O Instituto para Desenvolvimento do Varejo encaminhou um ofício ao Congresso nesta semana visando reverter a medida que aumentou o imposto sobre operações financeiras, o IOF. Para explicar o tema em detalhes, a Jovem Pan News entrevista o presidente do Instituto, Jorge Gonçalves.
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NotíciasTranscrição
00:00O Instituto para o Desenvolvimento do Varejo encaminhou um ofício ao Congresso nesta semana
00:05visando reverter a medida que aumenta o imposto sobre operações financeiras, o IOF.
00:11O presidente do Instituto, Jorge Gonçalves, está conosco agora para falar sobre esse tema.
00:18Jorge, seja bem-vindo aqui ao Jornal da Manhã.
00:20Nós já trouxemos na manchete que o governo fez um corte de 31 bilhões de reais no orçamento.
00:26Garante que se não tiver a questão do IOF, esse corte terá que ser ampliado.
00:31Ontem eu acompanhei aqui o vice-presidente da República, Geraldo Alckmin,
00:34dizendo que é necessário justamente adotar essa medida.
00:37Como é que você avalia e os impactos aí justamente para o setor?
00:41Seja bem-vindo. Bom dia.
00:43Bom dia. Bom dia a toda a sua audiência.
00:47Bom, nós vemos da seguinte forma.
00:50O governo está atrás de buscar o equilíbrio fiscal necessário.
00:54Nós não vamos questionar essa necessidade.
00:58Porém, a solução que está sendo encontrada, entendemos que vai ser muito onerosa,
01:04não só para o varejo, como para todas as empresas.
01:09Ficou por demais elevado o IOF.
01:15Jorge, muito bom dia para o senhor também.
01:17Bom, o ofício que vocês enviaram menciona esse impacto de até 39% no custo do capital de giro.
01:25Como essa alta pode afetar de forma prática no custo final dos produtos para o consumidor
01:32e até para o próprio funcionamento das empresas?
01:35Então, o que nós apresentamos é um cálculo técnico, inquestionável,
01:45porque é uma coisa importante todos saberem que, por exemplo, o risco sacado.
01:51O que é o risco sacado?
01:53É o capital de giro que a empresa necessita para funcionar.
01:57Então, quando um fornecedor vende para o varejo, ele pega aquele contas a receber,
02:04quer dizer, ele vendeu para a minha loja, eu estou devendo para ele, ele tem aquele título,
02:09ele desconta aquele título, que é dele, não é um crédito, é um ativo dele,
02:16e usa para produzir novos produtos e para vender.
02:20Quando esse título, essa carteira de recebíveis, ela é várias vezes utilizada durante o ano,
02:31porque você compra de um fornecedor, cada 60 dias, cada 90, ele te dá um prazo de pagamento.
02:38Então, quanto mais vezes o fornecedor, quer dizer, a economia necessitar buscar esse capital de giro,
02:44maior vai ser o impacto, que nós demonstramos aí no ofício ao deputado Hugo Mota, presidente da Câmara.
02:52Então, isso é um custo direto nos produtos, é difícil de ser absorvido nessa cadeia de negócio.
03:03Consequentemente, nós vamos ver o custo do dinheiro muito mais caro, muito mais caro, não é pouco.
03:09Nós vamos ver isso repassado, se não em todo, em grande parte, para os produtos.
03:16E tem mais um ponto importante para nós falarmos, né?
03:21Esse IOF, Imposto sobre Operações Financeiras, é um imposto regulatório,
03:26mas ele está virando arrecadatório, quer dizer, fugindo da finalidade.
03:32Jorge, agora a pergunta dos nossos comentaristas.
03:34Vou começar com você, Diogo da Luz.
03:36Bom dia, Jorge. A gente vê quando o dinheiro perde valor, sobe os juros,
03:41aumenta o custo para o varejo e, por consequência, para o consumidor.
03:46É um prejuízo geral.
03:48Se tivesse condições de ser realmente ouvido pelo governo,
03:52o que você recomendaria ou pediria que eles fizessem com máxima urgência?
03:57Olha, Diogo, nós entendemos o seguinte.
04:00O mercado em si não suporta mais juros.
04:06Isso porque, se nós olharmos que a nossa Selic está em 14,75 e esse IOF pode chegar a quase 4%,
04:15quer dizer, nós estamos falando de um juro fixo, no mínimo 19.
04:19Aí nem está o spread do banco, porque o IOF, o banco só arrecada e passa para o governo.
04:24Então, o banco, o sistema bancário não tem nenhuma responsabilidade por esse número.
04:31Então, tem outras, a gente imagina que tem outras alternativas que não afetam as áreas produtivas,
04:40a indústria, o varejo que produz e gera emprego aqui.
04:42Por exemplo, as bets.
04:45As bets estão com imposto de 12%.
04:48E o que é isso?
04:49É algo que é eletrônico, não cria emprego, leva, inclusive, o dinheiro para fora do país.
04:56É uma taxa agora de 3,5%.
04:58É muito baixo.
05:00Então, seria as bets, segundo dados que realmente ninguém tem um dado correto,
05:06mas aproximado que tem sido anunciado, é de 20 a 30 bilhões por mês.
05:11Quer dizer, a gente pode falar em 300 bilhões de anos.
05:13Então, uma mudança no percentual do imposto das betes,
05:17que as empresas pagam em torno de 35% de carga tributária, a bete está pagando 12%.
05:23Então, aí já teria uma fonte de recurso enorme e sem afetar o emprego interno.
05:29É um exemplo.
05:30Um outro exemplo, mas aí é muito, digamos assim, polêmico,
05:36a questão do produto que vem através da importação cross-border,
05:42que são aquelas importações de pequeno valor.
05:44Todo mundo fala, olha, agora tem 20% de importação.
05:48Mas ninguém lembra que o imposto de importação era 60%.
05:52Então, na verdade, saiu de 60% para 20%.
05:56Houve uma redução aí de quase 70% nesse imposto.
06:00Então, se tivesse uma pequena adequação no imposto, ainda longe do que era,
06:04e longe da carga tributária que nós pagamos,
06:08a carga tributária total média do Brasil,
06:12para os produtos que são vendidos, é praticamente 90%.
06:15Então, e hoje, as betes estão pagando 20%, mas o CMS tem uma média de 50%.
06:20Ainda está distante do que o produtor, as empresas pagam no Brasil.
06:25Então, estão aí duas fontes de recursos possíveis para que possamos sair do IOF,
06:32que vai pegar toda a cadeia de produção, todo o varejo,
06:35e acreditamos que vai ser muito difícil para o ambiente de negócios.
06:41Bom dia, Jorge.
06:42Eu confesso que quando eu escuto qualquer fala sobre o aumento de imposto,
06:45me dá urticar, eu começo a me coçar,
06:48porque a gente já paga uma carga tributária muito grande.
06:50Mas quando a gente conversa com políticos,
06:53muitos dizem que não existe muito apoio popular,
06:58apoio do mercado, dos setores produtivos,
07:01para uma agenda efetiva de corte de gastos.
07:04Eu queria te ouvir sobre isso.
07:05O varejo apoiaria alguma agenda de corte de gastos públicos?
07:09Qual seria o caminho prioritário na visão do varejo?
07:14Olha, acho que não só o varejo, como qualquer setor da economia,
07:19apoiaria o corte de gastos públicos.
07:23É bastante complexo. Por quê?
07:26Porque o governo hoje está olhando os benefícios,
07:30que é algo que a gente acha que pode ser interessante,
07:35aumentar a renda média da população.
07:39Quem ganha muito pouco, ganha um pouco mais.
07:42Quem não tem como sobreviver, ganha um pouco mais.
07:45Porém, é como se fosse uma empresa.
07:48Vamos imaginar que eu sou presidente de uma empresa,
07:50eu viro para a minha diretoria e falo assim,
07:52eu preciso de mais receita.
07:55Se não se consegue mais receita numa empresa,
07:58você faz um plano de redução de despesas,
08:00de corte dos custos internos da empresa.
08:02Então, se a gente olhar o país como uma empresa bem administrada,
08:07não podemos deixar de apoiar uma redução nas despesas.
08:11Agora, Jorge, você imagina que, de fato, o governo adotou essa medida
08:16porque ela pode ser imediata,
08:18quer dizer, não precisa esperar um ano para poder cobrar,
08:21ou seja, já pode cobrar agora em 2025.
08:25O governo não esperava toda essa repercussão, evidentemente.
08:28E agora, como o senhor entregou, quer dizer, essa questão envolvendo a Câmara.
08:34Câmara e Senado, nós tivemos aí uma forte repercussão contrária.
08:38O governo agora ameaçou levar para a justiça, não vai levar mais.
08:42Então, de fato, você acredita que o Congresso vai derrubar essa medida
08:45e o governo vai ter que se virar de outra forma?
08:48Olha, eu acho que o momento institucional do país
08:52está mais de alinhamento entre os poderes do que de confrontação.
08:58A minha visão é uma visão que pode não ser a visão de todos.
09:03Então, esses dez dias que foram dados pelo presidente da Câmara, Hugo Mota,
09:08esperamos que ache uma solução,
09:12uma solução que não seja tão danosa ao mercado.
09:16Porque se nós pegarmos aquilo que eu falei,
09:18cada 30, 60 dias, depende do setor,
09:22fazer esse giro do capital de giro,
09:24vai dar um aumento de custo do dinheiro de 40% a 100% para as empresas.
09:29Então, nós acreditamos que deverá ter alguma saída,
09:34nós comentamos duas, de bom senso,
09:37que podem ser adotadas.
09:40Então, olha, a gente acha,
09:44a economia foi anunciada o PIB do trimestre,
09:48cresceu 1,4%,
09:50existe uma expectativa aí de que continue nesse nível durante o ano.
09:56Eu acho, nós achamos,
09:58eu falei com diversas entidades,
10:01que isso pode dar uma freada na economia,
10:04pode dar um aumento de custo e inflação.
10:06Então, o que tem de agravante,
10:11é importante nós estarmos citando,
10:14é que segunda-feira já começa,
10:16como você disse, é o comércio imediato.
10:18Segunda-feira começa,
10:20o mercado vai estar muito difícil,
10:23porque os fornecedores vão estar à porta das empresas,
10:27empresa que tem caixa,
10:29pode talvez financiar seu fornecedor
10:32sem passar pelo sistema bancário,
10:34mas a maioria usa esse sistema de adiantar recebíveis
10:39como uma rotina normal.
10:43Então, vai ser uma semana bastante difícil para o varejo.
10:48Agora, Jorge, se o decreto, por exemplo,
10:51não for revertido,
10:53o que o IDV já projeta?
10:55Existe aí um risco de aumento da inflação,
10:58do próprio desemprego também,
11:01diante dessa medida?
11:02Bom, economia é sempre uma previsão.
11:07Nós entendemos que alguns setores do varejo estão indo bem,
11:13vamos falar que alguns setores já estavam em caminho de recuperação,
11:19agora tem setores que necessitam de alto capital de giro,
11:23como materiais de construção,
11:25eletro,
11:25metro,
11:26móveis,
11:27esses podem se ver ainda mais apertados.
11:30Então,
11:32a gente teme por uma retração,
11:36porque o que acontece?
11:38Enquanto o mercado,
11:39às vezes, não cresce em termos de volume,
11:42mas você consegue acomodar preço,
11:44porque ele está mais comprador,
11:46o que pode ocorrer é que não vai dar para acomodar mais preço
11:50se o volume começa a cair.
11:52Então, podemos ter um reflexo importante
11:55no mercado e na economia,
11:59porque a agro está levando o PIB,
12:02agora as outras atividades podem ser impactadas,
12:05e não só o varejo.
12:07Eu acho que tem outras associações,
12:11entidades que também estão projetando aí uma grande dificuldade
12:13se for mantido esse decreto.
12:18Conversamos com o Jorge Gonçalves,
12:20que é o presidente do IDV.
12:21Jorge, muito obrigado pela sua participação aqui na programação da Jovem Pan
12:25e claro que vamos continuar acompanhando de perto esse tema
12:28que envolve toda a economia brasileira,
12:30como o senhor nos contou.
12:31Muito obrigado.
12:32Agradeço pelo espaço e um bom dia a todos.
12:35Bom dia.