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  • 05/07/2025
O Fórum do Brics começa neste fim de semana no Rio de Janeiro. O professor de relações internacionais Marcus Vinícius de Freitas comenta o que está em jogo, os temas prioritários e as possíveis implicações geopolíticas do encontro.
Apresentadores: David de Tarso e Patrícia Costa
Entrevistado: Marcus Vinícius de Freitas

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Transcrição
00:00E o presidente Lula participa de Fórum Empresarial do BRICS, daqui a pouco no Rio de Janeiro,
00:06onde deve discutir temas estratégicos, como transição energética, descarbonização da economia.
00:12E para falar sobre isso, a gente recebe no Jornal da Manhã de hoje o Marcos Vinícius de Freitas,
00:17professor de Relações Internacionais. Bom dia, professor Marcos.
00:22Entre as propostas aí que serão discutidas é a criação de uma moeda comum,
00:26defendida inclusive pelo presidente Lula. O senhor acredita que é viável economicamente nesse momento atual?
00:34Veja, a situação toda é que nós precisamos e nós observamos um momento de desdolarização global,
00:43em razão do fato de que os Estados Unidos, como dizem os franceses,
00:49abusaram muito deste privilégio exorbitante da moeda que tem e que conseguem aí
00:56impor sanções, impor várias restrições a seu bel prazer.
01:02Os Estados Unidos, ao longo da história, já impuseram mais de 8 mil sanções ao redor do mundo.
01:07E é por essa razão que se busca aí um processo de criar alternativas.
01:13O euro já pretendeu fazer isso no passado.
01:16Eu acho difícil, neste momento, você criar uma moeda comum,
01:21porque você teria de levar em consideração vários aspectos,
01:26não somente de política monetária, mas também de política fiscal,
01:30que é o grande problema que o euro enfrenta,
01:34pelo fato de ser uma moeda comum, mas com políticas fiscais diferentes.
01:39Mas o que nós entendemos, e isso é importante de ver,
01:43é de que, de fato, o bloco já tem uma moeda comum,
01:46que é o R&B, que é a moeda da China, porque a China é o principal parceiro comercial
01:52de todos os países, se eu não me engano, do BRICS.
01:56E isso faz com que os países agora possam também começar a comercializar
02:02entre si utilizando não somente as moedas locais, mas também o próprio R&B.
02:07Agora, o importante neste processo todo é de que, eventualmente,
02:11se possa criar também mecanismos digitais de transferência de moeda.
02:17E isso, sim, é uma possibilidade a ser criada mais para frente,
02:20ao longo do processo, só que com os devidos cuidados para impedir
02:26que esta moeda e esta criação não se transforme aí,
02:30não somente numa afronta ao dólar, mas que cria aí problemas para os países membros.
02:36Então, é nesse sentido que é necessário cautela, mas é mais do que evidente
02:42de que existe um momento e um movimento de desdolarização global
02:46justamente pelas políticas adotadas pelos Estados Unidos.
02:49E faz sentido que o BRICS, como o maior bloco comercial do mundo hoje em dia,
02:54e paridade e poder de compra, estabeleça aí as suas alternativas nesse sentido.
03:00Marcos, muito bom dia.
03:04Agora, eu gostaria de conversar com você sobre a questão política também,
03:07de que forma que a gente pode interpretar os últimos movimentos do presidente Lula.
03:11Porque, ainda há pouco, a gente mostrou aqui no Jornal da Manhã,
03:14o governador de São Paulo, Tarsísio de Freitas, falando que,
03:17dependendo do alinhamento, ele pode ser perigoso.
03:19E de que forma que a gente pode interpretar as últimas ações do presidente
03:23em relação ao contexto desses encontros que ele promoveu, principalmente na Argentina?
03:30A questão do Mercosul é uma questão complexa,
03:33porque eu acho que o Mercosul deveria dar um passo atrás
03:36no sentido de deixar de ser um mercado comum e ser uma área de livre comércio
03:41para que os países do Mercosul tenham a liberdade de fazer, justamente,
03:47acordos comerciais com países mais relevantes dentro do contexto global.
03:52Interessaria, por exemplo, a Uruguai fazer um acordo comercial com a China.
03:55E até mesmo o Brasil faria muito sentido que isso viesse a acontecer.
03:58Agora, na frase do governador, não é que pretende aí uma projeção internacional,
04:05o aspecto que ele aborda é ultrapassado neste processo,
04:10porque aqui nós devemos reconhecer que existe uma movimentação global em direção à Ásia.
04:18E nós não estamos sozinhos nisso, né?
04:20O mundo inteiro busca parcerias comerciais com China, com os países da ASEAN,
04:26e é ali que você vê o crescimento econômico.
04:29Você querer continuar na aposta, na crença de que Estados Unidos,
04:34a União Europeia fornecerão aí a capacidade de crescimento econômico
04:39que o Brasil precisa nos próximos anos,
04:41é não levar em consideração a realidade atual do mundo.
04:44Então, neste sentido, o presidente Lula tem adotado uma visão que corresponde à realidade atual.
04:52Se ele faz isso da melhor maneira possível,
04:55aí você pode ter várias discussões com relação à política, não é?
04:59Mesmo dizer que os bancos não tendem a impor condicionalidades com relação à austeridade
05:04parece um tanto equivocada no discurso dele,
05:06porque isso faz parte de instituições financeiras que precisam ter esse tipo de adoção,
05:14senão serão desconsideradas sérias neste processo todo.
05:17Então, o presidente Lula acerta na medida, que é justamente o foco na Ásia,
05:22e talvez erre e erra também neste processo todo de fazer isso acontecer.
05:29Agora, querer acreditar que o mundo vai continuar do jeito que está,
05:33uma aposta no G7 e dizer que essas parcerias do Brasil são prejudiciais,
05:38é um equívoco que denota justamente uma falta de conhecimento da realidade global.
05:44Então, talvez isso que o governador devesse dar uma olhada com mais cuidado
05:49e concentrar-se mais em entender aquilo que se passa na Ásia
05:52para ver a movimentação global efetivamente.
05:56Professor Marcos Vinícius, está aqui conosco também a nossa comentariasta Mônica Rosenberg,
06:02que tem uma pergunta para o senhor. Mônica?
06:04Bom dia, professor. A minha pergunta é sobre ideologia.
06:08A revista The Economist, nesta semana, postou uma reportagem
06:11dizendo que o Brasil está se tornando irrelevante
06:14exatamente por essas movimentações do presidente Lula,
06:17que a gente percebe que são muito mais ligadas à sua ideologia pessoal,
06:22às suas crenças políticas, do que ao interesse do Brasil como país
06:26que deveria ser protagonista aí na diplomacia internacional.
06:30E o ápice disso foi ele estar na Argentina e ir visitar uma condenada
06:36que está cumprindo prisão domiciliar e não fazer uma visita oficial ao presidente Milley.
06:41O senhor acredita, professor, que esta é uma tendência mundial,
06:45que agora eles vão, os líderes mundiais vão estar olhando apenas as suas ideologias
06:51da pessoa física, do político, e esquecendo que eles são agora PJ
06:55e que ocupam um cargo e que deveriam estar sendo chefes de Estado
07:00e não apenas aquele político ativista militante?
07:04Veja, bom dia, Mônica, é um prazer conversar com você sempre.
07:09Veja que aqui não é uma questão ideológica somente com relação
07:15àquilo que acontece na aproximação do Brasil com alguns países.
07:20A China é uma realidade global, independentemente de discurso político
07:26ou de ideologia, porque se fôssemos basear somente nesse critério
07:31de aproximação por ideologia, os Estados Unidos não teriam
07:35uma relação comercial com a China desde que eles retomaram
07:40as relações bilaterais na década de 70.
07:43Então, a questão que prevalece não é a ideológica,
07:47mas é a questão de interesses de longo prazo.
07:51Agora, quanto à visita do presidente do Brasil,
07:54a Cristina Kirchner e esse tipo de processo,
07:56claro que existem aí erros diplomáticos quando se confunde a pessoa física,
08:02como você mencionou, com a pessoa jurídica.
08:04E, obviamente, também nós temos aí um presidente Milley
08:08que não ajuda nesse relacionamento bilateral, infelizmente, com o Brasil.
08:13Então, o grande desafio sempre é compreender que as relações
08:17são entre Estados e não entre indivíduos.
08:19E faz sentido para o Brasil estender aí, se quer continuar relevante internacionalmente,
08:27estender e ampliar o seu aspecto de relações econômicas.
08:32Senão, nós nunca compraríamos petróleo da Arábia Saudita,
08:36senão, nós nunca teríamos relacionamento com Israel
08:39em relação à aquisição de novas tecnologias,
08:42senão, nós não teríamos relacionamento com a França,
08:45justamente pelo passado colonial.
08:46Então, a gente não pode levar essa questão ideológica
08:49e eu acho que isso não é o fundamento de tudo nesse processo todo.
08:54Agora, o que cabe aí ao presidente é entender
08:56que quando ele age como pessoa física,
09:00ele deve deixar isso muito claro,
09:02que não é o governo do Brasil que está apoiando ali
09:04a Cristina Kirchner nesse movimento,
09:07mas é ele, Lula,
09:08e isso explicar para a população nesse processo todo.
09:11Agora, que a relação com a Argentina anda deteriorada
09:14pela questão do presidente Milley
09:16e também que o Mercosul já não faz mais sentido há muito tempo,
09:21isso é uma verdade.
09:23Marcos, eu vou seguir aqui com a entrevista,
09:25agora com o Túlio Nassa, nosso analista.
09:29Bom dia, professor.
09:31Deixando um pouco de lado a questão ideológica,
09:34vamos para os aspectos mais práticos.
09:36Mês passado, o presidente Lula esteve com o presidente Macron na França,
09:41tentando negociar um acordo que, diria eu,
09:45que traria uma certa novidade,
09:47que é furar o bloqueio,
09:49o protecionismo francês,
09:51em relação principalmente aos seus produtos agrícolas.
09:54Diante desse contexto,
09:56dessas posições que o Lula vem adotando
09:58aí no cenário multilateral,
10:00você acredita que é possível romper
10:03com essas barreiras francesas?
10:05É possível avançar nesse acordo?
10:07É um acordo muito importante para o Brasil, né?
10:10É, mas é impossível de acontecer, né?
10:13Porque a Europa é um continente
10:16que passou pela questão da fome
10:18e países que enfrentaram a questão da fome
10:21jamais vão terceirizar a sua questão agrícola.
10:24Isso é ainda uma insistência que nós temos,
10:27já faz mais de duas décadas
10:29que nós estamos negociando isso.
10:31e é por essa razão que nós estamos aí
10:34justamente fazendo uma negociação
10:36de cunho ideológico,
10:37achando que a relação econômica do Brasil
10:40com a União Europeia
10:41vai dar um salto, assim, substancial
10:44em razão deste acordo.
10:45E a verdade dos fatos é de que isso não vai acontecer,
10:48até porque, se nós olharmos,
10:50a Europa é um continente que enfrenta
10:52enormes desafios econômicos
10:54depois da guerra da Ucrânia
10:56e que não vai aí melhorar economicamente.
11:00A Europa vai caminhando rapidamente
11:02numa direção de irrelevância
11:05do ponto de vista econômico
11:07comparado àquilo que nós vemos,
11:09por exemplo, na Ásia.
11:11Então, a perda de tempo com este acordo
11:14já deveria até ter sido uma posição no Brasil
11:17de abandonar esse acordo
11:19e justamente buscar acordos
11:21em outras partes do mundo,
11:22por exemplo, o Sudeste Asiático.
11:24Se você reparar,
11:26a própria China,
11:27que tinha na União Europeia
11:29uma grande parceira econômica
11:32nos últimos anos,
11:33passou a enfatizar a importância
11:34de um acordo comercial,
11:36e o fez,
11:37com os países do Sudeste Asiático,
11:39que são menores,
11:41mas que estão em franco crescimento
11:42e a quem interessa
11:44ter relações comerciais
11:45com outros países do mundo.
11:47Então, o afago que o Brasil faz
11:50ao Macron,
11:51aos europeus,
11:53nesse sentido,
11:54não está mais justificado
11:55porque o ganho que nós vamos ter
11:57não será assim tão substancial
11:59neste processo todo.
12:01No passado,
12:01a gente já tentou fazer isso,
12:02até o Brasil queria comprar os Rafales,
12:05se você lembrar,
12:06como uma forma de o Brasil ali
12:09agradar os franceses
12:11para que o acordo comercial
12:12pudesse ser feito mais rapidamente.
12:14e nós vimos naquela curta guerra
12:17entre Paquistão e Índia
12:20o quão ineficientes são os Rafales
12:22numa questão bélica e de guerra.
12:25Então, faz muito sentido
12:26que nós busquemos aí
12:27ampliar a questão comercial,
12:31não do ponto de vista ideológico,
12:33porque, como dizia Lord Palmer,
12:35primeiro-ministro britânico,
12:37nas relações internacionais
12:38você não tem inimigos perenes,
12:40amigos perenes.
12:41A única coisa que é perente
12:42são os interesses.
12:44E o Brasil,
12:45um país que precisa crescer economicamente,
12:48que precisa de infraestrutura,
12:51que precisa ajustar-se
12:53a uma nova ordem econômica internacional,
12:56pode aí e deve justamente
12:59ampliar os olhos
13:00e sair desta mentalidade colonial
13:02de subserviência,
13:04tanto Estados Unidos como Europa,
13:06aquilo que nós chamamos de Ocidente,
13:07justamente para crescer economicamente.
13:09Obrigada, professor Marcos Vinícius de Freitas,
13:13ele que é professor de relações internacionais,
13:15obrigada pelos seus esclarecimentos aqui
13:17e tenha um bom fim de semana.
13:19Obrigado,
13:20prazer conversar com vocês sempre.

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