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  • há 4 minutos
Poesia em feitio de oração, encantando os olhos com as palavras recém-saídas do sacrário dos sentimentos. Os versos, que muitas vezes parecem concebidos com as mãos postas, joelhos na terra, tocam o coração e atingem, com delicadeza, os nervos que habitam a flor da pele. Sim, há estrofes de arrepiar, harmonia completa entre o divino e o humano. Mineira de Divinópolis – e de onde mais poderia ser? –, Adélia Luzia Prado de Freitas completa hoje 90 anos de vida, dos quais muitas décadas de amor à língua portuguesa sempre permeadas pela fé e a religiosidade. O nome composto homenageia a santa do dia 13 de dezembro, Santa Luzia, protetora da visão e poderosa guardiã contra a cegueira do corpo e da alma.

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IMAGENS: Arquivo EM; Redes Sociais
REPORTAGEM: Gustavo Werneck
APRESENTAÇÃO E EDIÇÃO: Jorge Lopes


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Transcrição
00:00Enquanto eu fiquei alegre, permaneceram um bule azul com descascado no bico,
00:06uma garrafa de pimenta pelo meio, um latido e um céu limpíssimo com recém-feitas estrelas.
00:15Resistiram em seus lugares e em seus ofícios, continuando o mundo para mim,
00:22anteparo para o que foi um acometimento.
00:25Súbito é bom ter um corpo para rir e sacudir a cabeça.
00:33A vida é mais tempo alegre do que triste, melhor é ser.
00:37Adélia Luísa Prado de Freitas completa 90 anos de vida nesse 13 de dezembro.
00:42Muitas décadas de amor à língua portuguesa e sempre permeada pela fé e a religiosidade.
00:47Nascida em Divinópolis, publicou seu primeiro livro Bagagem aos 40 anos,
00:51apadrinhada por Carlos Drummond de Andrade, que enviou a série de poemas para editora e magra.
00:57Professora por formação, Adélia lecionou durante 24 anos,
01:00até que a carreira de escritora tornou-se a atividade central.
01:04O nome composto homenageia a santa do seu dia de nascimento, Santa Luzia,
01:08protetora da visão e poderosa guardiã contra a ceguira do corpo e da alma.
01:12Ganhadora do prêmio Camões e destacada dias antes com o prêmio Machado de Assis,
01:17da Academia Brasileira de Letras. Adélia demonstra em seus versos proximidade com Deus.
01:22Louvado sejas Deus, meu Senhor, porque o meu coração está cortado à lâmina,
01:29mas sorrio no espelho ao que a revelia de tudo se promete,
01:34porque eu sou desgraçado como um homem tangido para a forca,
01:39mas me lembro de uma noite na roça, o luar nos legumes e um grilo,
01:44me assombra na parede.
01:48Louvado sejas, porque eu quero pecar contra o afinal sítio aprazível dos mortos,
01:55violar as tumbas com a ranhão das unhas,
01:59mas vejo tua cabeça pendida e escuto o galo cantar três vezes em meu socorro.
02:05Louvado sejas, porque a vida é horrível,
02:09porque mais tempo, mais é o tempo que eu passo recolhendo os despojos.
02:13velho ao fim da guerra com uma cabra,
02:18mas limpo os olhos e o muco do meu nariz por um canteiro de grama.
02:23Louvado sejas, porque eu quero morrer, mas tenho medo,
02:27e insisto em esperar o prometido.
02:31Uma vez, quando eu era menino, abri a porta de noite,
02:35a horta estava branca de luar,
02:37e acreditei sem nenhum sofrimento.
02:43Louvado sejas.
02:45Em suas palavras, o céu não está longe dos seres da Terra.
02:49Pelo contrário, é possível tocá-lo com as ideias mais ternas,
02:53eternas e igualmente fortes.
02:55Aproxima o invisível do dia a dia.
02:57Uma coisa em nós é rasa e profundamente igual.
03:05Queremos ser felizes.
03:08O mais grave dos homens,
03:11se vir no prato um ovo de duas gemas,
03:14ainda que de boca fechada, sorrirá.
03:18Tudo guarda um sinal.
03:22Tudo é escritura, código, aviso,
03:27voz que de outra maneira soa.
03:31De seu lugar, o retroz, o albatroz,
03:36até o fim dos tempos falarão.
03:40A borboleta, só de abrir e fechar as asas, está falando.
03:45Não se faz poesia apenas com palavras.
03:50Poema, sim.
03:52Mas quem precisa deles?
03:54Em nosso site, você encontra outras reportagens
03:57em homenagem aos 90 anos de Adélia Prado.
03:59E siga a gente no WhatsApp,
04:01para receber notícias urgentes direto no seu celular.
04:04Até mais.
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