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  • há 9 horas
A jurista destacou que o caso expõe falhas graves nas políticas de saúde mental e de atenção a pessoas em situação de vulnerabilidade. “É uma culpa de um sistema”, afirmou.

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Transcrição
00:00Infelizmente é isso, é uma pessoa que por muito tempo buscou e clamou por ajuda, há indícios de que tinha um diagnóstico psiquiátrico
00:12e que ele chegou a ser preso muitas vezes, que ele chegou a ser agredido em celas de prisões.
00:20A psicóloga que o acompanha também deu diversos depoimentos nas redes sociais,
00:24de que por muito tempo tentou lutar e dar o mínimo de acesso que ele teria direito através de um CAPS.
00:32A gente tem uma imensa gama de pessoas que precisam passar por intervenções e terminam se concentrando em equipamentos públicos únicos
00:43que por vezes, em sua grande maioria, não conseguem atender nas individualidades de cada um deles.
00:51Então, atualmente a gente tem no CAPS a concentração de questões psiquiátricas, de transtornos do neurodesenvolvimento,
01:00não há uma separação muito clara do que deve ser da infância, do que deve ser da adolescência, da juventude, como esse jovem de 19 anos,
01:08nem muito se fala em apoio também para as pessoas adultas.
01:13É um sério problema de política pública que a gente tem, de desamparo.
01:19Há uma indicação também de que ele, em razão, a mãe do Gleibson, do Vaquerinho, também tinha essa doença, que era a esquizofrenia.
01:30E de uma família com quatro filhos, ele teria sido o único que não tinha sido adotado,
01:36enquanto seus outros três irmãos conseguiram e tiveram talvez uma oportunidade de uma nova vida.
01:42E resultou nesse fato trágico, que deixou realmente muitas pessoas tristes.
01:49E ao longo do dia de ontem eu vinha muito constrangida, porque eu vinha muitas notícias sobre a situação da leoa,
01:57que é justo, que é um animal que estava em seu habitat natural, como você mesmo mencionou,
02:02sobre dirigentes daquele órgão que queriam dizer que todas as regras estavam sendo atendidas.
02:08todo mundo no sentido de se eximir de uma culpa que é uma culpa de um sistema.
02:14E como a gente vive a realidade de abusos, a realidade de verificar os abusos, não só pela falta de atenção,
02:22pela falta de intervenção e diversas outras coisas que são ocasionadas a pessoas com problemas de saúde mental
02:29e até pessoas com deficiência, como você falou, nessa lida pela inclusão da diversidade,
02:35eu quis trazer um pouco do meu olhar para esse acontecimento, que é um olhar muito triste,
02:43é um olhar que traz, que escancara para a gente a que ponto nossa sociedade chegou,
02:49por diversas vezes, depois surgiram novos vídeos de ele sendo preso, relatos de policiais,
02:55então era uma pessoa que precisava de atenção, mas que realmente não teve essa oportunidade.
03:00Doutor, inclusive, a informação que a gente obteve agora há pouco é que a própria justiça havia determinado
03:06a internação do Gledson, o Vaquerinho, cerca de um mês antes desse fato lamentável.
03:14Na sua opinião, mostra realmente a fragilidade das instituições,
03:19seja o que diz respeito a tratar de casos delicados como esse.
03:25Eu vi, inclusive, que na sua publicação, a senhora dizia justamente isso,
03:29de que essa morte do Vaquerinho não seja apenas a notícia, mas seja um alerta,
03:35porque assim como ele, talvez muitas outras pessoas estejam também nessa mesma realidade.
03:40Exatamente, essas questões de saúde mental e de pessoas com dificuldades e com demandas de saúde mental
03:49em conflito com a lei, ela precisa de um debate e de um diálogo mais amplo.
03:54Há um tempo, houve uma modificação na forma do entendimento do cumprimento dessas medidas
04:00pelo judiciário e houve diversa explanação pelos órgãos, pelos psiquiatras,
04:06que se uniram em relação a essa forma de condução desses profissionais e o judiciário.
04:12E naquele momento a gente viu uma tomada de decisão que foi feita,
04:17mas que sem que tivesse tido uma escuta de todo mundo que participa desse processo.
04:26Porque no momento em que há uma decisão de internação de uma pessoa,
04:29nessa situação de vulnerabilidade social, seria necessário realmente um acompanhamento,
04:36que essa decisão fosse acompanhada de uma estrutura multidisciplinar,
04:40precisaria verificar aonde de fato ele iria cumprir, onde ele seria recepcionado,
04:47que tipo de condições seriam dadas.
04:49Porque não é uma pessoa, pelo histórico, que deveria ser totalmente privada da sua liberdade,
04:57mas uma pessoa que precisava de uma equipe multidisciplinar,
05:01formada por psicólogos, por psiquiatras, para entender qual é a melhor conduta.
05:06E aí quando a gente pensa isso num sistema de reprimenda, de um sistema penal,
05:11que muitas vezes só sabe realizar uma prisão, um recolhimento,
05:16e deixá-lo excluído, sem nenhum tipo de ressocialização e nenhum controle
05:23sobre o que é que está acontecendo no desenvolvimento daquelas pessoas,
05:26isso termina sendo um ponto que precisa ser debatido.
05:32Esses casos pontuais em que a gente chega no extremo em que uma pessoa perca a vida
05:37para que alerte e demonstre para os outros que aquele silêncio ali
05:41são por muitas vezes vidas que estão sendo perdidas,
05:45seja como aconteceu a deles, seja por outra forma de violência,
05:52e isso faz com que de fato a gente perceba que esse diálogo precisa ser retomado
05:58por todas as esferas da sociedade, pelo judiciário, pelo poder público
06:03e pelos cidadãos também.
06:05Eu fiz questão de marcar esse ponto,
06:08porque também nós temos a nossa responsabilidade social.
06:11muitas pessoas entristecem as pessoas acreditarem que exclusivamente o poder público
06:17tem que tratar disso, quando muitas vezes nós, enquanto cidadãos,
06:20não conseguimos exigir direitos, nem tentar fazer com que o funcionamento desses órgãos
06:26se torne efetivo para proteger todo mundo que está ali sendo atendido por eles.
06:31Então traz também um olhar para a gente, enquanto cidadão, enquanto pessoa humana,
06:36do que é que a gente pode fazer para melhorar e para melhorar quanto pessoa,
06:42enquanto sistema, enquanto sociedade, enquanto comunidade.
06:47Em respeito a esse caso, como a senhora mesma disse,
06:50o Gerson tinha um histórico, inclusive, de várias outras, até mesmo prisões,
06:57e pessoas que, depois da morte dele, vieram publicamente, através das redes sociais,
07:04relatar as reiteradas vezes em que ele cometeu algo que fugia da normalidade, enfim.
07:11A senhora acredita que demonstra esse fato em si,
07:15demonstra uma falha generalizada do ponto de vista da sociedade?
07:20E aí nós nos englobamos e também englobamos o poder público
07:25a nível de ente federativo?
07:29Sim, sem dúvida.
07:32Concordar com isso não significa dizer que não existiram pessoas
07:35que tentaram, de alguma forma, mudar esse quadro,
07:38que é o que a gente verifica no depoimento da própria psicóloga,
07:41que dentro da sua estrutura do CAPS, dentro do que ela podia,
07:45ela estava tentando prestar um apoio,
07:47era uma pessoa que, sem muitos familiares próximos que pudessem
07:51prestar esse atendimento inicial, mas um histórico aí muito doloroso,
07:56de muitos anos, de muitas lutas.
07:59Tem um relato dele, quando ele está sendo preso,
08:02e que ele afirma que vai fazer de novo,
08:05e aquilo ali pode parecer, para muitas pessoas que talvez não entendam
08:08de saúde mental, como mais uma tentativa de infringir a lei,
08:13mas para quem convive um pouco e percebe,
08:16você vê realmente uma aflição dele,
08:18em talvez buscar esse tipo de mecanismo para se sentir ouvido,
08:24para se sentir escutado, amparado.
08:26Então, é muito difícil.
08:28Agora que isso aconteceu, a gente buscar encontrar um único culpado
08:33ou tentar, enfim, punir o que a gente precisa, de fato,
08:38é entender que esse contexto que aconteceu,
08:42do que aconteceu com ele, poderia acontecer com outra pessoa,
08:46e poderia acontecer mais vezes, e acontece,
08:49como há registros e há dados de que, infelizmente, isso acontece,
08:54não necessariamente nesse caso,
08:55mas pessoas que buscam a eliminação de sua vida em ambientes como esse.
09:00Aqui na cidade, a gente já teve outros episódios,
09:04não necessariamente no zoológico, mas em ambientes públicos,
09:06em que se talvez essas pessoas, em tormentas mentais e em situações
09:11de muita vulnerabilidade, tentam ali, através desses locais,
09:16eliminar a sua própria vida por não suportar mais o processo
09:19daquilo que estão sobreviver, passando, vivendo,
09:23e muitas vezes sem apoio.
09:24A gente vive uma realidade de, não só de pessoas sem apoio,
09:29mas de famílias sem apoio.
09:31A gente vê também, a partir da minha experiência com inclusão,
09:36muitos abusos, abusos sexuais de crianças,
09:39abusos sexuais de pessoas com deficiência,
09:42falta tratamento, falta intervenção, falta apoio,
09:46falta cuidado com todo mundo que cuida.
09:50E às vezes as pessoas que cuidam, elas não têm o mínimo de noção
09:54para poder ajudar uma outra pessoa.
09:56Então, isso adoece toda a família,
09:58e esse diálogo sobre saúde mental, sobre cuidado,
10:03sobre olhar sobre o outro,
10:05sobre melhoria de qualidade de vida,
10:07especialmente em pessoas ou com transtornos mentais
10:10ou com pessoas com deficiência.
10:12Eu faço questão de separar essas duas condições,
10:15porque por muito tempo a luta das pessoas com deficiência
10:18foi de demonstrar que a deficiência não é uma doença,
10:22e isso não é uma questão de preconceito com quem tem alguma doença,
10:27mas é exatamente como forma de eliminar o capacitismo vivido por essas pessoas.
10:32Mas esses cidadãos não deixam de ser pessoas vulneráveis,
10:36que precisam de um atendimento e precisam de uma atenção.
10:39São duplamente vulneráveis pela sua condição
10:41e pela sua forma de participação na sociedade,
10:44que muitas vezes é eliminada.
10:45deixam de estar em locais, deixam de permanecer,
10:50de conviver com familiares,
10:52e deixam também de ter o apoio em uma vida
10:55que todos têm direito pela falta de oportunidades
10:58dentro daquilo que eles poderiam ter,
11:01considerando as suas individualidades,
11:04as suas necessidades específicas
11:06e do quadro que você tem,
11:08que pode ser vivido com um acompanhamento adequado.
11:12E aí
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