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  • 21/06/2025
O professor de hidrologia da Unicamp, Antonio Carlos Zuffo, concedeu entrevista ao Jornal da Manhã e analisou os efeitos das fortes chuvas que atingem o Rio Grande do Sul e comenta os possíveis desdobramentos climáticos e impactos na população.
Apresentadores: David de Tarso e Paula Nobre
Entrevistado: Antonio Carlos Zuffo

Assista ao Jornal da Manhã completo: https://youtube.com/live/l5pr0WxwYMs

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Transcrição
00:00As fortes chuvas que atingem o Rio Grande do Sul deixam as cidades gaúchas em alerta.
00:05O Jornal da Manhã recebe agora o professor de Hidrologia e Gestão de Recursos Hídricos da Unicamp, Antônio Carlos Zufo.
00:12Professor, seja muito bem-vindo, bom dia.
00:15Bom dia, eu que agradeço o convite.
00:18Professor, a gente estava comentando nessa edição do Jornal da Manhã, até vi o David falar agora,
00:22sobre o Rio Grande do Sul não ter se preparado ainda, depois do acontecimento do ano passado,
00:29para contenção de água, contenção de rios, nível de rios.
00:36Não ter se preparado ainda para isso depois da tragédia do ano passado.
00:40Mas deu tempo disso?
00:42Porque, ao meu ver, a cidade ainda está se recuperando, Porto Alegre está se recuperando, a capital gaúcha,
00:48outros municípios estão se recuperando ainda da tragédia do ano passado,
00:51que foi realmente o maior desastre climático já acontecido aqui no Brasil.
00:56O que o senhor tem a dizer sobre isso?
00:58Deu tempo de se recuperar?
01:01Olha, esses eventos de chuvas no Rio Grande do Sul, ela não é nova, né?
01:08Os portugueses, por exemplo, quando colonizaram o país, evitavam justamente essa parte do litoral do sul do Brasil,
01:16que seria Santa Catarina e Rio Grande do Sul, devido ao clima que era bastante instável,
01:20que chove bastante, às vezes tem seca, isso é recorrente.
01:24Então, esse problema do ano passado, de 2014, de 2004, desculpe, 2024, que foi uma tragédia,
01:33já havia ocorrido em 1941, algo semelhante.
01:37Só que a população era bem menor, então o impacto social foi menor.
01:41Mas também não existia aqueles muros de contenção, isso em Porto Alegre.
01:48Mas em todo o estado do Rio Grande do Sul, nesse período do ano, ele sofre muito com problemas de enchente
01:55por causa da circulação atmosfera, como está sendo apresentado agora na tela.
02:02Existe, então, um movimento de oeste para leste, que é em todo o globo,
02:09que existe, então, um vento contrário à rotação da Terra,
02:15e que ele encontra, que vem do Oceano Pacífico, ele encontra a barreira ali dos antes,
02:20ele consegue, de certa forma, contornar, entrar mais por baixo, mais pelo sul pela Argentina,
02:26e depois ele volta nessa região e cai justamente em cima do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e pedaço do Paraná.
02:35E ele vai em direção ao Oceano Atlântico.
02:37E nessa faixa de formação de nuvens, existem muitas chuvas.
02:42E isso ocorre no Rio Grande do Sul mais ou menos duas vezes por ano.
02:46A primeira vez, quando o sol sai do Hemisfério Sul e passa por Hemisfério Norte,
02:51que aconteceu no início de outubro, foi em março, final de março,
02:55e depois, quando ele volta para o... novamente, que ele cruza o Equador,
03:01descendo do Hemisfério Norte, voltando para o Sul,
03:04que ocorre também no final do nosso inverno, que seria final de setembro, começo de outubro.
03:10Então, nesses dois períodos, existem muitas chuvas.
03:13Agora, com relação ao que está acontecendo agora,
03:16é sempre, justamente, dessa circulação atmosférica,
03:20e que a formação de nuvens se dá ali na altura do Paraguai,
03:25entrando para o Rio Grande do Sul, Santa Catarina,
03:27ela ocorre sempre.
03:28Nós temos registros em 2001, 2004, 2003, 2002, 2003 e 2014,
03:35que coincide com esse ciclo também,
03:38demonstrado ali, ciclo solar de Shueip,
03:40em que, onde existem os máximos, ocorrem chuvas no sul do país,
03:48mas corresponde à seca no centro-oeste e no sudeste do Brasil.
03:53Então, colocando ali, o apagão energético 2001 até 2003,
03:57ocorreu no máximo desse ciclo de Shueip.
04:00Depois, o outro máximo foi em 2014, 2015,
04:03e ocorreu, então, a crise hídrica em São Paulo,
04:06e estava ocorrendo enchentes no Rio Grande do Sul.
04:08E agora, mais uma vez, nós estamos, no máximo, saindo do máximo,
04:13e se esse fenômeno se repetir,
04:17nós teríamos ainda chuvas no sul,
04:19e secas no centro-oeste e no sudeste brasileiro,
04:22com possível crise de água, crise de energia,
04:25por causa desses eventos climáticos.
04:28Agora, professor, eu estive no Rio Grande do Sul,
04:31durante as cheias na tragédia do ano passado,
04:34e o relato de muitos moradores é que eles não visualizavam
04:37a conservação dos rios, porque o Rio Grande do Sul é cercado por diferentes rios,
04:41que cercam as cidades, não só a capital, Porto Alegre,
04:44mas diferentes municípios.
04:46O que precisaria ser feito, também,
04:49para que a gente não visse,
04:50como aconteceu no ano passado e como a gente tem visto,
04:53agora, nessas recentes chuvas que têm acontecido por lá,
04:57para que os impactos fossem minimizados
05:01em relação a essa questão, dragagem,
05:04até mesmo uma conservação nos leitos dos rios,
05:07para que a gente realmente não visse o assoreamento acontecendo?
05:12No Rio Grande do Sul, tem uma topografia bastante distinta.
05:17Nós temos as serras, que a declividade é muito alta,
05:20então você não tem assoreamento, você tem mais o processo de erosão.
05:23E depois, em Porto Alegre, naquela região de Baxios,
05:26do Lago Guaíba, depois Lagoa dos Papos,
05:29em que o escoamento é muito lento,
05:31ali, sim, precisa de dragagem para melhorar o escoamento das águas,
05:35porque ela vem de rios de alta declividade
05:37e entra numa lagoa que é plana.
05:39Então, você tem, justamente, uma força,
05:43uma capacidade de transporte de sedimento muito grande
05:45dos rios, de montanhas,
05:47e quando chega na lagoa, esse sedimento fica,
05:50ele fica no fundo.
05:51Isso dificulta, depois, o escoamento da água
05:54e causa enchentes em áreas mais baixas,
05:56como é o caso de Porto Alegre,
05:58por Canoas, e outras cidades ali,
06:00às margens do Lago Guaíba,
06:03e depois, no Lagoa dos Papos.
06:05Como esse evento do ano passado,
06:07ele foi muito grande, atingiu o estado inteiro,
06:10nós estamos ainda no rescaldo do que aconteceu.
06:13Muitas famílias perderam tudo,
06:15então, estão se refazendo,
06:17estão construindo os investimentos necessários
06:19para que haja obras de contenção de enchentes.
06:23ele é muito grande e ele não se dá de um mês para outro,
06:26ele demora alguns anos,
06:27porque ele tem que ser projetado,
06:29ele tem que ser licitado,
06:31ele tem que ser financiado, construído.
06:33Então, isso demora algum tempo,
06:35vários anos,
06:36para que essa infraestrutura seja reconstruída,
06:40ou construída,
06:41e precisa de muitos recursos.
06:43E nós estamos,
06:44como passaram as reportagens anteriores,
06:46com situações econômicas um pouco complicadas.
06:49E existe a necessidade dessa recuperação,
06:52porque esses eventos irão se repetir.
06:56Porque essa região do Rio Grande do Sul e Santa Catarina,
06:59eles são muito sujeitos a esses fenômenos climáticos,
07:03justamente porque é um corredor de passagem
07:05dessas massas de ar úmidas,
07:09justamente nesse período do ano.
07:10Professor, olha só,
07:13depois da chuva de 2024,
07:15muito se falou que o nível dos rios,
07:19não sei se eu posso dizer dessa forma,
07:21mas a topografia do rio,
07:22a forma como o rio se mantém,
07:24mudou drasticamente,
07:25que nunca mais retornaria a ser o mesmo.
07:28Então, a forma como o rio encheu,
07:30inundou,
07:31embaixo desse rio,
07:32a terra,
07:33tudo que aconteceu ali,
07:34a filtração da água,
07:36foi de uma forma que nunca mais seria a mesma,
07:39e isso aconteceria,
07:40e isso mudaria drasticamente
07:42a forma como receberia chuva nos próximos anos.
07:45Isso é verdade?
07:47Os rios,
07:48eles não são fixos em seus leitos,
07:51eles têm uma dinâmica.
07:53Então, quando vem um evento de enchente
07:56e que existe uma mudança do nível de corrente,
07:59ele pode escavar um outro leito,
08:01quando ele baixar,
08:02ele está com um curso diferente.
08:03Isso ocorre muito em rios de planícies.
08:06Então, pensar na nossa ideia
08:08de que o rio é sempre fixo,
08:10está sempre no mesmo lugar,
08:12ela é incorreta,
08:13porque essas mudanças,
08:14elas ocorrem o tempo todo,
08:16mas com uma velocidade muito pequena,
08:18e passam décadas
08:19para que elas possam ser verificadas,
08:22a menos que ocorra um evento
08:24dessa magnitude,
08:25e que pode alterar
08:26todo o curso do rio.
08:28Isso é muito claro,
08:29se a gente procurar
08:30no meio da selva amazônica
08:31alguns rios,
08:32nós podemos ver
08:33meandros abandonados
08:35por efeitos,
08:35por esses mesmos efeitos,
08:36mas isso ocorre mais
08:38em rios de planícies.
08:39Em rios de montanha,
08:41ele ocorre isso
08:42quando existe grande volume
08:43de deslocamento de terra,
08:45deslizamento,
08:46que acaba entulhando
08:47a calha normal
08:48e acaba cavando
08:49um outro rio também,
08:50um outro curso de rio,
08:52e muda toda a dinâmica.
08:54Isso é correto,
08:55porque os rios,
08:56eles são dinâmicos,
08:58são entidades vivas,
09:00se a gente poder falar
09:01uma coisa parecida,
09:03mas existe essa relação
09:06entre transporte de massa,
09:09na verdade,
09:10de sólidos,
09:11sólidos e água,
09:13elas se conjugam,
09:14e quando uma é maior
09:15do que a outra,
09:17se aumenta muito
09:17a carga de sedimentos,
09:19ela acaba podendo mudar
09:21completamente o curso do rio,
09:23exatamente pelo assoreamento
09:25e erosão conjugados.
09:28Bom, e a estrutura das cidades
09:29também, professor,
09:30em relação à drenagem
09:32dessa água,
09:33porque o que eu vi
09:34lá no Rio Grande do Sul
09:35e a reclamação
09:36de muitos moradores
09:37que até manifestaram
09:38durante as cheias
09:39do ano passado,
09:40que as bombas,
09:42elas ficavam,
09:43principalmente os geradores,
09:44para fornecer a energia
09:45para essas bombas
09:46para fazer a drenagem
09:47da água nos bairros,
09:49eles ficavam
09:50no leito dos rios,
09:51na mesma altura praticamente,
09:52e quando existe a cheia,
09:54automaticamente os geradores
09:55ficavam então submersos
09:57e dessa maneira
09:57a drenagem não era feita.
10:00E a gente tem visto acontecer
10:01novamente nessas cidades.
10:03De que forma então
10:04que as políticas públicas
10:06precisam ser voltadas
10:07a esse aspecto?
10:10Bom, nesse caso
10:10de não estar funcionando
10:12esse sistema,
10:13é falta de manutenção,
10:15OIM,
10:17que seria
10:18imperação e manutenção
10:21que são necessárias
10:22para manter esse conjunto
10:23em funcionamento.
10:24E se passam vários anos
10:27sem que isso ocorra
10:28e esse investimento, né,
10:31em operação e manutenção,
10:32ele é suspenso,
10:34quando ele é necessário
10:35ele não funciona.
10:36Ocorre esse,
10:38esse,
10:39ocorre o que aconteceu, né,
10:42justamente pela falta
10:43de uma operacionalidade
10:45desse sistema
10:46no momento de crise,
10:47no momento de necessidade.
10:49É, professor,
10:52independente das questões
10:54hidrológicas,
10:55questões de
10:57bombeamento de água,
10:58se há ou não
10:59estrutura suficiente,
11:01que a gente sabe
11:01que o Rio Grande do Sul
11:02não aguenta mais chuva.
11:04Solo muito saturado,
11:05pessoas ainda em fase
11:06de reconstrução
11:07e mais água agora
11:10não era o que
11:11seria de bom uso
11:15ali para o Rio Grande do Sul
11:16nesse momento.
11:16Professor,
11:17eu quero agradecer
11:17a sua participação
11:18no Jornal da Manhã de hoje,
11:19muito obrigada
11:20pelos grandes esclarecimentos
11:21e até a próxima.
11:23Obrigado,
11:24eu que agradeço.

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