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  • 28/06/2025
Denis Moura, presidente da Associação de Motoristas Particulares Autônomos do Rio de Janeiro (Ampa-RJ), criticou o governo Lula nesta quarta-feira, 1º, no Papo Antagonista, ao falar sobre a proposta do Planalto para a regulamentação da categoria. 

Representantes dos motoristas de aplicativo têm reclamado do fato de o governo não ter ouvido os condutores e dado preferência aos sindicatos para a elaboração do projeto.

"Claramente, eles estão em outro século, eles não chegaram ao século atual. Eles ainda acham que o trabalhador quer ser representado pelos sindicatos. [...] Hoje, a categoria detesta sindicatos. Os motoristas e trabalhadores, de modo geral, não gostam da ideia sindical , e o governo está ainda na fase do sindicato, onde manda quem pode e obedece quem te juízo ou quem é parceiro", afirmou Denis Moura.

O presidente Ampa-RJ acrescentou que projeto de lei do governo "tira todas as liberdades dos motoristas, aumenta tributos e não traz nenhum benefício para a categoria".

Assista à íntegra da entrevista:

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Transcrição
00:00Muito bem, a gente já começa o programa de hoje conversando com o Denis Moura,
00:04presidente da Associação de Motoristas Particulares Autônomos do Rio, a AMPA-RJ.
00:09Ele vai falar sobre a proposta do governo para a regulamentação da categoria.
00:13Na última quinta-feira, 25, o Denis e outros representantes de motoristas de aplicativos
00:18participaram de uma audiência lá na Câmara dos Deputados com o ministro do Trabalho, Luiz Marinho,
00:23para discutir o texto. Denis, queria que você fizesse uma apresentação da sua participação nesse debate
00:32e de como você está vendo essa questão ser tratada pelo governo Lula até aqui.
00:36Seja muito bem-vindo ao nosso programa, muito obrigado pela disponibilidade, boa noite.
00:41Bom, Felipe, obrigado a você, é um prazer estar aqui com vocês.
00:44E assim, parabéns para todos nós, não é dia do trabalho, é dia de quem está trabalhando
00:49como nós estamos no dia do trabalho, faz parte.
00:52Não sei se todos os lados do Ministério estão trabalhando hoje, mas a gente está aqui.
00:55Mas vamos lá, rapaz.
00:57Eu sou motorista de aplicativo desde 2014, entrei na plataforma logo no iniciozinho, no primeiro mês,
01:03e eu já trabalhava com transporte antes, o que é um quadro um pouco diferente do comum,
01:08porque a galera que veio depois da minha geração ali, que entrou, já veio do desemprego, né,
01:12e a primeira leva não, a primeira leva foi absorvida do mercado de trabalho,
01:15que era a galera que fazia transporte executivo, aqueles carros de portas de hotel e tal,
01:20que a galera é mais antiga.
01:23E aí a gente veio nessa luta há muito tempo, né, Felipe?
01:25E aí, em 2015, a gente montou a primeira associação com o intuito de ter direito de resposta,
01:31com o intuito de ter mais participação em algumas decisões,
01:34porque um ano depois da plataforma iniciar no Brasil,
01:37a gente já percebia que a coisa não era tão boa como parecia.
01:40E aí, a partir daí, meu amigo, a gente participou de várias e várias lutas,
01:44porque se deixar por conta da plataforma e por conta do governo,
01:47o motorista de aplicativo está lascado.
01:49Eu já visto agora a PL12 aí, né,
01:51que é a comissão que você se referiu na semana passada,
01:53foi para tratar dessa PL, ali foi ponte, né, a situação foi bem complicada.
01:59Doutor Teixeira, para que ponto dessa questão você chama atenção logo aqui no princípio da nossa conversa?
02:05Tá, Denis, bom, boa noite.
02:08Nós tivemos hoje esse ato do Lula, do 1º de maio, lá no estacionamento do estádio do Corinthians,
02:16e só tinha ali um punhado ali de sindicalistas, um monte de espaço vazio,
02:22parece que os trabalhadores de verdade não foram para lá.
02:26Como é que você vê a relação desse governo Lula com os trabalhadores?
02:30Rapaz, assim, claramente, eles estão num outro século,
02:36eles não chegaram num século atual.
02:38Eles ainda acham, até têm falado isso às vezes,
02:40eles acham que o trabalhador quer ser representado pelos sindicatos.
02:44Em 2015, quando a gente fundou uma entidade,
02:46eu não entendia nada do que a gente estava,
02:48a gente só queria o direito de resposta,
02:49a gente era acusado de roubar corrida, clandestina, essas coisas,
02:53e na verdade já não era, o azar lá em 2015 não era,
02:56porque a lei de mobilidade urbana autoriza o nosso trabalho desde 2012.
02:59Eu queria ter o direito de resposta.
03:01A gente pensou, faz o quê?
03:02Uma cooperativa, um sindicato, uma associação?
03:05Naquela época, não sei se vocês se recordam,
03:07o grupo de WhatsApp eram 114 pessoas.
03:09Em dois grupos de WhatsApp que a gente fez uma pesquisa,
03:11foi unânime, ninguém queria sindicato.
03:13Se passaram muitos anos, e hoje a categoria detesta sindicato,
03:16e os motoristas de modo geral, os trabalhadores de modo geral,
03:19não gostam da ideia sindical.
03:21E o governo está ainda na fase do sindicato,
03:23onde manda quem pode, obedece quem tem juízo,
03:25ou obedece quem é parceiro, quem é companheiro.
03:27E aí, rapaz, foi o maior problema deles com a PL12,
03:31porque eles alencaram os sindicatos para falar pelos motoristas,
03:35os sindicatos, alguns até um pouco mais antigos,
03:37com um ano, dois, três de formação,
03:39mas nenhum com carta sindical,
03:41e nenhum com sindicalizados, com motoristas sindicalizados,
03:44ou com representantes sindicalizados.
03:46Fizeram um grupo de trabalho, deram o via do sindicato,
03:49e a coisa desandou, porque fizeram um projeto
03:51que atende a todos os interesses do governo
03:53para fazer arrecadação, vão conseguir captar 27,5% de imposto,
03:58mais outros penduricados, porque não são só esses impostos,
04:01e também atende os interesses da empresa.
04:04A empresa continua mandando na gente como se fosse o nosso patrão,
04:07mas dessa vez, agora, a partir desse projeto de lei,
04:11ela manda, mas ela não tem caracterizado o vínculo trabalhista,
04:14que o motorista também não quer,
04:15porque o motorista quer uma autonomia real.
04:17E aí, desandou tudo, porque o projeto de lei
04:19tira todas as liberdades que a gente tinha,
04:22aumenta o nosso tributo,
04:23e não traz um único benefício.
04:25Não trouxe nenhum tipo de benefício para a categoria,
04:27muito pelo contrário.
04:28Então, a categoria está rechaçando isso desde o começo,
04:31a gente já fez protestos.
04:32No dia que encerrou lá o grupo de trabalho,
04:34que ele apresentou a proposta de salário mínimo,
04:37e o motorista deixou do seu trabalho,
04:39ou decidiu ser autônomo para complementar a sua renda
04:42para ganhar salário mínimo.
04:43Eles inventaram um salário mínimo por hora,
04:45de R$32, dos quais eles mesmos deixam claro
04:48que dos R$32, o lucro é R$8.
04:51Eu acho que se eu for, sem essa camisa aqui,
04:53mas se eu for com essa carinha aqui,
04:54pedir dinheiro no sinal,
04:55em uma hora eu ganho mais do que R$8.
04:56Quer dizer, como é que eu vou comprar um carro,
04:58botar na rua, transportar vírus
05:00para ganhar R$8 por hora?
05:01Entendeu?
05:02Então, assim, eles fizeram uma série de equívocos ali,
05:05e a gente está combatendo isso,
05:06só que o governo tem o poder da máquina, né?
05:09E a gente tem uma série de dificuldades para isso.
05:12Então, assim, as idas à Brasília são desgastantes,
05:14a brigar por ter voz logo que começou o grupo de trabalho.
05:18Ele, num primeiro momento, reconheceu a FEMBRAP,
05:20uma entidade da qual faço parte também,
05:22que é a Federação das Associações.
05:24Depois ele chegou à conclusão que a FEMBRAP
05:26não tinha que fazer parte,
05:27e tiraram a FEMBRAP do grupo de trabalho,
05:29de maneira arbitrária.
05:31Me convidaram no início, como motorista mais antigo,
05:33teoricamente especialista da categoria,
05:35uma liderança.
05:36Depois me tiraram do grupo de trabalho também,
05:38sem nem ouvida, na primeira reunião.
05:40Então, assim, fizeram muitas coisas arbitrárias.
05:42Agora, vendo o peso do motorista,
05:44vendo os protestos que a gente fez,
05:46a gente fez protestos no ano de março,
05:4713 de março, 2 de abril, 26 de março,
05:51em várias cidades do Brasil inteiro,
05:53e a gente vai continuar fazendo, se for necessário,
05:55eles começaram a pensar em conversar.
05:57E aí, nas comissões,
05:58a gente está tendo um espaço de fala, realmente.
06:01A gente está conseguindo se colocar,
06:03está conseguindo levar o que está acontecendo
06:05para os deputados,
06:06que, na verdade, isso é quem realmente vai acabar decidindo.
06:08Quando o projeto for para votação, vai acabar decidindo.
06:11A gente conseguiu derrubar também a urgência,
06:12que foi uma covardia do governo,
06:14botar um projeto dessa importância,
06:15que demorou um ano e dois meses para ficar concluído,
06:18com urgência presidencial para ser votado em 45 dias.
06:21A gente fez uma pressão muito grande
06:22e conseguiu derrubar a urgência,
06:24mas, mesmo assim, derrubou na base de um acordo.
06:26Ele tem que estar pronto para ser votado até o dia 12 de junho.
06:29Então, as comissões estão meio que na correria.
06:31A nossa próxima esperança é a CCJ.
06:33A CCJ vai derrubar o projeto pela inconstitucionalidade.
06:36Tem uma série de coisas ali que são bastante inconstitucionais.
06:41CCJ, a Comissão de Constituição e Justiça,
06:44é da Câmara dos Deputados, nesse caso, né?
06:46Câmara dos Deputados, exatamente.
06:48Denis...
06:48A gente tem a esperança que tudo se derrubue lá.
06:51Certo.
06:52Só umas questões mais específicas
06:54a respeito das demandas dos motoristas de aplicativo.
06:57Você falou que o governo está com a cabeça no século passado.
06:59A gente vê o governo defendendo que muitos motoristas de aplicativos
07:04sejam CLT, tenham carteira assinada.
07:07E me parece que há uma demanda para que sejam profissionais autônomos,
07:12para que possam acumular diversas funções em variados empregos,
07:17inclusive horários de entregas, por exemplo.
07:20Você tem mais na hora do almoço, na hora do jantar,
07:22mas você tem um intervalo ali em que se pode fazer
07:25outro tipo de atividade.
07:27Quer dizer, tem isso de o governo querer
07:29aquela burocracia mais antiga,
07:32que muitas vezes era bem vista
07:35por determinados trabalhadores,
07:37mas num tempo em que as ferramentas tecnológicas
07:39se desenvolveram e profissionais,
07:42como os motoristas de aplicativos,
07:43buscam maior autonomia e flexibilidade.
07:45É mais ou menos isso?
07:47É, exatamente.
07:48Uma coisa que o projeto não traz para o motorista,
07:52em hipótese alguma, é a autonomia.
07:54É o contrário, ele tira a autonomia.
07:55Só para você ter uma ideia,
07:57o projeto limita em 12 horas corridas de trabalho.
08:00Quer dizer, o motorista pode, digamos,
08:02se eu liguei o meu aplicativo às 8 horas da manhã,
08:04às 8 horas da noite eu tenho que desligar,
08:06não importa a quantidade de corridas que eu faço,
08:08se eu bati minha meta diária
08:09ou se eu quero continuar rodando.
08:11Ele entende que você tem que parar de rodar.
08:13O que não é uma coisa saudável,
08:15porque, assim, a gente sabe que o motorista,
08:17muitas vezes, ele vai trabalhar de segunda a quarta,
08:19por exemplo, numa atividade,
08:21e decide rodar quinta, sexta e sábado,
08:23e ele vai rodar mais horas do que 12 horas.
08:25Isso é um direito dele, ele é autônomo,
08:26ele tem que ter controle sobre isso.
08:28Algumas pessoas vão argumentar,
08:29ah, mas tem um risco,
08:30o cara ficar muitas horas,
08:32é lógico que o motorista não fica
08:33continuamente 12 horas dirigindo.
08:35Ele tem uns momentos dele que ele se organiza
08:37para fazer os intervalos de descanso.
08:39E também tem uma preparação.
08:41Quer dizer, você pode se preparar para isso,
08:43não é uma coisa aleatória.
08:44São motoristas, é um trabalho, são profissionais.
08:46Por mais até que as plataformas não treinem,
08:49não treinem os motoristas,
08:50mas, com o tempo,
08:51e nas conversas, e nas mentorias,
08:54enfim, vai se rolando ali
08:55meio que um treinamento entre os próprios colegas.
08:58É uma falha das plataformas não treinarem,
09:00mas isso é uma outra questão.
09:02Mas o governo tenta determinar a quantidade de horas.
09:05Isso já é um erro terrível que eles cometem.
09:08Um outro erro que eu considero extremamente grave...
09:10Tem só um parêntese, Denis,
09:12porque me parece que o que você está falando
09:15tem a ver com essas alegações
09:16de que o patrão, então,
09:19estaria explorando o trabalho dos motoristas,
09:23então eles têm que terminar em determinada hora.
09:25Ou o Estado, representado pelo governo Lula,
09:29está querendo ser babá de motorista.
09:31E parece que o que a gente está vendo
09:33é uma reação de emancipação.
09:34Olha, não são vocês,
09:36do governo, que têm que decidir
09:37o horário que a gente tem que trabalhar.
09:39A gente vai fazer aqui o nosso horário
09:41como a gente achar conveniente.
09:42É isso.
09:46Sim.
09:47O que é que acontece?
09:48O governo está querendo predeterminar coisas
09:51que tiram autonomia.
09:52E aí não pode dizer...
09:52Eles criaram um nome bonito,
09:54autônomo com direito.
09:55Quer dizer, não tem direito,
09:56você tem direito.
09:56Para não ter direito,
09:57você vai ver o mal desse direito,
09:58você está errado.
09:59E a autonomia eles tiraram.
10:00A partir do momento,
10:01eles querem predeterminar a carga horária.
10:04A gente é autônomo.
10:05Você consegue predeterminar a carga horária,
10:08sei lá, de alguém que trabalhe por conta própria,
10:09um vendedor ambulante ou um taxista,
10:12que seja similar ao nosso trabalho,
10:14bastante similar ao nosso trabalho,
10:16eles querem determinar isso.
10:17Isso é uma coisa que não tem o menor sentido.
10:20Eu acho que é uma coisa que deve cair no projeto.
10:22Eu acho que não deve perdurar no projeto,
10:25porque isso vai simplesmente engessar o sistema.
10:28O motorista, às vezes,
10:29ele trabalha poucas horas
10:30e consegue chegar ao objetivo dele.
10:32Lógico, a gente sabe que as tarefas
10:34são muito aquelas do que a gente precisa,
10:35e nisso o governo não faz nenhum tipo de interferência.
10:39A gente não quer que ele interfira.
10:40O motorista tem consciência
10:42que o governo não tem que prefixar preço, por exemplo.
10:45Dizer, olha, a tarifa é tanto.
10:47Nenhum motorista quer isso.
10:48Mas a gente quer que o jogo tenha transparência.
10:50Eu vou te explicar o que falta
10:51e o que agradaria muito o motorista.
10:54Por exemplo,
10:54hoje, os aplicativos não têm...
10:57Você, como passageiro,
10:58você não sabe o quanto você paga numa corrida.
11:00Em cada corrida, você vai pagar um valor.
11:02Se você tiver, você e uma outra pessoa
11:04pedirem corridas para o mesmo lugar,
11:05a gente fez isso na comissão lá.
11:06Vários motoristas pediram corridas da Câmara dos Deputados
11:10para o aeroporto,
11:11para cada um caiu um valor diferente.
11:13Não existe uma pré-determinação de valores de corrida.
11:18Então, assim,
11:19se você pede ali
11:23várias corridas com valores diferentes,
11:25também não tem, por sua vez,
11:26uma prefixação da taxa.
11:28Quer dizer, quando eu iniciei na plataforma,
11:30era pactuado com o aplicativo
11:32que ele ficava com 20% do valor da corrida.
11:34Depois disso, o aplicativo mudou,
11:37já teve sete ou oito contratos alterados unilateralmente.
11:40Ele mudou para 25% quando entrou a plataforma do X,
11:43que é a plataforma mais popular.
11:45Depois de 2020 para cá,
11:46ele chega a cobrar 40%, 45%
11:49de uma corrida sem pré-te avisar.
11:50Ele não tem um aviso prévio.
11:52O que acontece?
11:53Se ele não avisa para você,
11:54se você não sabe o quanto você vai perder em percentual.
11:57Se você não sabe
11:58quanto é o valor da corrida,
12:01como é que você vai ter uma garantia
12:02que os 20% que as empresas se ofereceram,
12:05feliz da vida ao lado do presidente Lula,
12:07quando ele anunciou lá o projeto de lei,
12:10as empresas estavam com ele lá,
12:12no cúbito lá, festejando,
12:13e se oferecendo para pagar 20% de imposto.
12:16Como é que a gente tem a garantia
12:17que são elas que vão pagar esses 20% de imposto?
12:19É muito claro para a gente que é motorista
12:21que esse percentual dos 20%
12:24vai ser retirado ou do passageiro ou do motorista,
12:27porque eles manipulam os valores dos dois lados.
12:30Então, isso vai ser retirado.
12:31Quanto a isso, o governo não tem preocupação nenhuma,
12:33muito pelo contrário.
12:35Ele só quer saber que o motorista vai pagar 7,5%,
12:37que é proibir o motorista de ter MEI.
12:39O ministro falou taxativamente na comissão,
12:42esqueçam o MEI, o MEI não pode.
12:44O MEI, a gente tem os mesmos direitos
12:46que eles estão oferecendo,
12:47ao custo de 5% de um salário mínimo,
12:50R$ 75,00 por mês em média.
12:52E eles não querem.
12:53Eles dizem que o MEI não serve.
12:54Eles que inventaram o MEI,
12:55eles que criaram o TNAE do MEI
12:56para o motorista de aplicativo,
12:57mas o MEI não serve.
12:59O que serve é pagar 27,5%,
13:01não importando de onde vêm os 20%,
13:03se é da empresa, do motorista ou do passageiro.
13:05Isso a gente não aceita de jeito nenhum.
13:08Doutor Teixeira.
13:10Denis, pode explicar por que os sindicatos
13:12não gostam que os motoristas façam MEI,
13:16a microempreendedora individual?
13:22Denis, você me ouviu?
13:23Oi, desculpa, trago.
13:24Por que os sindicatos não querem?
13:27É.
13:28Por que eles não gostam da MEI?
13:29Porque se a gente for MEI,
13:31a gente agir para o empresário,
13:32não dá para ser sindicalizado.
13:33Isso não vai ter como contribuir com o sindicato,
13:35se for todo mundo MEI.
13:36Então, assim, na verdade, é uma maneira.
13:39O projeto atende a demanda do governo,
13:41fortalece a base do governo,
13:43que são os sindicatos,
13:44e atende as demandas das empresas,
13:46porque elas ficam totalmente à vontade
13:47para fazer o que elas quiserem com o motorista,
13:49sem, inclusive, se preocupar com justiça.
13:51Porque no projeto diz o seguinte,
13:53se eu tiver um problema qualquer com...
13:56com a empresa,
13:58eu não vou entrar com uma ação contra a empresa.
14:00Eu vou ter que me sindicalizar,
14:01falar com o sindicato,
14:02o sindicato e o motorista.
14:04Vai falar com o sindicato das empresas,
14:06as empresas também vão ter que ter um sindicato,
14:08e eles vão ter que fazer ali um acerto.
14:11Caso eles não façam esse acerto,
14:13não é para a justiça que você vai.
14:14O que prevalece é o contrato da empresa.
14:17Quer dizer, se continua sendo unilateral,
14:19continua prejudicando de maneira devastadora o trabalhador.
14:23Então, não tem garantia nenhuma para o trabalhador.
14:25Pelo contrário,
14:26tira a autonomia do trabalhador.
14:27Porque no atual momento,
14:29não que o trabalhador esteja muito feliz com o que a empresa faz,
14:31mas ele recorre à justiça.
14:33E a justiça é que vai determinar,
14:35e aí tem milhões de ações pela justiça
14:36de motorista de aplicativo
14:38contra as plataformas por vários motivos.
14:40Isso vai acabar,
14:41porque isso vai beneficiar as empresas.
14:42Isso com certeza acaba.
14:44Se esse projeto passar.
14:45Denis, em relação à postura do ministro Luiz Marinho,
14:50o que você tem achado?
14:52E essa audiência que aconteceu com a sua participação,
14:55você entendeu que houve algum tipo de avanço?
15:00Sim.
15:00Assim, eu acho que as audiências estão sendo bastante proveitosas,
15:03porque os motoristas estão mais ou menos todos no mesmo passo.
15:07Quer dizer, as questões são as mesmas,
15:08as participações estão bastante efetivas.
15:10Me surpreende,
15:11porque lá atrás, em 2017, 2018,
15:14quando a gente lutou contra um projeto de lei do PT também,
15:17do Zaratini,
15:18que derrubava o trabalho de aplicativo,
15:20eu já estava lá naquela época,
15:21eu já ia para lá para correr atrás dos nossos direitos,
15:24junto com outros colegas do Brasil inteiro,
15:26era muito menos motorista participando, sabe?
15:28A efetividade, a consciência,
15:30a consciência dos seus direitos,
15:31a consciência do seu...
15:33O que você pode fazer era menor.
15:35E hoje ela ampliou muito.
15:36Então, tem muitos motoristas lá.
15:38Tem a federação das associações que estão presentes,
15:40mas, independente da federação,
15:42tem motoristas que vão simplesmente organizados pelos seus grupos
15:45e vão lá e botam a boca no trombone
15:47e pedem a mesma coisa.
15:48Isso já é muito bom,
15:50porque os deputados estão começando a perceber.
15:52Aquele movimento de corredor,
15:53é motorista de aplicativo andando o tempo todo
15:55de um lado para o outro em corredor
15:56e batendo de porta em porta dos deputados
15:58e apresentando propostas
16:00e questionando o posicionamento,
16:02se está com a categoria,
16:03se não está a ponto de até a própria base do governo
16:06ter tremido e ter pedido para recuar,
16:08para tirar urgência,
16:09estar querendo repensar o projeto.
16:10A gente sabe que isso não é uma...
16:13Eles não vão mudar de lado, digamos assim,
16:14eles vão continuar sendo base do governo,
16:16mas, pelo menos,
16:17eles estão parando para pensar
16:18sobre o que está sendo feito.
16:20Então, estão começando a ouvir
16:21a voz do verdadeiro motorista,
16:23não do sindicato.
16:24Isso é um avanço positivo.
16:27Doutor Teixeira, para a gente encerrar...
16:29Para encerrar, Denis,
16:31eu queria...
16:32Qual que é o ponto
16:33em que você acha que os sindicatos
16:35estão mais na contramão dos motoristas?
16:38Eles começam errando pela imposição.
16:43Eles não param de reafirmar
16:44que, pela Constituição,
16:47quem representa o motorista ou o sindicato,
16:48a gente querendo ou não,
16:49a gente tem que engolir eles.
16:50Isso já é um absurdo,
16:51porque você imagina o seguinte,
16:53ter que engolir o sindicato,
16:54ter que aceitar que alguém
16:55determina a minha vida,
16:56que eu não votei nessa pessoa,
16:58eu não escolhi,
16:58eu não quero dar um dia meu de trabalho para ela,
17:01eu não quero que ela faça acordo coletivo por mim,
17:04porque eu tenho minhas necessidades individuais,
17:06e eu posso me resolver usando a justiça com a empresa.
17:08Então, isso já foi um grave equívoco.
17:10E sem contar que o sindicato concordou
17:12com esse salário mínimo,
17:13com R$32,00 de hora trabalhada como garantia.
17:15Esses R$32,00 de hora trabalhada,
17:18ele é um perigo para a gente,
17:19porque esses R$32,00,
17:22ele acaba virando um teto.
17:23A empresa, se ela está autorizada a pagar o mínimo,
17:25por que ela vai pagar o máximo?
17:27A gente está vivendo um capitalismo,
17:28um nível mercado,
17:29eu acho ele muito bom.
17:30Mas se eu tiver um teto,
17:31um piso oficial,
17:33que ninguém pediu esse piso,
17:35mas se eu tiver um piso oficial,
17:37ela não vai pagar mais,
17:38ela vai pagar menos.
17:39Na verdade, as empresas já vêm fazendo isso.
17:41Desde janeiro,
17:42do início desse ano de janeiro,
17:44a gente tem uns aplicativos
17:45que dão suporte ao motorista
17:46e que conseguem verificar
17:47e avaliar estatisticamente
17:49o markup das empresas.
17:50E elas estão diminuindo cada vez mais
17:52o ganho da gente por hora.
17:54Já está se aproximando,
17:55inclusive, dos R$32,00,
17:56antes mesmo do projeto entrar.
17:58Como elas fazem isso,
17:59como eu expliquei no início,
18:00como elas não têm uma tarifa fixa
18:02para o passageiro,
18:04e elas não têm uma taxa fixa
18:05para o deputado motorista,
18:07elas manipulam os valores
18:08e reduzem o nosso ganho.
18:09Então, assim,
18:10a gente vai ficar totalmente achatado
18:11com esses valores.
18:13Na verdade,
18:13o que vai acabar acontecendo
18:14é que os motoristas hoje
18:15que sobrevivem com a média
18:16de R$3.500,00 a R$4.000,00,
18:18líquido de salário,
18:20eles vão cair para mil,
18:21mil e poucos reais.
18:22Esses motoristas não vão suportar
18:24sustentar suas famílias
18:25com um terço do que eles estão ganhando.
18:26O que vai acontecer é que
18:27esses vão sair,
18:28o governo já começa a falar,
18:30vamos financiar carro,
18:31a plataforma já falou alguma coisa,
18:33quer dizer,
18:33vai criar um vínculo de dependência
18:34do motorista com a plataforma,
18:37através de prestação de carro,
18:38paga diretamente na corrida,
18:40provavelmente isso é o que vai acontecer,
18:42e a qualidade vai cair,
18:43porque o sujeito vai se sujeitar
18:45ganha menos do que ele já está ganhando.
18:46Então, assim,
18:47quando você tira o profissionalismo,
18:48você diminui o ganho,
18:49você diminui a qualidade,
18:50com certeza a qualidade vai cair.
18:52Delis Moura,
18:54presidente da Associação de Motoristas
18:56Particulares Autônomos
18:57do Rio de Janeiro,
18:57a Ampa RJ,
18:58muito obrigado pela sua participação,
19:00por todas as explicações,
19:01você tem um raciocínio rápido,
19:03uma articulação verbal,
19:04é ótimo conversar com gente assim,
19:07está muito qualificado para esse debate,
19:09vamos ver se acontecem os avanços aí,
19:13e se chega a um denominador comum,
19:15pelo menos,
19:15embora a gente saiba que esse governo
19:18não tenha ouvido muito
19:22aqueles que deveriam ouvir,
19:23eles vêm muitas vezes
19:24com as ideias prontas do passado,
19:26e lá no passado já não eram ideias
19:27muito perfeitas, não.
19:29Mas muito obrigado pela disponibilidade,
19:30boa noite.
19:31Eu que agradeço o espaço,
19:34tudo de bom para vocês,
19:34um abraço.

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