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Samuel Pessôa, economista e pesquisador associado do FGV Ibre, explica a relação existente entre investimento público em educação básica e aumento da produtividade na indústria e comércio, que aumenta a competitividade entre empresas e alavanca a economia em países mais desenvolvidos.

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Transcrição
00:00O que o Brasil tem que fazer para recuperar essa produtividade que, como você bem colocou, está estagnada há anos?
00:08Olha, a gente, se nós estivéssemos tendo essa conversa 30 anos atrás, não saberia direito como te responder.
00:16Teria algumas intuições, mas seriam algumas intuições, nada mais do que isso.
00:21Nos últimos 30 anos, a academia internacional e doméstica também, a gente tem hoje ótimos economistas acadêmicos produzindo papers e tal.
00:32Hoje a gente entende muito mais desse tema do que há 30 anos atrás.
00:36E a gente pode dizer o seguinte, Luiz.
00:38Primeiro, a diferença de renda entre países está associada à diferença de produtividade.
00:45País que é rico é rico porque uma hora trabalhada produz muito.
00:49em unidades físicas da produtividade não é um conceito monetário.
00:54Produtividade é um conceito físico.
00:57É a quantidade de bens que você produz por hora trabalhada, bens e serviços.
01:02País rico é rico porque o trabalho tem uma produtividade alta, país pobre é pobre porque a produtividade do trabalho é baixa.
01:08Então a gente tem que entender isso.
01:10E acho que hoje tem um razoável consenso na literatura
01:14de que metade da diferença de produtividade em país rico e país pobre
01:20são habilidades embutidas no trabalhador.
01:24E a outra metade é a qualidade do marco legal e institucional regulatório que tem no país.
01:34Então a metade embutida no trabalhador está associado a habilidades que a gente chama cognitivas,
01:41coisas que a gente aprende na escola fundamental.
01:45Ler bem um texto, escrever bem, se expressar bem em linguagem falada,
01:51saber matemática, saber resolver problemas e saber se comunicar em linguagem matemática.
01:58Então essas são as habilidades analíticas que a gente usa no mercado de trabalho.
02:02Quem não sabe isso direito não vai ser um trabalhador bem.
02:05Bom, mas além dessas habilidades que a gente chama habilidades analíticas
02:09e elas a gente aprende na escola, tem outro conjunto grande de habilidades
02:13que não são analíticas, são chamadas de habilidades socioemocionais
02:17que também são necessárias, que as pessoas passem por um processo
02:22de educação fundamental, formal, para ter essas habilidades.
02:29A gente não sabe, a gente não nasce com capacidade de ter persistência.
02:35Você desenvolve, treinando.
02:38A gente não nasce com capacidade de aguentar frustração.
02:42A gente não nasce com capacidade de comportamento coletivo,
02:48trabalhar em grupo, liderança e capacidade de cálculo prospectivo.
02:53Tudo isso que eu falei aqui são habilidades que o psicólogo chama de habilidades socioemocionais
02:59que são desenvolvidas na escola fundamental de qualidade.
03:04E a combinação das habilidades socioemocionais com as habilidades analíticas
03:09que estão embutidas no trabalhador, elas explicam metade da diferença de produtividade
03:14entre país rico e país pobre.
03:15A outra metade é a qualidade de marco legal regulatório.
03:21O que isso quer dizer?
03:22Significa ter uma legislação tributária e trabalhista
03:27que não discrimine, que gere uma boa alocação do capital e do trabalho.
03:34É assim, vou te dizer o que isso significa.
03:37Vamos pegar um setor da economia.
03:40Por exemplo, esse copo aqui.
03:42Tem uma empresa que produz copos.
03:43Tem uma planta que produz copos.
03:46Se eu comparar um país pobre, um país rico,
03:49eu posso pegar todas as plantas, as fábricas que produzem copos.
03:52E para cada fábrica, eu posso calcular a produtividade do trabalhador naquela fábrica.
03:58Então, sei lá, o Brasil tem mil fábricas, vou ter mil dados de produtividade.
04:02Estados Unidos tem mil fábricas, vou ter mil dados de produtividade lá.
04:06O que a gente aprendeu nos últimos 15, 20 anos?
04:10Quando eu comparo as melhores empresas brasileiras,
04:14elas são tão boas quanto as melhores americanas.
04:16A diferença é que nos Estados Unidos, todas as plantas são as melhores.
04:22Ou seja, a dispersão de produtividade do trabalho entre todas as plantas que produzem copos
04:27é pequenininha.
04:29Tem algum processo naquela sociedade que as plantas que não são produtivas, elas morrem.
04:35E aí o capital e trabalho saem delas e vão para as plantas produtivas.
04:38De sorte que, ao longo do tempo, só sobra aquelas empresas, aquelas plantas muito produtivas.
04:44Nos países subenvolvidos, em particular na América Latina,
04:49as melhores plantas são tão produtivas quanto as americanas,
04:52mas a gente tem uma massa gigantesca de empresas muito pouco produtivas
04:57que o processo competitivo não as elimina.
05:01Isso que eu falei agora, tirando uma foto de um setor,
05:05isso também aparece quando eu olho o ciclo de vida das empresas.
05:08Ou seja, empresas mais velhas, elas deveriam ser maiores.
05:15Mais produtivas é maiores, porque as menos produtivas vão fechando
05:20e o trabalho e o capital vão para as mais produtivas.
05:24E, de fato, você pega países ricos, tem uma correlação positiva
05:28em tempo de vida da planta e a quantidade de trabalhadores que ela tem.
05:33Isso no mesmo setor.
05:34No Brasil e no México, não.
05:36Não existe uma correlação entre o tempo de vida da planta e a quantidade de trabalhadores.
05:41Ou seja, tem alguma coisa no nosso marco legal, institucional,
05:45legislação trabalhista, tributário, judiciário,
05:48que faz com que o ineficiente sobreviva.
05:54E você não tem esse processo saudável
05:56em que os fatores de produção, o capital e o trabalho,
06:00eles vão saindo das empresas ineficientes
06:03em direção às empresas eficientes.
06:05Grosso modo, essas duas coisas explicam
06:08por que uma hora trabalhada no Brasil
06:10produz, Luiz, cinco vezes menos
06:14do que uma hora trabalhada nos Estados Unidos.
06:17Agora, um ponto também que deve ser considerado
06:20é uma economia muito fechada.
06:21Nós temos uma economia muito fechada
06:23com toda essa complexidade que você já mencionou,
06:26trabalhista, tributário,
06:27que realmente tem impostos cumulativos,
06:30tudo isso que distorce demais a competitividade.
06:33Mas nós somos uma economia muito fechada.
06:34Ah, não há a menor dúvida.
06:36Esse processo que eu falei
06:37de estimular que os fatores de produção
06:41saiam dos lugares pouco produtivos,
06:43das empresas,
06:44e vá para as boas,
06:45de alta produtividade,
06:48esse processo,
06:48estar conectado com o mundo
06:51é um dos mecanismos essenciais
06:54para que esse processo ocorra.
06:56Se não, ele não ocorre.
06:57Fica aqui uns monopólios aqui,
07:00tudo ineficiente,
07:01sem haver uma contestação
07:04com a produção internacional.
07:06E, certamente,
07:07a agenda de abertura da economia
07:10é a dos itens essenciais
07:12para aumentar a produtividade
07:13da economia brasileira.
07:15Acho que um tema
07:16que as pessoas sempre falam,
07:18a gente esquece.
07:19As pessoas falam
07:19não, a gente tem que agregar valor,
07:21temos que ir para os setores
07:23tecnologicamente mais eficientes e tal.
07:26Agora, em 1980,
07:27a economia brasileira
07:29era praticamente autossuficiente.
07:32A gente produzia tudo aqui.
07:34Eu já olhei os dados
07:35de importação em 1980.
07:40Tirando trigo e petróleo,
07:42a gente naquela época
07:42não produzia trigo,
07:43não tinha ainda trigo tropical,
07:45a gente está caminhando
07:47para ficar nos autossuficientes
07:48em trigo,
07:49incrível,
07:50e não produzíamos petróleo
07:52no volume que nós produzimos hoje.
07:54Então, tirando trigo e petróleo,
07:56se você pegasse,
07:57o total que o Brasil importava
07:59era 3% do PIB.
08:01Se você fizesse a mesma conta
08:02para a União Soviética,
08:04lembra?
08:04União Soviética,
08:05fechadona, comunista,
08:07a importação da União Soviética
08:08era 3% do PIB.
08:10Então,
08:10a gente era tão fechado
08:12quanto a União Soviética.
08:13A gente produzia os carros,
08:14produzia todas as máquinas,
08:17a gente importava
08:17um pouquinho de chip,
08:18um pouquinho de química fina,
08:21tudo mais a gente fazia aqui dentro.
08:23E a produtividade era ridícula.
08:26Então,
08:26essa história
08:27que produtividade é indústria,
08:30ou setores tecnologicamente sofisticados,
08:33não necessariamente.
08:34A gente já foi super industrial,
08:36já produzimos tudo
08:37que era tecnologicamente sofisticado,
08:39e éramos tão improdutivos
08:41quanto somos hoje,
08:45com um bem-estar bem menor.
08:47Então,
08:48o tema
08:49é fazer o que a gente fizer bem,
08:53e o que a gente não sabe fazer bem,
08:55a gente compra.

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