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A nova temporada do podcast Divirta-se completa um ano no dia 05/12 e o convidado não poderia deixar de ser especial; o ator Carlos Francisco, que entre muitos trabalhos está presente no filme "O agente secreto", de Kléber Mendonça Filho.

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00:00Divirta-se! Divirta-se! Cultura, advirta-se!
00:04Olá, seja bem-vindo ao Divirta-se, o seu podcast de cultura do Jornal Estado de Minas.
00:10Aqui ao meu lado está Lucas Lana, repórter do Jornal Estado de Minas, repórter de cultura.
00:15Tudo bem? Beleza, e você? Tá animado? Pra caramba!
00:18Cara, a gente tá tão animado com esse entrevistado que tá aqui que eu e o Lucas passamos no Pet Shop.
00:25Então nós somos hoje os Pet Shop Boys para entrevistar aqui ninguém menos que...
00:31Não vou falar ainda, não libera, Léo. Não libera quem é.
00:35Esse cara participou de filmes como Casamento de Romeo e Julieta,
00:41participou da série 9mm São Paulo, participou de um filme que eu amo, que é daqui de Minas Gerais, o Arábia,
00:47participou de No Coração do Mundo, Bacurau, Marte 1, que é outro filme aqui sensacional, daqui de Minas,
00:59e estamos aqui na pauta um pouco do Agente Secreto, né?
01:03Exato, eu achei que você ia esquecer.
01:05Não, jamais, jamais.
01:07Acaba que esse episódio tem um pouco o papel de falar desse filme,
01:11mas não somente, hoje a gente tá aqui com o Carlos Francisco, o ator.
01:15Carlos, obrigado por aceitar o convite e seja bem-vindo ao Divirta-se.
01:19Eu que agradeço o convite, prazer enorme estar aqui e tô muito feliz.
01:22Ah, e detalhe, foi o homenageado da CineBH desse ano.
01:25Exatamente, a gente tá aqui com o Lucas trouxe aqui o catálogo,
01:30tem uma entrevista saborosa dele aqui,
01:33que infelizmente a gente não vai conseguir chegar nesse nível de profundidade dessa entrevista por conta do tempo,
01:38porque o Carlos é um mar de histórias pra contar.
01:42E vamos começar, então, né?
01:44Chega de tantos floreios.
01:46Carlos, queria que você contasse como você se viu o ator pela primeira vez,
01:51a sua família já tinha uma coisa de ver teatro, de ver cinema.
01:56Como que foi esse primeiro passo na atuação?
01:59Primeiro eu queria agradecer o carinho de vocês.
02:01A gente que agradece.
02:02A experiência recebida aqui, tratada.
02:04E dizer que assim, eu não lembro exatamente quando começou,
02:08porque eu tenho a impressão que isso sempre esteve em mim de alguma maneira.
02:12Mas a primeira vez que eu acordei pra isso foi quando uma tia me levou pra assistir uma peça,
02:18uma formatura de uma escola que ela dava aula.
02:21Os alunos do último ano fizeram um espetáculo de teatro,
02:25era uma história dos pirilampos.
02:27Eu lembro a história do título até hoje.
02:29E aí eu entrei pra assistir, não sabia direito o que era,
02:32sentei no auditório, aquela cortina, apagaram-se as luzes, a cortina abriu,
02:36e eu fiquei meio... De repente entraram dois pirilampos, começaram a contar a história.
02:41Aquilo me fascinou de tal maneira que, na minha cabeça, eu devia ter uns nove anos, talvez,
02:46naquela minha cabecinha eu pensei assim, eu não sei o que é isso,
02:48mas é isso que eu quero fazer da vida.
02:50Eu tenho a impressão, hoje olhando pra trás, eu acho que...
02:53Eu não devo ter formulado dessa forma, mas foi exatamente o que eu senti naquele momento.
02:59Que legal.
02:59E a partir daí você já foi montando?
03:01Porque desde pequeno você já fazia, cobrava ingressos até, né?
03:05Sim.
03:05E aí, desde então, eu me vejo fazendo.
03:07Eu tenho memória de fazer.
03:09O que a gente cobrava ingressos era na casa do poeta Liberio Neves,
03:13que era muito amigo do filho dele, da Adriana e da Adriana.
03:16E eles gostavam de teatro também.
03:17A gente fazia lá no fundo do quintal da casa deles um teatrinho, assim, com cortina e tudo.
03:24A gente colocava um botijão de gás, o que dava, e colocava tábuas e fazia a plateia.
03:28E eram, obviamente, parentes, vizinhos, parentes dos atores e vizinhos que estavam lá, né?
03:33Mas era muito divertido.
03:35Era essa experiência de cobrar um preço simbólico por ingresso,
03:38mas, de alguma maneira, é o início do valorizar a arte, né?
03:43Compreender que a arte tem valor.
03:45É um bem material, mas que ele vale.
03:47Ele vale como coisas materiais.
03:50E aí, a partir daí, eu fui sempre que tinha a possibilidade de fazer ou de aprender sobre,
03:55eu estava pulando de um lugar para o outro.
03:56Pois é, você foi da primeira turma da escola NET, né?
04:01Que é uma escola super tradicional aqui de Belo Horizonte.
04:04Conta um pouquinho, assim, como é que você foi parar lá
04:07e como é que foi essa experiência de estudar pela primeira vez o teatro?
04:11Então, eu era funcionário público.
04:13Nessa época, durante esse período de funcionalismo público,
04:16eu não estava fazendo teatro.
04:18E aí, tinha vontade de fazer, assim,
04:20ah, vontade de voltar a fazer.
04:21Aí, uma amiga, um dia, passou, falou, vamos comigo ali na escola, no NET e tal.
04:24Falou, vamos.
04:25Aí, eu fui com ela e ela, por que você não se matricula?
04:28Aí, eu pensei, não tinha nenhuma razão para não me matricular.
04:30Podia nos horários, tinha dinheiro para pagar.
04:32Aí, eu me matriculei.
04:33E aí, foi a primeira vez que eu parei, assim, para pensar em teatro como uma coisa
04:38que eu precisava aprender, assim, eu precisava organizar esse conhecimento na minha cabeça.
04:43E o NET estava no seu primeiro ano.
04:45Era um projeto do grupo Carpintaria Cênica, que era uma companhia de teatro aqui de Belo Horizonte,
04:50muito importante também.
04:51E eles, nessa época, eles se dividiam nas aulas e tudo.
04:56Aí, depois, parece que ficou mais o Márcio, o Zé Márcio, né?
04:59O Márcio que ficou, que assumiu depois a escola e tudo.
05:03Mas, eu sou desses primórdios lá.
05:05Mas, ele já estava bem estruturado ou não?
05:08Não, era uma casa.
05:09Não sei se eu posso contar isso, mas acho que posso.
05:11Não tem mais uma escola.
05:12É, já é uma.
05:12É, exatamente.
05:13Naquela época, a gente chegava às vezes e acabou a luz.
05:14Não tinha luz no dia.
05:15Nossa.
05:16Eles estavam um perrengue.
05:17Era uma coisa de uma companhia, de um grupo de teatro mantendo uma casa.
05:20Alugaram uma casa grande e estavam empreendendo uma escola.
05:24E era já ali na...
05:25Era no mesmo lugar.
05:26Era um casarão antigo, que eles conseguiam alugar.
05:30E aí, o casarão antigo com problemas.
05:32Porque, às vezes, tinha uma sala que precisava de remenda.
05:34Não estava.
05:35E eles foram, ao longo do tempo, recuperando a casa.
05:38No começo, eles tinham dificuldade de manter.
05:40Eles conseguiram manter, mas aí, depois, eu acho que conseguiram restaurar, melhorar a casa.
05:46E qual foi a principal lição que você aprendeu ali?
05:48A primeira coisa que você aprendeu, assim, como profissional mesmo do teatro,
05:51porque, até então, você fazia de maneira intuitiva, né?
05:54Eu comecei a entender que teatro é uma arte coletiva, assim.
05:57Você faz com grupos de pessoas e que têm funções específicas.
06:02Isso, assim, de alguma maneira, eu comecei a entender isso.
06:05Entendi que tinha profissionais que faziam, ou de cara que fazia figurino,
06:08pessoa que fazia cenografia, o outro que fazia.
06:11Não era uma coisa que tinha que fazer tudo de uma vez.
06:13Você não tinha que ser um megalomaníaco.
06:15Você não tinha que fazer tudo.
06:16Cada um podia fazer uma parte.
06:18Isso, talvez.
06:18E Stanislavski, essa coisa de um pouco do...
06:22da coisa do teatro realista, né?
06:26Construção da personagem também, por causa dele.
06:28Você levou esses métodos de Stanislavski para a sua atuação ao longo da vida?
06:32Essa coisa de trazer a emoção pessoal também para...
06:37Então, eu acho que sim, mas depois de um tempo, assim, também no Fulis,
06:41eu tive a possibilidade de estudar com muita gente bacana, assim.
06:44E uma das pessoas que deram um workshop rápido para a gente foi o Valentim Trepiakov,
06:48que era da Escola de Arte Dramática de Moscou.
06:51Já faleceu.
06:52Acho que ele faleceu ano passado, se não me falo na morte.
06:55E aí eles diziam uma coisa que...
06:57Ele fazia uma...
06:59Estou falando muito baixo?
07:00Não, não.
07:00Está tranquilo.
07:01Ele fazia uma correção de uma leitura americana sobre o processo de Stanislavski,
07:06que ele dizia que...
07:08Não fingia dos óbvios, é que a memória emotiva, na verdade,
07:12não é algo que eu trago da minha memória pessoal,
07:14mas é uma memória que eu crio com histórias internas.
07:20Interessante.
07:20Então, eu vou contando histórias que vão me dando um estado,
07:23que vão desencadear no momento em que eu chego naquele meu instante da fala,
07:27naquele instante da peça.
07:28Então, eu vou construindo isso.
07:30De alguma maneira, eu acho que intuitivamente, por exemplo,
07:33é um pouco o que eu já faço, já fazia,
07:36e é um pouco o que eu faço.
07:38Legal.
07:38Os russos têm muito isso, desse construtivismo.
07:41E os Estados Unidos, depois, tiveram diversas vertentes que absorveram isso.
07:47Na escola Stella Adler.
07:50Sim, é isso que eu estou simplificando aqui, mas tem uma série de coisas.
07:54E tem o...
07:55No Fulias, a gente fez mais brest, que já é a ruptura com a quarta parede.
08:01É, sim.
08:02Conta um pouquinho do Fulias, porque para quem não sabe, o que foi o Fulias?
08:06O que já foi em São Paulo, você já tinha mudado para lá.
08:09É, eu me mudei para São Paulo em 1991.
08:13A princípio, eu fui vender caminhão, que foi um emprego que eu consegui,
08:16a oportunidade de trabalho que eu consegui para ir, que me motivou a ir para São Paulo.
08:20Não sabia, tive que aprender.
08:22Consegui até aprender, me direi bem.
08:24Você dirige caminhão?
08:25Eu tirei minha carteira, eu tirei ônibus, eu dirigi ônibus, dirigi caminhão.
08:30Mas aí minha carteira agora é B, porque como eu não dirijo mais caminhão e ônibus,
08:33eu baixei a carteira B.
08:36Mas aí foi uma experiência muito legal.
08:40Eu aprendi vendas, aprendi a lidar com a coisa da negociação.
08:44No começo eu sofria muito.
08:46Quando alguém fazia uma oferta muito baixa,
08:49num preço, eu tomava um gole d'água.
08:53E fica uma suficiente.
08:54Tem, tem, tem sim.
08:56Aí quando alguém fazia um preço, determinado produto,
08:59e alguém mandava mais ou menos a metade do preço de oferta,
09:01eu achava que era um abuso, eu ficava magoado com aquilo.
09:04Eu falava, pô, como é que você faz?
09:05Se eu quase estivesse roubando a pessoa.
09:07Depois eu entendi que havia um jogo.
09:09E que era um jogo.
09:10O cara já jogava o preço lá.
09:11O de lá também estava jogando, ele não estava sendo sincero.
09:14Aquilo era uma...
09:15Aí eu sofri um pouco até entender isso.
09:17Quando eu entendi, eu comecei a tirar proveito dessa questão.
09:20Você ficou quanto tempo vendendo nessa negociação?
09:22Eu fiquei de 91 a 95 anos.
09:25Caramba!
09:26De 91 a 96, que foi...
09:29Durante eu ficava inquieto, queria fazer coisas.
09:32Eu fui fazer liceu de artes de ofício.
09:35Levantamento, desenho como construção da pintura.
09:39Aí fiz lá no liceu.
09:41Foi um curso incrível.
09:42Eu não cheguei a fazer curso de pintura lá, mas só com o levantamento eu aprendi a pintar.
09:46Me ajudou a aprender a pintar.
09:49E aí depois eu descobri um lugar em São Paulo que se chamava Oficina Cultural Oswaldo de Andrade.
09:53Era uma oficina do Estado que promovia workshops de várias áreas do teatro, da dança e da música.
10:01E às vezes das artes visuais.
10:03Mas era menos...
10:04É do Bom Retiro?
10:05É, era do Bom Retiro.
10:06É, existe até hoje.
10:07A Três Rios.
10:08Existe, mas agora foi transformada em uma escola de empreendedorismo.
10:13Eu acho que eu não sei direito o que é, mas enfim.
10:14Mas é, até eu morei lá também uns anos e durante muito tempo ainda era esse centro cultural com esse foco que o senhor está falando.
10:21Tinha uma importância, o professor para São Paulo formou muita gente, fazia curso de reciclagem, uma infinidade de coisas lá.
10:28E eu fui um dia, no final de ano, eu vindo para BH, antes da viagem, eu passei na Uso de Andrade para ver o que tinha de curso para janeiro, fevereiro e me inscrever.
10:38Aí eu me inscrevi em uma oficina para direção de espetáculo e para encenação.
10:45Aí eu fiz o teste, fui lá, fiz um teste terrível, assim, que eu achei que não tinha passado.
10:52Tinha que dar uma cabalhota, eu saí de lado, tinha um colchão, eu saí de lado do colchão, aí levantei, fui para o teste.
10:59Imagina o físico, né?
11:00No meio do meu texto, eu lembro que era o texto do Breno, no meio do meu texto eu esqueci completamente, deu um branco, eu fiquei parado, assim, olhando para todo mundo em silêncio, como uma estátua, até que eu lhe dei, eu continuei.
11:10Aí eu falei, não vou passar nesse negócio.
11:12Mas quando eu saí, uma das professoras falou assim, ó, liga, hein?
11:17Que era assim, liga em janeiro para saber o resultado.
11:20Aí esse liga, hein, me deu uma esperança, eu vim com isso.
11:24E aí eu falei com a minha companheira, eu falei, ó, eu tenho a impressão que se eu passar nessa oficina, isso vai mudar a minha vida.
11:28Eu tinha essa intuição, eu falei assim, se eu passar, e quando eu cheguei, passei.
11:33E aí era para, eu tinha que escolher, só podia fazer uma oficina, uma encenação ou direção.
11:39E aí o diretor, que era o Marco Antônio Rodrigues, veio e falou, ó, eu acho que a encenação vai ser melhor para você.
11:44E a interpretação vai ser melhor para você.
11:47Faça como ator.
11:49Vai ser bom, você está um tempo sem fazer.
11:50E eu falei, ah, quer saber? Eu vou fazer.
11:52E aí fiz como ator.
11:54Sofri muito no começo, porque eu estava completamente fora de forma.
11:58Você estava fora do mercado.
12:00E era um espetáculo que tinha oficina de circo, além de oficina de preparação física.
12:06E aí eu soube, depois o Marco Antônio, que eles queriam que o número, eram 50 inscritos, eram ou não, eram 40 inscritos.
12:14E ele queria que ficassem uns 20, 25 mais ou menos.
12:19E aí ficaram 35.
12:22Uns 40 ficaram 35.
12:24E esses 35 fizeram o espetáculo Assassinato da Arnoldo Caralho Grande, uma peça inédita até então do Plínio Marcos.
12:31E que tem muitos personagens também.
12:32Tem muitos personagens, metade era circo, metade era cidade.
12:35Que é um circo que chega na cidade e aí supostamente acontece o assassinato, que é investigado e tal.
12:41Mas não tinha assassinato.
12:42E aí eu fiquei durante seis meses preparando esse espetáculo, que foi em 97.
12:47Depois estreamos e eu ganhei num festival de teatro de São José do Rio Preto.
12:51Foi um festival de teatro importante, teatro amador, e mesmo profissional.
12:56Eu ganhei lá um prêmio Melhor Ator, meu primeiro prêmio na vida.
12:59Com essa peça mesmo?
13:01Com essa peça.
13:02Você fazia o quê?
13:02Fazia o delegado na peça.
13:04Ah, que legal.
13:05E aí, que é um personagem, um dos personagens centrais da cidade.
13:11E aí, depois disso, eu virei para o Marco um dia conversando e falei,
13:15se eu souber de alguma coisa, eu estou a fim de sair da venda de caminhão e trabalhar na área.
13:21Aí ele falou, tá bom.
13:22Passou uns dias, ele falou assim, aquilo que você falou é sério.
13:26Ele falou, é.
13:26Ele falou, a gente está montando um grupo, estruturando um grupo.
13:30Estamos montando um escritório.
13:31Precisamos de alguém para ficar lá.
13:32Você topa?
13:32Eu falei, claro que topa.
13:34Aí, quanto é o salário?
13:35Salário era tanto, dava para pagar o aluguel, sobrava um pouquinho.
13:39Eu pensei um pouco, mas topei.
13:41Aí, não, não topei.
13:42Falei, aí fui em casa, conversei com a gente.
13:43Eu falei, vai apertar o orçamento.
13:45Ela falou assim, tudo bem, é o que você quer fazer.
13:48Se não fizer, vamos embora, vamos aí.
13:52Deu a assinar o vídeo, eu topei.
13:54Foi bom que, logo na sequência, ele me ofereceu assistência e direção do espetáculo que estava sendo montado.
13:59O primeiro espetáculo do Folias, que era o Folias Felinianas.
14:02E aí, esse dinheirinho de assistência de direção, esse grande dinheirinho de assistência de direção, já complementou o orçamento.
14:09E foi legal, deu para levar.
14:11Ato contínuo, eu fui da administração, eu passei para a gerência, quando eu consegui o espaço.
14:16Eu descobri um espaço emprestado para que a gente pudesse ensaiar, que é um galpão.
14:22Lá na Santa Cecília, na Anacintra.
14:24Sim.
14:24Mori ali, mori perto também.
14:28Eu nasci em 213.
14:31E era um galpão da Fundação Conrado Wessel, era um galpão que estava lá.
14:34Na época, tinha uma pendenda judicial, eles não podiam alugar nem nada.
14:37Ele me emprestou, falou, ó, te empresto com uma condição.
14:40Se eu te disser, preciso do espaço amanhã, você sai hoje.
14:43Combinado.
14:44Caramba.
14:44Eu não acordo com ele.
14:45Só que ele começou nesse mês, fez o comandante um mês, dois meses, seis meses.
14:52E, nesses seis meses, ele começou a perceber que, entendeu o trabalho do grupo, visitar o grupo, que era móvel.
14:58Na verdade, ele estava emprestado.
14:59Ele ia lá ver como é que a gente estava no esmóvel e tal, ia conversar com a gente.
15:03E ele foi se inteirando do trabalho.
15:05Estava até que um dia o Marco teve a ideia.
15:07Falei, pô, vamos fazer um projeto aqui.
15:08O Serrone fez um projeto de adequação do espaço e a gente apresentou para ele.
15:13Ó, queremos transformar o galpão nesse teatro.
15:15E ele, no começo, meio receoso, depois topou, assim, e ajudou muito a gente.
15:22Não só cedendo espaço, mas ajudou com a parte da banheira, essas coisas.
15:28Ele assumiu parte da obra.
15:31E tinha um amigo dele, engenheiro, que, no começo, foi lá ver o que estava acontecendo,
15:35que obra que esses caras vão fazer lá.
15:37E aí ele, graciosamente, resolveu assumir a obra.
15:40Cabral Dorato Garofano, engenheiro de estrutura, mas ele tinha aposentado já de engenharia,
15:51ele trabalhava com vendas de aves e tudo.
15:54E aí ele teve importância fundamental porque ele fez treliças no galpão, por exemplo,
15:58que suportam, além do próprio peso, no vão, a maior tem um vão de 16 metros,
16:02ela suporta, além do próprio peso, mais 500 quilos.
16:05E ele construiu passarelas laterais sem nenhuma coluna.
16:11Então, a área embaixo é um galpão que todo o piso da parte de baixo do galpão é de madeira,
16:16que é pau, e as arquibancadas têm roda.
16:19E, em princípio, as arquibancadas ficam aqui, ali é o fundo do palco,
16:24e aqui em cima é a cabine de luz e som, mas você pode rodar as arquibancadas,
16:27mudar o formato da plateia e levar a cabine para onde você quiser.
16:31Não a cabine, mas os equipamentos.
16:32Você leva as mesas para onde você quiser.
16:35Então, a gente tem ainda cargo para isso e tudo.
16:39Então, no teatro...
16:41Em movimento.
16:42Em movimento.
16:42A gente fez o hotel uma vez que ele começava em palco italiano,
16:47no meio da trama ele ficava semi-arena,
16:50entrava as arquibancadas do lado,
16:52e aí depois ele voltava para italiano,
16:55e depois, no segundo ato, ele ficava em semi-arena,
16:57e depois ele ficava em arena.
16:59Que legal.
16:59Que era o quarto da desdêmora, onde acontece a morte.
17:02Interessante.
17:03Era um quarto de espelhos, tinha uns espelhos transparentes na frente.
17:07Interessante.
17:07E aí...
17:09Bom, é isso, já estou falando coisa demais.
17:12Não, é.
17:13Pode continuar.
17:14Porque aí eu falo um pouco do teatro,
17:15eu falo de como é que é um teatro,
17:17o teatro está ainda na cinta,
17:20e durante muito tempo foi sede desse grupo,
17:23que no começo ministrou essa oficina da qual eu participei,
17:26que depois tornaram-se colegas de trabalho, mestres sempre, mas colegas.
17:31E aí eu tive a possibilidade de trabalhar com muita gente bacana,
17:34e a direção artística era do Marco Antônio Rodrigues,
17:38e a dramaturgia era do Reinaldo Maia,
17:40companheiro ilustre.
17:41No Brasil, onde eu volto, as pessoas conhecem o Maia,
17:43todo mundo tem uma história boa para contar sobre ele.
17:46E quanto tempo foi, mais ou menos, essa trajetória,
17:48tanto nesse teatro quanto até nesse começo mesmo,
17:53que o senhor foi crescendo e fazendo mais peças,
17:56foram mais ou menos...
17:57Quanto tempo, quantas peças, o que você destaca?
17:59Lá no Fulias?
18:00É.
18:01Ah, no Fulias a gente fazia uma média de uma peça por ano,
18:04além das peças menores, por exemplo.
18:06A primeira peça, assim, que eu fui como ator do grupo,
18:10que foi a primeira montagem do grupo,
18:11foi uma peça que foi produzida em parte pelo Grupo Tapa
18:14e em parte pelo Fulias.
18:16Tinha metade do elenco, metade, tudo.
18:18Era um de cada lado e eles se entendiam para fazer o espetáculo.
18:22Então, nessa peça, a gente comprou os direitos do Brecht, do texto.
18:29Na verdade, não era do Brecht.
18:30Ele sugere o texto, é praticamente ele que escreve,
18:32mas quem faz?
18:33A peça é a Elisabeth Hauptmann, ela que assina o espetáculo.
18:37Então, nós pagamos o texto da Elisabeth Hauptmann
18:39e tivemos que pagar a música do Kurt Weig.
18:43O Kurt Weig faz geralmente as músicas,
18:44mas as partituras são separadas do texto.
18:46Então, você paga duas vezes.
18:49Então, como a gente tinha pouca grana e tal,
18:51alguém deu a ideia.
18:51Pô, o Maia?
18:52Maia deu a ideia.
18:53Falou, pô, tem o direito das músicas.
18:54Vamos fazer um cabaré com as músicas e rodar um cabaré leve,
18:57com mesa, só e roda.
18:59E fizemos isso, que era o Surabaya Johnny.
19:01E aí viajamos o interior de São Paulo,
19:03fizemos várias apresentações,
19:04o espetáculo, uma delícia de espetáculo.
19:06E aí arrecadamos grana para montar o Happy End,
19:10que era já um espetáculo de cenário fixo,
19:14tinha uma porta giratória,
19:15um negócio um pouco mais complexo.
19:18E, a partir daí, era uma peça por ano.
19:20Depois fizemos Babilônia,
19:22que era a peça autoral do Maia,
19:25do dramaturgista,
19:26que falava da vizinhança do Galpão,
19:29sempre morando em São Paulo,
19:30sabia se ali embaixo do Minhocão,
19:33da Maral Gurgel,
19:35era uma cidade de moradores de rua,
19:37de sem teto ali.
19:38Ainda é um pouco até hoje.
19:39É porque virou uma estação urbana,
19:43rodoviária.
19:44A Marta dos Pulsitos ali é uma estação.
19:46Ali, está.
19:47Uma estação de ônibus.
19:48Terminal.
19:49Um terminal de ônibus.
19:50Mas ali, então, era uma cidade.
19:53A gente tinha da Funarte,
19:55e lá do escritório,
19:55que ficava mais no centro,
19:57mais na Pia da República,
19:58a gente vinha, passava por ali,
20:00que era mais perto da volta,
20:02passava por ali,
20:03e era uma coisa.
20:04Aí a gente fez um espetáculo
20:05dialogando com esse universo,
20:08que se chama Babilônia.
20:09É um grupo de mendigos
20:10em busca de Babilônia,
20:12e eles se perdem
20:13no momento em que eles veem
20:14uma mulher nua,
20:15pintada de dourado,
20:17que era nada.
20:17Então, eles se perdem
20:19quando não encontram nada.
20:20Mas era um texto
20:22ladeado por textos do Brecht,
20:26de outros poetas,
20:28com o Manuel de Barros,
20:30e é um espetáculo incrível.
20:32Depois a gente montou Otelo.
20:37Aí fizemos Otelo.
20:38O que foi essa montagem
20:39que você falou?
20:40Essa montagem.
20:41Teve três versões.
20:42O Ailton Graça
20:42estreou a primeira versão.
20:44Foi substituído
20:45pelo Edson Montenegro.
20:47E depois o Edson
20:49foi substituído por mim.
20:50Olha só!
20:51Em todas as montagens,
20:55eu fazia o Montano.
20:57É um personagem montano.
20:59Aí depois fizemos...
21:01Teve um espetáculo
21:01que eu não participei.
21:02É o Jake Miqueiras,
21:03um espetáculo com a Burras,
21:05que eu não participei.
21:06Como ator,
21:07não participei como ator,
21:08não participei como produtor,
21:11etc.
21:13E...
21:13E uma série
21:14de outros espetáculos.
21:16Legal.
21:16Nós fizemos muita coisa.
21:17A gente dá vontade
21:19de ficar falando aqui
21:20de teatro até o final.
21:22Porque são muitas coisas
21:25que vêm na minha cabeça.
21:26Mas antes de a gente
21:26sair do foco do teatro,
21:28eu queria te perguntar
21:29qual é a maior lição
21:31que o teatro já te trouxe
21:32como ator?
21:34Tem alguma
21:35que você consegue falar?
21:37Seja além dessa coisa
21:38de ser uma construção coletiva
21:40e tudo.
21:41o que o teatro
21:44te deu nessa fase,
21:45especialmente?
21:47O teatro,
21:47naquela época,
21:48me ajudou a me firmar
21:50um pouco como artista,
21:51entender que eu era artista,
21:52que eu tinha...
21:54Ou me organizar
21:56como ferramenta de trabalho,
21:57entender que eu tinha voz,
21:58que eu tinha corpo,
21:59que eu tinha...
22:00que eu tinha que me preparar
22:02de outras formas,
22:03eu tinha que ler,
22:03tinha que tentar entender
22:04as coisas,
22:05entender.
22:06Meu primeiro personagem
22:07foi um japonês.
22:10E aí,
22:10quando eu li o papel,
22:11eu falei,
22:12ele errou,
22:12não é esse o nome do personagem.
22:15Aí eu falei,
22:16só pode ser esse,
22:17era eu mesmo.
22:18E aí foi incrível isso,
22:19porque eu tive que aprender
22:20a andar como um chines,
22:22num chines na camura,
22:23assim.
22:24Tive que aprender a andar
22:24como um chines,
22:25tive que...
22:26Que legal.
22:27Ter os trejeitos e tal,
22:28e usar...
22:29Durante um tempo,
22:30eu vi muita coisa,
22:31assim,
22:31de tudo,
22:32chegava na época
22:33das locadoras de vídeo.
22:35Sim, sim.
22:35Então,
22:36eu...
22:37Se faltar aí,
22:38tem uma...
22:39Opa,
22:39maravilha,
22:40tem bastante aqui,
22:41mas valeu,
22:41obrigado.
22:42Obrigado,
22:42Maria.
22:43Hoje,
22:43todo um dia assim,
22:44eu comi um bacalhau,
22:45é sério,
22:46e enjotou um pouco,
22:47mas enfim.
22:48Beleza.
22:49Mas essa coisa...
22:51Mas o teatro é legal isso,
22:52que ele possibilita ser tudo,
22:54assim,
22:55não tem limite,
22:56você pode ser...
22:57Você foi Xuxa,
22:58né?
22:58Sim,
22:59isso foi uma brincadeira
23:00na faculdade.
23:01Legal,
23:02conta um pouquinho
23:02essa brincadeira.
23:03Eu entrei na...
23:05Eu entrei na...
23:07Na Milton de Paiva,
23:08e eu fui estudar de manhã,
23:09e todos os alunos
23:09eram mais novos que eu.
23:11E aí tinha aqueles trotes
23:12tradicionais,
23:13que eles faziam...
23:15Era sujar a roupa do outro.
23:16Sujar,
23:17sujar a uva e tal,
23:18aquele negócio.
23:19Aí eu juntei o povo,
23:20falei,
23:20vem cá,
23:20vocês não estão fazendo
23:21um negócio diferente?
23:21Por que a gente não faz
23:22uma coisa artística aqui,
23:24junta todo mundo?
23:25Cada um faz um número,
23:26quem toca, toca,
23:27quem canta, canta,
23:28quem não quer,
23:28quem quer brincar,
23:29brinca.
23:30Uma coisa para distrair,
23:31sem nenhum compromisso,
23:32não tem...
23:33É para a gente...
23:34É a nossa passagem,
23:36foi comemoração.
23:37Eles acharam legal
23:37e a gente acabou fazendo.
23:39E aí,
23:39em um dos esquetes,
23:40assim,
23:40da minha turma,
23:41eu fiz o Xuxa.
23:43Eu fazia a Xuxa
23:44e tinha os paquitas,
23:46assim,
23:47que aí,
23:48quando era...
23:48Tinha umas bobagens,
23:49que a gente pegava na criança,
23:50assim,
23:50aí veio uma paquita,
23:51a gente trazia um pano,
23:52eu limpava a mão,
23:53assim,
23:53toda vez que tocava na criança.
23:54Aquela Xuxa bem raiz,
23:56que não gostava de criança.
23:58Senta lá, Cláudio.
23:59É uma brincadeira,
24:00assim,
24:00a gente fazia,
24:01foi uma boa lembrança,
24:03assim.
24:03É o teatro de novo,
24:04está vendo,
24:04o Marcão,
24:05que...
24:05Na faculdade me trouxe as coisas,
24:07mas eu acho que o teatro,
24:08ele vai se impondo
24:09onde eu estava,
24:10ele ia se impondo,
24:11assim.
24:11E uma coisa também
24:12de quebrar um pouco
24:14as regras,
24:15assim,
24:15de o que já estava estabelecido,
24:17ali,
24:17propor novas coisas.
24:19Por que não mudar,
24:20né?
24:20Sim.
24:20Legal.
24:21Bom,
24:22acho que a gente pode migrar.
24:23Então,
24:24você começou a contar em off aqui,
24:26queria que você contasse um pouco,
24:27então,
24:27como foi a transição do teatro
24:29para os primeiros
24:31coisas de cinema?
24:32Então,
24:33antes de,
24:34nessa época também,
24:35eu preciso fazer uma digressão rapidinha.
24:37Claro.
24:37Quando,
24:37naquela época,
24:38quando eu falei
24:38dos funcionários públicos,
24:41do jornal e tudo,
24:42tinha um amigo que é cineasta,
24:46que é o Fábio Carvalho,
24:47que está aqui em Belo Horizonte
24:48até hoje,
24:48produz e tudo.
24:49E a gente fez vários experimentos
24:51naquela época.
24:52E eu fiz uma figuração
24:54no filme
24:54O Grande Mentecápio,
24:56aqui em Belo Horizonte,
24:57isso antes de ir para São Paulo,
24:58muito antes.
24:59Com o Diogo Villela,
25:00não é?
25:00É, com o Diogo Villela.
25:03E,
25:03então,
25:04foi a primeira vez
25:04que eu vi
25:05equipamento de cinema,
25:05vi aquelas coisas.
25:07Aí,
25:08de lá para cá,
25:08eu vim tendo experiências,
25:10assim.
25:11E o Fuliz,
25:11essa coisa do teatro de grupo,
25:13ele tomava muito tempo,
25:14porque,
25:14além de atuar,
25:15tinha que administrar,
25:16tinha que cuidar da casa,
25:17tinha que fazer uma série de coisas.
25:19Então,
25:19a gente tinha muito pouco tempo,
25:20não só eu,
25:21mas os colegas também,
25:22a gente tinha muito pouco tempo
25:22para fazer cinema,
25:23para nos dedicarmos a cinema.
25:27Então,
25:27eu fiz muito trabalho.
25:29Por exemplo,
25:30o casamento do Romeu e Julieta,
25:31que você falou no início,
25:33e tudo,
25:33por exemplo,
25:34foi um desses,
25:35que eu fui uma tarde,
25:35eu consegui ir numa noite
25:37ensaiar,
25:38e depois consegui
25:39numa tarde fazer.
25:40era uma briga de taxistas
25:41que tinha na frente
25:44do coisa.
25:45É a cena da qual eu participo.
25:48E aí eu fiz várias outras,
25:50assim,
25:50mas eu só conseguia fazer
25:52meia diária,
25:53então.
25:54E as pessoas ficavam assim,
25:55pô,
25:55é difícil arrumar coisa para você,
25:56você não tem paciência.
25:57Não é muito ter paciência,
25:59eu não tenho tempo.
26:00Então,
26:00é de uma a cinco,
26:01dez a cinco,
26:01eu quero ir embora,
26:02uma a cinco.
26:03Eu preciso sair cinco horas.
26:04E para quem não conhece
26:06a rotina do set,
26:08isso você grava pouquíssima coisa,
26:10porque toda hora repete,
26:11volta, faz de novo,
26:12e entrou um mosquito,
26:13faz de novo.
26:13Às vezes você nem repete tanto,
26:15mas tem questões
26:16que são de outras áreas,
26:18tem a arte que fala,
26:19olha,
26:19não gostei,
26:20tem uma coisa ali que vazou,
26:21aí para para corrigir,
26:24o som que não está legal,
26:25o cara corrige,
26:26a câmera que vai trocar a lente,
26:28troca a lente,
26:29o outro para você iluminar,
26:30não mais para cá,
26:30mas...
26:31E aí,
26:32atuar mesmo é pouquinho,
26:34rápido.
26:34A gente esforça,
26:36mas a gente aproveita esse tempo
26:37que a gente tem para estudar muito,
26:39para não errar,
26:39para não parar por nossa causa,
26:41para não deixar parar,
26:42eu pelo menos procuro
26:43não deixar parar por mim.
26:45E como é que foi já assim,
26:48por exemplo,
26:48no casamento do Amil e Julieta,
26:50de estar num set maior ali,
26:52com atores já um pouco mais famosos também,
26:55ou na sua...
26:55Foi tão rápido
26:56que você nem encontrou
26:57com o único principal do filme?
26:59Não,
26:59era rápido,
27:00às vezes não dava para encontrar,
27:01porque era set diferente,
27:02às vezes ele não estava
27:03naquela cena que eu estava,
27:04ele estava em outro lugar,
27:05então ele não necessariamente estava ali.
27:07Mas tinha uma estrutura grande?
27:09Tinha estrutura,
27:10mas isso foi uma coisa
27:11que foi me fascinando,
27:12eu começava a perceber o cinema,
27:14eu tinha muita vontade de fazer,
27:15eu achava fascinante aquilo,
27:18eu tinha muita vontade de fazer,
27:19não tinha o mesmo tempo.
27:20Eu considero,
27:21por isso,
27:22por essas razões todas,
27:24eu considero o marco,
27:25mesmo inicial da minha carreira,
27:27o...
27:28O Homem que Voa,
27:30Nelson Prudente,
27:32do Maurílio e do Adirley,
27:34Maurílio Martins e Adirley Queiroz.
27:37É,
27:37o Maurílio já veio aqui no Divirtas,
27:39o pessoal da Filmes de Plástico,
27:41né?
27:41Sim,
27:41a Filmes de Plástico.
27:42Um abraço para o Maurílio.
27:43É muita moral para a gente,
27:44que o primeiro episódio,
27:45embora não tenha ido ao ar com ele,
27:47mas ele que gravou o piloto com a gente,
27:49para ver se estava tudo ok.
27:50Estamos prestes a fazer um ano
27:52dessa gravação,
27:52inclusive agora em dezembro.
27:54O Maurílio é um querido,
27:55uma pessoa muito competente,
27:56um artista enorme.
27:58Não,
27:58ele é muito gente boa.
27:59E parceiro nosso aqui do Estádio de Mendes também,
28:01muito.
28:01Eles todos lá,
28:02Filmes de Plástico,
28:03Gabriel,
28:05irmão.
28:05Também,
28:06o André também.
28:06O André é mais fechado na dele.
28:08Mesmo o Maurílio,
28:10que é o produtor,
28:11também que é um amor de pessoas.
28:12O Thiago,
28:13né?
28:13O Thiago,
28:13o Thiago,
28:14o Maurílio,
28:15o Maurílio.
28:16O Maurílio é o Maurílio.
28:17Mas então você considera que esse foi o primeiro real?
28:21É,
28:21porque foi a primeira vez que eu saí
28:23do...
28:24Eu estava em uma fase de transição.
28:26Eu estava querendo voltar para Minas
28:27para ficar com a minha mãe,
28:28assim,
28:28ficar com a família.
28:30E aí eu estava me desvinculando do repertório,
28:33saindo um pouco da administração.
28:36Então eu estava em uma fase mais liberada
28:38e eu pude ficar...
28:39Quando eles me convidaram para fazer,
28:41eu pude ir para São Carlos
28:42e ficar 15 dias lá fazendo.
28:44Então foi a primeira vez que eu considero
28:46que eu saí e mergulhei.
28:49Fiquei por conta do cinema.
28:51Parou a história da meia diária só.
28:53Eu estava o dia inteiro
28:55em função do filme,
28:57assim,
28:57conversando,
28:58a gente conversava,
28:59ir para o bar depois,
29:01ficava trocando ideia na casa.
29:03Era uma conversa permanente
29:04do que a gente estava.
29:05E aí essa imersão você acha que cresceu?
29:08A coisa do filme,
29:10você conseguiu estar mais dentro do personagem,
29:13mais imerso mesmo na coisa?
29:16Ou tanto faz nesse sentido?
29:19Você fala se há diferença do teatro?
29:20O tal áudio está dedicado a esse tempo todo,
29:23voltado,
29:24conversando sobre as cenas,
29:26isso agregou ou nem...
29:27Agregou.
29:28Deixa eu complementar,
29:29só porque esse filme é um filme muito metamorfo,
29:32vamos dizer assim,
29:32porque ele era para ser um documentário,
29:33e aí depois morreu,
29:36e aí virou uma ficção dentro.
29:39Você já entrou com essas mudanças acontecendo
29:43ou já estava estruturado?
29:44Não, não, na verdade,
29:45deixa eu contar rapidamente essa história,
29:48que na verdade eles tinham acertado
29:50com o Nelson Prudence,
29:51que é um atleta do salto triplo,
29:53que foi medalhista nacional durante o ano,
29:55ainda foi medalhista de prata,
29:56medalhista de bronze,
29:58e recordista mundial durante alguns tempos
30:00e algumas provas.
30:01Eles iam fazer aquele...
30:03Memória do Esporte Olímpico da MTV com ele,
30:07já estava tudo acertado,
30:08na cidade de São Carlos.
30:09Estruturaram a produção e tudo,
30:11só que ele faleceu,
30:12acidentou um pouco antes.
30:13Acho que chegaram a gravar algumas cenas ou não.
30:15Isso eu não lembro, não tenho certeza.
30:17Eu não tenho certeza, eu acho que não,
30:19acho que eles começaram.
30:20E aí eles tiveram a ideia,
30:22para não perder tudo,
30:23eles tiveram a ideia de criar um radialista,
30:25que se chamava Carlos José,
30:27que eu faria esse radialista,
30:28e no começo do programa,
30:30aí começa o filme com o programa de rádio,
30:32ele dizendo,
30:33e faríamos nessa semana de consciência negra
30:36uma entrevista grande com o Nelson Prudence,
30:38fomos surpreendidos com a notícia do seu falecimento,
30:40então vamos dedicar os próximos programas
30:42a contar a sua história.
30:43Aí, depois, na segunda cena,
30:44ele está dirigindo na estrada,
30:46a partir daí,
30:47é o Carlos José entrevistando as pessoas,
30:50fazendo o que eles fariam,
30:52fazendo o papel deles.
30:54E assim eles conseguem fazer exatamente o que tinham pensado,
30:57quer dizer,
30:57não exatamente o que tinham pensado,
30:58mas conseguem manter
30:59muito do que eles planejaram
31:01para contar a história deles.
31:02Aí, quando você entrou,
31:03já estava essa estrutura...
31:05Eu entro para isso,
31:06é porque eles tiveram a ideia e falaram,
31:08ah, quem vai fazer?
31:08Aí, o Tiago Mendonça, de São Paulo,
31:10eu sugeri,
31:11eu falei, tem um Carlão.
31:12Aí, o Adilê já me conheceu,
31:14ele falou,
31:14pô, o Carlão,
31:15aí foi apresentado para o Maurílio,
31:17ele topou.
31:18Que legal.
31:20Eu considero esse o primeiro,
31:21porque foi quando eu fui mesmo para o cinema.
31:23E esse já teve características mais do teatro também,
31:26ou não?
31:27Dessa coisa de improvisar,
31:29de fazer a coisa no momento ali,
31:32que estava acontecendo.
31:33É, tentar entender.
31:34Foi meio isso.
31:35O radialista mesmo,
31:36ele tinha algumas coisas que ele tinha que dizer,
31:38mas o texto era livre.
31:39Então, eu ficava tentando
31:40brincar ali de ser um bom radialista.
31:43Bom, não cheguei,
31:44mas acho que convenceu como radialista também.
31:46Mas é aquela coisa do...
31:50É um filme que trazia um pouco dessa coisa do teatro.
31:53Eu não tinha pensado nisso.
31:54Dessa forma de produzir.
31:55É, eu não tinha pensado.
31:56É até isso com essa...
31:57Uma boa transição.
31:58Pois é.
31:59Quando o Lucas falou também dessa mudança,
32:02isso me pareceu super coisa do teatro mesmo.
32:05Acaba a luz aqui,
32:07então vamos mudar aqui.
32:07Você tem que dar um jeito.
32:08Espetáculo é bom para lá.
32:09Chega na cidade,
32:10você imagina que o teatro é uma coisa,
32:12outra completamente diferente.
32:14E aí foi um pouco isso.
32:15Mas o cinema brasileiro
32:17tem um pouco esse aspecto também,
32:19por mais que com grandes produções e tal,
32:22durante muito tempo
32:23teve um aspecto um pouco artesanal,
32:25ou não?
32:26O que o senhor acha?
32:27Ah, eu acho que esse senhor,
32:29eu não sei.
32:29Eu não sei o que o senhor acha.
32:31Mas eu,
32:31eu sou amigo que eu acho que...
32:33O senhor está no céu.
32:34O carlão.
32:35É a mania de repórter.
32:38E a mania de velho.
32:39Não, não precisa mais disso.
32:41Não, mas está certo.
32:42Mas essa coisa do...
32:45Dessa coisa da transição,
32:49eu me perdi aqui.
32:50É, volta nessa parte da transição mesmo.
32:52Aí depois desse filme,
32:54quais foram os próximos passos no cinema?
32:57Então, o que aconteceu no cinema,
32:58eu já fazia alguns trabalhos
32:59com o Tiago Brandmarte Mendonça,
33:01de São Paulo,
33:02que foi ele que me apresentou e tal.
33:04Eu sou padrinho de casamento dele,
33:05então assim a gente sempre faz.
33:06Já fizemos espetáculo junto,
33:08ele fazendo dramaturgia,
33:09eu dirigindo.
33:11Então foi...
33:12A gente tem uma trajetória legal assim.
33:15E aí eu fiz algumas coisas com o Tiago.
33:17Eu fiz Jovens Infelizes, por exemplo.
33:21Eu já estava morando aqui,
33:22eu fui para São Paulo filmar.
33:25E o Gabriel Martins fez a montagem
33:27desse Nelson Prudente,
33:28O Homem que Envolvou,
33:29e depois me convidou para fazer um curta,
33:30que é o episódio do Homem Ninho.
33:34Ah, excelente.
33:34Ele me convidou para fazer o curta.
33:37Logo depois,
33:38eu conheci um produtor do curta,
33:41me apresentou para o João,
33:43para o Afonso e para o João,
33:45para fazer o Arábia.
33:48Eu fui fazer o Antônio Carlos no Arábia.
33:49O personagem até caiu,
33:50ficou uma cena só do personagem,
33:52ele é citado pelo Juminho.
33:54Mas é uma cena legal,
33:55que eu gostei muito de fazer.
33:58O Arábia é um filme lindo, não é?
33:59É um filme incrível.
34:01Que tem uma coisa assim,
34:02da história da música,
34:03ali meio por trás, junto.
34:06É muito interessante o Arábia.
34:07É um dos meus filmes favoritos.
34:09É, eu gosto muito.
34:10Legal.
34:11E aí, bom, vamos...
34:12E aí as coisas foram acontecendo dessa forma.
34:14Esse produtor me apresentou para o pessoal do Arábia,
34:16depois o Gabriel me chamou para fazer
34:17o Vemoração do Mundo,
34:18nesse meio tempo eu fiz uma outra coisa com o Thiago.
34:21E as coisas foram acontecendo.
34:23E um dia uma amiga falou,
34:24não, mas você está no audiovisual.
34:26Eu falei, não.
34:26Aí eu parei para essa,
34:27falei, é, você tem razão.
34:28Eu tenho feito mais isso.
34:30Eu tenho feito.
34:30Até que as coisas começaram a acontecer, de fato.
34:34Então tá, eu estou aqui com uma camisa discreta
34:36de um filme que eu gosto.
34:38Acho que você já ouviu falar, né?
34:40Já ouviu falar.
34:41Gosto muito.
34:42Eu queria saber como você foi parar
34:43no elenco do Cleber Mendonça,
34:46do Bacurau.
34:47Porque esse sim é um filme muito...
34:51Acho que está muito marcado
34:53na história recente do Brasil.
34:55Conta então para a gente como você foi parar lá.
34:57Eu tinha feito um teste aqui na UNA
35:00com...
35:02Eu acho que era o...
35:04Eu não lembro as pessoas direito
35:06que fizeram esse teste comigo.
35:07Acho que foi o Felipe Fernandes e...
35:11Eu não lembro quem era a outra pessoa.
35:12Mas eles fizeram um teste com um filme
35:14para o qual eu não passei.
35:15Eu não sei que filme era.
35:16Eu não lembro agora o filme.
35:17Mas eu lembro que eu não passei.
35:19Mas o Felipe falou comigo assim,
35:21eu acho que eu tenho um filme para você.
35:23Não agora.
35:25Mas é para frente.
35:26Mas eu acho que eu tenho uma coisa para você.
35:28Eu acho que vai dar certinho.
35:30Nunca mais falei com o Felipe.
35:32Só o conheci depois.
35:34Eu falei com o Felipe que agora eu conheço.
35:36Já filmei.
35:36Fiz um filme com ele, o Rio Doce.
35:39Mas na época eu não sabia quem era.
35:41E aí um dia eu estou lá fazendo um filme do Tiago.
35:43Fazendo Curta Jornada As Noites Adentro.
35:45Foi um filme de samba.
35:46Estava na casa do Sodadinho,
35:47que é um sabista de São Paulo.
35:48Faleceu ano passado.
35:50Não fala a memória.
35:52E aí tocou o telefone.
35:54Meu celular tocou.
35:55E eu fiquei morrendo de vergonha.
35:56Porque eu desligo.
35:58Meu celular está desligado.
35:59Eu desligo.
36:00Quando eu entro no set.
36:01Quando eu desligo o celular.
36:02E não tinha desligado.
36:03Ele tocou.
36:04Só que não estava na cena.
36:06A gente estava organizando tudo.
36:07Eu atendi.
36:09E aí era o Felipe me convidando para fazer Bacurau.
36:11Eu falei com ele.
36:12Olha, estou no meio de um set.
36:13Eu não posso falar agora.
36:14Eu posso te ligar daqui a pouco.
36:15Ele disse, não, me liga mais tarde.
36:16Eu falei, mas liga hoje que a gente tem pré.
36:18Eu falei, não, beleza.
36:19Maravilha.
36:19Eu te ligo, sim.
36:20E foi assim.
36:22E aí, o que você pensou quando você leu o roteiro?
36:25Eu não sabia.
36:26Eu não tinha a dimensão do que era o filme.
36:28Aí você leu?
36:29Ele te mandou o roteiro?
36:29Ele me mandou o roteiro.
36:30Mandaram o roteiro inteiro.
36:31Eu li.
36:32E qual foi a sua impressão daquela doideira?
36:34Eu achei incrível o filme.
36:37Lendo, eu falava assim, nossa, esse negócio é gigantesco.
36:39E aí fui para o Seridão e era realmente uma coisa incrível.
36:43E você aprendeu a andar de moto por causa das gravações do motor.
36:46E eles me ligaram e perguntaram, você anda de moto?
36:49Eu falei, não.
36:50Ok.
36:51Não ando de moto.
36:52Está resolvida a questão.
36:53Mas quando eu cheguei lá, na minha primeira diária, eu lembro que eu tinha...
36:57Eu ia ficar bastante tempo, mas eu lembro que a primeira semana, eu cheguei numa quinta-feira,
37:01eu só ia ter trabalho na quarta da semana que vem.
37:03Uma semana livre.
37:05Uma semana livre.
37:06E aí, Rio Grande do Norte, aproveitando ele.
37:08Já comecei a fazer o roteiro de turismo aqui.
37:11Aí a mulher falou, não, amanhã você vai estudar, você vai fazer aula de moto.
37:15Ah, que legal.
37:18Caiu todo o turismo que ele fazia.
37:19Aí fui fazer aula de moto, mas foi ótimo.
37:21Aí fiz a aula de moto no primeiro dia.
37:23No segundo, a gente deu uma andada.
37:25E no terceiro dia eu falei, ó, preciso ir para a Barra, que a gente ficava hospedado em Parelhas,
37:33que é a cidade, e tem um distrito que chama Barras, que é onde foi filmado.
37:38A maioria das cenas.
37:39Teve outras cenas em outros lugares, mas a maioria das cenas acontecem em Barra, aquele povoado.
37:43Então, quando...
37:44Então, quando...
37:48A gente...
37:50Eu tinha que ir, eu falei com ele, você não...
37:52Eu vou treinando de moto, você não topa ir para lá?
37:54Ele falou, você topa?
37:55Eu falei, topo, claro.
37:56Então, vamos.
37:57Aí a gente saiu, se eu guardo amanhã.
37:58E foi a primeira vez que eu descobri que não tinha pão no Rio Grande do Norte.
38:03Eu não consegui tomar café no hotel.
38:05Aí eu falei com ele, pô, eu queria parar num quiosco para comer.
38:08Ele falou, não, tem um quiosco, ótimo ali.
38:09Eu falei, beleza, paramos no quiosco, só tinha cuscuz.
38:13Aí eu comi cuscuz, foi uma delícia e tal.
38:16Mas, enfim...
38:17Aí a gente foi de moto até o sede.
38:20Ótimo, assim, eu falei, pô, já dá para enganar aqui.
38:27Mas tinha mais dias.
38:28Então, eles pediram para fazer...
38:29Eu ia para um lugar, se as câmeras estavam filmando no norte, eu ia para o sul.
38:34E ficava numa alice, falava, você fica por aqui.
38:36Ficava rodando.
38:37Daqui a pouco a gente te busca, assim.
38:38Igual um menino de bicicleta.
38:40Aí eu ficava.
38:41Aí, de repente, eu me vi no Ceridó.
38:43Sertão do Ceridó, olhando aquela...
38:45Que é uma imensidão também aquilo.
38:47Olhando aquilo, tentando entender.
38:49Fazendo o meu olho entender o que era a Caatinga.
38:52Perceber que aquilo não era uma coisa assim.
38:55Perceber que aquilo era cheio de complexidade, cheio de camadas.
39:00Eu tive esse tempo de ficar ali fazendo...
39:02Interessante.
39:02Enquanto eu andava de moto.
39:03A Caatinga era minha companheira.
39:05Eu ficava andando, treinando.
39:06Eu ficava treinando e tudo.
39:07E foi ótimo, assim.
39:09Isso certamente levou para o personagem, né?
39:10Levei isso para o Damiano.
39:12O Damiano era um cara que plantava plantas medicinais.
39:18Ele era um raizeiro, meio xamã, tudo.
39:22Nudista?
39:23É, porque...
39:24Ficou conhecido isso no filme, né?
39:26É, porque lá na casa dele não tinha ninguém.
39:29Morava num lugar, assim.
39:30Afastado de um lugar.
39:31Podia ficar pelado lá que não tinha ninguém.
39:33Ficava nu.
39:34E isso foi tranquilo já na experiência do teatro?
39:37De ficar pelado?
39:38E aí foi...
39:39Como é que foi gravar essa cena?
39:40Eu nunca tinha ficado nu no teatro, assim.
39:43Mas foi uma cena...
39:46Foi interessante.
39:47Eu li, eu lembro que eu li no dia anterior, assim.
39:49Aí, Damiano está nu na cabana.
39:52Damiano está nu na cabana.
39:54Aí me preparei e fui.
39:56E ainda foi um pouco...
39:57Eu tive uma prévia que foi...
39:59Quando eu cheguei lá e o Kleber olhou, ele falou assim, deixa eu ver.
40:03Aí olhou e falou, não, ele está todo cheio de massa, duas cores.
40:06Ele falou, não, o Damiano fica pelado.
40:09Ele não tem marca de nada.
40:10Ele fica nu.
40:11Ele tem solo no corpo inteiro.
40:13Aí eu tive que maquiar.
40:15Cobrir essas diferenças.
40:17Ah, que interessante.
40:18Foi a primeira...
40:20Era relaxo, assim, e pronto.
40:23E aí eu fui para o set.
40:24Quando eu filmei a primeira vez, eles eram muito carinhosos e cuidadosos, assim.
40:27Tinha uma menina do figurino que falou, ó...
40:29Na hora que ele der o corte, eu te entrego o seu roupão.
40:32Beleza?
40:32Falei, beleza.
40:33Aí estava de roupão na cena, aquela cena da estufa.
40:36Aí tirei o roupão, passei, fiz a primeira vez.
40:38Corta e tal.
40:39Ela veio com o roupão.
40:39Falei, não precisa.
40:41Já está ok.
40:42Estou, já sou...
40:43Agora, deixa eu...
40:44Já é o Damiano que está aqui, né?
40:46Eu tenho vergonha.
40:47O Damiano não.
40:47O Damiano está acostumado.
40:49Não, é isso.
40:51Se não atrapalha o corte.
40:52Não estou pensando nos cortes.
40:54É que...
40:55Aí eu pensei isso.
40:57Eu falei, agora já é o Damiano.
40:58Comecei a entender que o Damiano não tinha...
41:00Estava em casa, estava tranquilo.
41:02Aí eu fiquei em casa, fiquei tranquilo.
41:04E fiquei pensando nas outras coisas.
41:05Não fiquei pensando...
41:06Tinha...
41:07Eu pensando nas plantas, depois pensando no aviso que eu tive, pensando no que eu ia fazer.
41:13Eu vou despistar aqui, vou pegar uma esfarela, mas eu vou pegar minha arma.
41:17Eu vou me preparar que tem alguém aqui, então vai tomar chumbo.
41:19E eu pensei assim, descendo.
41:21Aquela cara, calma, mexendo.
41:24Que legal.
41:24E aí eu não pensava, né?
41:26E aí você viu a cena?
41:28Eles mostram a cena?
41:29Você já foi vendo os resultados?
41:31Como é que foi esse processo?
41:33Eu não gosto muito de assistir na câmera.
41:35Quando eu estou filmando, eles falam, você quer ver?
41:37Eu geralmente não gosto de ver, não.
41:38Eu falo, não, não precisa, não.
41:39Confio no outro diretor.
41:41É porque você sempre vê e sempre quer fazer uma outra coisa.
41:44Eu sempre acho que tem um negócio que não está bacana.
41:47Então deixa no filme.
41:48Quer no filme, né?
41:49E muitas vezes você vê, quando você vê, não tem mais a possibilidade de refazer.
41:53Então, eu não gosto muito de ver, não.
41:56Ah, legal.
41:57Mas eu vi a cena pronta depois.
41:58E quanto tempo durou, assim, toda a gravação do filme?
42:02Como é que foi esse processo lá no Rio Grande do Onor?
42:06Eu acho que foram uns três meses de gravação, assim, de filmagem.
42:11Se não me falha a memória.
42:12Eu fiquei lá um mês, talvez um mês e pouco, assim, indo e voltando.
42:15Eu voltei, não fiquei direto.
42:16Fiquei um período, voltei, depois fui, fiquei um período.
42:20Mas foi incrível aquilo, assim, uma experiência muito interessante.
42:23E a coisa da cena, você perguntou?
42:25Aquela cena foi filmada em uma parte, ela tinha duas câmeras e uma grua.
42:30Depois, a parte do tiro foi filmada separada, né?
42:34Aí eu atirei numa tampa de acrílico para a câmera.
42:37Então, ele me posiciona e tal.
42:40Eu vou dar a ação, você conta dez e atira.
42:42Ação, conto dez e atira.
42:44Atira, sim, na verdade.
42:46O macamate é o contrário.
42:47E aí eu pensei isso, e atirei na cena, vendo o que eu tinha atirado, acertei, né?
42:54Então, era um pouco isso.
42:56É isso.
42:57E aí, depois, eles fizeram...
42:57Você se preparou com as armas, assim?
43:00Nós tivemos um curso um dia.
43:03Nós tivemos um...
43:04Eles calibraram a arma, como é que recarrega pela boca, né?
43:11Aquelas polveiras antigas.
43:12Você coloca pólvora, aí coloca chumbo quando é para atirar,
43:15e coloca aquelas buchas de banho, aquelas buchas vegetais,
43:20na ponte de soca, porque aquela bucha não deixa a pólvora cair.
43:24E coloca uma espulheta no gatilho, assim, no martelo, embaixo do martelo.
43:29Você põe uma espulhetinha, puxa aquele negócio, quando atira lá,
43:32a espulheta solta uma fagulha que pega na pólvora e projeta.
43:37E eles usam uma carga gigante.
43:39A carga que eles usam quando você atira, você roda aqui.
43:42É um negócio impressionante.
43:43Mas eles usaram uma carga menor.
43:45Não tira.
43:46Para produzir só pólvora, para produzir só os tilhaços, né?
43:50Então, senão, tinha o chumbo e tudo.
43:52Então, era um coice um pouco mais controlado, assim.
43:55A gente controlava o coice.
43:57Interessante.
43:58Depois veio o Martinho 1, Estranho Caminho, do Guto Parente, Martinho 1, do Gabriel Martins.
44:04Como é que foi?
44:05Foi convite também?
44:07O Martinho 1 já tinha trabalhado com o Gabriel, como disse,
44:10no Raposal do Homem Negro.
44:12Depois, no Nada, no Curta dele, chama Nada.
44:15Depois, no Coração do Mundo.
44:17E aí, ele me convidou para fazer o Martinho 1.
44:21O Guto Parente, ele montou no Coração do Mundo.
44:26E aí, ele me viu lá naquela cena, como é, montador, ele viu a mesma cena várias vezes e tudo.
44:32Ele achou interessante a cena da guarita lá, do porteiro.
44:37E aí, ele me convidou depois para fazer o pai dele, que era o roteiro do Geraldo, no Estranho Caminho.
44:45Sim, gente, interessante, uma única cena.
44:48Agora, Carlos, eu queria te perguntar o seguinte, a gente está falando de muito boca a boca.
44:53Um viu, te chamou, outro veio, te chamou.
44:55Você falou do teste que você fez e não passou.
44:57Você já fez muito teste?
44:59Você anda fazendo teste também, para filmes?
45:01Eu fiz alguns.
45:02Ultimamente, eu tenho recebido mais convites.
45:06Na época do teatro, eu fazia, às vezes.
45:12Você falava, vai ter um teste com o filme, caso você não quer.
45:14Eu fazia, então, às vezes, era convite mesmo.
45:16A pessoa já...
45:17Você falou que não gosta de ver as cenas, mas os filmes, com certeza, você assiste.
45:22Ah, não, filme eu gosto.
45:23Eu queria que você comentasse, tanto do Bacurau quanto do Martinho, que são dois filmes incríveis.
45:27Como que foi ver o filme?
45:29O que você achou dos filmes, assim, você se surpreendeu de alguma forma?
45:34Primeiro o Bacurau, depois o Martinho?
45:36Sempre, a gente sempre se surpreende, porque você lê o roteiro e aí você imagina uma coisa.
45:40Você imagina um ritmo, às vezes, quando você está vendo.
45:42A gente filma em pedaços, a gente compreende os personagens, em partes e tudo.
45:49Então, ver o filme é sempre bacana, porque você entende o que o diretor pensou,
45:54do ponto de vista do ritmo da cena.
45:56Você entende as cenas específicas que você faz, mas essa coisa, lendo o roteiro,
46:01você tem um seu filme na cabeça.
46:04Quando você assiste, é o filme do diretor, é outro filme.
46:06É um filme...
46:07E é interessante, você vê o tempo, por exemplo, o Bacurau mesmo,
46:10quando começa com aquela música lenta, aproximação do céu,
46:13era uma coisa que eu jamais esperava.
46:16Aquilo vai dando uma tranquilidade, uma coisa.
46:20Depois, quando entra na cidade, você entra com aquela calma, com aquela tranquilidade.
46:24E as coisas vão indo assim, até que a dureza vai entrando aos poucos.
46:29Você vê aquela doutora com os pacientes, aquilo é engraçado.
46:33É tudo leve, você vai entrando, aquilo ali é engraçado.
46:36Vem um prefeito, aquilo é divertido.
46:39Aí você vai e está nesse espírito.
46:41De repente, o filme vai virando.
46:43E no Marte 1 também, teve essa sensação, assim, de...
46:49Porque o Marte 1, acho que a história, especialmente do protagonista ali,
46:53é um pouco surpreendente do jeito que vai sendo construído também.
46:56Não na mesma surpresa do Bacurau, mas num estilo diferente.
47:01Como é que foi ver o Marte 1?
47:03E depois também a repercussão do filme, o que você sentiu aí com tudo?
47:08O Bacurau foi o primeiro filme, o filme que as pessoas passaram a prestar atenção,
47:12de certa forma, falavam, você é do Bacurau e tudo.
47:16E o Marte 1 foi o filme que me deu, assim, régua e compasso, eu acho.
47:21Eu já tinha ganhado um prêmio de melhor ator com o filme
47:25Canção ao Longe, da Clarissa Campolino,
47:28outra querida aqui de Belo Horizonte.
47:32Então, eu já tinha ganhado esse prêmio de melhor ator no Festival de Brasília,
47:35na 55ª edição, me parece, do Festival.
47:40E o Marte 1, eu ganhei um grande prêmio de cinema brasileiro.
47:47Ganhei o prêmio de Sesc, de melhor ator do ano.
47:51Ganhei o prêmio de ator com a divã...
47:53Não, ganhei o prêmio de ator no Rio.
47:59Eu acho que eu estou...
48:01Não, tudo bem.
48:02Estou trocando o do Rio, não foi do...
48:05Mas o filme teve uma repercussão gigantesca.
48:08Teve uma repercussão gigantesca.
48:09Então, essa coisa dessas premiações, são premiações...
48:12Quando a gente foi lá para a premiação do grande prêmio,
48:14a gente conversando, fazemos a bolsão de apóstolo,
48:17qual que o seu apóstolo foi?
48:18Eu acho que no nosso grupo, quem vai ganhar o prêmio vai ser o Deivinho.
48:24E esse Deivinho vai simbolizar nós todos, assim.
48:27Acho que nenhum...
48:27Pensando, assim, onde isso está lógico.
48:30Então, quando ganhou o Deivinho, aí começou a ganhar o prêmio,
48:32eu falei, olha, que interessante.
48:33Pô, eu estava comemorando o Deivinho,
48:35todo feliz que eu sabia que ele ia ganhar,
48:36e estava feliz que ele tinha ganhado.
48:39E aí, de repente, eu também.
48:42Que legal.
48:43Pois é, como é que é ganhar um prêmio, assim, grande, nacional?
48:46Isso sentiu algum tipo de validação?
48:49Como é que é?
48:50É, de alguma maneira, é uma coisa que é...
48:53Você vê que o seu trabalho foi reconhecido,
48:56significa...
48:56Eu sempre digo que, para mim, é validando a maneira como eu estou fazendo.
49:01Falo assim, você tem trabalhado corretamente.
49:04Está resultando bacana.
49:05As pessoas estão dizendo isso para você.
49:06Pessoal, o jeito que você está fazendo é bom.
49:08Faça, continue fazendo desse jeito.
49:10O aprimório é nessa direção.
49:12Então, eu entendo isso.
49:13Quando eu vejo gente especializada falando bem do meu trabalho,
49:16eu entendo isso.
49:17Falo, olha, eu estou fazendo bem o ofício.
49:20Que é a que tem que ser a preocupação, acho que, do ator, do artista, é essa.
49:24Fazer bem o ofício.
49:25A gente não é bom.
49:26A gente resulta bom porque faz bem.
49:30Verdade.
49:30Se deixar de fazer bem, deixa de ser bom.
49:33Que legal.
49:33Ninguém é bom para sempre.
49:34A gente precisa ir para o final aqui.
49:38A gente tem um joguinho que a gente tem feito aqui.
49:42Que eu vou te falar uma pergunta.
49:44E aí você responde o mais breve possível.
49:47Com uma palavra ou no máximo uma frase.
49:49Então, um joguinho rápido.
49:50Então, vamos lá.
49:52Queria começar com um filme.
49:55Martinho.
49:57Uma peça.
50:00Babilônia.
50:02Uma música.
50:04Eu pensei que entre as músicas, não lembro o nome.
50:12Pode cantarolar, se for o caso.
50:14Vou cantarolar.
50:16O Demócio.
50:18De repente, olha o dia de ontem chegando.
50:21Que medo você tem de nós.
50:24Olha aí.
50:25O muro caiu, olha a ponte.
50:28Liberdade e o guardião.
50:29Paulo César Pinheiro, não lembro a letra.
50:32Legal, legal.
50:32Não lembro o título da canção.
50:34Não lembro.
50:36E para encerrar, uma atuação sua.
50:39Um personagem, melhor dizendo.
50:43Talvez o monge.
50:45Do espetáculo Babilônia.
50:47Legal.
50:48É isso.
50:49Mais alguma coisa, Lucas?
50:50É isso.
50:51Agradecer mais uma vez.
50:52Carlos, você está nas redes sociais?
50:53Você está com uma equipe?
50:54Carlos Francisco, Anderlane, ator.
50:57No Instagram.
50:59E aí, de lá, me acho para as outras coisas.
51:02Legal demais.
51:04A gente ficou muito feliz de receber.
51:07Eu e o Lucas, você vê que a gente está até meio ansioso, assim, para perguntar várias coisas.
51:12Eu cortando ele.
51:13Não, agora eu sou.
51:14Mas é tudo emoção, porque realmente a gente está muito feliz.
51:20E a gente está comemorando.
51:21Queria pedir para o diretor cortar aqui, nós três aqui, para fazer essa despedida final.
51:27Mostrando a nossa placa de um milhão de inscritos aqui no Portal Eye.
51:31Se você está nos ouvindo no Spotify, a íntegra dessa entrevista em vídeo está no Portal Eye.
51:37A gente tem a playlist do Divirta-se, que está lá.
51:41Então, deixe o seu like, deixe o comentário com alguma pergunta para o Carlos, que a gente repassa.
51:49Ou o que você quer ver aqui no Divirta-se.
51:51E não se esqueça de seguir o Portal Eye e de entrar em em.com.br para notícias do Brasil e do mundo.
51:59É isso.
52:00Obrigado, Carlos.
52:01E até a próxima, até os próximos filmes que você vem aqui de volta.
52:05Eu agradeço imensamente o convite e a recepção.
52:08Estou à disposição.
52:09Espero que a gente fale muitos e muitos filmes ainda.
52:11Com certeza.
52:12Valeu, Carlos.
52:13Falaremos.
52:14Valeu, Lucas.
52:15Valeu, Nath.
52:15Valeu, gente.
52:16Até a próxima.
52:17Divirta-se.
52:17Divirta-se.
52:18Divirta-se.
52:19Divirta-se.
52:19Divirta-se.
52:19Divirta-se.
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