- há 22 horas
Por que o futebol não foi feito para mulheres?
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00:00E eu vou dar um pouquinho do currículo dela, porque merece destaque, tá?
00:03A Aire é graduada em Artes Visuais pela Unicamp, tem mestrado em História Política e Bens Culturais
00:08pela Fundação Getúlio Vargas, do Rio de Janeiro, e foi co-curadora de algumas exposições voltadas
00:14para o futebol feminino, como a Contra-ataque, as Mulheres do Futebol de 2019,
00:20Pioneiras de 2021, que foi feita na Granja Comari, e a Rainhas de Copas de 2023.
00:28Ela vai falar um pouquinho dessas exposições para a gente.
00:30Além disso, a Aire fez parte da equipe que implantou o Centro de Referência do Futebol Brasileiro
00:36no Museu do Futebol, onde ela trabalhou por sete anos também.
00:40E ela é a autora do livro mais completo, mais bonito do mundo, que é esse que está aqui em minhas mãos,
00:47olha aqui, mostro para vocês, que é o Futebol Feminino no Brasil, entre festas, circos, subúrbios, uma história social.
00:55Então, vamos para o papo?
00:58É, currículo grande, né, minha amiga?
01:00A faria, gente.
01:01Trabalhou demais, né?
01:03Estão aí, né?
01:03E segue trabalhando, é isso que importa.
01:07Então, Airoca, eu queria que você começasse falando para a gente, como a gente faz aqui sempre desde o começo, né?
01:13Como que veio a inspiração para você estudar futebol, antes de entrar nas mulheres, estudar futebol?
01:20Porque eu acho que a gente que trabalha com futebol, a gente é picada desde criança, né?
01:24Então, como foi que esse bichinho te picou e como você tomou essa decisão de pesquisar o futebol?
01:30Eu tinha que pagar as contas, né?
01:32Antes de tudo?
01:33Acima de tudo?
01:34Eu acho que dificilmente alguém, mesmo que goste muito de futebol, de esportes em geral, imagina, nossa, eu vou ser uma pessoa teórica do esporte.
01:43Não foi o meu caso, definitivamente.
01:46A minha experiência se dava no âmbito da cultura, dos museus, do trabalho com educação.
01:52Então, ali era o campo onde eu desbravava, ali onde eu jogava.
01:56Sim.
01:58Então, passando por várias experiências de museus e exposições, né?
02:02O Museu do Futebol, numa ocasião, ele vai abrir algumas vagas, uma delas, inclusive, de pesquisador,
02:09porque ele estava numa fase de implantação desse centro de pesquisa, né?
02:12Que é o Centro de Referência do Futebol Brasileiro, ou seja, um setor que vai ser uma espécie de um cérebro
02:18que vai articular, desde uma biblioteca, novas pesquisas, pesquisas de campo,
02:23uma articulação mais humanizada com as pessoas, seja ela um ex-jogador, torcedor, torcedora,
02:30pessoas que têm coleções de futebol.
02:32Então, talvez fosse uma grande curiosidade, né?
02:36Entender como misturar esses dois temas, ou seja, né?
02:40Museu, pesquisa e o próprio esporte, futebol.
02:43E aí eu fui parar lá desta maneira.
02:45Mas eu fui uma zagueirinha, eu já me esforcei em campo, já rompi um LCA no joelho, então...
02:53Recentemente, tá, gente? Ela rompeu um LCA jogando as peladas dela e acho que voltou, né?
02:58Você não ficou quietinha, né? Você voltou a jogar?
03:01Ah, ainda estou esperando uma convocação, assim.
03:04Entendi!
03:05Copa está aí, né?
03:05Ô, Aira, mas acho que é legal a gente falar também de como as mulheres precisaram entrar ali dentro do Museu do Futebol, né?
03:15Porque ele nasce com a ideia de falar do futebol, mas qual futebol, né?
03:19Futebol 100% masculino, né?
03:21Destacando todas as conquistas dos homens, que são inúmeras, valiosíssimas, a gente ama, valoriza e tal.
03:27Mas onde estavam as mulheres dentro daquele museu, né?
03:31E vocês se puseram a pensar e a implementar isso que foi no ano de 2015?
03:37Eu estava lá.
03:38Dez anos atrás.
03:39É isso.
03:40Como foi esse processo também de incluir as mulheres na história?
03:43Porque, gente, elas estão na história.
03:45Se vocês pegarem esse livro aqui, vocês vão ver que antes mesmo de ser autorizado,
03:50porque o futebol para mulher foi proibido no Brasil por 40 anos, né?
03:54Elas já se reuniam, elas já jogavam na várzea, nos circos, nas festas.
03:59Então, as mulheres estavam escondidas, né?
04:02Elas precisavam de destaque.
04:04Como foi essa inserção das mulheres no museu?
04:07Então, Nina, acho que você, sem querer, acabou respondendo, né?
04:10Então, a pergunta é essa.
04:11Onde estão as mulheres na história?
04:13No geral, né?
04:13Então, acho que a gente pode voltar para a escola, né?
04:16Onde a gente tem a nossa formação, pelo menos, básica em torno do ensino da história.
04:20A história da gente, a história das nossas cidades, a história do nosso país, dos nossos governantes.
04:26E eu acho que ali a gente acaba, de uma forma um pouco errônica, assim,
04:30já se acostumando com a ausência de mulheres.
04:32E normalizando isso, que talvez seja a maior violência em torno da gente.
04:36Como se mulheres não pudessem, assim, ser protagonistas de feitos históricos.
04:41E feito histórico não é necessariamente se tornar uma pessoa política, importante, né?
04:46Ter um protagonismo dessa natureza, mas também.
04:48Mas, nos últimos anos, assim, a gente está falando 10, 20 anos,
04:54eu acho que tem um esforço, assim, tanto dessa área dos historiadores,
04:59mas não só, acho que também tem um apelo social das pessoas, então,
05:02olharem com mais cuidado para outros protagonismos em todos os setores, né?
05:07Desde uma micro-história, a história da sua família, até uma história nacional, internacional.
05:12Então, não é diferente olhar para os museus como se fosse um grande livro de história da escola, né?
05:17E olhar que a mesma ausência de representatividade desses espaços,
05:22que são igualmente políticos, que são igualmente educadores,
05:26eles vão passar por transformações, né?
05:29Então, assim, nenhuma narrativa no museu, ela é fixa.
05:32Então, quando a gente chegou lá, com a minha equipe em 2011,
05:35eu acho que já tinha um pouco esse ímpeto de produzir pesquisas sobre outros futebóis,
05:41como você já bem destacou,
05:43porque existia uma reivindicação do próprio público, né?
05:45Então, uma pessoa boleira não necessariamente é uma pessoa clubística,
05:49mas ela pode viver de forma muito genuína o futebol.
05:52Mas, quando ela entrava dentro do Pacaembu, quando entrava no museu,
05:56existia um vazio, uma ausência de representação.
05:59Ou mesmo pensar que a gente está falando de representações nacionais, né?
06:03De um país continental.
06:04Então, como você também lidar de forma democrática com as maneiras de representação dessas pessoas,
06:10de várias épocas, de vários gêneros.
06:12Então, eu acho que a Várzea, primeiro, me mobilizou para entender
06:16que tinha muita gente na cidade de São Paulo que vivia o futebol de muitas maneiras,
06:21e ali já tinham mulheres, tinham mulheres incríveis, inclusive.
06:25E, em 2015, alguns anos depois, já fazendo essa inserção de conteúdos desse ambiente amador,
06:33vem o futebol feminino já no reboque pós-Copa do Mundo que a gente viveu no nosso país.
06:39Ou seja, a gente sabia tudo sobre uma Copa em 2014, de um país sede,
06:44todas as questões que vieram com o evento, com as construções e destruições que esse evento trouxe.
06:50E, no ano seguinte, que a gente ia ter uma Copa também igualmente importante,
06:54da mesma entidade FIFA, com a mesma seleção brasileira feminina,
06:58a gente, então, não conseguia destacar mais do que duas jogadoras da nossa equipe.
07:02A gente não sabia quando ia acontecer esse evento.
07:05Onde assistir, né?
07:07Não tinha, né?
07:08Não tinha na TV Adela.
07:08Não tinha nem transmissão.
07:09Então, eu acho que ali, pra mim, vem o atributo das mulheres como mais um.
07:18Então, eu não trabalho exclusivamente com o tema só das mulheres, como você já destacou.
07:23Mas esse veio porque ele atravessa também a minha pessoa.
07:27Eu também sou uma mulher que trabalha com futebol, assim como você.
07:30E ali, então, a gente vai vestir a camisa e batalhar por tudo isso que a gente conquistou nesses últimos dez anos.
07:36Sim, eu lembro de estar lá no dia que vocês fizeram homenagens pra algumas pioneiras, né?
07:41Acho que foi na abertura da exposição, Visibilidade pro Futebol Feminino.
07:46Era ano de Copa do Mundo, faltavam poucos dias pra gente ter a Copa do Mundo acontecendo, né?
07:51No Canadá.
07:52E pouca gente, né?
07:53Se engajou naquilo.
07:54Claro, era pouco falado, era pouco divulgado.
07:57Os jogos estavam em TV fechada.
07:59E quatro anos depois a gente viveu uma transformação, né?
08:02De 2019 pra França, as pessoas indo até lá pra assistir, transmissão pela primeira vez na maior emissora do país, recordes de audiência.
08:11Então, como a coisa, como o museu contribuiu também pra essa inserção, né?
08:16Do futebol feminino no cotidiano das pessoas.
08:19E aí também eu queria que você, já que a gente tá falando de futebol, né?
08:23Das mulheres que elas sempre jogavam, que elas buscavam espaços, seja nos campos de várzea, seja nos colégios, nas brechas, nos circos e tal.
08:33Eu queria que você contasse um pouco, pra quem tá ouvindo a gente aqui, dessas falácias, né?
08:38Que criaram, né?
08:39Porque não foi tão simples dizer, ah, a mulher não pode jogar futebol.
08:42Era, a mulher não pode jogar futebol porque...
08:46Porque o corpo dela não é feito pra jogar futebol.
08:48Porque mulheres vão ficar inférteis se jogar futebol, olha as coisas que a gente teve que ouvir.
08:54Então eu queria que você falasse um pouquinho dessas falácias, até pras pessoas pararem pra refletir.
08:59Caraca, né?
09:00Quem foi que falou um negócio desse e tal?
09:04E todas essas mentiras afastaram as mulheres por anos, né, do futebol, né?
09:09Todo mundo acreditou, o acesso pra crescimento da modalidade foi atingido.
09:16Então o que a gente ouvia?
09:18Qual que é as...
09:19Elenca aí umas três besteiras que a gente ouvia.
09:21Muitas mentiras, né?
09:23Sim.
09:23E a gente, né, a nossa geração, por exemplo, a gente acabou se acostumando também com isso.
09:28Com certeza.
09:28Porque a gente acabou também destratando e reproduzindo esse machismo em torno da modalidade de alto rendimento.
09:34Ou não se permitindo viver o futebol da forma como a gente gostaria, assim, né?
09:38Eu mesma, assim, pô, eu gostava de jogar.
09:40Mas eu não consigo pensar em nenhum momento na minha adolescência onde eu cogitei seguir como jogadora.
09:48Porque aquilo não existia pra mim e me convenci disso.
09:52E dentro do trabalho, assim, museológico, né, a gente então tinha essas dificuldades no nível, assim, de historicizar.
10:00Ou seja, como revelar o que aconteceu ao longo desses cem anos, né?
10:05Então a gente tá falando do futebol no Brasil com um pouquinho mais de cem anos.
10:10Sendo que a gente não tinha, assim, e aí quando eu falo a gente, não só o museu, mas pesquisadores, historiadores, memorialistas, os clubes, entidades no geral, historicizado a participação das mulheres.
10:23Porque também você não legitimava, assim, né, essa prática de futebol por elas como algo oficial.
10:30Elas se reuniam, mas não era uma brincadeira, é amadora, etc, né?
10:34Então a gente deixou de organizar essa história, a gente deixou de aprender com essa história.
10:39Então dentro do museu, nesse período de 2015, a gente passa quase que a constituir o básico.
10:45O que é o básico? Sei lá, começar uma linha do tempo.
10:47De onde começa uma linha do tempo?
10:49Então a gente sabia que a primeira seleção feminina oficial se dava em 88.
10:56Aí eu vou acreditar, então, que antes de 88 isso não tinha nada.
10:58Então essa foi a primeira mentira, assim, né? Oi?
11:00E muitas vezes a gente ouvia da CBF, né?
11:03Que o investimento reduzido no futebol feminino se dava por ser um esporte recente.
11:09Aí ali, acho que já foi o meu primeiro lugar.
11:10A primeira mentira.
11:11A primeira mentira, peraí.
11:14Então só de olhar para os jornais, né?
11:16De todas as épocas, né?
11:17Eu fui para a década de 70, tinha muita coisa.
11:20Ela foi ler o jornal antigo, gente.
11:22Que tinha muita coisa.
11:23E 50, e muita coisa, e já era proibido.
11:25Você começou a achar notícias nessas décadas, gente?
11:28Eu fui voltando, voltando aonde eu fui parar, em 1915.
11:31Minha gente.
11:32Primeira evidência.
11:34Evidência.
11:35Porque o fato de eu dizer que tem uma evidência é um registro que até hoje durou, né?
11:39Então alguém escreveu no jornal.
11:41Agora, a gente também não é feito só de evidências.
11:44Muitas das nossas histórias e práticas não são registradas, né?
11:47Não tinha ali um Instagram para a mulherada no início do século fazer uma conversinha,
11:52aquilo ficar inscrito em algum lugar.
11:55Então, assim, isso é só o que está registrado.
11:57Então essa acho que é a primeira mentira, né?
11:59A segunda é que, enfim, era um esporte inadequado para as mulheres.
12:03Então a gente também não tinha, e aí a imprensa foi muito importante nesse momento,
12:09as pessoas não tinham consciência sobre a proibição do futebol feminino no Brasil.
12:14Nem as jogadoras.
12:15Então elas também viviam, né?
12:17Uma reelaboração dessa cultura de exclusão, de machismo,
12:22onde elas também naturalizavam.
12:24Nasci mulher logo, eu não sou apto o suficiente para exercer esse futebol da maneira como o país do futebol elabora com os homens.
12:33Então essa acho que foi o grande movimento em 2015, contar para todo mundo.
12:38A gente precisa contar que teve uma interrupção de um processo que estava em crescimento.
12:44Então essa acho que é a terceira mentira, né?
12:46Então o futebol só é proibido porque ele está fazendo muito sucesso em 1940.
12:51Tem mais de 15 equipes, os homens estão interessados inclusive em aglutinar, assim,
12:58juntar a experiência masculina com o feminino.
13:00Então você tinha preliminares das mulheres, depois você tinha jogos masculinos,
13:05tinha ingressos sendo vendidos, tinham várias marcas que já estavam associadas a essas equipes.
13:11Você tem o intuito de fazer excursões nacionais e internacionais com essas equipes da época.
13:16E o próprio mercado, né?
13:18Algo que é muito mobilizado hoje em dia nas discussões,
13:22ele estava muito interessado em oferecer uma novidade esportiva.
13:25Então ele olha pro feminino, olha pra técnica delas, pro jogo delas.
13:30E a gente está, assim, num momento de virada, né?
13:32Onde aquilo vai ser ofertado como também um divisor de águas,
13:37com uma possibilidade de ascensão social no Brasil também igualmente desigual.
13:42E isso é interrompido, então, ali pelos homens e, enfim,
13:46pessoas que estavam ali com recalque em relação a essas histórias.
13:49E é basicamente durante a ditadura, né?
13:51Que tem um decreto, né?
13:53De que as mulheres não são aptas, né?
13:57Não são aptas a praticar esportes de contato.
13:59Então nisso entrou, além do futebol, as lutas, o rugby.
14:03Então havia um decretinho ali, assinado.
14:05O presidente da época assinou esse decretinho, Getúlio Vargas ali e tal.
14:09E aí ficou como uma lei, né?
14:12É óbvio que o acesso para as mulheres já era restrito, né?
14:15E a proibição, ela atrapalha muito esse desenvolvimento,
14:19essa evolução do esporte, né?
14:21Então, até hoje, quando a gente conversa com as pioneiras, né?
14:25Que a gente fala dessa seleção, das jogadoras de 88, de 91,
14:30elas falam muito sobre isso, né?
14:32Sobre as dificuldades que elas tinham para conseguir jogar,
14:35para fazer parte de um time, de um clube.
14:38O quanto elas não recebiam por isso, né?
14:40Jogavam muito por amor à camisa.
14:42Enquanto os caras já estavam...
14:43O Brasil já tinha quantas copas nos anos 80?
14:46Três copas, né?
14:47Então...
14:47E aí as pessoas teimam também em comparar, né?
14:54Ai, mas o futebol delas é tão diferente do deles,
14:56é tão mais não sei o quê, é tão mais aquilo lá.
14:59Por que elas nunca ganharam nada?
15:01Como é que ganha alguma coisa sendo proibida por 40 anos
15:04de praticar esporte nesse país, né?
15:06Futebol, no caso.
15:08Então, hoje a gente vê as mulheres jogando,
15:12tendo visibilidade, os clubes investindo,
15:14mas foi mesmo esse processo, né?
15:16Que a Ira está falando que começa em 2015,
15:18estoura em 2019,
15:21sai da bolha com a Copa
15:23e logo depois é uma pandemia
15:24que a gente falou,
15:25nossa, agora o nosso futebol vai lotar,
15:27estádio vai vingar.
15:28E a gente ainda teve que lidar com a pandemia, né?
15:31Resiliência, né?
15:32Exato.
15:32Nada para a mulher é fácil, né, minha irmã?
15:34Respira fundo.
15:35Mas vai ter uma Copa do Mundo em casa.
15:37Exato.
15:37E olha só, quem diria?
15:38O que a gente está vivendo agora, né?
15:40Então, diversos campeonatos,
15:42time, Série A, Série B,
15:44futebol chegando em outros estados do país, né?
15:47Porque é muito fácil falar de São Paulo, Rio,
15:49mas outras regiões ainda pecam um pouquinho, né?
15:53Para conseguir desenvolver.
15:55E a gente vai ter uma Copa do Mundo em 2027, né?
15:58Mas antes de chegar em 2027,
16:00eu queria que você falasse
16:01do processo de escrever esse livro.
16:03Lógico, você está inserida nessa pesquisa do futebol há muito tempo, né?
16:07Desde a tua faculdade,
16:09a passagem pelo museu,
16:11mas você seguiu aqui fazendo...
16:12Isso aqui, gente, é projeto independente, tá?
16:15É carreira solo.
16:16É no peito e na raça que ela fez.
16:18E é um livro muito bonito,
16:20que tem aqui, ó,
16:21mapa das regiões,
16:23aqui, ó,
16:23em que o futebol feminino acontecia,
16:26fotos de época,
16:28relatos...
16:28Olha aqui,
16:29abri nessa página linda
16:30do meu time de futebol.
16:33Olha só que lindo.
16:35E eu queria que você falasse um pouquinho, então,
16:36dessa...
16:37desse processo pra que...
16:40Isso aqui é a nossa Bíblia oficial do futebol feminino.
16:43Então, eu queria que você falasse
16:44desse livro de mais de 300 páginas, né?
16:48Que é uma produção literária independente.
16:50Como que foi conceber tudo isso, assim?
16:54Olha, eu...
16:56Com o início das pesquisas, em 2015,
16:59eu acho que o que eu mais sentia falta
17:02era que a gente tivesse um pouco
17:03desses eventos, né?
17:05Que estão registrados nos jornais,
17:07nas revistas ilustradas,
17:09na interpretação das imagens,
17:10tivesse isso um pouco mais sistematizado
17:12e organizado.
17:13E a partir disso,
17:15a gente, como comunidade, assim, né?
17:18Seja pesquisador, seja jornalista,
17:20seja as próprias jogadoras,
17:21que a gente começasse a aprender
17:23a partir dessa história
17:24que não estava disponível em nenhum lugar.
17:26Sim.
17:27Eu acho que a gente estava vivendo
17:28um momento, assim, né?
17:29De muitas reflexões sobre gênero,
17:31principalmente de desigualdade de gênero,
17:33não só no Brasil, mas no mundo.
17:36Mas eu estava um pouco cansada, assim, né?
17:39De partir da história do feminino
17:41como uma história muito difícil,
17:42de proibição, de fracasso.
17:46E não era isso que as fontes
17:47estavam me contando.
17:48Muito pelo contrário,
17:49ela estava me oferecendo muitas histórias,
17:51nomes, regiões, geografias
17:53de um Brasil, assim, né?
17:55Continental.
17:55Maravilhoso, sim.
17:56Que eu queria oferecer
17:58para uma grande quantidade de pessoas, né?
18:01Então, o próprio Museu do Futebol, né?
18:03Ele acabou absorvendo parte
18:05dessas pesquisas, dessas imagens,
18:07ou seja, pensar que a gente cresceu
18:09sem ver imagens antigas
18:10de mulheres jogando.
18:11E isso a gente já superou, né?
18:13Então, você vai no Museu do Futebol,
18:14você consegue reencontrar com isso.
18:16Sim.
18:16Não só com isso,
18:17mas histórias de todas as épocas, né?
18:19Épocas, inclusive, da proibição,
18:20porque as mulheres desobedeceram
18:22e continuaram jogando.
18:24Eu sou uma pessoa da cultura,
18:26então, para mim,
18:28eu consegui entender
18:29qual era a minha função
18:31dentro das universidades,
18:33dentro da academia,
18:35no sentido de dar legitimidade
18:36para o conhecimento
18:37que eu estava produzindo,
18:38nesse caso,
18:39o conhecimento histórico,
18:40histórico social,
18:41porque ele vai falar
18:42sobre grupos de mulheres diferentes.
18:44Mas, eu não queria,
18:46desde o início, assim,
18:47me contentar com uma dissertação
18:49que estivesse dentro ali
18:50de um banco de dados
18:52que circulasse só no meio acadêmico, né?
18:56Então, depois de fazer
18:58essa peregrinação acadêmica, né?
19:00De cruzar esse caminho,
19:02que às vezes é muito árduo
19:03para algumas pessoas,
19:04no meu caso, não foi.
19:05Então, fica aqui um estímulo.
19:06É possível ser acadêmico
19:08sem sair doente,
19:10sem não encontrar propósitos
19:12nesse processo.
19:14E, dali, eu já tinha muito claro
19:15que eu queria fazer um livro,
19:16transformar a dissertação
19:17num livro.
19:18Então, eu passei os anos
19:19de 2019, 20,
19:21a pandemia, basicamente,
19:22até o ano de 23,
19:24onde eu pensei
19:25em fazer um lançamento estratégico
19:26junto com a Copa do Mundo
19:27de uma publicação
19:29que fosse, de fato,
19:32como eu sempre sonhei.
19:34Todas as fontes visuais,
19:36então, não é só ilustração,
19:38figurinha,
19:39então, são fontes
19:39pouco conhecidas até então.
19:41E elas dizem muito, né?
19:43Como as pessoas se vestem,
19:44a idade dessas meninas,
19:45a cor da pele dessas mulheres,
19:47o nome delas.
19:49Então, todas as fontes aí
19:50são fontes de pesquisa
19:52e ajudam, obviamente,
19:53a deixar o produto,
19:54o livro, muito bonito.
19:56Um exercício, né,
19:58de organização dessas fontes, né?
20:00Então, você consegue encontrar
20:01a referência dos jornais
20:02e tudo mais que acontece.
20:06E fazer um livro bonito.
20:09Sim.
20:09Porque quem nunca, né,
20:10comprou um livro pela capa também.
20:12Com certeza.
20:12Eu acho que a gente
20:14que está numa bolha,
20:15que gosta do futebol de mulheres,
20:17obviamente,
20:18tem uma relação com ele,
20:20mas eu acredito que
20:20nesses últimos anos,
20:21desde que ele foi lançado,
20:23outras pessoas, assim,
20:25em função da própria estética
20:27do livro,
20:28também se aproximaram
20:29por curiosidade, né?
20:30Não, ele é um livro belíssimo.
20:32Tem recorte de jornal,
20:33tem fotografia de época,
20:36tem detalhe de mapa, né,
20:38dos estádios,
20:40tem ingressos, assim,
20:41de circo,
20:42de exibições das mulheres.
20:44Cada foto preciosa.
20:46Olha isso aqui, gente.
20:47É, ele é meio museuzinho, né?
20:49É um museuzinho ambulante
20:50na nossa mão.
20:51Coisa linda.
20:52É a diagramação do Cassimano.
20:54Sim.
20:54A gente tem esse esforço, né,
20:56de pensar, né?
20:58Como uma jogadora,
21:00ex-jogadora,
21:01ou uma jogadora
21:02que estava começando,
21:03ela se interessaria
21:04por essa história.
21:05Então, foi pensada
21:06a adaptação do texto
21:07para isso.
21:08E hoje, acho que eu consigo
21:09cumprir essa função,
21:10porque o livro chega
21:11nesses dois tipos de perfis.
21:14E como a gente elaborar
21:16mais pesquisas
21:17a partir do livro, né?
21:18Inclusive, assim,
21:19me coloco para ser superada,
21:21porque eu descobri
21:22muitas coisas.
21:23Tem mais de 300 fontes aí,
21:25mas tem muito mais.
21:26Sim.
21:27E não é uma leitura difícil, né?
21:29Uma leitura,
21:30apesar de ser uma coisa acadêmica
21:31que veio de uma pesquisadora aí,
21:33cabeçuda,
21:33que a gente costuma falar,
21:35mas é muito gostoso de ler.
21:38porque é um relato
21:39de época mesmo, né?
21:40Eu mesmo já dormi lendo
21:41muitas dissertações.
21:42Desculpa, pessoal,
21:43muitas teses.
21:44E aí, eu não queria
21:45que isso acontecesse
21:46com as pessoas.
21:47E é, isso é importante,
21:48tem a visão
21:49de quem já viveu na pele.
21:51Tem melatonina,
21:51se quiser dormir,
21:52que não seja pelo meu livro.
21:54E aqui,
21:55eu queria entrar, então,
21:56porque foi desse livro
21:59que surgiu a inspiração
22:00para fazer um filme
22:01que está sendo gravado.
22:03Eu participei desse...
22:04Gente,
22:05eu sou uma atriz.
22:06Nós somos figurantes.
22:07Nós somos figurantes
22:08nesse filme,
22:09que está em processo aí
22:11de gravação.
22:13Então,
22:13ela vai adiantar um pouquinho
22:14para a gente
22:15do que se trata,
22:16mas, assim,
22:16é a história
22:17do Primavera Esporte Clube,
22:19que era comandado
22:20pela Dona Carlota.
22:21Cadê a foto da Dona Carlota?
22:23Está aqui,
22:23tem esse capítulo aqui
22:24que fala sobre o Primavera.
22:26e tudo que ela enfrentou,
22:28assim,
22:28a mulher falou,
22:29mano,
22:30ninguém vai tirar
22:31meu futebol daqui.
22:32Se vocês quiserem me prender,
22:33vocês me prendem.
22:34E a gente estava participando
22:36desse filme.
22:36O que a gente pode contar?
22:37A gente pode falar
22:38quem é a atriz famosa
22:39que está nesse filme?
22:41Pode?
22:42Acho que pode.
22:43Pode.
22:44Então,
22:44uma das atrizes
22:45é a Bruna Linsmeyer,
22:47que vai participar
22:48desse filme.
22:50Inclusive,
22:50debutando como diretora.
22:52Ah, é.
22:52Ela também dirige o filme
22:53ao lado da Lili Fialho,
22:55que é a diretora também
22:56do filme.
22:57E as gravações
22:58estão acontecendo
22:59aqui em São Paulo,
23:00né?
23:00Nos campos,
23:01nas casas de época.
23:02Gente,
23:03coloquei até roupinha
23:03de época.
23:05Fiquei ali de figurante.
23:06Porque achei legal também
23:07o convite da Lili.
23:09Ela acabou chamando
23:10as pessoas que cobrem
23:11futebol,
23:11que vivem o futebol,
23:12porque é uma história
23:13nossa também, né?
23:14E ela quis que a gente
23:15participasse da cena
23:16que era o baile
23:17na casa da Dona Carlota.
23:19Então,
23:20ali a gente estava
23:20fazendo parte
23:21de um momento
23:22tão importante
23:22para o futebol feminino.
23:23Agora fala, amiga,
23:25o que que é,
23:26o que que foi
23:26a Dona Carlota?
23:27Quem é o Primavera?
23:28Isso,
23:28e o Primavera.
23:29A gente está falando
23:30do ano de 39 e 40,
23:32onde surgiram
23:33mais de 15 equipes
23:35de futebol feminino
23:36ali nos bairros suburbanos,
23:37Rio de Janeiro.
23:38Que bairros são esses?
23:39Zona Norte,
23:40Zona Oeste.
23:42Em várias regiões,
23:43assim,
23:44perto ou longe
23:45uma das outras.
23:47E a gente está
23:48falando de um contexto
23:49onde equipes
23:50que já eram masculinas,
23:51como a gente pode chamar
23:53de equipes de várzea,
23:54só que no Rio de Janeiro
23:55eram chamadas
23:55de equipes suburbanas,
23:57acabavam formando
23:58então uma equipe feminina
24:00e várias competições
24:01estavam acontecendo.
24:02Às vezes,
24:02em média,
24:02duas partidas
24:04ou dois eventos,
24:06que eram mais
24:06de uma partida feminina
24:07por semana.
24:09Nesse contexto,
24:10a gente tem,
24:11num dado momento,
24:12já em 1940,
24:14uma dissidência
24:15entre jogadoras.
24:17Dona Carlota,
24:18uma pessoa muito bem articulada
24:19entre outros dirigentes esportivos
24:21da época.
24:22Ela é uma mulher
24:22de uns cinquenta e tantos anos.
24:25E ao ajudar, né,
24:27esses homens
24:28a criarem essas equipes,
24:29num dado momento,
24:30então,
24:31ela forma
24:32a sua própria equipe,
24:33que vai ser, então,
24:34o Primavera Atlético Clube.
24:36Então,
24:37a especialidade já é essa,
24:38assim,
24:38é uma equipe que nasce
24:39feminina, né?
24:41Então,
24:41ela não é oriunda
24:42de outra equipe.
24:43E vai nascer ali
24:44com uma boa seleção, né?
24:46Porque ela não vai ser besta, né?
24:47Ela vai escolher
24:48as melhores, né?
24:49As melhores, né?
24:50Das melhores,
24:51inclusive,
24:52duas são sobrinhas delas,
24:53são três, na verdade.
24:54No filme,
24:55a gente colocou só duas.
24:57E essa equipe,
24:58então,
24:58continua a se projetar,
25:00se projetar,
25:01inclusive,
25:01com muitas vitórias, né?
25:02Acho que isso é um
25:03marcador na Várzea, né?
25:05Já que você não tem torneios,
25:06assim como a gente tem
25:07no futebol profissional,
25:10a invencibilidade
25:11acaba sendo, assim,
25:12um grande critério,
25:13assim,
25:13que elabora
25:14a fama dessas equipes
25:15e aí vai ser o caso
25:16do Primavera.
25:17Então,
25:18nesse contexto
25:19de chamar a atenção,
25:20uma vez que a mídia
25:21já cobria, né?
25:22Os jornais já traziam
25:24imagens sobre o Primavera,
25:25os eventos que aconteciam
25:27com o Primavera,
25:28a maneira de jogar
25:29das atletas, né?
25:30Tem uma cobertura técnica
25:31já nessa época.
25:34Você tem o interesse,
25:36assim, né?
25:36De um produtor argentino
25:37discursionar com a equipe
25:39do Primavera
25:40para além do Brasil, né?
25:41Então,
25:42é um convite
25:42para chegar na Argentina,
25:44no Chile,
25:44no Uruguai.
25:44Então,
25:46a história se trata
25:47desse lugar de sucesso,
25:49né?
25:49Então,
25:49a festa que a gente
25:50participou das gravações
25:51desrespeito, né?
25:53Desse processo
25:53de internacionalização
25:55de um futebol feminino.
25:56Então,
25:56a gente está falando
25:57da passagem
25:58de 1940
25:59para 1941.
26:02E,
26:03curiosamente,
26:04né?
26:04O recalque
26:05que se dá
26:05desse sucesso
26:06é na mesma altura, né?
26:07Então,
26:08vai acontecer
26:09uma grande interdição
26:10em torno de
26:11maldizer
26:13Dona Carlota
26:14e a Dona Carlota
26:15vai ser a pessoa
26:16que vai ser presa
26:17nesse contexto, né?
26:18Então,
26:19não são as jogadoras
26:21e não é nem mesmo
26:21o argumento
26:22delas estarem
26:23jogando futebol,
26:24mas a Dona Carlota
26:25vai ser acusada
26:26de aliciamento
26:26de menores,
26:27de prostituição.
26:30Então,
26:31é imaginar, assim,
26:32que se hoje
26:33a gente causa
26:34um estrago
26:34em redes sociais, né?
26:35Com fake news,
26:36imagina que a imagem
26:38dessas meninas
26:39começou a ser
26:40distribuída
26:41em jornais da época
26:42fazendo essa associação,
26:44né?
26:44De prostituição
26:45e etc.
26:46Então,
26:47é essa história
26:48que é contada
26:49e na sequência
26:49desse episódio
26:50a gente tem
26:51a proibição
26:51do futebol feminino
26:52de forma nacional.
26:54Que loucura, né?
26:55São essas e muitas histórias
26:56que tem no livro
26:57e a ideia, então,
26:58é continuar
26:59produzindo arte, né?
27:01Com o conhecimento.
27:02Então,
27:03o livro é um produto cultural,
27:05os filmes,
27:05os documentários
27:06e tantas outras coisas
27:08possíveis
27:08para a gente disseminar
27:09o conhecimento
27:10para muitas pessoas
27:11e públicos.
27:12E é importante
27:13para contextualizar também,
27:15né?
27:15A demora,
27:16muita gente fala
27:16do avanço
27:17do futebol feminino,
27:18né?
27:18Em se fortalecer.
27:20Por que que ainda
27:21elas recebem pouco?
27:22Por que que algumas
27:23ainda não são
27:24tratadas como profissional?
27:26Então,
27:26a gente ainda vive, né?
27:28Os problemas causados
27:29por essa proibição,
27:31por esse afastamento
27:32das mulheres, né?
27:33O cenário está começando
27:34a mudar.
27:35Fora daqui também,
27:36outros países viveram
27:38proibições também,
27:39não foi só no Brasil,
27:40né?
27:40Importante falar.
27:41Na Europa também teve,
27:43em outros países
27:43da América do Sul,
27:44mas a gente ainda
27:46colhe um pouquinho,
27:47né?
27:47Esse resquício
27:48dessa proibição
27:49que atrasou
27:50muito e muito, né?
27:51O destaque
27:52do futebol feminino.
27:53Mas a gente já está
27:54em outro patamar, né, gente?
27:56Vamos olhar pra frente
27:57e daqui a pouco
27:58tem uma Copa do Mundo aqui.
27:59Foguete não dá ré.
28:00É, agora retroceder jamais.
28:04E já que a gente
28:04está falando
28:05dessas personagens e tal,
28:07eu acho que você também
28:08fez um papel fundamental
28:09de resgatar, né?
28:10Você, pessoal do museu,
28:12outras historiadoras,
28:14a história dessas pioneiras, né?
28:16Que por muito tempo
28:16foram esquecidas.
28:18Então, mulheres que participaram
28:19da primeira Copa do Mundo
28:20em...
28:21Teve a Experimental, né?
28:2288.
28:23Depois a oficial da FIFA
28:24vem em 91,
28:2595, 99.
28:28Onde estão essas mulheres?
28:29Essas mulheres estão aí.
28:30Estão vivas.
28:32Na casa dos seus 50 anos, né?
28:3360.
28:35São mulheres jovens ainda
28:36e que não tiveram
28:38nem um pouco
28:39de reconhecimento mínimo, né?
28:41A gente sempre fala
28:42da Sici, da Roseli,
28:44mas tem tantas outras, né?
28:45Fia, Pelezinha,
28:47inúmeros nomes importantes.
28:51E uma coisa muito legal
28:52que a Aira ajudou
28:54a construir, né?
28:55É fazer essa homenagem,
28:57prestar essa homenagem
28:58pra essas pioneiras
28:59que jogaram por anos
29:01defendendo a camisa
29:02da seleção brasileira
29:03e que sequer hoje
29:04são convidadas, né?
29:05Pra estar num estádio,
29:07pra participar de uma solenidade,
29:09pra receber uma homenagem oficial.
29:11Então, queria que você falasse
29:13um pouquinho
29:13das suas histórias
29:14com as pioneiras, né?
29:15Porque eu acho que você também
29:16é um ponto de apoio
29:17pra elas chorarem
29:18as pitangas dela.
29:20Elas também compartilham
29:21muitas fotos e dados, né?
29:24Pra fazer,
29:24pra recontar essa história
29:26e queria que você falasse
29:28da sua participação
29:28no evento organizado
29:29na Granja Comari
29:30pra essas atletas
29:31da primeira geração
29:32e sobre o filme
29:33As Primeiras.
29:35Então, vamos primeiro
29:36falar dessas mulheres
29:37visitando a Granja Comari
29:39depois de sei lá
29:40quantos anos
29:41e muitas delas
29:42nem viveram
29:43a Granja Comari, né?
29:44Elas treinavam ali
29:44com os exércitos,
29:46não tinha essa história?
29:47No campo militar
29:48No campo militar
29:49pra jogar numa copa
29:51outro tipo de preparo, né?
29:53Então, fala pra mim
29:54primeiro dessa emoção
29:55delas
29:56que elas fizeram
29:57um jogo na Granja, tá?
29:58Foi coisa linda.
29:59E depois da...
30:01do filme
30:01das primeiras.
30:02Sim.
30:03É, eu acho que você
30:04deu uma dica, assim, né?
30:06Pra gente juntar
30:06as peças
30:07desse quebra-cabeça histórico, né?
30:10Aqui a gente
30:10no caso do livro
30:11a gente deu
30:12exemplo dos jornais
30:13as revistas ilustradas
30:14mas...
30:15é...
30:16pra chegar nesse período
30:18um pouco mais recente
30:19né?
30:19Então eu tô falando
30:20às vezes de 100 anos atrás
30:21mas eu também posso
30:22estar falando
30:22de 30 anos atrás
30:24que é o caso
30:24das pioneiras
30:25que vão trazer
30:27então uma oficialidade, né?
30:29Pra prática desse futebol
30:30não é nem profissionalismo, né?
30:32É um reconhecimento
30:34ou uma legitimidade
30:35sobre a tutela
30:36da CBF
30:37e consequentemente
30:38da própria FIFA.
30:40Então pra contar
30:41essas histórias, assim, né?
30:43a gente não tinha
30:44como parceria
30:45a própria institucionalidade
30:47dessas confederações
30:48ou seja, se você bate
30:49na porta da CBF
30:51mesmo ela tendo
30:52um setor
30:53de memorial
30:53ou de comunicação
30:54essa história
30:56não tá registrada
30:57e contada
30:57ou organizada lá.
30:59Então a gente teve
31:00muita dificuldade
31:01como museu
31:02e acho que até
31:02todo jornalismo em si
31:04nesses anos aí
31:0610 anos atrás
31:07de começar a entender
31:08o que tinha acontecido
31:09nesse período.
31:11Inclusive porque você tem
31:12já clubes
31:13que representam
31:15o Brasil, né?
31:16Como é o caso
31:16do Radar
31:17Saad
31:19e outros tantos
31:20Radar do Rio de Janeiro
31:21e Saad daqui
31:22de São Paulo
31:23que eles vão viajar
31:25pro exterior
31:25inclusive
31:26e vão representar
31:27o Brasil
31:28então existe
31:28uma grande confusão
31:29assim
31:30do que é representar
31:30o Brasil
31:31e o que é
31:32uma seleção brasileira.
31:34Então a gente
31:35tinha que recorrer
31:36a essas pessoas
31:37que estão vivas
31:38primeiro entender
31:39quem eram elas
31:40onde elas estão
31:41como elas se chamam
31:42pra começar
31:44assim um trabalho
31:45por exemplo
31:45de história oral
31:46ou seja
31:47olhar os depoimentos
31:48entender ali
31:49fatos
31:50eventos
31:51e etc.
31:53E aí Nina
31:54nesse sentido
31:55acho que foi um trabalho
31:56muito árduo
31:57porque existem
31:58muitas dores
31:59em relação
31:59a essa passagem
32:00dessas mulheres
32:01com essa experiência
32:04de vestir
32:05uma camisa pesada
32:06com uma camisa brasileira
32:07e ao mesmo tempo
32:09um apagamento
32:10um ostracismo
32:11uma falta
32:12de profissionalismo
32:14em relação
32:14às suas carreiras
32:15de agradecimento
32:16de reconhecimento
32:17de tudo
32:18né
32:19então
32:19não foi fácil
32:22você estabelecer
32:23relações de confiança
32:24nesse processo
32:25acho que foram
32:26anos assim
32:27de trabalho
32:27às vezes
32:29conseguia com uma
32:30às vezes não conseguia
32:31com várias
32:32né
32:33então
32:33literalmente
32:35pra fazer esse evento
32:36acontecer na Granja Comaria
32:37a gente teve que auxiliar
32:39a CBF
32:41a montar uma listagem
32:43né
32:43de quem eram
32:43essas convocadas
32:44em 88
32:45e 91
32:47então isso não tinha
32:48sistematizado
32:49e consequentemente
32:51procurar
32:52fazer uma grande
32:53investigação
32:53aonde estavam
32:54essas mulheres
32:55o zap delas
32:56né
32:57moram no Brasil
32:58não moram no Brasil
32:59morreram
32:59não morreram
33:00então esse esforço
33:02não foi feito
33:02só por mim
33:03né
33:03mas a gente tem
33:04a própria
33:04Ju Cabral
33:05a Silvana
33:08Guelner
33:08a Lu Castro
33:09que auxiliaram
33:10nesse processo
33:11e coisas muito simples
33:13né
33:14hoje pra gente
33:15né
33:15conseguir uma foto
33:16retrato de cada uma
33:17delas
33:18coisa que também
33:19a gente batalhou
33:20muito no museu
33:21né
33:21uma foto posada
33:22de cada uma
33:23dessas equipes
33:23que representaram
33:24o Brasil
33:25em Copas do Mundo
33:25ou em Jogos Olímpicos
33:27tudo isso
33:28era muito
33:28trabalhoso
33:29porque a cobertura
33:30também é desigual
33:31é verdade
33:32pensar que essas mulheres
33:33foram pra China
33:34sabe
33:35na década de 80
33:3690
33:37ninguém levou feijão
33:38ninguém levou arroz
33:39elas não conseguiam
33:40nem comer
33:40elas contam as histórias
33:41a gente da risada
33:42é engraçado
33:43mas é muito trágico
33:44né
33:45porque elas não falavam
33:46elas não
33:46não tinham habilidade
33:48social
33:49num outro país
33:49né gente
33:50eu acho que o mais
33:52violento assim
33:52que eu tenho sentido
33:53até com a produção
33:55do filme
33:55é pensar que
33:56essas mulheres
33:57participaram
33:58da primeira edição
33:59de uma Copa do Mundo
34:00né
34:01já com patrocinadores
34:02já com várias seleções
34:04importantes participando
34:05mas ninguém viu
34:07sim
34:07então elas vão
34:09não existe uma cobertura
34:10existem ali
34:11alguns fragmentos
34:12assim de notícias
34:13elas voltam
34:14e a vida tem que seguir
34:16continua
34:16a mesma coisa
34:17então é o caso da Elane
34:18né
34:18que até hoje é motorista
34:19né
34:20no VLT no Rio de Janeiro
34:21ela é a representante
34:22do primeiro gol do Brasil
34:24como a gente trata
34:25no caso do masculino
34:26primeiro gol
34:26nossa
34:27você exalta
34:28você vai ter
34:29documentário
34:30vários programas
34:31de televisão
34:32a Elane
34:34por exemplo
34:34ela ficou 30 anos
34:35sem ver
34:36né
34:37no caso
34:37esse
34:38esse registro
34:39audiovisual
34:40do gol dela
34:42não sei nem se ela sabia
34:43né
34:43que ela tinha consciência
34:44de que ela foi a primeira
34:46não
34:46ela sempre soube
34:47ela sempre soube
34:48mas ela nunca assistiu
34:49nunca ninguém tinha visto
34:51então em 2023
34:52a gente fez muito barulho
34:55e aí esse trecho
34:57né
34:57da gravação
34:58foi pra
34:59pro canal
34:59da FIFA
35:00e hoje você tem
35:02no canal da FIFA
35:03todos esses jogos
35:04disponíveis
35:04pra serem assistidos
35:05integralmente
35:06então fica esse convite
35:07assim
35:07porque é muito legal
35:08muito
35:09muito
35:09e assim
35:10pensar que elas foram
35:12defender o Brasil
35:13do outro lado do mundo
35:14vestir a camisa da seleção
35:16e é
35:17mas assim
35:18quando a gente pensa
35:19em seleção masculina
35:20a gente sabe tudo
35:21da Copa de 30
35:22da Copa de 50
35:23da Copa de 70
35:24tá tudo documentado
35:26os jogadores que estão vivos
35:28até hoje
35:28né
35:28falam muito do seu Pepe
35:29lá na Vila Belmiro
35:31ele tem os caderninhos
35:31dele também fofinho
35:32mas todo mundo sabe
35:34contar a história
35:34do futebol masculino
35:35todo mundo tem acesso
35:37né
35:37com o futebol feminino
35:38foi essa luta
35:39então
35:39acho que tem até
35:41um vídeo desse momento
35:42delas lá na granja
35:43a gente foi acompanhar
35:45se vocês forem no YouTube
35:46procurar lá no canal
35:46de Bradoras
35:47a gente tem esse
35:48esse registro
35:49elas sendo recebidas
35:50no vestiário
35:51colocando a roupa
35:53né
35:53de jogadora
35:54que elas foram
35:55com o pôster delas
35:57ali atrás
35:57naquela cabininha
35:58que elas ficam
35:58elas levaram o pôster
36:00pra casa
36:00muitas perduraram
36:02em casa
36:03o pôster delas
36:04com a camisa da seleção
36:06elas se reencontraram
36:07muitas nunca mais
36:08tinham se reencontrado
36:09exato
36:10então foi uma coisa
36:11assim
36:11um reconhecimento
36:14tardio
36:14mas que bom
36:15que ele veio
36:16né
36:16e que elas puderam
36:17puderam jogar
36:18bolinha
36:18o baba delas
36:19ali
36:20se você não vier
36:23nessa copa do mundo
36:24a gente vai mandar
36:25você
36:25a gente vai mandar
36:26te buscar
36:27mas acho que a FIFA
36:28vai trazer você
36:28minha irmã
36:29porque você é uma lenda
36:30e o filme
36:32as primeiras
36:32conta um pouquinho
36:33disso também
36:34dessas primeiras
36:35mulheres a representar
36:36o Brasil
36:36numa competição
36:38com os depoimentos
36:39delas
36:40as dores
36:40delas
36:41e elas amigas
36:43até hoje
36:44acho que fica muito claro
36:45a amizade entre elas
36:46é sobre isso
36:47acho que
36:48o futebol
36:49é uma grande desculpa
36:50pra gente falar um pouco
36:51sobre essa relação
36:52entre mulheres
36:53mulheres de 60 a mais
36:55mulheres que viveram
36:57essa experiência juntas
36:58e no caso das primeiras
37:00que é um filme
37:00produzido
37:01por uma
37:02produtora independente
37:03também
37:04que é a Olé
37:04feita pelo
37:06Luiz e pela Gal
37:07que foram
37:08maravilhosos
37:09então eles ouviram
37:10o argumento
37:11em 2016
37:12e a gente então
37:14foi batalhar recursos
37:15pra conseguir executar
37:16ali 2021-22
37:18a gravação do filme
37:19que passa
37:21tem um recorte
37:23então a gente escolheu
37:24um grupo
37:25dessas mulheres
37:26que participaram
37:27dessa geração
37:2988-91
37:30que pertencem
37:32ao subúrbio
37:32do Rio de Janeiro
37:33e permanecem
37:35amigas
37:35a partir desse
37:36futebol
37:37dessa experiência
37:38que é boa
37:39que é traumática
37:39que é tudo junto
37:40misturado
37:41então a partir
37:43do futebol
37:43a gente vai falar
37:44de vários temas
37:45transversais
37:46desde o racismo
37:47e tarismo
37:48de preconceito
37:49de classe
37:49de sexualidade
37:51dessas mulheres
37:52e começar
37:54então acho que a
37:56Granja Comari
37:56marca um primeiro
37:57encontro
37:58mas de uma
37:58reivindicação
37:59de uma justiça
38:00social que ainda
38:01não aconteceu
38:01então hoje
38:02essas mulheres
38:03não conseguem
38:04aposentar
38:04elas não conseguem
38:05serem reconhecidas
38:06na rua
38:07elas ainda
38:09estão na base
38:11de uma pirâmide
38:11social
38:12onde revela
38:14a violência
38:16de várias
38:17relações sociais
38:18que envolve
38:19ser brasileiro
38:20e ser brasileira
38:21muito mais
38:21então a gente
38:23pôde
38:24produzir um filme
38:25bonito
38:26poético
38:26a direção é
38:27da Adriana Ianes
38:28então
38:29é uma mulher
38:30tem cenas engraçadas
38:31também
38:32entre elas
38:32é um filme
38:33pra chorar e rir
38:34gente
38:34tá disponível
38:36hoje em vários
38:37streamings
38:37você pode colocar
38:38lá no Google
38:39as primeiras
38:39e você encontra
38:41maneiras de assistir
38:42tem umas formas
38:42que você paga
38:43como se fosse locadora
38:44pra assistir
38:45e de novo
38:48transformar
38:49conhecimento
38:50conhecimento histórico
38:51assim
38:52num produto
38:53cultural
38:53acessível
38:54então é um documentário
38:56que pode ser visto
38:57pra públicos distintos
38:59adulto, criança
39:00pessoas que não entendem
39:01nada de futebol feminino
39:02e mobilizar
39:04então algumas coisas
39:05a partir das histórias
39:06delas
39:06então eu sou muito grato
39:08de novo
39:08das pessoas confiarem
39:10no meu trabalho
39:11da gente conseguir
39:12elaborar muitas formas
39:15de reparar
39:16um passado
39:16que talvez seja
39:17irreparável
39:18exatamente
39:19mas é importante
39:20fazer esse resgate
39:21mesmo que as dores
39:23continuam
39:23mas olhar pra frente
39:25e dizer pra elas
39:26e ganhamos muitos prêmios
39:28acho que é importante
39:28trazer isso
39:29o festival de cinema
39:31de Tiradentes
39:32você tem uma eleição
39:34de júri popular
39:35ou seja
39:35não são os especialistas
39:37mas são as pessoas
39:38votando
39:39e a gente venceu
39:40o Cinefute
39:41que é o maior festival
39:42de cinema do Brasil
39:43só sobre futebol
39:44também foi um lugar
39:45que a gente venceu
39:47então né
39:47enquanto
39:48ah é mimimi
39:48não é mimimi não
39:49é filme bom
39:50é história boa
39:51é engraçada
39:52é bem feito
39:53lindo
39:54maravilhoso
39:55assistam gente
39:56procurem aí
39:56como a Aira falou
39:57nas plataformas
39:58e aluguem
40:00façam uma sessão
40:00de cinema
40:01se preparem
40:01pra viver
40:02a copa
40:04que tá chegando
40:04aqui né
40:05e reconhecer
40:06o passado
40:06é também
40:07olhar pro futuro
40:08né
40:08então quando a gente
40:09vê lá
40:09menina você tá
40:10muito historiadora
40:11mas eu ando muito
40:16eu ando muito bem
40:17acompanhada
40:18minha amiga
40:18ó estamos chegando
40:20aqui no fim
40:20da nossa entrevista
40:22eu queria que você
40:22falasse de 2027
40:25estamos vivendo
40:26pra aí
40:26amiga esse ano
40:27já acabou
40:27nós vamos viver
40:282026
40:28que vai passar sim
40:29porque já tem
40:30uma copa
40:31né
40:31e aí vai ser
40:32a nossa copa
40:33nada contra a copa
40:34dos meninos
40:35que a gente vai
40:35torcer também
40:36mas depois tem
40:37a copa feminina
40:38primeira vez no Brasil
40:40com uma equipe
40:41renovada
40:43que tá
40:44renovada
40:45também né
40:46com muitas craques
40:47será que Martinha
40:48vai pra copa
40:48será que ela vai ser
40:49dupla com quem
40:50com a Dudinha
40:51no ataque
40:51não sabemos
40:52com a Johnson
40:53acho que a gente
40:53tá vivendo um bom
40:54momento com a seleção
40:56brasileira
40:56sob o comando do Arthur
40:57ganhamos nossa medalha
40:59depois de 16 anos
41:00em Paris
41:01né
41:01veio a prata
41:02porque o ouro
41:02a gente vai ganhar
41:03aqui em casa
41:04eu profetizo
41:05e eu queria que você
41:06falasse então
41:06dessa
41:07como você imagina
41:09que esse evento
41:10pode impactar
41:11a cadeia do futebol
41:12né
41:12e quais mudanças
41:14você acha que são
41:14necessárias
41:16pra fazer nessa estrutura
41:17do futebol
41:18pro que o jogo
41:19delas né
41:20seja transformado
41:20num esporte melhor
41:21porque a gente ainda
41:22vive estádios vazios
41:24né
41:24muito legal
41:25quando a gente vai
41:26pra uma final
41:26de paulista
41:26brasileiro
41:27Corinthians
41:27lota
41:28casa
41:28ferroviária
41:29enche estádio
41:30mas e no dia a dia
41:32né
41:32e nas outras rodadas
41:34e nos campeonatos
41:34de base
41:35e as outras competições
41:36como que a gente faz
41:38pra usar a copa
41:39e também transformar
41:40essa cadeia
41:40minha amiga
41:41é de novo né
41:42historiadora fazendo
41:43futurologismo
41:45não é fácil
41:46mas acho que o primeiro
41:47exercício que eu faço
41:48é quando a gente olha
41:50pra quando a gente
41:50começou a trabalhar
41:51com esse tema né
41:52do futebol de mulheres
41:53em 2015
41:54Nina
41:55eu chutaria muito
41:56errado
41:57que a gente estaria
41:58com essa evolução
41:59inclusive recebendo
42:01o maior evento
42:02da modalidade
42:02com certeza
42:03no nosso país
42:04né
42:05não que a gente
42:06não fosse apto né
42:06mas talvez a gente
42:08não tivesse a dimensão
42:09assim de como
42:10os movimentos sociais
42:12de mulheres
42:12e de gênero
42:13e de classe
42:15e de raça
42:15tudo isso
42:16a estrutura de poder né
42:17de quem está com a caneta ali né
42:19isso assim
42:19carregou a modalidade
42:21então acho que esse é o primeiro ponto
42:22vai ficar muito claro
42:24tudo que a gente vive hoje
42:25não é fruto
42:28de esforço
42:29dessas entidades
42:30é esforço
42:31de muitas pessoas
42:32de um trabalho
42:33que mexe
42:34a ponta da pirâmide
42:36aí a ponta da pirâmide
42:37é sim
42:37a seleção brasileira feminina
42:38mas também
42:40está carregando a base
42:41então as mulheres
42:41que estão jogando futebol
42:42nos seus cotidianos
42:44nas várias
42:44as torcedoras
42:45quem trabalha
42:46mulheres que trabalham
42:47com futebol em geral
42:48eu e você
42:48a gente é fruto
42:49dessa revolução
42:51assim como
42:52de uma liberdade
42:53que talvez
42:53o futebol masculino
42:55não exerça
42:57de qualificar
42:58esses trabalhos
42:59né
42:59em várias
43:00transversalidades
43:01né
43:01o racismo
43:02os assédios
43:02as bases
43:04o trabalho
43:05de calendários
43:06que envolvem
43:07a modalidade
43:08de um profissionalismo
43:09que a gente não tinha
43:09que é tardio
43:10então todas essas discussões
43:12estão sendo feitas
43:13e feitas inclusive
43:14com as jogadoras
43:15a partir delas
43:16e aí eu sempre
43:17chamo muito a atenção
43:18o que elas desejam
43:19para esse futuro
43:20que eu acho que elas
43:21deveriam estar sendo
43:22as primeiras
43:22a serem questionadas
43:23viver a profissionalização
43:26é viver igual
43:27o masculino vive
43:29ou será que é possível
43:30ser muito mais criativo
43:32e criar assim
43:32um capital
43:34assim social
43:34muito diferente
43:35em torno da modalidade
43:36então eu acho
43:38que ainda
43:39é muito enfraquecido
43:39esse questionamento
43:40eu acho que as vezes
43:41as pessoas vão
43:42no oba-oba
43:42vão no automático
43:43e não é
43:44então tudo que é
43:45conquistado
43:46em relação
43:46a essas questões sociais
43:49a gente pode perder
43:49de um dia para o outro
43:50temos inúmeros
43:52exemplos sobre isso
43:53e também não mirar
43:54no masculino
43:55porque assim
43:56é só ser rico
43:57é exato
43:57tem inúmeros problemas
43:59no futebol masculino
44:01de elite
44:01aqui no Brasil
44:02só você olhar
44:03os clubes endividados
44:04e enfim
44:05então não é também
44:07mirar para isso
44:08e até a própria
44:09formação de carreira
44:10então sei lá
44:12acho que no caso
44:13do feminino
44:13a gente tem
44:14os próprios Estados Unidos
44:15como uma formação
44:15universitária
44:16isso acabou
44:18contagiando
44:18algumas gerações
44:20aqui no Brasil
44:21ou seja
44:21jogadoras que puderam
44:24ir para o exterior
44:24fazer uma graduação
44:26viver uma universidade
44:27e hoje
44:27se tornarem
44:28profissionais
44:30no esporte
44:31mas também
44:32tem uma carreira
44:33independente
44:33eu acho que isso
44:34está se perdendo
44:35por exemplo
44:35então sei lá
44:37quando eu olho
44:37a NBA
44:38atletas como
44:40Stephen Curry
44:40então ele é
44:42uma estrela
44:43do basquete
44:44masculino
44:45e ele também
44:45tem uma consciência
44:47a partir do estudo
44:48e ter se tornado
44:48por exemplo
44:49um antropólogo
44:50dentro da universidade
44:51então para mim
44:53isso é um ponto
44:53de atenção
44:54uma jogadora
44:55que deixa de estudar
44:55para mim
44:56ela está deixando
44:56metade da carreira
44:58dela exposta
44:58mas no conceito
45:01do que a gente pensa
45:02da experiência
45:02a Copa do Mundo
45:03eu acho que a gente
45:04tem primeiro
45:05que dissociar
45:06do que foi uma Copa
45:07do Mundo masculina
45:08não é sobre isso
45:09a gente está falando
45:10de dimensões
45:11de eventos
45:12completamente diferentes
45:13e toda espécie
45:15de natureza
45:15então acho que
45:16a primeira
45:17é que a gente
45:17não tem mais
45:18esse potencial
45:19destrutivo
45:20construtivo
45:21ou seja
45:21os estádios
45:22já estão aí
45:23a gente vai ter
45:23uma oportunidade
45:25de reocupá-los
45:27e reocupá-los
45:28não só
45:29com os eventos
45:31de futebol
45:31mas com um legado
45:33social
45:33que a gente
45:33não combateu
45:36em 2014
45:36ou seja
45:37colocar os brasileiros
45:38dentro dos estádios
45:39então a gente
45:40não tem noção
45:41da quantidade
45:41de pessoas
45:42que nunca
45:43entrou no estádio
45:43ou nas arenas
45:44como foram chamadas
45:45essas construções
45:46então acho que
45:47esse é o primeiro ponto
45:48então é muito feio
45:50ter um jogo
45:51internacional vazio
45:52dentro dessas capitais
45:54que vão estar recebendo
45:55a Copa do Mundo
45:56e a gente tem
45:57uma grande oportunidade
45:58de colocar as crianças
46:00as meninas
46:00as famílias
46:01as pessoas
46:02nas cidades
46:02ao redor
46:03lá dentro
46:04então como
46:05constituir
46:06desse capital social
46:08a partir desse evento
46:09espero que as capitais
46:11estejam pensando
46:12acredito que sim
46:13tenho minhas dúvidas
46:14como dar conta
46:16dessa quantidade
46:17de pessoas
46:17de fora do Brasil
46:18que vão vir pra cá
46:19e vão fazer
46:20deslocamentos
46:21que vão inclusive
46:22movimentar o turismo
46:24em todas essas capitais
46:25eu acho que também
46:26a gente já está perdendo
46:27muito tempo
46:28de pensar
46:28como que a gente
46:29cria eventos culturais
46:32de todo tipo
46:32de festividades
46:33pra de fato
46:35aproveitar
46:36esse movimento
46:37inclusive econômico
46:38mas também cultural
46:39também de deixar
46:40marcas
46:41das nossas histórias
46:42mostrar o filme
46:43em tudo quanto
46:44é possibilidade
46:45fazer exibições públicas
46:46nas praças
46:47festa
46:48cultura
46:49show
46:49carnaval
46:50então eu acho que assim
46:51tem uma natureza
46:52da estrutura
46:53assim
46:53que é possível
46:54fazer com esse evento
46:55que eu tenho um pouco
46:56de dúvida
46:57se isso já está sendo
46:58pensado
46:59porque vai ter eleição
47:00porque vai ter a copa
47:02masculina
47:02exato
47:03mas
47:04enfim
47:05enfim
47:05pelo menos as arenas
47:07já estão prontas
47:07amiga
47:07se sair com
47:08com o primeiro lugar
47:09com o olho
47:10já está bom
47:10a gente não vai ligar
47:11pra nada
47:11mas acho importante
47:14a justiça
47:14de nós vamos
47:15receber o mundo
47:16né
47:17então
47:17e o futebol feminino
47:19ele está
47:19levando pessoas
47:21né
47:21se ver a euro
47:22as pessoas viajando
47:23do bem que é pertinho
47:24ali o deslocamento
47:25mas aqui
47:25as pessoas
47:26sabem que o Brasil
47:27é o país do futebol
47:28eles vão querer
47:29estar aqui
47:30né
47:30então é um ponto
47:31da gente também
47:32de atenção
47:32então olha
47:33você aí
47:33no governo
47:35das entidades
47:36que estão cuidando
47:36disso
47:37sim
47:38já está em cima
47:39da hora
47:39e você machista
47:41que não gosta
47:41de futebol feminino
47:42a gente não está
47:43te chamando
47:43na boa
47:44na boa
47:45a gente não precisa
47:45de você
47:46preencher estádio
47:47está cheio de gente
47:48querendo estar
47:49dentro desses estádios
47:50então é com essas pessoas
47:51que a gente quer conversar
47:52então só não atrapalha
47:53exato
47:54mesmo porque
47:54você não quer ir
47:55não vai
47:55porque vai ter um monte
47:56de gente querendo ir
47:57e a coisa já aconteceu
47:58não adianta você gritar
47:59ai ai ai ai
48:00desliga a televisão
48:01vai pro banheiro
48:03isso
48:03amiga
48:04obrigada pelo papo
48:07pela sua presença
48:08pela sua pesquisa
48:09por tudo que você
48:10representa assim
48:11pra essas mulheres
48:11do futebol
48:12pra gente que vive
48:13o futebol né
48:14sempre recorrer
48:15a você
48:16quando a gente
48:16tem uma dúvida
48:17é tão bom
48:18alô
48:19que dia
48:20que ano
48:21queria te agradecer
48:23muito por ter vindo aqui
48:24te parabenizar
48:25e dizer que é muito bom
48:26correr do seu lado
48:27ser sua amiga
48:28sua parceira
48:29e a nossa copa
48:30vai ser um estouro
48:31tenho certeza
48:32pode ser
48:32eu que agradeço
48:33Nina
48:34tamo junto
48:34somos um time massa
48:36é isso
48:37pessoal então
48:38aqui eu encerro
48:39essa entrevista
48:41maravilhosa
48:41com a minha amiga
48:42pessoal
48:42pesquisadora
48:43maravilhosa
48:43a Aira
48:44procurem
48:45também
48:45na internet
48:46no instagram
48:47tem lá
48:48o pagsegura
48:48Aira Bonfim
48:49Aira Bonfim
48:50nomezinho dela
48:51aqui ó
48:52a ira
48:52e a gente se vê
48:54no próximo programa
48:55falando de mulheres
48:57que vivem o futebol
48:58beijos
49:07a ira
49:08a ira
49:09a ira
49:11com a minha amiga
49:12Obrigado.
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