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  • há 6 meses
Fenômeno de vendas, Paula Pimenta construiu sua carreira na capital mineira. Ela, que começou publicando crônicas em um blog que já nem existe mais, resolveu escrever um romance e submetê-lo à avaliação das editoras. Depois de duas recusas, enviou o original para a Autêntica, que publicou “Fazendo meu filme 1”pelo selo Gutenberg.

Em entrevista ao Estado de Minas, Paula contou sobre a relação de Belo Horizonte com a sua obra e respondeu se considera ou não a cidade como "capital dos livros".

Esta entrevista faz parte da série especial "BH: Capital dos Livros", publicada pelo EM. Confira a reportagem completa no site: em.com.br/especiais

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Transcrição
00:00Eu sempre gostei de escrever, desde a época do colégio, minhas redações sempre eram muito elogiadas.
00:05Com seis anos, quando eu aprendi a escrever, eu já saí fazendo poeminha para a família inteira, com riminha mesmo, assim.
00:11Então, assim, na época do vestibular foi natural escolher alguma coisa que tivesse a ver com a escrita.
00:16E aí eu fui, então, falei, ah, vou fazer jornalismo para eu poder trabalhar escrevendo, que era o que eu mais gostava.
00:22E aí, logo no começo da faculdade, os professores falavam, isso é uma crônica, isso é literatura, cadê o formato jornalístico?
00:27Porque eu queria florear, eu não queria falar, aconteceu um assalto na Avenida Mandeirantes, tal hora, assaltante foi detido.
00:32Não, eu queria contar, num dia de outono, numa avenida, pessoas estavam passando, eu queria contar a história daquele acontecimento.
00:41Aí que eu percebi que não era ser jornalista que eu queria, que eu queria era contar histórias.
00:45Aí eu falei, ah, você quer saber, eu vou levar a escrita como um hobby, que eu não quero, não vou trabalhar com isso não.
00:51Eu vou levar a escrita como um hobby e vou mudar para a publicidade, que é uma outra área que eu gosto também, vou poder ser criativa e tal.
00:57E foi o que eu fiz.
00:58Formei em publicidade e fiz isso.
01:00Comecei a levar a escrita como um hobby.
01:02Eu amava crônicas e fui convidada para escrever num site de crônicas, ser colonista fixa.
01:07Eu mandava minhas crônicas para lá porque tinha um dia que era para convidados.
01:11E eu lembro que eu tinha que ficar me contendo para não mandar todos os dias, porque eu falava, daqui a pouco eles vão me vetar.
01:16Mas muito pelo contrário, eles começaram a gostar tanto das minhas crônicas que eles perguntaram,
01:20você quer ser colonista fixa aqui?
01:22Aí foi o primeiro lugar, assim, que eu realmente comecei a ser vista.
01:28E aí eu tentava escrever um romance, porque eu amava ler romance, mas não ia para a frente.
01:34Eu começava super empolgada.
01:36Aí lá pelo, sei lá, lá pelo quinto capítulo eu já começava a espaçar e a hora que eu via o livro estava largado lá.
01:42E aí eu falei, não é possível, deve ter um método para escrever um livro e tal.
01:45Aí eu comecei a procurar um curso de escrita criativa.
01:48Não tinha nenhum, sabe?
01:49Eu procurei em vários lugares e não tinha.
01:51Eu tenho um tio que mora em Londres.
01:53Conversando com ele, ele falou, Paula, tem curso de creative writing em Londres?
01:57Em todos os cantos tem extensão, tem pós, tem tudo o que você quiser.
02:02Vai para Londres e faz esse curso lá.
02:03E aí lá eu realmente consegui um curso de extensão logo que eu cheguei.
02:08O que eu aprendi de verdade lá foi a concentração.
02:11Porque aqui a gente tem distração demais.
02:14Tem, né?
02:15Tinha mãe, pai, aula, manicure, psicóloga, festa, amigas, tudo para te tirar o foco.
02:22Lá não, a minha personagem que me fazia companhia.
02:25Então eu consegui escrever, eu fazendo meu filme 1, né?
02:28Que foi o meu primeiro romance publicado.
02:30Eu consegui escrever ele do início ao fim lá.
02:33Do início ao fim não, eu já tinha até...
02:34Era um desses que eu tinha começado e largado.
02:37O livro começou a se escrever, assim, sabe?
02:39Eu comecei a ficar tão envolvida naquilo que todo dia eu queria acordar.
02:43Nossa, o meu livro, eu preciso escrever, eu preciso escrever.
02:46Ao todo eu demorei uns 8 meses para escrever esse livro.
02:49E quando eu acabei, nossa, eu fiquei muito triste.
02:51Porque eu falei, nossa, minha amiguinha foi embora.
02:53Agora eu vou ficar sozinha e tal.
02:55Mas aí logo eu voltei.
02:56Uns meses depois eu já voltei.
02:58E aí eu comecei a procurar editoras.
03:00Tudo aqui, em BH mesmo, né?
03:01A primeira que eu fui, eles viravam para mim e falavam assim,
03:04Nossa, legal, você publicou um livro, ótimo.
03:07É 20 mil reais na época.
03:09É 20 mil reais.
03:10Aí a segunda editora que eu fui, o dono de lá,
03:13virou para mim também, olhou o meu livro e perguntou do que se tratava.
03:17Nem quis ler.
03:17Essa primeira também nem quis ler.
03:18Só falou, não, é só pagar que a gente publica.
03:20Aí essa daí falou assim, não, de que se trata o seu livro?
03:24Eu falei, ah, a história da Fanny, uma adolescente.
03:27Que o sonho dela é que a vida dela seja igual a um filme.
03:31Ela é apaixonada por cinema.
03:33E ela, aparece a chance dela fazer um intercâmbio.
03:35Ela faz a prova, passa.
03:37Só que na época dela aí, ela apaixona pelo melhor amigo dela.
03:40Eu falei isso para ele.
03:41Ele falou assim, ah, esse seu tema aí...
03:43Ele falou, ah, vou te falar a verdade.
03:45Esse seu tema aí não vai agradar ninguém.
03:47Os adolescentes não leem livros grossos.
03:49E os adultos vão achar esse tema aí muito bobo.
03:50Então, o seu livro não tem público.
03:51Saí de lá já meio desanimada.
03:55Aí eu fui e tentei uma terceira editora que também...
03:58Eu tinha pegado indicações dessas editoras.
04:00Eu cheguei na terceira, que acabou sendo a minha,
04:03que é autêntica até hoje, a Temberg.
04:05A Rejane, a dona de lá, eu conversando diretamente com ela,
04:08ela falou assim, olha, você tem que mandar esse seu livro para Record,
04:10para Roco.
04:12A gente não publica livros de romance adolescente.
04:17Aqui, não vai ter público o seu livro.
04:20Ela falou exatamente isso.
04:21Não vai ter público.
04:22Não vai ter público assim.
04:24A gente não tem onde colocar o seu livro.
04:27Porque eles não tinham realmente, assim, esse segmento.
04:29E os livros que faziam sucesso eram o Diário da Princesa,
04:33da Maggie Cavett, que era internacional, o Harry Potter.
04:36Só livros importados.
04:37Era muito mais fácil para as editoras importarem livros,
04:41já que já era um sucesso garantido,
04:43do que publicar um autor nacional,
04:45que eles não tinham a menor garantia.
04:47E eu tentando vender o meu livro de todo jeito.
04:50Eu falei, olha, mas não vai ficar só nesse livro.
04:53Eu tenho planos de fazer uma série dele.
04:56Esse primeiro, ela vai para o intercâmbio.
04:58O segundo vai ser o intercâmbio dela.
04:59O terceiro, a volta.
05:01Ela falou assim, olha, faz o seguinte, então.
05:04Deixa o livro aí, porque, de repente, a história de uma intercambista
05:07pode ser interessante.
05:08Porque, outro dia mesmo, eu estava lendo uma matéria
05:10que não sei quantos por cento dos jovens do Brasil têm vontade de morar fora.
05:12Então, de repente, a história de uma intercambista pode ser interessante.
05:16Só por isso que eles pegaram o livro.
05:18E aí ela leu.
05:19Em uma semana me ligaram falando, adoramos o seu livro, vamos publicar.
05:22Ou seja, a primeira editora que eu consegui que lesse o livro, gostou.
05:26E publicaram.
05:26E o livro começou a...
05:28Eu comecei a divulgar o livro no boca a boca.
05:31Levei em escolas.
05:32Pedia para pôr na biblioteca.
05:34Pedia para os professores indicarem para os alunos.
05:37Mandei para blogs literários.
05:39Fazia muita propaganda nas comunidades do Orkut de livros.
05:42E aí o livro começou a pegar no boca a boca.
05:44Uma menina ali, indicava para a amiga,
05:46que indicava para a professora,
05:47que indicava para a sala inteira.
05:48E em um ano, esses mil exemplares...
05:50Era uma tiragem super pequena de mil exemplares.
05:52E eu ganhei...
05:53Desses mil, eu ganhei cem.
05:54E esses mil exemplares, em um ano, esgotou.
05:58Esgotaram.
05:59E aí o pessoal da editora ficou muito impressionado.
06:01Porque eu era completamente, assim, iniciante.
06:04Vender mil exemplares em um ano era muita coisa.
06:07E eles ficaram mais impressionados que o pessoal escrevia para lá,
06:10falando, vai ter a continuação.
06:11Cadê o livro 2?
06:12Porque eles pediam para mim, eu falava,
06:14vai, escreve para a editora.
06:15Se eles quiserem, eu escrevo.
06:16Em três meses, eu escrevi o livro 2.
06:19E ele esgotou em três meses.
06:21Tiragem de três mil dessa vez.
06:23O livro 3 saiu um ano depois,
06:24com uma tiragem de cinco mil.
06:25Esgotou em um mês.
06:27E o livro 4 saiu, né?
06:29Um ano depois também.
06:31Esgotou na pré-venda.
06:32Uma tiragem de dez mil.
06:33E a partir daí, né?
06:35Foi uma bola de neve.
06:36Em 2014, eu fui a escritora que mais vendeu livros no Brasil.
06:39Foi um boom mesmo.
06:40Em todo lugar que eu ia, todo mundo conhecia meus livros.
06:44Aí comecei a viajar.
06:44Feira do livro no Brasil inteiro e tal.
06:47E foi assim.
06:48Nunca saí de BH, né?
06:49Só que mesmo, assim, eu acho que hoje em dia não precisa.
06:52Tudo é virtual mesmo.
06:55Antigamente, eu levava o livro, né?
06:58Isso que eu falei, que ela falava assim, tem que mandar para a Roco, para a Record.
07:00Eu falei, não, nem uma editora aqui de BH está querendo o meu livro.
07:04Imagina, né?
07:05Se essas grandes, a editora do Harry Potter, a editora da Maggie Cabberts.
07:10Vê se vocês vão querer o meu livro.
07:11E hoje em dia, tanto quiser que a Roco tem livros pela Record, entendeu?
07:16Eles me chamaram para escrever uma série para eles.
07:18Eu também sou da Record também.
07:21Por que a maioria dos meus personagens moram em BH?
07:25Porque eu sou daqui, cresci aqui, conheço tudo daqui.
07:27Eu sei escrever cada parte da cidade que eu preciso de escrever.
07:31Eu sei de escrever.
07:32Eu sei o que é ser um adolescente em Belo Horizonte.
07:36Isso é uma coisa muito legal, porque muitos leitores falam assim,
07:39na série a gente vai para Belo Horizonte para conhecer a cidade da Fanny.
07:43Muita gente vem para BH por causa do que quer conhecer.
07:46Ou às vezes está aqui por acaso e fala,
07:49Paula, eu estou indo lá na frente do Minas,
07:52porque eu quero ver onde que é o clube da Fanny e do Léo.
07:54Eu vou lá no Pátio Savas, que é onde a Fanny e o Léo vão no cinema.
07:58Então, assim, sabe? É muito legal.
08:00É uma coisa muito engraçada, porque assim, quando eles vão me divulgar,
08:03eles falam assim, a mineira Paula Pimenta.
08:05Sabe, sempre colocam a mineira Paula Pimenta.
08:07Eu acho que isso já é uma coisa assim, né?
08:09O escritor mineiro já é um status ali, assim.
08:14E eu acho que sim, né?
08:16Hoje em dia a gente realmente não precisa de sair, né?
08:18Como eu falei, nunca sair.
08:20Você sai para fazer uma pesquisa ali fora.
08:22Você sai para eu ir, para eu ir, para eu ir fazer um lançamento no Brasil inteiro.
08:25Mas não tem, eu acho que não tem mesmo a menor necessidade, né?
08:29De uma pessoa querer sair daqui para escrever, né?
08:32Você escreve ali na sua casa, no seu computador,
08:34solitariamente, e depois o livro vai para o mundo, né?
08:37Então, eu acho que sim, né?
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