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  • 21/05/2025
“O pior preconceito que tem é o velado”, diz Nany People

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Transcrição
00:00O Nani, aí a gente estava falando de preconceito, né?
00:03Sua carreira extensa, você falou 50 anos de carreira.
00:07Obviamente, hoje em dia as coisas melhoraram muito, mas lá atrás não tinha tanta liberdade
00:13para mostrar sua arte, para mostrar quem você é e tal.
00:16E eu queria saber se teve algum episódio que te veio à mente, ou alguns episódios
00:21que te chatearam por você não poder ser quem você sempre foi.
00:26Amado, muito boa essa pergunta, mas sou uma pessoa que se aprende por sobrevivência até
00:30a não somatizar débito, somatizo crédito.
00:33Agora, eu tenho consciência que eu tinha um privilégio, eu tenho, de berço,
00:37de ter nascido numa família que, infelizmente, nem toda trans e todo gay tem.
00:43Eu tive uma mãe, avante do tempo, que desde muito cedo, percebendo a minha condição,
00:49ela tratou logo de me blindar, me proteger, me amar muito, me loucubrar
00:54e me incentivar para fazer as coisas na vida.
00:57E me deu, sobretudo, a possibilidade de eu me aculturar.
01:01Então, a cultura é a melhor arma que a pessoa pode ter para viver.
01:04Se você quer investir em alguém, dê cultura para a pessoa,
01:06dê forma de ela poder se aculturar.
01:09Eu fui o único dos irmãos que estudou num colégio particular.
01:12Cúnico, os outros estudaram de colégio público.
01:14Minha mãe fez a cabeça dos meus irmãos de um jeito,
01:16ela conversou com eles que era sangue do mesmo sangue
01:20e que, houvesse o que houvesse, eu teria que me proteger, me aceitar, me amar e me entender.
01:27Então, eu tenho dois irmãos que, na verdade, é fora do padrão mesmo.
01:30Meu irmão mais velho, no pós-calde, é como se fosse meu pai.
01:33É um do meio também, porque na pandemia, por exemplo,
01:34que eu conto muito aqui no livro, na pandemia,
01:38o povo estava surtando, eles me ligavam todos os dias.
01:41Todos os dias.
01:42E um irmão meu, que é policial, trabalhando,
01:44teve aquelas coisas das guaritas, barricadas, o pessoal não poder passar.
01:47Então, eu tive essa mãe e a mãe no tempo.
01:49Então, eu acho que a cultura foi o meu grande aval,
01:53meu grande portfólio, meu grande green card
01:55para poder entrar no universo, em bolhas,
01:58que até então não eram permitidas para pessoas como eu entrar.
02:01Só que assim, eu nunca somatizei os débitos.
02:04E é o pior preconceito que tem, sabe o que é?
02:06É o preconceito velado.
02:08Quer dizer, gente, do seu lado,
02:10que não quer ter o que você tem,
02:12não quer que você consiga.
02:14Isso é o pior preconceito que tem.
02:15Porque ao invés de poder ir numa reunião de pauta,
02:18então a gente quer você fazer alguma coisa.
02:19Ah, mas você acha bem a Nani fazer isso?
02:21Uma trans fazer isso?
02:22Então, não posso falar isso.
02:23Porque eu tive uma pessoa com gulagem de andrade
02:24que me apresentou para a TV brasileira.
02:26Quando eu fui fazer uma matéria sobre o Corinthians,
02:27lá em 95, 96,
02:30ele pegou o telefone,
02:31estou mandando ao profissional,
02:32que é da minha confiança,
02:36e competente, falei, o que faz?
02:37Comecei a fazer uma matéria do Corinthians,
02:38na Zé Paulino,
02:40que foi feita a primeira reunião do Corinthians.
02:43Quando eu cheguei no Parque São Jorge,
02:44peguei a sala dos troféus,
02:45cheguei na sala da presidência,
02:48quando cheguei no time,
02:49no Luxemburgo,
02:50era o treinador.
02:50Parou o treino.
02:51Eu de mal vindo na Cruella,
02:53todo de preto e branco.
02:55Luxemburgo,
02:55vamos parar que não vai dar certo.
02:58A imprensa estava toda,
02:59cobrindo o time,
03:00eu virei o campeonato todo.
03:02No dia seguinte,
03:02estava em todos os jornais.
03:04Gazeta Esportiva,
03:04Drag Queen,
03:05gravar quadro do Parque São Jorge.
03:07Você virou o troféu.
03:08Quando chegou na notícia popular,
03:09estava a ver com a bala de mão.
03:11Então, meu bem,
03:11a partir dali não teve para ninguém.
03:13É.

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