroses,
01:39ajuda na nossa imunidade.
01:42Ela também é riquíssima em fibras naturais,
01:46e isso fortalece o nosso sistema digestivo, imunológico.
01:53É também uma fruta que tem características fundamentais
02:03e importantes para o regime nutricional
02:05para o combate de doenças,
02:08sobretudo doenças contagiosas, viroses, bactérias.
02:13E é utilizada em diferentes receitas da nossa culinária maravilhosa amazônica,
02:26mas ela é apreciada sobretudo na forma de sucos,
02:30cremes, geleias, doces.
02:35Eu costumo dizer também que a gente tem uma característica muito nossa,
02:39muito particular, que é o nosso soco, o nosso soco de fruta.
02:45Então, geralmente, eu vejo isso na Universidade Federal do Pará,
02:50tem um rapaz que vende soco.
02:52No de baturi é o que primeiro se acaba, né?
02:55É um soco muito especial.
02:58Mas há também quem faça cervejas artesanais,
03:01como baturi, licor.
03:04Então, há muitas maneiras de você se utilizar
03:09desse fruto, desse produto da nossa sociodiversidade
03:14na nossa culinária.
03:17E, culturalmente, ela tem uma importância muito grande
03:21para a economia, para a cultura paraense, amazônica.
03:26Primeiro porque ela gera renda,
03:29sobretudo para as comunidades extrativistas.
03:32Isso é um primeiro ponto.
03:34Segundo, porque ela é muito apreciada
03:37na nossa cultura alimentar,
03:38na nossa culinária paraense.
03:41É com o baturi que a gente faz muitas receitas,
03:44sobretudo licor,
03:47cerveja,
03:49creme,
03:50nosso amado soco de baturi,
03:53doces,
03:54compotas, geleias.
03:57E há quem faça
03:58outras criações, do ponto de vista
04:00gastronômico,
04:02utilizando como base
04:03a polpa do baturi
04:05para bolos,
04:07tortas e outras
04:08preparações
04:11aqui no nosso estado.
04:15E o baturi,
04:17também, ele é consumido
04:18tradicionalmente.
04:20Há quem goste
04:21de consumir esse fruto
04:23in natura,
04:25tirando diretamente
04:26a polpa do caroço
04:28e consumindo,
04:30geralmente,
04:30com farinha d'água
04:31e um pouco de açúcar.
04:33Mas há quem também
04:34consuma sem o açúcar.
04:36Eu, particularmente,
04:38sou apaixonado por
04:39o baturi.
04:39Ele também tem uma importância
04:41cultural,
04:42do ponto de vista,
04:43simbólico,
04:45no manejo
04:46que as populações fazem
04:48desse produto
04:50da sociobiodiversidade
04:52nas suas regiões,
04:54nos seus territórios.
04:56A coleta do baturi
04:57é algo impressionante
04:59e impõe
05:00uma dinâmica cultural,
05:03uma questão identitária,
05:05que as famílias
05:06se reúnem,
05:07crianças,
05:08mulheres,
05:08homens,
05:09jovens,
05:10para fazer a coleta.
05:12Geralmente,
05:12essas famílias saem
05:13de madrugada,
05:14debaixo de chuva,
05:16para fazer a panha
05:17do baturi.
05:18nas áreas
05:21de baturizais.
05:22Então,
05:23o baturi,
05:24ele tem uma importância
05:25também nessa construção
05:26de saberes,
05:28nessa construção
05:29de identidade
05:31dessas populações.
05:32E o processo
05:33de coleta,
05:36que é apanhado
05:37no chão,
05:37o baturi,
05:38ele não se tira da água,
05:39ele é retirado,
05:41coletado no chão.
05:43Até chegar em Belém,
05:44ou nas grandes cidades
05:46da nossa região,
05:47tem todo um processo
05:48dinâmico
05:49que envolve
05:50trabalho,
05:51que envolve cultura,
05:52que envolve saberes,
05:54que envolve,
05:54por exemplo,
05:55a construção
05:56da importância
05:57do nosso paneiro,
05:58porque muitos
05:59desses baturiz
06:00são construções
06:00carregadas
06:02nos nossos paneiros,
06:03que são feitos
06:04também de fibra vegetal,
06:06geralmente de guarumão
06:07ou de miritinho.
06:10Então,
06:11é preciso ter todo um conhecimento
06:14tradicional
06:15para fazer também
06:17essa coleta,
06:18o uso,
06:19o manejo
06:20e mesmo
06:21o beneficiamento
06:22para que a gente receba
06:24aqui nos nossos mercados,
06:26nas nossas feias,
06:27ou ele no fruto,
06:28in natura,
06:29ou ele já
06:30beneficiado inicialmente
06:32em forma de poupa.
06:33Se a gente pensar
06:34o bacuri como um todo,
06:36ele vai ter
06:3710% de poupa,
06:4020% a 30%
06:41é caroço,
06:42o resto
06:42é tudo casca.
06:44Então,
06:45quando você
06:46retira,
06:47raspa
06:47essa poupa
06:49fibrosa,
06:51branca,
06:52perfumada,
06:53você vai ter
06:54uma quantidade
06:55muito pequena
06:56do que a gente chama
06:57de carrosidade
06:58do fruto.
06:59Então,
07:00isso,
07:01só para você ter
07:01ideia,
07:02se a gente
07:04pensar
07:04um quilo
07:05de poupa,
07:06um quilo
07:06de poupa,
07:08ele vai ter
07:08geralmente
07:1050 frutos.
07:13Ou seja,
07:14para você ter
07:15um quilo de poupa,
07:16você vai ter que
07:16manejar,
07:17beneficiar
07:1850 frutos.
07:21Então,
07:21quando as pessoas
07:22geralmente
07:23em Belém
07:24dizem que o bacuri
07:25é uma fruta
07:25cara,
07:27é preciso a gente
07:28refletir
07:28toda uma
07:30um bastidor
07:31que tem
07:31por trás
07:32disso,
07:33que são
07:33as famílias
07:34na ilha
07:35do Marajó
07:35principalmente,
07:37que saem
07:37de madrugada,
07:38vão coletar
07:39esse fruto,
07:40depois beneficia,
07:41transforma em
07:42poupa,
07:43e até chegar
07:44em Belém,
07:44ele passa
07:45por diferentes
07:46etapas,
07:46que envolvem
07:48transporte,
07:49que envolvem
07:49o armazenamento,
07:51que envolvem
07:51todo o manejo
07:54para que a gente
07:55tenha esse fruto.
07:56Então,
07:57eu costumo dizer
07:57que o bacuri
07:58não é caro,
07:59a gente precisa
08:00valorizar.
08:01Agora,
08:02também é importante
08:03falar que
08:04há o processo
08:05dos atravessadores.
08:07Eu só
08:08consumo
08:08um bacuri
08:09na minha casa
08:09com prazo
08:11diretamente
08:11das comunidades
08:12quilombolas
08:13da ilha
08:13do Marazó,
08:14com as quais
08:15eu tenho
08:16relação
08:16de pesquisa,
08:18de atividades
08:19de estudo.
08:20Então,
08:20se você
08:20me perguntar
08:21por quanto
08:22eu compro
08:23um quilo
08:24de polpa
08:24de bacuri
08:25pura,
08:26agroecológica,
08:28sem trabalho
08:29escravo,
08:30sem degradação
08:31da natureza,
08:33você vai
08:34ficar assustado.
08:35E se a gente
08:35pensar quanto
08:36custa um quilo
08:37de polpa
08:38de bacuri
08:38nos nossos
08:39supermercados,
08:40supermercados
08:41na região
08:42metropolitana,
08:43é um absurdo.
08:44Além de tudo,
08:45não são puras.
08:47Aqui,
08:48nesse contexto
08:48que eu estou
08:49a lhe dizer,
08:50a gente compra
08:51a polpa
08:52pura.
08:53eu digo que
08:53não é nem
08:54polpa,
08:54é a fruta
08:55tirada
08:56e colocada
08:57no saco.
08:58Como as populações
08:59dizem,
08:59com os filhos,
09:01que são aqueles
09:01gomos
09:02da polpa.
09:04Esse preço,
09:05ele pode variar
09:06de R$ 25
09:07até R$ 80,
09:09sendo que
09:11essa de R$ 25,
09:12R$ 30,
09:13é a melhor,
09:14é a mais pura,
09:16é ecologicamente
09:16correta,
09:18e essa de R$ 80,
09:19é a que eu
09:20jamais compraria.
09:21O bacuri,
09:22ele tem
09:22uma distribuição
09:23muito específica
09:25para a região
09:25do Nordeste
09:26Paraense,
09:27a nossa região
09:29do Salgado
09:30também produz
09:31muito ali,
09:32Bragança,
09:33Marapani,
09:34Maracanã,
09:35Viseu,
09:37aquela região
09:38ali de
09:39Tracuateua,
09:40o nosso Salgado,
09:42vamos dizer assim.
09:43A região
09:45aqui também
09:46do Nordeste
09:46Paraense,
09:47a Ilha do Marajó
09:49produz bastante
09:50bacuri.
09:51E agora,
09:53tem também,
09:54foi,
09:55essa coisa
09:57do deslocamento,
10:00também tem uma produção
10:01muito boa
10:02no Maranhão,
10:03e há relatos
10:05de produção
10:05também no Piauí,
10:07no Amapá
10:07também tem um pouco.
10:09E geralmente,
10:10uma árvore,
10:11ela produz
10:12por safra
10:13em torno de
10:13400
10:14a 500
10:16cruz.
10:17Então,
10:18gera um desgaste
10:19muito grande
10:20para a árvore,
10:22esse esforço
10:23de produzir
10:24uma boa safra,
10:26e as comunidades
10:27nos ensinam
10:28que geralmente
10:29uma safra,
10:30aquela árvore
10:31produziu muito,
10:32na outra,
10:32ela produz menos
10:33por conta
10:34desse desgaste.
10:37de hoje
10:37a 12 anos,
10:39nessa árvore.
10:40Porque é uma árvore alta,
10:43ela geralmente
10:43tem 25 metros,
10:46precisa também
10:47da importância
10:50da polinização,
10:52porque ela
10:52tem uma floração
10:54muito bonita,
10:55cor de rosa,
10:56e precisa
10:58das abelhas,
10:59dos pássaros,
11:01beija-flor,
11:03pássaros que vão
11:04fazer a polinização
11:05de uma flor
11:06para outra,
11:07que é para produzir
11:08o frio.
11:08A sustentabilidade
11:10não somente
11:11da produção,
11:14do manejo,
11:15mas a sustentabilidade
11:17do trabalho.
11:19É a importância
11:20de a gente
11:21compreender
11:22que a nossa
11:23identidade
11:24paraense,
11:24a nossa identidade
11:26amazônica,
11:27ela passa
11:28pelo consumo
11:29desses frutos
11:30que são nossos.
11:32Eu costumo dizer
11:32que o Batoria
11:33está aqui,
11:34no nosso território,
11:35no nosso espaço.
11:36Não é uma fruta
11:37que vem de São Paulo,
11:38que vem de outros lugares
11:39estantes,
11:40que vai atravessar
11:41o país
11:42de carro,
11:43poluindo,
11:44ou que é uma fruta
11:45que vai ser forçada
11:47em uma produção
11:47no cultivo,
11:49artificial.
11:50Não.
11:50Ela está
11:51no nosso território,
11:53as comunidades
11:54fazem esse manejo,
11:55fazem essa coleta,
11:57não há uso
11:58de veneno,
11:59você não vai
12:00consumir
12:01um produto
12:02com agrotóxico,
12:04você não vai
12:05consumir um produto
12:06com trabalho escravo,
12:08com fatores
12:11da industrialização,
12:13mas você vai
12:14estar produzindo
12:15uma fruta
12:16que é tipicamente
12:17amazônica,
12:18é nossa,
12:19de um sabor
12:20único,
12:21de uma textura
12:23fantástica,
12:25eu mesmo
12:26sou um grande
12:27apreciador.
12:28Na minha casa
12:29de janeiro a dezembro
12:30você vai encontrar
12:31Pacuri,
12:32porque eu faço
12:33o meu estoque,
12:35além de pesquisador,
12:37também
12:37nós que fizemos.
12:38e ele
12:43não vai
12:45sair
12:45de
12:58uruguai,
12:59não vai
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