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DiversãoTranscrição
00:00O que é que tem a ver o salão lotado com o meu pulmão?
00:28Tem a ver que quando você para de fumaça fica irritada e fica dando bronca em mim e brigando com as freguesas também.
00:33Não estou irritada, que saco. Não estou nada irritada.
00:35Marilda! A placa!
00:37Reflexo condicionado.
00:39Vou manter minhas mãos ocupadas.
00:42Oi, querida.
00:45Oi, querida.
00:46Vamos lá.
00:48Marilda, você vai cortar o cabelo da dona Carmen?
00:52É isso que uma cabeleireira faz, né? Corta o cabelo da dona.
00:55Parece que ela vem aqui só pra fazer uma tintura.
00:57Ah, é? Agora é tarde.
00:59Deixa, deixa, deixa que eu cuida da dona Carmen. Marilda, você está muito irritada.
01:03Não, não estou irritada.
01:05Não, você está mais que irritada, né? Você está uma pilha.
01:07Não estou uma pilha.
01:09Mas está ficando, né?
01:10Claro, agora eu vou ficar irritada.
01:12Porque não há nada que deixar uma pessoa mais irritada do que outra pessoa dizendo que ela está irritada quando ela não está irritada.
01:15Pronto, agora eu fiquei irritada.
01:17Ai, Marilda!
01:19Ai, minha filha, meu Deus!
01:21O que eu fiz aqui?
01:23Você arrancou um tufo de cabelo da dona Carmen.
01:27Gente, olha, chega!
01:29Chega, desculpa, olha.
01:31Desculpa, chega.
01:33Está proibido pintar cabelo.
01:35Está proibido pintar cabelo.
01:37Está proibido fumar.
01:39Está proibido fumar.
01:41Está proibido fumar.
01:42Mas hoje é bem no sábado, você está louca.
01:45Estou louca pra fumar.
01:47Você não devia ter comido o último pedaço de pudim que eu pedi pra Nenê guardar pra mim.
01:54Deixa de ser assim.
01:55Não foi você que comeu o último pedaço, agora meu estômago está aqui dizendo
01:58eu quero um pudim, eu quero um pudim, o que eu vou falar pra ele?
02:01Que confusão é essa que vocês estão fazendo aí?
02:03Eu acho que você vai ter que dizer pro seu estômago que a sua mãe passou a perna em nós dois.
02:09Não acredito, você está comendo o último pedaço do pudim?
02:13Está comendo o último, mas já comeu o primeiro, o segundo, o terceiro.
02:16Oh, Linê, eu vou vim cá, o que você está querendo dizer com isso?
02:19Que você está comendo doce demais, Nenê, parece formiga.
02:22Está me chamando de gorda?
02:23Claro que não, Nenê, você não está gorda.
02:25Mas não merecia estar.
02:27Obrigada, muito obrigada, vocês conseguiram estragar meu dia.
02:31Parabéns.
02:32Você comeu o pudim inteiro, também conseguiu. Parabéns.
02:36Ai, Marilda, ai Marilda.
02:39Marilda, ainda bem que você chegou, Marilda.
02:41Mas eu sou péssima.
02:42Ai, você acha que está péssima? Não está não, quem está péssima sou eu.
02:45Eu estou tentando, eu estou tentando parar de fumar.
02:50Só que eu não estou conseguindo.
02:52Está entendendo? Eu não consigo.
02:54E olha que eu só tentei as técnicas mais mirabolantes que você possa imaginar.
02:58Eu penso no pulmão preto, fedendo, podre.
03:01Eu faço promessa. O que você está fazendo, Nenê?
03:04Hum.
03:07Comendo um bombom.
03:08Comendo doce uma hora dessa? Parece formiga.
03:11Você me chama de gorda, Marilda?
03:13A gente vai falar do seu problema ou do meu problema?
03:15Ai.
03:17Ai, desculpa.
03:19Desculpa, Marildinho.
03:20Você tem toda a razão.
03:21Toda a razão.
03:22Vamos falar do seu problema.
03:24Marilda, para resolver o seu problema, você tem que ter força de vontade.
03:29Não, mas é por isso que eu vim aqui.
03:30Eu quero que você me ajude a fazer a minha vontade ter força, entende?
03:35Eu queria que você me vigiasse, que é para eu não fumar.
03:38Faz isso para mim.
03:39Claro que eu faço, Marilda.
03:41Obrigada.
03:43Verdade difícil.
03:47O que você está fazendo?
03:48Não.
03:49Eu só vou fumar esse cigarro, que é para ele não ficar rejeitado.
03:52E depois eu não vou fumar nunca mais.
03:54De jeito nenhum.
03:55Deixa eu ver.
03:56Não, não, não, não, não, não, não, não.
03:58Nunca mais.
03:59Você parou de fumar e não vai fumar nem esse cigarro.
04:02Eu não acredito que você jogou meu último cigarro fora.
04:06E se você parou de fumar, para que você quer o último cigarro?
04:08Porque eu ia guardar de lembrança.
04:11Ah, sei muito bem.
04:13Você ia guardar de lembrança em forma de fumaça dentro do seu pulmão.
04:16Eu não ia fazer isso. Eu parei de fumar.
04:20Parabéns, Marilda.
04:22Parabéns.
04:27O que é isso?
04:28Ah, gostinho.
04:30Hum, chegou o grande momento, amor.
04:32Do quê?
04:33Do nosso pacto de amor.
04:35Pera aí, Bebel.
04:36Sapadeza aqui na minha pastelaria é nem pensar, hein?
04:39Ai, Bessola.
04:40Que?
04:41Não é nada disso, não.
04:42Nada de sapadeza, não.
04:43Sabe o que que é?
04:44Eu e o Tinho, a gente vai fazer uma tattoo.
04:46Eu vou tatuar Tinho e ele vai tatuar Bebel.
04:49Ah, é?
04:50Eu só queria estar lá pra ver o Agostinho se borrar inteiro.
04:54Pensa o quê, Bessola?
04:55Pensa o quê?
04:56Eu tenho medo disso não.
04:57Vou tatuar Maria e Isabel.
04:58Ah, é?
04:59Bem grande.
05:00É, Maria e Isabel.
05:01Eu estava lá pra ver.
05:02Vamos lá no Tinho.
05:03Aonde?
05:04No tatuador.
05:05Agora?
05:06Não dá.
05:07Eu não disse.
05:08Amarelou.
05:09Marilda, não.
05:10É que agora é hora de expediente.
05:11Hoje é sábado, Agostinho.
05:12Sábado você nem trabalha.
05:14Não.
05:15Você trabalha, ó.
05:16Só que a Marilda fechou o salão.
05:18Enchei, mas vou reabrir.
05:20Vambora, trabalha.
05:21Ai, Marilda.
05:22Mas agora eu já arranjo outro compromisso.
05:24Marilda, aqui está o seu maço de cigarro.
05:29Obrigada, parei de fumar, Bessola.
05:31De novo?
05:32Dessa vez é pra valer.
05:33Ah.
05:34Bessola, se a Marilda falou que ela parou de fumar, ela parou de fumar, tá?
05:38Eu tenho certeza, Marilda?
05:39Você não vai querer nem um varejinho?
05:41Não, bebê, olha...
05:42Aliás, você pode sair com o Agostinho, não...
05:44Marilda, que aí?
05:45Não pode, não.
05:46Ela é sua funcionária.
05:47Ela tem que trabalhar.
05:48Eu vou liberar ela, imagina.
05:50Não vou atrapalhar o programa de vocês.
05:52Pode ir, gente.
05:53Se ela falou que tá liberado, tá liberado.
05:56Vambora, Nino.
05:57Tchau, Marilda.
05:58Tchau, Marilda.
05:59Marilda.
06:00Troco pra dez ou pra cinco, hein?
06:02Hã?
06:09Ô, Nenê, tosse de leite, goiabada, isso aqui não fazia parte da nossa lista de compras.
06:15Ah, Nenê, a lista de compras é assim mesmo, não serve pra nada.
06:18A gente sempre compra muito mais do que tá na lista.
06:20E o nosso orçamento vai pra cucuia porque você está virando uma viciada em triglicerídeos e glicose.
06:25Você tá me chamando de gorda de novo?
06:27Eu falei a palavra gorda por acaso, Nenê?
06:29Não, mas você falou triglicerídeos e glicose que é o nome científico pra gorda.
06:33Bebel, você não devia estar no salão?
06:38Vivia.
06:39Ela não quer me ouvir?
06:40A marida me liberou, pai do trabalho.
06:42Num sábado?
06:44Isso tá me cheirando a fumaça.
06:47Ai, meu Deus.
06:48Eu não consegui parar de fumar, eu vou me matar.
06:54Também, se eu for me matar, eu prefiro morrer de cigarro.
06:59Que morre mais devagar, a pessoa pode morrer fumando.
07:02Não vou fumar.
07:06Tá me olhando, né, cigarro?
07:12Tá me olhando, tá me chamando, tá doido pra ser fumado, né?
07:16Tá me olhando com essa cara de vítima aí.
07:18Só pra eu não cumprir meu juramento.
07:20Eu vou fumar você, só pra você não ficar triste, tá?
07:28Coisinha da mamãe. Coisinha linda da mamãe.
07:33Meu Deus!
07:36Tudo bem, Nenê?
07:38Eu que pergunto, né? Tudo bem, Marilda?
07:41Tá me vigiando, né? Tá me espionando?
07:44Não, não tô não. Por quê?
07:46Você tá desconfiando que eu tô desconfiando de você?
07:49Não. Você achou que eu ia fumar?
07:51De jeito nenhum, Marilda.
07:53Eu confio inteiramente na sua força de vontade.
07:57Então, o que você vem fazer aqui?
07:59O que eu vim fazer aqui?
08:01Cortar o cabelo.
08:15Traição, Agostinho! Isso é traição!
08:17Traição é você não ter me tratado com carinho naquela hora que o sábado não ajuda e ficar me dando bronca.
08:22Por que vocês estão brigando?
08:23Não pergunta que eles respondem, povosão.
08:25Sabe o que o Tinho fez? Ou melhor, o que ele não fez?
08:28Marisabel, vamos discutir sem a sua família?
08:30Olha aqui, pai. Olha aqui. Eu fiz essa tatua aqui com o nome dele pra provar o meu amor por ele.
08:37Agora pergunta pra Agostinho...
08:39Onde é que tá a tatuagem dele?
08:41Vamos começar esse assunto dentro de casa, por favor.
08:43Agora ele tá com vergonha.
08:45Mas na hora de desmaiar na cadeira do tatuador não teve.
08:47Hummm... Desmaiou na cadeira do tatuador!
08:51Não desmaiou aí, não desmaiou aí. Fiquei só um pouco nervoso.
08:54É que a tatuagem é um processo doloroso.
08:57É que mano é doloroso, povosão. Não fiz essas duas aqui, não deu não foi nada.
09:00Essas bobaginas, mas a tatuagem que eu ia fazer é enorme.
09:03Essa aí é...
09:04A tatuagem que ele ia fazer era minúscula. Ele queria tatuar só o B.
09:08B? B de quê?
09:10Ou de boiola ou de broche.
09:12Não, B de B. É quando eu chamo a sua irmã na intimidade. Não é B?
09:17Não. B de besta que eu sou de acreditar que você ia tatuar alguma coisa por mim.
09:22Não chama de frouxo?
09:23Tô!
09:25Então você me desculpe pela vergonha que eu fiz você passar lá, mas eu queria dizer a você que isso não é nada.
09:30Comparado com a vergonha que você está me fazendo passar aqui agora.
09:35É, pode ser. Mas a pior coisa para uma mulher é saber que o amor dela não vale uma tatuagem.
09:49E a pior coisa para o homem é ser chamado de frouxo na frente de outro homem.
10:01Opa, caiu um bobo no chão.
10:03Ei, ei, ei, ei, ei, ei. O que você está fazendo com esse cigarro na mão?
10:07Esse aqui? Deve ser alguma cliente que deixou cair no chão. Vou botar aqui para jogar fora depois.
10:11Não, não, não, não. Deixa.
10:12Eu jogo, pode deixar que eu jogo fora. Não vai sobrar nada. E aqui vamos ficar só nós duas. E nada, nada para alimentar o seu vício.
10:25Nadinha, pois é. Vem cá que vou te botar no secador, que eu tenho que ir lá no correio e botar uma carta.
10:30Para quem? Para uma tia minha, tadinha, velhinha, que se sente muito sozinha.
10:34Ah, Marildinha, eu também estou me sentindo tão sozinha.
10:37Ah, não, fica aqui comigo. Fica aqui no salão comigo. Não me deixa sozinha, não.
10:40Mas Nenê é minha tia Eufrásia.
10:42Ô, Marildo, desde quando você teve uma tia Eufrásia?
10:45É que eu sou uma sobrinha muito desnaturada, entende?
10:48E aí me bateu uma culpa, menino, um negócio assim de repente?
10:53Ô, ô, pera, ô, ô, Mar... Marildo? Marildo? Marildo? Marildo?
10:59Olá. Dá um varejo aí.
11:01Não posso. Eu estou proibido de vender cigarro para você, Marildo.
11:03O quê? Proibido? Quem te proibiu de vender cigarro?
11:06A dona Nenê.
11:08Veio comprar cigarro pra tia Eufrásia?
11:16Nenê, você proibiu o Beixola de me vender cigarro, eu não sou criança, nenê.
11:19Você não me pediu pra ficar no teu pé?
11:21Então, eu tenho que te vigiar, tenho que ficar no teu pé.
11:24Não, mas eu sim me controlar, eu vou fumar só um, tá?
11:26Aham, e mais outro, e mais outro, e mais outro.
11:29Né, Marilda?
11:31Você não tem a menor força de vontade, né?
11:33Olha quem fala, você também não tem a menor força de vontade de ficar esse tupido de doce o dia inteiro.
11:37É, eu, eu paro de comer doce quando eu quiser.
11:40É, é o que toda viciada diz, né?
11:41Ah, que, ô, ô, Marilda, viciada é você, tá bom?
11:44É, eu posso até ser viciada, mas pelo menos o meu vício não engorda.
11:48Você tá, você tá me chamando de gorda na frente do Beixola?
11:54Tá bom, Marilda.
11:56Desculpa eu ter ficado no teu pé, tá bom?
11:58Ó, não vai mais se ouvir falar no assunto, tá?
12:02A gorda vai pra casa pra se entupir de doce e até explodir.
12:07Nossa, Marilda, você pegou pesado.
12:16Pode ser, mas a pior coisa pra uma fumante é ser chamada de viciada.
12:20E pra uma mulher a pior coisa do mundo é ser chamada de gorda.
12:24Marilda, troco pra dez ou pra cinco.
12:27Esta família é muito unida
12:44E também muito orçada
12:50Brigam por qualquer razão
12:55Mas acabam pedindo perdão
12:59Pirraça pai, pirraça mãe, pirraça filha
13:01Eu também sou da família, também quero pirraçar
13:04Catuca pai, catuca mãe, catuca filha
13:06Eu também sou da família, também quero catucar
13:09Catuca pai, mãe, filha
13:11Eu também sou da família, também quero catucar
13:13Tchau, tchau.
13:43O que aconteceu?
13:46Uma tragédia.
13:48Eu engordei 900 gramas.
13:51Só isso, Nenê?
13:52Você acha pouco?
13:54Nenê, 900 gramas não é nem um quilo.
13:57É quase um quilo, Lineu.
13:59Você está exagerando, Nenê. Um quilo não é nada.
14:01Eu estou uma baleia.
14:04A marida tem razão.
14:06Ela disse que você está uma baleia?
14:07Ela não disse isso, mas nem precisava.
14:10Eu estou uma baleia.
14:11Eu estou uma baleia, baleia.
14:12E uma baleia viciada.
14:14Ai, meu Deus, como é que me aconteceu isso?
14:16Essa é a pior coisa que podia ter me acontecido.
14:23Alô?
14:25Ah, como vai?
14:27É, tá.
14:28Não, está aqui. Sim.
14:30Não, está aqui do meu lado.
14:33É, um momentinho, por favor.
14:35Nenê?
14:36A Marilda quer fazer as pazes com você.
14:39Espero que eu não falo com quem me chama de gorda.
14:43Marilda, olha, mandou dizer que não pode atender agora porque está com a boca cheia.
14:47Está certo.
14:49Ai, meu Deusinho, você não podia ter falado isso, Nenê.
14:52Você que tem que parar de se contradizer.
14:54Reclama que está gorda e não para de comer doce.
14:56Ai, meu Deus.
14:58Nenê, esse aqui é o meu problema, Nenê.
15:00Quando eu fico nervoso, entendeu?
15:01Não dá vontade de comer doce, doce, doce, doce.
15:04Não, Nenê, você tem que ter um pouco de força e de vontade, não é?
15:06Ai, meu Deusinho, me ajuda.
15:08Pelo amor de Deus.
15:09Ajuda a minha vontade a ter força.
15:11Me vigia.
15:12Não.
15:12Me vigia.
15:13Eu não vou comer mais doce, Nenê.
15:14Não faz isso por mim, meu Deus.
15:15Esse negócio de vigiar não dá certo.
15:17Você e a Marilda inventaram isso e terminaram brigado.
15:19A Marilda, ela tentou me enrolar, mas eu não vou.
15:22Não vou, eu aproveito com você.
15:24Tudo bem.
15:24Não vou.
15:25Então, para começar, joga fora esse pedaço de doce que você está comendo.
15:28Não, Nenê, isso aqui é só despedida.
15:30Nenê!
15:32Ai, meu Deus.
15:33Ai, meu Deus.
16:03Nenê nunca vai me perdoar?
16:22Como é que eu fui chamar a minha melhor amiga de gorda?
16:24Pior eu, né, Marilda?
16:26Você amei meu marido de frouxo.
16:27Mas a Nenê tem mais razão para não me perdoar do que o Agostinho tem para não te perdoar.
16:31Por que é pior ser gorda do que frouxo?
16:34Não, porque a Nenê não é gorda, o Agostinho é frouxo.
16:37Ô, Marilda, não chama meu marido de frouxo, né?
16:39Uma pessoa que desmaia porque viu uma agulha é o quê?
16:42É macho, Marilda, é macho, tô aqui eu para provar em carne, osso e tatuagem.
16:47Você tatuou meu nome no braço, Tinho?
16:51Meu amor!
16:52Agora eu quero ver alguém dizer que eu não sou macho, faz negócio de homem de macho,
16:55de botar homem de mulher.
16:56Tá entendendo?
16:58Marilda, fecha o olhei que agora vai rolar um babado aqui que tu nunca viu.
17:01Ai, eu tô chocada.
17:02Não, ela tem as coisas que tu nunca viu, Marilda.
17:06Ah, é?
17:06Ah, é?
17:07É, coisa brava.
17:08A hora da sobremesa é a pior hora para mim.
17:13Engraçado, para mim é a melhor hora.
17:15Ai, a hora que me dá assim, mas...
17:17Nossa, mas me dá uma vontade de comer doce.
17:20Falar em doce, qual é o doce que nós temos para a sobremesa?
17:22Não vamos ter doce para a sobremesa.
17:25Como a Nenê precisa ter força de vontade, fazer um regime,
17:28os doces estão proibidos nesta casa.
17:30Ei, mas isso não é justo, ela tem que ter força de vontade.
17:32É justo, sim, senhor.
17:34Nós temos que ajudar a Nenê a ter força de vontade.
17:37É, boa.
17:38Enquanto vocês ficam aí discutindo,
17:40eu vou dar um pulinho lá no correio para botar uma carta.
17:43Para quem?
17:44É, para a dona Eufrase, que é uma tia que a Marilda tem,
17:47que tadinha dela, ela vive tão sozinha.
17:49Dona Eufrase?
17:50Mãe, você nunca falou dessa tia da Marilda antes?
17:53Vê como eu tô em falta com ela, né, Tuco?
17:58Eu vou com você.
17:59Ô, ô, ô, Nenê, você tá desconfiando de mim?
18:01Não, Nenê, porque assim eu aproveito e passo no Beixola
18:04e compro a minha cerveja.
18:05Boa ideia.
18:06Eu também vou lá, vou jogar o sinuquinha.
18:08Por que vocês não vão?
18:09Vão vocês, eu fico aqui.
18:11Ô, mãe, mas e a dona Eufrase?
18:13Ué, eu não fico sem doce, ela fica sem carta.
18:16Ah, tá bom.
18:18Tchau, gente.
18:21Tchau.
18:21Procurando doce para mandar para a tia Eufrase?
18:44O que você tá fazendo aqui, Leneu?
18:46Tô fazendo combinado, Nenê.
18:47Não vou deixar você comer doce nenhum.
18:49Ah, Leneu, mas quem que ia comer doce, Leneu?
18:51O que é isso?
18:52Isso aqui é a minha caixinha.
18:53A caixinha assim só tem, ó, botão, agulha, Leneu.
18:56Só tem isso mesmo, porque o bombom com recheio de trufa não está mais aí.
19:00Leneu!
19:02Cadê os bombons?
19:03O que acabou aqui, Leneu?
19:04Eu recolhi tudo, Nenê.
19:05E não adianta procurar também no armário do banheiro,
19:07porque eu já tirei os doces de lá também.
19:09Leneu, você não tinha o direito de fazer isso.
19:11Que saco!
19:12Você acha que eu sou criança, né?
19:14É você que pediu para vigiar você, Leneu.
19:16Mas não que você mexesse nas minhas coisas, não, tá, Leneu?
19:18Ai, que coisa!
19:19Você parece até um...
19:21Um fiscal.
19:22Você esqueceu que casou com um fiscal?
19:24E modéstia à parte?
19:25Muito bom.
19:26Ai, um fiscal muito cri-cri, né, Leneu?
19:30Fiscal que acha que tem que fazer tudo certinho, tudo certinho, né?
19:32E o que a minha mania de fazer tudo certinho tem a ver com o seu vício em doce?
19:35Ô, Leneu, você acha que você não tem defeito, né?
19:37Mas essa sua mania também é um vício, sabia?
19:40Ai, Leneu, ai, que tem lógica que ninguém te suporta, nem eu!
19:44Você está me chamando de chato, Leneu?
19:46Tô!
19:48Eu nunca devia ter chamado você de frouxo, Tia.
19:52Você é o meu herói, meu amor.
19:54Pô, doeu pra caramba, galera.
19:55O cara embotava agulha, enfiava firme, eu fazia...
19:58Uau!
19:58O cara enfiava firme?
19:59Enfiava firme, pô, um negócio enorme, ele enfiava.
20:03Tia!
20:03Aí o cara ia pra parar, eu falava, não, isso aí é prova de amor.
20:08Enfia mesmo, o cara lascando, e diz aí, te amo pra caramba, prova de amor.
20:11Ó, eu vou passar agora uma pomadinha no meu maridinho, tá?
20:14Não, isso aí é pomada, não.
20:16Não, não é pra passar tomada, não.
20:18Isso aí é coisa de frouxo.
20:19Tomada, Tia, pomada.
20:20Não, é tomada, não precisa, é coisa de frouxo.
20:23Não, isso aqui é essa pomadinha que me indicou, foi aquela minha amiga Mary Tatu, que é toda tatuada, sabe?
20:27Porque é pra não inflamar, ó, eu passei na minha, quer ver, ó?
20:30Tá, ficou muito bom.
20:30Ó, não inflamou, tá vendo?
20:32Eu queria botar você toda de ti, coisa maravilhosa.
20:34Imagina, tá ótima essa, vai, vamos passar pra não inflamar.
20:37Não deixe inflamar, se inflamar é bom, que dói, eu lembro do amor enorme que eu passei.
20:42Não, não, mamô, a gente fez pacto de amor, não foi de dor.
20:45Não, não, bebê, não passa isso não, tô te falando numa boa, não passa.
20:50Agostinho, ó, o que que é isso?
20:52Tá vendo o que você fez?
20:53Você manchou a minha tatuagem toda, vou ter que refazer ela de novo.
20:56Tatuagem, não mancha, isso é falso.
20:58Falso não, era provisório.
21:01Seu frouxo!
21:13O que que é? Vem brigar comigo? Vou ficar mais arrasada ainda.
21:17Ai, Marildinha, você que que é?
21:20Eu vim aceitar o seu pedido de desculpas, é que agora eu entendi o que aconteceu com você, Marilda.
21:25Marilda, você sabe que eu queria parar de comer doce, aí eu pedi pro Lineu me vigiar.
21:31A gente acabou brigando.
21:32Mas você não tem que parar de comer doce, você não tá gorda, eu é que tenho que parar de fumar.
21:37Marilda, quanto cigarro você fumou desde que a gente brigou?
21:40Até agora nenhum.
21:41Ah, Marilda, que maravilha, Marilda, você é uma vitoriosa.
21:46Você acha?
21:46Claro, Marilda, a batalha contra o vício a gente ganha assim, dia após dia.
21:52Ai, menina, você me ajudou muito, obrigada.
21:54Não, imagina, imagina, Marildinha, você que você tem força de vontade, você que é uma mulher assim...
22:00Pronto, tá aqui, Marilda.
22:01Ai, não, o que que é isso?
22:02Ai, Berson, quem que mandou você trazer isso?
22:04Foi a Marilda que pediu.
22:06É que eu preciso manter a boca ocupada pra não fumar, né?
22:10Marildinha, não dá pra você manter a boca ocupada longe de mim?
22:13Não, não dá não, é doce, corta a vontade de fumar, entendeu?
22:16Eu vou comer esse pão doce aqui que é pra não fumar.
22:19Marilda, Marildinha, isso é uma tortura pra mim, Marildinha, pelo amor de Deus.
22:24Ai, eu não comi nenhum bombonzinho desde que eu acordei.
22:27Ué?
22:27Ai, eu tô com uma vontade louca de comer doce.
22:30Não, você tem que ter força de vontade, eu tive, não come não.
22:32Ai, Marilda, grande vantagem você ter força de vontade, você trocou um vício pelo outro, assim, até eu.
22:38Não troquei vício nenhum, poxa.
22:40Ah, é?
22:41Tá bom, o beijo só lá.
22:43Você não tinha me arrumar um cigarro?
22:45Mas, Dane, a senhora não fuma.
22:47É, mas agora eu passei a fumar.
22:49É que eu preciso manter a minha boca ocupada pra não comer doce.
22:52Aqui, aqui.
22:57Pronto.
23:02Nossa, agora que eu entendi por que é tão difícil largar o vício do cigarro, né?
23:09Acalma.
23:11Tu tá me provocando, né, Nenê?
23:14Ué, você não tem força de vontade?
23:17Pessoal, ela me traz aquela bandeja de sonho que tá lá dentro, que eu já vou me entupir de açúcar.
23:21Ô, Marilda, um doce em borde, hein?
23:24É, pelo menos o meu pulmão vai ficar limpinho.
23:26É, mas a sua pança vai ficar cheia.
23:29É, é, poçuda, fumacenta.
23:31Poçuda é você, tá legal?
23:33Calma, calma, calma.
23:34Não, calma, calma, calma.
23:35Vou comer o quê?
23:35Vai sim, vai ficar.
23:36Pera, amor de Deus, calma, gente.
23:37Não sabe nem fumar, fuma.
23:39Ah, não sabe nem a confeição.
23:42Não, não, não.
23:43Não, não.
23:43Não, não, não.
23:51Quer um cafezinho, Lineu?
23:57Não, obrigado.
23:59O chato não quer nada.
24:01Um suquinho de laranja?
24:03Não, obrigado.
24:04O chato está com azia.
24:08Ai, Lineuzinho, vamos conversar um pouquinho?
24:11Não, obrigado.
24:12O chato está chateado.
24:14Ai, Line, eu faço qualquer coisa pra você me desculpar.
24:18Qualquer coisa?
24:19Qualquer coisa.
24:21Então, jogue fora essa balança.
24:38Ai, Lineuzinho, como é que eu vou me pesar?
24:40A ideia é justamente essa, Nenê.
24:42Eu quero que você esqueça essa preocupação com o peso.
24:46Eu posso me pesar pela última vez?
24:48Nenê!
24:49Onde é que você estava até essa hora, hein, Agostinho?
25:06Eu estava por aí, normal, fazendo nada.
25:08Só rodando normal.
25:09Tia, acho que a gente tem que conversar, né?
25:13É.
25:13Vem cá comigo.
25:14Ai, ai, ai!
25:15Ai, ai, ai, ai, ai, ai!
25:16Ô, ai!
25:18O que foi, Agostinho?
25:19O que aconteceu com o seu braço?
25:21Não, nada.
25:22Só foi o que eu dei uma pacada.
25:24Que nada.
25:24Fala a verdade.
25:25Fala a verdade.
25:27Vou pegar, senão fala a verdade.
25:29Eu tenho que falar um negócio sério.
25:30Fala.
25:31É o seguinte, eu voltei lá naquele tatuador que eu estava disposto a enfrentar e fazer
25:38uma tatuagem, mas eu não aguentei a dor.
25:42Aí ele fez uma letra só, foi o que eu aguentei, só uma letra.
25:47Esse eu quero ver.
25:49Deixa eu ver.
25:50Mostra.
25:52Mostra.
25:53Ué, Tinha, não é uma verruga, não?
25:58Não, é um B.
25:59É?
25:59B de bebel, ó.
26:01Viu?
26:03Ai, Tinha, é um B.
26:05É, é um B.
26:06É de verdade?
26:07É.
26:07Hum, não está doendo?
26:08Não.
26:10Ah, meu amor, você me ama de verdade.
26:12Você não fica zangada de ser tão pequenininha?
26:15Imagina, Tinha, não importa ser pequenininha.
26:17Não, né?
26:17Não importa que é amorosa.
26:19É, é.
26:20Simpática.
26:21Demonstra o seu amor por mim.
26:22Às vezes tem coisa pequena que dá show.
26:25Então, nem tudo que é pequeno não é bom.
26:27Como você, por exemplo.
26:28Não, pequenininha, mas linda.
26:30É.
26:50O jantar está terminando e eu...
26:52Eu tive a menor vontade de comer doce.
26:54Não, você deveria ficar feliz por isso.
26:56Ai, como é que eu vou ficar feliz, Leneu?
26:58Eu briguei com a minha melhor amiga.
27:00Se você não está, eu estou.
27:02Porque pelo menos sobrou por dia.
27:03Ai, que tragédia!
27:05Olha.
27:08O que foi que aconteceu?
27:10Embordei 900 gramas.
27:11Ai, que susto, Marilda.
27:13Só isso.
27:14Você acha pouco?
27:15Eu acho.
27:16900 não é nem um quilo.
27:17Ah, mas é quase um quilo.
27:18Em compensação.
27:19Você parou de fumar.
27:20É, mas eu não consigo parar de comer doce.
27:21Socorro, o neném me ajuda.
27:23Não, não.
27:23A gente brigou.
27:25Aliás, Marilda, a gente está brigada.
27:27Se vocês estão brigadas, por que vocês estão se falando?
27:29Como é que a gente vai brigar sem se falar?
27:31O melhor era vocês pararem de brigar.
27:34Eu também acho.
27:35Também acho.
27:35Ô, Marildinho, vamos fazer um pacto?
27:38Eu não vigio você.
27:39E você também não me vigia.
27:41Tá, eu toco.
27:42Ah, não dou desculpa tudo que eu falei, tá?
27:44Não, não.
27:44Eu que te peço desculpa, Marildinho.
27:46Você quer comer um negocinho, um jantar com a gente?
27:48Não, eu já comi.
27:49Aceito um docinho.
27:50Marilda!
27:51Você disse que não ia me vigiar.
27:52Ô, Marilda, você não tem força de vontade, hein?
27:55Infelizmente, eu não tenho.
27:56Sou igualzinha a você.
27:57Não, eu não.
27:58Eu parei de comer doce.
27:59Mas não parou de brigar comigo, né?
28:01Não, você que está brigando comigo, Marilda.
28:03Acho que o Cui está reclamando, já que eu não tenho força de vontade.
28:05Não tem mesmo.
28:05Está pedindo doce.
28:06Não vai.
28:07Eu vou levar embora.
28:07Se você não tem força de vontade, eu não parei de fumar.
28:11Eu parei de fumar.
28:12Olha essa calda!
28:14Me dá mais um pedaço.
28:15Me dá um pedaço.
28:17Menê, você é ruim.
28:18Menê, a criatura parou de fumar.
28:22Eu parei de fumar.
28:23Vai de medar esse doce.
28:25Vai de medar esse doce.
28:25Vai de medar essa aqui.
28:27Vai de medar essa cabeça.
28:28Eu não vou comer.
28:30Eu também vou comer.
28:32Eu também quero tatucar.
28:33Vai de medar essa cabeça.
28:34Vai de medar essa cabeça.
28:35Eu também sou da família.
28:36Eu também quero tatucar.
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