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  • 23/06/2025
A editora de maior sucesso da capital mineira é o Grupo Autêntica, de Rejane Dias, que, além de fundadora, é diretora editorial da casa. Criado em 1997, o grupo conta com os selos Autêntica, Autêntica Business, Autêntica Contemporânea, Vestígio, Gutenberg, Nemo e Yellowfante. Juntos, estes selos lançam cerca de 120 títulos por ano – em média, são lançados 10 títulos por mês.

Em entrevista ao Estado de Minas, Rejane Dias conta sobre o mercado editorial de Belo Horizonte e responde se considera ou não a cidade como "capital dos livros".

Esta entrevista faz parte da série especial "BH: Capital dos Livros", publicada pelo EM. Confira a reportagem completa no site: em.com.br/especiais

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Transcrição
00:00O primeiro livro que a gente publicou foi em 1997, em setembro, vamos completar 28 anos.
00:06E ela saiu de dentro de uma agência de comunicação.
00:10Quando foi mais ou menos em 1995, 1996, eu imaginei que tudo que a gente fazia na agência,
00:16que era produção de newsletters, house-orgs, pré-empresas, associações,
00:21ia se acabar e ia se transformar em jornais eletrônicos.
00:26E de fato isso aconteceu por um tempo.
00:27Então eu pensei assim, o que eu posso fazer para transformar essa equipe que está pronta,
00:32diagramadores, revisores, num outro negócio?
00:35E aí foi meio óbvio, porque eu venho da escola de letras,
00:38minha formação em literatura brasileira, e sou formada em comunicação.
00:43Então, obviamente, que eu juntei as duas histórias e comecei publicando, inclusive, literatura comparada.
00:51Ou seja, o primeiro livro, o segundo, foi um livro, a voz do veto, a censura católica, a leitura de romances.
01:00Foi um trabalho muito focado no curso de letras, digamos assim, ou seja, com foco na formação em letras,
01:08na minha formação em letras.
01:09E, claro, a pessoa autora, nesse momento, era autora desse livro, era também da faculdade de educação.
01:16Então, daí passamos a publicar livros da área de educação, de formação de professores.
01:22Era para publicarmos pouco, era para publicarmos, sei lá, três ou quatro por ano,
01:27porque é muito caro editar, é muito caro.
01:30E eu não tinha nenhuma experiência.
01:31E, de repente, no segundo ano, no primeiro ano foram ali, no finalzinho do ano, dois ou três livros.
01:36No segundo ano foram 18, no terceiro ano, 30 e tanto.
01:40Ou seja, a coisa desinvestou, foi bastante problemática,
01:44porque o meu cálculo era um cálculo de alguém bastante inexperiente.
01:48Ou seja, há livros que a gente publicou naquele momento,
01:51com tiragem de dois, três mil exemplares, que duram até hoje, que estão em estoque até hoje.
01:56Então, eu não tinha nenhuma noção do que realmente seria bem recebido pelo público e o quanto seria.
02:03E se essa recepção, a boa recepção, corresponderia à venda do livro.
02:07Ou seja, uma coisa as pessoas gostarem do livro, outra coisa as pessoas comprarem os livros.
02:11É evidente que, de lá para cá, a história é completamente diferente,
02:15porque não só fomos criando selos para dar identidade a cada projeto,
02:19e também nos transformamos em grupo,
02:21e a gente, obviamente, foi se formando como editores.
02:24Ou seja, a editora hoje tem quase 70 pessoas.
02:28E, obviamente, que a gente não pôde sustentar só, nos anos subsequentes,
02:35só a produção de livros para a universidade.
02:38Porque era isso, o DNA da editora está conectado à produção de livros,
02:46à produção de conhecimento feita dentro da universidade,
02:51ou seja, que sai da universidade, e a publicação de livros para a universidade.
02:56A gente começou a entrar no negócio do livro de interesse mais geral,
03:00de interesse mais comercial.
03:02Em 1997, foi uma coisa complicada, porque a gente tinha editoras especializadas.
03:08Eu acho que, em boa parte ainda, hoje você tem algumas editoras que publicam mais ensaios,
03:15de interesse um pouco mais geral, mesmo que mais literários,
03:20não somente o que a gente chamava e chama ainda de CTP,
03:23que é o Livro Científico Tecnico Profissional.
03:25A gente ainda tem muitas editoras vocacionadas para o livro infantil, para o livro didático,
03:31mas você já tem, obviamente, novas editoras, que são editoras muito interessantes,
03:36muito criativas, eu estou sempre acompanhando.
03:38Mas, naquele momento, nós dependíamos muito mais, no nosso caso especialmente,
03:44da venda governamental.
03:45E, naquele momento, existia, sim, programas de compra de livros para a formação de professores.
03:51Então, era comum a gente publicar livros de pedagogia
03:54e vender para os estados e para os municípios para a formação de professor.
03:59Isso realmente, com o tempo, acabou. Eu não tenho visto isso acontecer.
04:03O que sobreviveu foram os programas do PNLD,
04:06tanto de livridade como de livro literário.
04:10Mas, de fato, em 1997, era muito difícil para mim trocar com os editores.
04:15Eu me sentia mais isolada, naquele momento, do que hoje, por exemplo.
04:19Claro que não só porque a editora cresceu bastante,
04:22mas eu acho que a gente tem mais interlocução hoje,
04:26por causa da internet, por causa dos eventos, das feiras de livros,
04:29do que a gente tinha na década de 90 e mesmo 2000.
04:32A gente tinha uma outra internet naquele momento.
04:34Não é essa internet que a gente tem hoje.
04:37Na base da autêntica, a gente tem, sim, alguns selos,
04:41que são os selos que crescem mais, principalmente Gutenberg e vestígio.
04:45Gutenberg voltado para a literatura juvenil.
04:48Vestígio, uma literatura mais adulta,
04:51de não ficção em ficção, de interesse mais geral.
04:54e também com foco em saúde mental ou desenvolvimento pessoal,
04:58história geral ou esses temas que são os temas correntes hoje.
05:02Gutenberg, esse juvenil, também entra na literatura mais adulta,
05:07mas muito comercial, muita publicação da literatura de fantasia.
05:12Hoje se chama romantasia, um certo segmento da fantasia.
05:16O infantil, a eleofante, que é muito voltada para o infantil,
05:20para as vendas governamentais, que é importante.
05:22Nemo, que publica só graphic novel, né?
05:25Ou história em quadrinho, que a gente chama de graphic novel.
05:27O selo business, só business.
05:29Agora, a autêntica, que é a autêntica contemporânea.
05:31A autêntica contemporânea publica ficção contemporânea
05:33para um público que já é um leitor mais maduro,
05:36ou seja, com uma história de leitura
05:38e uma que a gente chama de uma literatura um pouco mais vertical,
05:41menos comercial, mas também o lema é assim,
05:44olha, uma boa literatura, boa de ler, né?
05:48A gente está buscando novos autores nacionais,
05:51internacionais autores que as pessoas,
05:53que nunca foram publicadas no Brasil,
05:54ou que já foram, mas numa outra época,
05:57o sucesso desse selo é o Colibri, do Sandro Veronese,
06:00que foi publicado há 20 anos atrás aqui no Brasil,
06:03mas não teve, de fato, nenhuma visibilidade.
06:06E agora a gente resgatou esse autor.
06:08Então, isso também é uma coisa comum de acontecer.
06:11Mas a autêntica, ou seja,
06:13a gente ainda tem um catálogo com foco na universidade,
06:16ou para o leitor que está na universidade,
06:18o que a gente tem hoje é uma certa aflição,
06:20eu admito, porque os livros mais pirateados
06:24são esses livros, ou seja,
06:26um professor adota um livro na sala de aula
06:28às 10 horas da manhã, às 10h10,
06:31alguém já baixou o PDF pirata
06:33e já compartilhou no WhatsApp do grupo da sala de aula.
06:38Então, ou seja, isso é muito danoso.
06:40Isso está desestimulando, sim, os editores
06:43a publicarem esse livro,
06:44que é um livro mais técnico de adoção na universidade.
06:48Eu acho que tem áreas mais delicadas do que outras.
06:51Por exemplo, eu estou preocupada com a área de filosofia.
06:54A sensação que eu tenho é que as pessoas não querem ler mais os consagrados,
06:57querem ler os novos pensadores
06:59sobre temas emergentes, por exemplo,
07:01se eu percebo bem.
07:02Estou preocupada com a antropologia também,
07:04tenho ouvido outras editoras,
07:06e realmente os livros de antropologia,
07:07os grandes clássicos,
07:09estão circulando muito pouco.
07:11Por outro lado, a psicanálise,
07:12a gente sente uma volúpia maior,
07:14ou seja, tem muito mais interesse.
07:16Talvez porque a psicanálise pega um público também diletante,
07:19não só quem está na universidade.
07:20Aliás, o psicanalista não se forma dentro da universidade,
07:23ele se forma nas escolas lacanianas,
07:26lacanianas e fraudianas, etc.
07:28Então, a gente tem isso como princípio aqui.
07:31Publicar os novos pensadores,
07:33publicar essa boa literatura de não ficção.
07:37Eu acho uma luta em glória.
07:39Você não tem como lutar contra a pirataria
07:41quando o site que oferece aquele livro
07:45está na Macedônia, na Rússia.
07:48A gente faz uma notificação exjudicial,
07:52a gente tenta,
07:53a gente não deixa o autor nosso desprotegido.
07:55Ou seja, a obrigação da editora
07:57reclamar quando a gente vê um PDF.
08:00Mas, cara, a gente viu outro dia
08:02um livro nosso,
08:04um audiobook pirateado.
08:06Quer dizer, uma coisa que a gente achava super seguro.
08:08Então, assim,
08:09é muito eficiente
08:11o trabalho do pirata,
08:14entende?
08:15Ou a questão é que a gente deveria ter
08:17uma política cultural
08:19ou uma política de marketing,
08:21uma campanha de marketing
08:22que valorizasse o livro.
08:24porque as pessoas reclamam que o livro
08:25está caro.
08:26Em alguns momentos,
08:29eu acho também,
08:30eu como consumidora.
08:31Esse é um momento muito delicado,
08:32inclusive,
08:33para as livrarias.
08:34Isso é o que nos preocupa mais.
08:36Nenhum de nós, editores,
08:38imagina viver em cidades
08:39sem livrarias.
08:40Mas eu vi um dado
08:42muito recente,
08:4372%
08:44dos consumidores
08:46de livros
08:47já preferem comprar
08:48pela internet.
08:49Então, são 28
08:50nas livrarias,
08:52vamos chamar físicas,
08:54não só de rua,
08:55de shopping também.
08:56Então, assim,
08:57isso é muito complexo,
08:59porque a livraria
09:00acaba virando um showroom
09:00fundamental,
09:01é onde a gente consegue
09:02expor os lançamentos,
09:03porque na Amazon,
09:04aliás,
09:05o algoritmo da Amazon
09:06trabalha com o passado,
09:07não é com o presente.
09:08Então,
09:08livraria é importantíssima,
09:10não só para apresentar
09:11os lançamentos,
09:12mas é um lugar de encontro
09:13e os leitores adoram
09:16que os livreiros
09:16sugiram livros,
09:18eu adoro palpite
09:19de livreiro.
09:20Eu mesmo chego,
09:21o que você leu recente
09:22que você gostou muito?
09:23Eu confio na opinião
09:24de um livreiro,
09:25mas é uma concorrência
09:27muito difícil.
09:28Eu acho que hoje
09:29ninguém precisa se deslocar,
09:31morar em outras cidades,
09:32vamos falar claramente,
09:33morar em São Paulo
09:34ou no Rio
09:34para ter sucesso.
09:36Hoje, muito mais Rio
09:37do que São Paulo.
09:38Às vezes eu vejo autores
09:38morando em lugares
09:39muito pequenos
09:41e óbvio,
09:42estão no mundo,
09:43estão indo aos eventos,
09:45enfim, se deslocam.
09:47E esse deslocamento
09:47eu acho importante.
09:48O autor que está
09:49na Bienal de São Paulo,
09:51Rio,
09:52Pernambuco,
09:53um evento em Curitiba,
09:55Minas,
09:55isso eu acho fundamental,
09:57chegar perto dos leitores.
09:59Os leitores gostam disso,
10:00gostam do autógrafo,
10:01gostam de ouvir os autores.
10:03É fato que,
10:04eu sinto isso
10:05até em relação à editora,
10:06quer dizer,
10:07a editora tem uma
10:09presença nacional forte,
10:10hoje a gente deve ser
10:11entre as 15
10:13que mais vendem
10:13no varejo,
10:14por exemplo.
10:15Mas quando as pessoas
10:16se referem
10:17a autêntica,
10:18falam autêntica,
10:19o grupo autêntica,
10:21o grupo mineiro,
10:22quer dizer,
10:23eu nunca ouvi,
10:24em relação às editoras
10:25do Rio de São Paulo,
10:26as pessoas dizerem isso,
10:27o grupo paulistano
10:29ou o grupo carioca.
10:30Então fica parecendo
10:31que nós que estamos aqui
10:32somos uma editora
10:34ou autores
10:35ou fazemos um cinema mineiro.
10:38E quem está no Eixo Rio de São Paulo
10:39faz cinema e livro
10:41e a editora é nacional.
10:43Ainda acho estranho.
10:44Agora,
10:45você tem muitos concursos,
10:48você tem maneiras
10:49de dar mais visibilidade
10:51à sua produção literária
10:52do que em outros tempos.
10:54A gente já achou
10:55bons autores
10:56por meio de um antigo blog,
10:58agora a gente não fala
10:59mais em blog,
11:00em postagem na internet.
11:02A gente começou
11:02a prestar atenção
11:03em um outro autor
11:03em função do que escrevia
11:05na internet.
11:05Isso antigamente
11:06não era possível.
11:07Então eu acho
11:08que não tem mais
11:09essa geografia.

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