Haddad cria dificuldade para vender facilidade

O Antagonista

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, anunciou nesta quinta-feira (12) as primeiras medidas econômicas para tentar reduzir o rombo das contas públicas.  Segundo o orçamento aprovado pelo Congresso, o déficit nas contas públicas previsto para 2023 é de cerca de R$ 230 bilhões.  Leia mais: https://oantagonista.uol.com.br/economia/saiba-mais-sobre-o-novo-pacote-de-medidas-economicas-de-haddad/  Cadastre-se para receber nossa newsletter: https://bit.ly/2Gl9AdL​  Confira mais notícias em nosso site: https://www.oantagonista.com​  Acompanhe nossas redes sociais: https://www.fb.com/oantagonista​ https://www.twitter.com/o_antagonista​ https://www.instagram.com/o_antagonista https://www.tiktok.com/@oantagonista_oficial

Transcript

00:00Rodrigo Oliveira, tudo bem?

00:02Tudo bem. A Vanessa, né? Tudo bem, Cláudio?

00:06Eu ouvi a Vanessa rindo, né?

00:08Não, vi não.

00:09Ah, é porque a Vanessa é a alegria daqui da nossa redação.

00:14Rodrigo Oliveira, você que me acompanhou num podcast exclusivo

00:17que vai ao ar em breve com o Henrique Meirelles,

00:21eu não quero que você antecipe nada do que a gente conversou, naturalmente,

00:24mas eu quero que você traga a percepção do mercado

00:27e a tua avaliação desse pacote aí de medidas que o Fernando Haddad anunciou ontem à noite.

00:32Eu até fiz um comentáriozinho no Twitter provocativo, porque é muito curioso, né?

00:39Porque ele fala assim, não, nós vamos aqui, um pacote de 242 bi,

00:44aí tem um déficit previsto de 260 bi ou algo do gênero,

00:52mas quem criou esse déficit?

00:54E foram eles mesmo, com a PEC da transição, a PEC da gastança,

00:58abriram esse rombo e agora estão propondo medidas para desarrombar,

01:03para tapar o buraco.

01:04Não era mais fácil não ter arrombado?

01:06E agora essas medidas de empolgamento significariam um superávit espetacular no primeiro ano?

01:11Seria isso, né?

01:14Mas aí seria muito sem graça, né?

01:16Seria muito fácil, né?

01:17Eu acho que não é.

01:19É o que você falou mesmo, tem um déficit previsto aí de 230 bi,

01:23muito, muito não, né?

01:25Praticamente todo ele é, a PEC da gastança,

01:28e o que eles estão tentando, o que o governo está tentando fazer agora é consertar.

01:33Isso porque o mercado reagiu de forma ruim, né?

01:36O juros sobe nessa hora, o custo de crédito fica ruim,

01:39e aí você pode forçar ainda uma alta maior dos juros,

01:43o que é ruim para a economia como um todo,

01:45e como o Haddad é um possível presidenciável aí,

01:49provavelmente não seria muito bom para a campanha dele.

01:52Então, mas a ideia do, é engraçado esse pacote,

01:57porque ele é, o mercado viu com uma certa,

02:02com uma certa,

02:04com um certo otimismo,

02:08porque é um passo na direção correta, né?

02:11No sentido de você buscar equilibrar esse fiscal aí,

02:15que está bem bagunçado.

02:17Mas o próprio Haddad fala no lançamento,

02:20lá na divulgação do plano,

02:21que se todas as metas que eles estão colocando,

02:25até meio que dá uma dilmada, né?

02:28Se todas as metas que eles estão colocando lá forem atingidas,

02:31eles zeram esse déficit de 230,

02:34até cria um superávit aí de 11 bi.

02:37Mas ele diz que, ele sabe,

02:39sabe que elas não vão ser atingidas.

02:43Então, ele está trabalhando aí com um déficit

02:45de mais ou menos, algo em torno de 80 e 100 bilhões.

02:50E aí, no plano, está esse litígio zero,

02:55que você comentou aí no começo do programa,

02:57no começo do papo,

02:58que é um nome bonito para um refis de contencioso, né?

03:03Que é diferente, é um negócio inédito.

03:06Será que dá para expandir esse programa litígio zero

03:11lá para o STF, não?

03:16Eu acho que, se não é certo,

03:18o Haddad assume o Ministério da Justiça também,

03:21e depois ainda pleiteia uma vaga no STF.

03:24Opa!

03:24Não dá essa chance, não dá ideia, não, Rodrigo.

03:29Mas o litígio zero seria o seguinte,

03:32você pega o pessoal que está...

03:34Você...

03:35Vamos supor que você é multado,

03:37ou você sofre uma fiscalização na Resídua Federal,

03:39você não concorda com o resultado da fiscalização,

03:43e você pode entrar no CARF,

03:45que é o Conselho de Recursos Administrativos,

03:48e pleitear uma revisão.

03:54E esses conselhos lá,

03:55as turmas jogadoras, são paritárias, né?

03:58De quatro pessoas ali,

03:59quatro representantes do governo,

04:01da Receita Federal,

04:02e quatro representantes dos contribuintes.

04:04E desde 2020,

04:05que é uma outra coisa que eles querem mudar no plano,

04:07é um caso de empate pró-contribuinte, né?

04:13E a ideia é que, poxa,

04:14em vez do cara ficar litigando lá,

04:16ele assuma o erro, digamos assim,

04:22e ele seria, então, liberado da multa,

04:26em alguns casos,

04:27nos casos de multas maiores do que 15 milhões,

04:30se não me falha a memória,

04:31aí eles teriam 100% de abatimento da multa,

04:33multas menores que isso,

04:35aí teria até 50% de abatimento de multa e juros.

04:40E aí, assim, eles conseguiriam arrecadar esse dinheiro

04:42que está represado lá,

04:44em discussão no CARF.

04:45O que parece estranho,

04:46porque além desse recurso,

04:50o contribuinte ainda pode levar isso à justiça,

04:53que é o que normalmente acontece

04:55após essa passagem no CARF,

04:57quando o contribuinte perde, né?

05:00Parece improvável que algum dinheiro venha desse lado.

05:04Por isso que a parte ali de um corte,

05:08um quase corte de despesa de 50 bi,

05:12que seria reformulação de programas,

05:14na verdade parece um...

05:16Porque os detalhes ainda não estão muito claros,

05:18mas parece um contingenciamento só de orçamento.

05:21Esse corte de despesas,

05:23segundo a ministra Tebet,

05:25você vai consultar os ministérios,

05:27eles vão dizer quais são os programas que eles querem que continuem

05:30e quais são os programas que eles querem que...

05:32Preferem que sejam interrompidos, né?

05:35E aí você não pagaria isso,

05:36você cortaria essa despesa, né?

05:38É um contingenciamento...

05:40Não vejo novidade nenhuma.

05:42Não, não tem...

05:43É exatamente isso.

05:48Não tem novidade.

05:49É um nome,

05:51é uma nova embalagem para coisas antigas,

05:53mas que o mercado já dava como perdido,

05:58porque como o Lula tinha subido muito o tom,

06:01o mercado achava que o Haddad não ia ter força

06:04para aprovar algo no sentido

06:07de ser um pouco mais responsável fiscalmente,

06:11isso acabou repercutindo bem.

06:12No mercado não deu muito certo,

06:14porque no mesmo dia teve o problema lá com as americanas,

06:17mas o fato é que tem algumas medidas ali

06:21que podem gerar uma redução no déficit.

06:26Fazer essa transformação quase mágica

06:28de 230 bi de déficit para 11 bi de superávit

06:32ainda parece muito improvável

06:34que vá acontecer esse ano.

06:37Isso só prova que com uma canetada

06:39você consegue produzir um rombo de 230 bi,

06:43mas não consegue recuperar esse rombo

06:46com outra canetada,

06:48porque você precisa de dinheiro.

06:51Isso vai ter que escrever.

06:52A gente vai viver ainda o nosso...

06:56Ainda durante alguns meses,

06:58até que o resto da imprensa festiva

07:00passe a fazer o seu trabalho

07:02de forma minimamente digna,

07:04porque essa questão semântica

07:06chega a ser risível.

07:09Nós temos duas semanas de governo,

07:11é um governo que já está se consolidando,

07:19já está colocando uma identidade,

07:22já está se identificando,

07:23se colocando uma marca

07:23de um governo marqueteiro.

07:26E sem João Santana.

07:28É marketing puro, é semântica,

07:30é o Lula querendo mudar o sentido das palavras,

07:33não pode usar...

07:34Não estou falando de pronome neutro, não.

07:35Estou falando de...

07:36Não é gasto, é investimento.

07:38Não é isso aqui, é aquilo lá.

07:40Não pode falar isso, mas...

07:41Quer dizer, é uma brincadeira de mau gosto

07:43com o bolso do contribuinte,

07:46do pagador de imposto.

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