O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, afirmou nesta terça que um ajuste artificial da taxa básica de juros poderia produzir mais inflação e corroer o poder de compra dos mais pobres.
O economista, que tem sido alvo de ataques de Lula e do PT, disse o seguinte em evento promovido pela Crescera Capital, em São Paulo:
"Optar por juros artificialmente mais baixos sem ter a âncora fiscal é equivalente a produzir ajuste via inflação no médio prazo. E é sempre bom lembrar que esse ajuste é via transferência de renda de quem não consegue se proteger da inflação para quem consegue. Ou seja, uma transferência de renda dos pobres para os ricos."
Felipe Moura Brasil e Bruno Musa comentam:
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00:00Muito bem, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, afirmou nesta terça-feira que um ajuste artificial da taxa básica de juros
00:07poderia produzir mais inflação e corroer o poder de compra dos mais pobres.
00:12O economista, que tem sido alvo de ataques de Lula e do PT, disse o seguinte em evento promovido pela Crescera Capital em São Paulo.
00:19Abre aspas.
00:20Campos Neto também afirmou que a desconfiança do mercado sobre a capacidade do novo arcabouço fiscal
00:48de estabilizar a dívida pública não é exagerada.
00:53Bruno Musa passa a colaborar com o Antagonista em matérias de economia, do mercado corporativo e temas afins, inclusive a própria política.
01:02Então é um prazer recebê-lo pela primeira vez ao vivo aqui no Papo Antagonista.
01:05Ele que já aparece em outros programas na TV BMC, agora está no nosso time também.
01:10Boa noite, Bruno. E o que você destaca dessa fala do Campos Neto?
01:15Boa noite, Felipe. Prazer estar aqui com vocês.
01:17Bom, a fala do Campos Neto, independente de ideologia A ou B, ele fala o que realmente acontece.
01:26Vamos lá, vamos tentar desmistificar um pouco sobre isso.
01:29A curva de juros, a Selic, que é a taxa de juros definida pelo próprio Banco Central,
01:35que está em 10,75 agora e voltou a ter viés de alta enquanto o mundo está baixando.
01:40Inclusive a Colômbia baixou em meio ponto percentual para 10,25.
01:44Estados Unidos baixando, Europa baixando, Canadá baixando, Austrália baixando, Zona do Euro baixando, enfim.
01:49E o Brasil subindo. Por quê?
01:51Porque a Selic, que é a taxa de referência, ela é a taxa de um dia.
01:56Quando um governo, quando uma empresa vai contratar um empréstimo,
02:01precisa de capital para fechar as suas contas ou para um determinado projeto,
02:05o mercado se baliza pela curva de juros futura.
02:08É aquela curva com o vencimento naquele prazo que você está estipulando o empréstimo que você está contratando.
02:15Então, digamos, se você está olhando o empréstimo para 2030,
02:18você vai olhar quanto que o mercado está precificando que a taxa de juros estará em 2030,
02:25adicionando um prêmio de risco ao determinado país que estamos.
02:30E é claro que é o mercado, investidores locais e estrangeiros, que financiam os gastos do governo.
02:35O governo gasta mais do que arrecada, de forma estrutural no Brasil, infelizmente.
02:40A gente está vendo no mês de agosto que saiu um déficit.
02:42Ou seja, o governo gastou mais do que arrecadou em quase 22 bilhões de reais.
02:47Nos últimos 12 meses, com gastos nominais, ou seja, incluindo juros,
02:51já estamos próximos a 10% do PIB rombo brasileiro.
02:54E tudo isso implica um risco maior.
02:56Quanto mais endividado, mais eu exijo uma taxa de juros para emprestar para alguém que está endividado.
03:02Então, o que eu quero dizer é que a taxa Selic é uma mera referência.
03:07E a curva de juros futuro é o que determina o preço que os investidores locais e estrangeiros exigem
03:13daquele país para emprestar dinheiro e ele precisa para fechar as suas contas,
03:18porque ele gasta mais do que arrecada.
03:20Ou seja, o que o Campos Neto falou é que esse ajuste de taxa Selic,
03:27se não for feito pelo âmbito fiscal, ou seja, cuidar das contas públicas,
03:31o governo passar a ter superávit, ser responsável com os seus gastos,
03:35implica em uma desvalorização da moeda.
03:39E o que é uma desvalorização da moeda?
03:41Inflação.
03:42A inflação é um fenômeno puramente monetário.
03:46E o que causa a desvalorização da moeda?
03:48O governo gastar mais do que arrecada.
03:50E aí, obviamente, a moeda passa a valer menos
03:54frente ao valor relativo dos preços de bens e serviços.
03:58inflação. Ou seja, esse fenômeno, se não for feito o ajuste fiscal,
04:02ele é puramente inflacionário.
04:04E quem sente mais a inflação?
04:06Os mais pobres, que gastam grande parte da renda deles com alimentação.
04:11E nós estamos vendo produtos agropecuários, grãos, subindo.
04:15O IGPM, que tem 60% composto pelo IPA,
04:18índice de preço ao atacado, lá no começo da cadeia produtiva,
04:22que invariavelmente chega no IPCA pela conta do consumidor,
04:25a gente já está vendo uma inflação de mais de 4% nos últimos 12 meses
04:29de produtos do agronegócio.
04:33Seja no Brasil ou fora, com produtos que nós importamos,
04:36como a moeda desvalorizada, o que a gente importa também chega mais caro.
04:40Ou seja, não cuidar das contas públicas é inflacionário
04:43e atinge diretamente aos mais pobres.
04:45Pois é, Bruno. Às vezes eu tenho a sensação de estar assistindo de novo
04:49aquele filme feitiço do tempo, em que o protagonista, o Bill Murray,
04:52fica preso no mesmo dia, porque o Lula fica atacando o Campos Neto
04:55pela alta de juros, mesmo que tenha quatro diretores indicados
04:59pelo próprio Lula lá no Banco Central, muitas vezes votando junto com o Campos Neto.
05:03E o Campos Neto fica apontando que o governo precisa ter equilíbrio
05:06das contas públicas, precisa ter uma preocupação fiscal.
05:09E eu quero até te perguntar se você vê uma melhora nessa preocupação fiscal
05:15por parte do governo Lula. Mas antes de levantar essa questão,
05:19quero falar sobre o bloqueio de 13,3 bilhões de reais no orçamento
05:22que foi detalhado pelo governo Lula na segunda-feira, 31 de setembro.
05:26Os ministérios mais atingidos foram o da Saúde, com redução de 4,5 bilhões
05:30de reais, e o das Cidades, que teve um corte de 1,8 bilhão de reais.
05:35E essa medida também afetou o Ministério da Educação.
05:39Nesse caso, o valor foi de 1,4 bilhão de reais.
05:42Também foram bloqueados 974,8 milhões em emendas parlamentares
05:47e 3,7 bilhões de reais do Programa de Aceleração do Crescimento,
05:51o famigerado PAC.
05:53O governo alega que o bloqueio foi necessário em razão das regras
05:56impostas pelo arcabouço fiscal.
05:59O que o governo está fazendo?
06:01Ele está se adaptando? Ele está sendo finalmente mais responsável?
06:05Ou ele está precisando fazer isso em razão de regras que ele não gostaria que existisse?
06:12Felipe, vamos lá. Vou te dar a minha resposta aqui como economista.
06:15Vocês estavam falando há pouco tempo sobre a dificuldade do PT em eleger nas prefeituras.
06:20Eu já vou fazer o link com a economia.
06:21O PT está tendo essa dificuldade porque as pessoas passaram a ter uma informação descentralizada em suas mãos
06:28e ter maior capacidade de analisar a diferença entre um discurso parado no tempo versus a realidade.
06:37E agora a verdade bate a porta.
06:39O PT parou no tempo.
06:40O PT continua estatizante.
06:42O PT continua com a briga entre opressor e oprimido.
06:45O PT continua com o pensamento marxista esperando que a classe proletária saia às ruas para protestar.
06:52Quando a gente vê no mundo um crescimento ao longo dos últimos 200 anos de incremento de produtividade
06:58que apesar de muitos lugares ainda estarem pobres, a gente vê uma melhora significativa.
07:04E se eu estou falando em termos de pi per capita e renda per capita, antes que tenhamos algum tipo de crítica,
07:08vamos olhar os números.
07:10Estou falando baseado em números, inclusive em países mais pobres.
07:13A exceção daqueles países autoritários, Venezuela, Cuba, Coreia do Norte e etc.
07:18Pois bem, o que eu quero dizer é que o PT continua enraizado num discurso atrasado.
07:24Num discurso de mercado fechado.
07:26De mercado onde ele acha que o Estado tem que ser o indutor, tem que ser o financiador,
07:31tem que ser o cara que está em todas as frentes e ainda brigando de frente com a iniciativa privada
07:38que quando o mercado é mais aberto é ela que produz.
07:41Vamos olhar tudo à nossa volta.
07:42A gente tem aqui uma câmera, uma iluminação, uma internet.
07:45As pessoas que podem nos estar ouvindo do Japão, podem estar nos ouvindo de qualquer lugar.
07:51Tudo que estamos fazendo foi criado não pelo Estado, mas apesar de todas as dificuldades que o Estado nos impõe.
07:58Então, ele continua naquele ranço de manter o mercado privado como um inimigo.
08:03E as pessoas perceberam que não é isso.
08:05Então, quando você me pergunta se ele bate no Campos Neto ou se o PT está, por fim, preocupado com as contas fiscais,
08:13não.
08:14Eles não estão.
08:15Assim, o Brasil chegou num nível onde o Haddad, que é hoje o ministro da Fazenda, que escreveu um livro em 1998,
08:23que eu tive o cuidado de ler, que se chama Em Defesa do Socialismo, ele se autodeclara marxista.
08:29Nós estamos na mão de Fernando Haddad, que está tentando fazer o ajuste pela parte da receita.
08:37Ou seja, não é pela parte do corte de gastos.
08:40Então, não.
08:40Quando você percebe que o governo...
08:42Eu fiz no meu canal um vídeo semana passada explicando detalhe por detalhe como está funcionando as manipulações daqueles gastos que estão saindo por fora do orçamento.
08:53Se não só apenas eu falando, Marcos Mendes e Marcos Elias escreveram um brilhante artigo no Brasil Journal explicando isso.
09:00Como que o governo está usando de artimanhas e subterfúgios para colocar os gastos fora do orçamento.
09:07É como se eu quero reformar minha casa e eu falo que o meu cartão de crédito está extremamente endividado.
09:11Então, vamos fazer o seguinte, eu te dou um cheque aqui para daqui 30, 100 dias.
09:15Então, eu vou computar esse cheque como minha dívida.
09:17Ora, mas daqui a pouco esse cheque será compensado e eu terei que pagar.
09:22E aí a gente simplesmente deixa como se ele não entrasse na minha dívida total.
09:26Eu só quero computar o cartão de crédito.
09:28A verdade, gente, é que o endividamento frente ao PIB continua crescendo.
09:32E o PIB está crescendo em grande parte por transferências de renda para dar consumo no curto prazo.
09:38Isso no curto prazo parece que está tudo bem.
09:40Só que você está estimulando e aumentando o quê?
09:42O endividamento do Estado.
09:44Mais Estado endividado, voltamos na minha primeira resposta.
09:47Mais taxa de juros, mais moeda desvalorizada, mais inflação, menor poder de compra, especialmente as mais pobres.