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  • há 12 horas
Diretor e roteirista do filme ‘Palimpsesto' falam ao podcast Divirta-se sobre perdas, repatriação e futuro dos acervos.

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Transcrição
00:00Olá, seja bem-vindo ao Divirtas, o seu podcast de cultura do jornal Estado de Minas.
00:04Hoje estou aqui mais uma vez com o Lucas Lana. E aí, Lucas, tudo bem?
00:08Fala, tá? Jóia!
00:09Lucas é o repórter de cultura do Estado de Minas, presente sempre aqui no Divirtas.
00:13E hoje vou falar do meu tema favorito, né, Lucas?
00:17Cinema! Estou aqui com a minha blusa do companheiro Ziga Vertov,
00:20sempre para homenagear as pessoas que fazem cinema.
00:23A gente sempre tenta falar de temas variados aqui.
00:26E hoje a gente vai falar de cinema independente feito em Minas Gerais.
00:31E eu estou aqui, então, com o Felipe Canedo.
00:34Felipe, seja bem-vindo ao Divirtas.
00:35Prazer estar aqui, Otávio. Obrigado.
00:37E Lara de Paula. Seja bem-vindo, Lara.
00:39Obrigada.
00:41Eles vão lançar, nesse fim de semana, o Palimps Sexto,
00:46um documentário que vai sair no Fórum Doc.
00:49Fala um pouquinho desse filme, então, Felipe,
00:51para a gente começar esquentando aqui o Divirtas dessa semana.
00:55O Palimps Sexto é um documentário criativo.
00:59Às vezes as pessoas costumam perguntar isso para a gente, né?
01:02Se é documentário ou é filme?
01:04Sacanagem, gente.
01:05Pois é.
01:06Mas é um filme que a gente fez sobre uma história supertrágica, né?
01:11Que é um incêndio que aconteceu na reserva técnica
01:14do Museu de História Natural da FMG,
01:18onde ficava uma das coleções mais importantes
01:20de história pré-colonial da América Latina.
01:23Então, a gente fez esse filme durante quatro anos,
01:30ficamos trabalhando, acompanhando todo o resgate da coleção,
01:34o que foi um trabalho super difícil,
01:37acho que Lara pode falar melhor que eu sobre isso,
01:39mas que era uma escolha, né?
01:41Do que ia ser descartado,
01:43o que era lixo e o que ia ser guardado,
01:46sendo que tinha sepultamento lá de humano
01:49de quase 10 mil anos atrás.
01:52Então, tinha assim...
01:53Tinha muita coisa.
01:55E aí era uma coisa de ficar catando, assim, sabe?
01:58E a gente acompanhou esse drama, assim,
02:00de pessoas que trabalharam lá muitos anos.
02:04Tem gente que dedicou a vida a essa pesquisa
02:06e, de repente, tem esse incêndio.
02:08E isso em 2020,
02:10dois anos depois do incêndio do Museu Nacional, né?
02:12Então, a gente chegou lá para fazer um registro
02:16e ficou muito impactado, assim,
02:19se apaixonou por esse trabalho, por essa história
02:22e acabou fazendo um longa.
02:24Ah, bacana.
02:25Lara, você quer falar um pouquinho, então,
02:26para a gente desse processo, né?
02:28De como foi, talvez até um pouco, assim,
02:30as causas do incêndio, mais ou menos,
02:32o que você sabe?
02:34E como que foi esse processo de restauração?
02:36Por favor.
02:36Ah, bom, para mim, foi uma experiência muito diferente
02:42de tudo que eu já tinha experienciado
02:44enquanto arqueóloga, né?
02:46Eu já estava estudando na UFMG desde a graduação
02:51e a gente tem muito costume na arqueologia
02:55de escavar o sítio, mas não a reserva técnica.
02:59Então, foi completamente inédito para a gente
03:01essa experiência de ter que aprender
03:04como lidar com aquele contexto.
03:07A gente tinha uma ajuda das pessoas
03:09que tinham sido voluntárias no Museu Nacional, né?
03:13A nossa equipe era toda de pessoas voluntárias também,
03:15porque a gente estava na época do Covid-19.
03:18Então, era muito difícil fazer os turnos
03:21e conseguir pessoas que estavam aptas também
03:24a poder ir fazer o resgate.
03:27E, com essa ajuda do pessoal do Museu Nacional,
03:29a gente conseguiu ter um norte,
03:32mas, de uma forma geral,
03:34foi muito sui gêneros o tanto de coisas
03:37que tinham misturadas
03:39que a gente não tinha ideia que se misturariam, né?
03:42Os ossos, eles deterioraram muito,
03:45alguns deles viraram pó.
03:47A gente tinha uma mistura ali
03:49que, inclusive, remete ao nome do filme, né?
03:52Que é Palimpsesto, justamente por ser
03:54essa mistura toda de tempos, de coisas, de espaços,
03:58que a gente não consegue nem definir exatamente qual coisa era.
04:03Mas era um trabalho que era feito com muita seriedade
04:06e, principalmente, com muita paixão de toda a equipe.
04:12Porque, como o Lipe tinha mencionado, né?
04:14A gente tem professores que a colher de pedreiro
04:17que eles usaram para escavar o sítio
04:20foi a mesma que eles usaram para escavar a reserva técnica.
04:23Então, isso foi muito emocionante para muitos de nós.
04:28A gente tinha ali uma parte considerável
04:31do povo de Luzia também, né?
04:33Então...
04:34Que é a ossada que foi encontrada em Lagoa Santa, né?
04:37Isso.
04:38E aí a gente tem populações de,
04:41como o Lipe tinha mencionado,
04:4310, 12 mil anos.
04:45A gente tinha muitos restos faunísticos.
04:47A gente tinha corda.
04:52Também tinham as outras coleções de reserva técnica, né?
04:55Então, as aves, a coleção malacológica de conchas,
05:00as penas,
05:01a coleção do Vale do Jequitinhonha,
05:03que a gente perdeu,
05:04uma coleção etnográfica também.
05:06Então, foi um momento em que a gente teve que...
05:11Ao mesmo tempo em que a gente era muito apaixonado
05:13com a arqueologia,
05:14a gente estava muito triste fazendo,
05:16porque não era algo que a gente tinha sonhado
05:19em escavar em nenhum momento.
05:20Foi muito bom que o filme tenha acontecido,
05:23porque ele ajudou a gente também
05:24a ressignificar essa narrativa
05:26em quanto tempo
05:28do que a gente queria que ficasse registrado.
05:31Legal.
05:32O cinema com esse papel de arquivo, né?
05:35Total.
05:35Duas perguntas que eu queria fazer.
05:37Uma que o Otávio até citou,
05:38que é a causa do incêndio.
05:39O que foi?
05:40Ah, pois é.
05:41Então, a gente...
05:42O filme fala um pouco disso também, né?
05:44A gente chega num pedaço dele
05:46que fica essa dúvida.
05:48Então, também não vou...
05:50Não precisa dar o spoiler.
05:51Não precisa dar o spoiler.
05:52Mas a gente tem...
05:54O que eu posso dizer é que,
05:56no início, era um mistério para todos nós.
05:59A gente tinha...
06:00A gente teve uma circunstância
06:03onde, no dia seguinte,
06:05já tinha sido...
06:06Quando foi identificado o incêndio,
06:08ele estava ocorrendo.
06:09Foi contido.
06:11E aí, a ideia era...
06:13A estimativa era de que ele tivesse acontecido
06:14por uma meia hora, né?
06:16Uns 30 minutos.
06:17Então, foi uma coisa, assim...
06:20Impressionante para a gente também.
06:22Mas é porque a forma como a gente
06:23condiciona os materiais, né?
06:25Na caixa de polietileno,
06:27é extremamente inflamável.
06:29A gente acabou tendo, né?
06:31Esse boom que fez com que o incêndio comesse...
06:35O fogo comesse as coisas muito rápido.
06:38E a outra é o que perdeu
06:39e o que perdeu mesmo, assim?
06:41E o que recuperou?
06:43E recuperou mais do que perdeu?
06:46A gente perdeu...
06:47Deixar a viola.
06:50Olha, algumas coisas,
06:53a gente entende que elas sofreram transformações
06:56incontornáveis.
06:59A gente tem uma perda, principalmente,
07:01no que tange à quantidade de informações
07:04que a gente pode retirar desse material.
07:06Porque, enquanto arqueólogos,
07:07a gente faz o possível para preservar ao máximo o contexto,
07:11para permitir que, adiante,
07:13quando a gente tiver outras tecnologias
07:15menos nocivas ao material,
07:17que eles possam ser estudados com menor impacto.
07:20Então, tudo estava guardado da forma mais delicada possível
07:26e, com um incêndio, coisas revirando,
07:29prateleiras caindo.
07:32Tinha algumas amálgamas que a gente não conseguia diferenciar
07:34o que era vidro, do que era ferro,
07:37do que era parede, do que era osso.
07:39Então, muita coisa foi descaracterizada profundamente.
07:45A gente tem, enquanto remanescentes daquilo que o acervo do museu
07:50consegue manter intacto,
07:54uma grande sorte que foi
07:56alguns exemplares de pessoas que estavam
08:00antes na reserva técnica,
08:03mas que foram para a exposição.
08:05E, por estarem na exposição,
08:07a gente tem Nimu,
08:08que é uma criança
08:11que foi sepultada em um casco de árvore
08:14e que, lá da região de Diamantina,
08:18que está sendo pesquisada, inclusive,
08:19por uma arqueóloga indígena também,
08:22e que só se salvou
08:24porque foi para a exposição
08:26e não estava na reserva técnica.
08:29Além disso, a gente tem também
08:30alguns exemplares
08:32também do povo de Luzia,
08:34que foram para a USP,
08:36para serem estudados por outro laboratório.
08:39Então, esse material a gente conseguiu manter.
08:43No mais, tudo foi profundamente impactado,
08:46se não com fuligem,
08:48com o reviramento de todas as coisas, infelizmente.
08:52Eu queria falar um pouco do aspecto pessoal de vocês
08:55nesse envolvimento.
08:56Você é arqueóloga.
08:58Como é que foi quando você recebeu a notícia
09:00que o museu tinha pegado fogo?
09:03Como é que você ficou sabendo?
09:05Você já correu para lá?
09:07Conta um pouquinho desse momento,
09:09que eu sei que não é fácil.
09:11E é difícil lembrar depois de tanto tempo também,
09:14porque quatro anos produzindo o filme,
09:17também foi muito emocionante
09:19vê-lo de volta para retornar a esse espaço-tempo também.
09:25Eu estava passando a quarentena sozinha no Floresta,
09:29que é muito próximo do museu,
09:33e eu recebi a notícia
09:35através dos meus professores.
09:39A Mariana Petri Cabral,
09:40que é uma arqueóloga,
09:41que também está presente no filme,
09:43ela mandou uma mensagem para a gente.
09:46E eu tinha ficado muito impactada,
09:48porque a primeira coisa que eu lembrei
09:49foi justamente do Museu Nacional,
09:51e do tanto que foi assustador, doloroso e frustrante
09:55acompanhar uma noite inteira
09:57de uma história de tempos incontáveis
10:01sendo queimada.
10:02Isso me causou já um grande gatilho.
10:07Mas ela foi ágil em me explicar
10:09o que estava acontecendo
10:10e que já tinha uma contenção,
10:13porém que a gente não fazia ideia
10:14do tanto...
10:16Já tinha estragado.
10:17Aí, no dia seguinte,
10:20foram organizadas...
10:21Foi organizada essa equipe de voluntários,
10:25porque, como eu mencionei,
10:27devido à pandemia,
10:29a gente precisava...
10:30Muitas pessoas queriam ir,
10:31muitos arqueólogos muito mais experientes,
10:33mais velhos,
10:34com uma relação profunda também com o acervo,
10:37mas eles eram um grupo de risco.
10:39Então, a gente fez uma escala primeiro.
10:41Quando eu fui liberada para poder entrar,
10:45tinham poucos colegas ainda,
10:46porque eles foram liberando,
10:48primeiro, as pessoas que já tinham experiência com o campo,
10:51depois, as pessoas que não tinham mais.
10:53E aí...
10:54Então, logo no primeiro dia,
10:57eu já consegui ir.
10:58Foi muito impressionante para mim,
10:59o cheiro de fuligem.
11:00Tanto que as coisas ainda eram quentes,
11:02mesmo tudo tendo sido molhado.
11:04E a rapidez com a qual o fogo transforma todas as coisas.
11:10Isso, acho que ficou muito chocante
11:13para a gente que foi lá ver
11:14e que já tinha visto aquele espaço inteiro.
11:17Para nós, foi uma tristeza muito grande,
11:19porque a gente tinha construído a reserva técnica
11:23há pouquíssimo tempo.
11:24Ela estava há menos de um ano em funcionamento,
11:27salvo engano.
11:27Teoricamente, era o lugar mais preparado, assim.
11:30E que ele tinha...
11:31Tinha menos chance de queimar, inclusive.
11:33Que loucura.
11:34Que tinha condicionado,
11:35tinha sistema de incêndio.
11:37Mas foi um...
11:39Pelo visto, não foi um descaso,
11:41porque o do Museu Nacional foi um descaso
11:43do próprio museu.
11:46Da continuidade do incêndio.
11:48Exatamente.
11:49Eu quero entender isso.
11:51O que que...
11:51Isso é um spoiler, cara.
11:53Mas é porque...
11:54Não, mas a gente pode...
11:55Isso foi, inclusive, uma coisa
11:56que a gente discutiu muito no roteiro.
11:58Na verdade, antes, eu queria que você respondesse
11:59o que eu perguntei.
12:00Como é que você foi parar lá?
12:01Você viu que o negócio pegou fogo,
12:03pegou uma câmera e foi filmar?
12:04Qual foi o seu...
12:05Foi um convite que fizeram para o Bola,
12:08que depois fez a assistência de direção do filme.
12:13Luiz Malta, que a gente chama de Bola.
12:15Eu ia te perguntar,
12:16quem é o Bola?
12:17Aí o Bolinha me chamou e chamou o André,
12:20que é o outro diretor.
12:21E a gente foi lá fazer um registro.
12:25Isso foi um convite do Núcleo de Antropologia Visual.
12:28Isso vem durante o dia?
12:30Já na semana?
12:31Não, isso foi na semana depois.
12:34E aí a gente chega lá e eu não conhecia o André,
12:37que é o outro diretor.
12:38A gente se conheceu lá.
12:39E a gente foi fazer esse registro,
12:41mas assim, não era para fazer um filme.
12:43Era só para a gente registrar,
12:45porque foi um negócio devastador.
12:50E aí, nesse dia que a gente foi lá,
12:53a gente começou a filmar,
12:54meio sem saber o que a gente estava fazendo,
12:57sem equipamento direito.
12:59E a gente saiu depois,
13:01e todo mundo trancado em casa na pandemia.
13:04A gente saiu de lá,
13:06ficou conversando,
13:07fomos tomar uma cerveja,
13:09e aí a gente já começou a pirar.
13:11Senão a gente tem que fazer um filme sobre isso.
13:13Esse negócio...
13:14A gente chegou lá, cara,
13:15e a gente viu esse processo todo do lugar mudando,
13:18porque a gente chegou,
13:19as coisas caíram,
13:20um monte de telha,
13:21aí tinha um crânio na entrada,
13:23que a gente ficou impactado.
13:26E era, cara,
13:27um crânio de 10 mil anos.
13:30Sim.
13:31E aí a gente ficou assim,
13:32como é que a gente filma isso?
13:35A gente começou a achar meio desrespeitoso
13:37com aquela pessoa sepultada ali, sabe?
13:40Como é que a gente foi mostrar isso no filme?
13:43E aí fomos acompanhando,
13:46a gente foi voltando,
13:47meio sendo...
13:50talvez cativado,
13:54chamado por aquele negócio.
13:55Porque a gente estava em casa também,
13:57naquela angústia da pandemia,
13:58a gente vê essa tragédia,
13:59e a gente começa a se encontrar lá.
14:02E aí a gente começou a ir várias vezes.
14:05e passava o dia lá
14:07com o pessoal que estava fazendo o resgate, sabe?
14:10Até que uma hora a gente falou,
14:12não, vamos fazer um longa.
14:14E a gente foi assim...
14:16Eu lembro que eu brincava com os meninos
14:17que a gente tinha que fazer 40 diárias.
14:19Para a gente tinha que filmar,
14:21pelo menos 40 dias lá.
14:23E aí, no final, acho que nós fizemos.
14:25Mas era muito, assim,
14:26porque a gente foi várias vezes,
14:27a gente ia...
14:28Tinha dia que a gente filmava
14:30e não tinha nada,
14:31não entrava nada para o filme, sabe?
14:33E tinha dia que a gente filmava 5 horas
14:36e aí, sei lá,
14:37pegava a reunião dos professores.
14:40E aí foi isso,
14:41foi tomando forma, assim.
14:42Depois que a gente filmou muito,
14:45a gente resolveu fazer o roteiro.
14:47Aí nós chamamos a Lara.
14:48Ah, legal.
14:49Mas vamos falar, então,
14:50nessa pergunta do Lucas, né?
14:51Sem dar o spoiler do filme,
14:53mas entendendo aí.
14:55Só para contextualizar a minha pergunta,
14:56porque, assim,
14:56quando teve a notícia do Museu Nacional,
14:59acredito que vocês também
15:00compartilharam esse sentimento.
15:01E da Cinemateca também,
15:03do incêndio da Cinemateca em São Paulo,
15:05a primeira coisa que me veio
15:06foi a revolta.
15:07Tipo assim, gente,
15:08memória que a gente tem
15:10sendo queimada.
15:12Como que deixaram isso acontecer.
15:14Exatamente.
15:14E depois as investigações
15:15foram mostrando que foram, assim,
15:17várias negligências mesmo
15:19dos poderes, né?
15:21Não só um único poder,
15:22mas na esfera estadual e federal e tal.
15:25Isso que eu queria chegar no daqui.
15:27Foi algum tipo de negligência
15:29ou fatalidade?
15:31Então,
15:32a gente sabe, assim,
15:33que o orçamento da UFMG
15:35nos últimos,
15:39de 2010 até 2020,
15:42ele cai quase 60%.
15:44Então, assim,
15:46talvez esse seja o motivo, né?
15:48Mas a gente ficou muito
15:50nesse processo,
15:52depois de escrever o roteiro,
15:54pensando se a gente tinha
15:55que apontar o dedo, assim,
15:56falar quem que é o culpado disso, sabe?
15:58Porque foi uma coisa que aconteceu,
16:03assim, um imprevisto, né?
16:05Do acaso ali,
16:06que o sistema, inclusive,
16:08não estava funcionando no dia,
16:10por acaso,
16:11pegou fogo,
16:13queimou.
16:13no lugar que,
16:15teoricamente,
16:15era o mais preparado, né?
16:16Pois é.
16:18E onde estavam as coisas
16:19mais importantes.
16:22E,
16:23nesse momento de pandemia,
16:25inclusive,
16:25que a gente estava com
16:26muita raiva do governo, né?
16:28Sim.
16:29Pela negligência.
16:30Então, a gente ficava assim,
16:31pô, mas a gente tem que
16:32falar mal desse governo,
16:33porque é culpa do governo também.
16:36Mas,
16:38depois a gente foi
16:39chegando a essa conclusão,
16:41assim, né?
16:41de que não era
16:43a função do filme
16:46dizer isso,
16:49entregar,
16:49falar,
16:50o culpado é esse, sabe?
16:52Eu acho que era,
16:53a nossa intenção era mais
16:55fazer a gente pensar sobre isso,
16:56assim,
16:57como a gente lida
16:58com a nossa memória, né?
16:59Como você tem
17:01um sepultamento humano
17:03que está ali
17:04enterrado há 10 mil anos,
17:07você desenterra essa pessoa
17:09para estudar
17:10e deixa queimar.
17:12Ela não fica nem 80 anos
17:14dentro de um lugar.
17:15É,
17:15é verdade.
17:16É,
17:17ela ficou 40 anos.
17:19Eu queria que você me falasse
17:20um pouco qual que é a função
17:21de um museu de história natural,
17:23porque,
17:24além dessa coisa do registro,
17:26mas,
17:27eu que não sei nada
17:28sobre isso,
17:29eu queria que você falasse
17:29um pouquinho
17:30qual é a função
17:31de um museu, assim,
17:32na sua visão
17:33como arqueóloga.
17:34É,
17:34eu acho que,
17:36entre os meus pares,
17:38isso deve dar um pano
17:38para a manga
17:39para fazer cinco congressos,
17:41mas,
17:42do que eu posso falar,
17:43né,
17:44do IMP,
17:44do Instituto,
17:45do meu pensamento,
17:46eu consigo dizer
17:48que um museu,
17:50ele tem
17:51duas funções
17:52primeiras
17:53para mim.
17:55Uma é de
17:56salvaguardar
17:57o patrimônio,
17:59e isso seria
18:00zelar por ele,
18:02cuidar dele,
18:02colocar uma roupinha
18:03para ele não pegar
18:04muita poeira,
18:05ir trocando ele
18:06nas exposições,
18:08mas só guardar
18:09as coisas
18:09por si só
18:10não é suficiente.
18:11Então,
18:13o segundo
18:14e talvez
18:14mais importante
18:15motivo
18:16de um museu
18:16existir,
18:17não só um
18:18de história natural,
18:19mas todos os museus,
18:20é para poder fazer
18:21a correlação
18:22com,
18:23entre as temporalidades,
18:25entre as temporalidades
18:26de quem
18:27viu um pedaço
18:28daquilo que já está lá,
18:30que é mais velho,
18:31entre as crianças
18:32que estão chegando agora
18:33e que não viram
18:34nenhuma daquelas coisas,
18:36entre as pessoas jovens
18:37que estão estudando
18:38aquilo,
18:39a ideia
18:40desse espaço
18:42é que ele continue
18:43sendo vivo
18:44na medida em que
18:45ele está
18:46tentando aproximar
18:48os indivíduos
18:49à interação
18:50do que é
18:52o conhecimento
18:52da espécie.
18:54Então,
18:54o que nós,
18:55enquanto pessoa,
18:56a gente pode se conectar
18:58nesses espaços,
18:59a gente se sente
18:59mais parte,
19:01na minha opinião,
19:02de um coletivo
19:04de humanidade
19:06do que
19:07essa sensação
19:08que eu acho
19:09que o resto
19:10da sociedade atualmente
19:11nos empurra
19:12de uma certa forma
19:13para esse individualismo
19:14e essa sensação
19:15de que a gente é sozinho,
19:16que a gente é muito diferente,
19:18que a gente não é igual
19:19mais nada.
19:20E aí,
19:20quando a gente olha
19:21uma agulha de osso
19:24de 800 anos atrás,
19:26a gente pensa,
19:27poxa,
19:28um objeto
19:30que ele está falando
19:30também sobre um movimento
19:32de atar,
19:33sobre um conhecimento,
19:34saber fazer.
19:36Então,
19:37eu acho que o museu
19:37é o espaço
19:38onde a gente pode
19:40aflorar a criatividade,
19:42de construir coisas
19:43no futuro,
19:44mediante a criatividade
19:46alheia do que já foi,
19:47construído até agora,
19:49para a gente ser
19:50a gente,
19:51pessoas.
19:51Que ótimo.
19:53E a função do filme,
19:54Felipe,
19:55de fazer esse filme,
19:56tem alguma função?
19:58Acho que a gente pode
19:58começar por aí.
19:59Isso é uma pergunta complexa.
20:02Filme tem função?
20:03A gente pode começar
20:04por essa premissa.
20:05E aí,
20:05depois,
20:06o seu filme tem função.
20:07E aí,
20:08esse filme,
20:09o de vocês,
20:10teria alguma função
20:11próxima a essa
20:12que ela falou,
20:13na sua opinião?
20:15Nossa,
20:15essa também é uma
20:16que a gente poderia
20:17derivar muito,
20:18mas assim...
20:19Do IMP também.
20:20Eu acho que tem,
20:23cara,
20:23eu acho que o filme,
20:24arte tem função.
20:26E eu acho que o filme
20:27tem função também.
20:29Não necessariamente
20:30é uma função didática,
20:31panfletária,
20:32que a gente tem que ensinar,
20:33que a pessoa
20:34que assistiu o filme
20:35tem que aprender
20:35alguma coisa,
20:36sabe?
20:37Ou que a pessoa
20:38tem que se divertir também.
20:40Não sei.
20:40Não necessariamente
20:41o filme tem que ser
20:42entretenimento,
20:43né?
20:44Mas,
20:45esse filme,
20:46especificamente,
20:46eu acho que ele tem
20:47duas funções
20:49que eu acho,
20:50são importantes,
20:51assim.
20:52Uma é o registro
20:55desse acontecimento
20:58trágico.
20:59Talvez uma reflexão
21:01sobre isso que aconteceu,
21:05que a gente viu
21:07acontecer no Museu Nacional,
21:10aconteceu de novo aqui,
21:11aconteceu na Cinemateca,
21:13e a gente foi pesquisar
21:14quando a gente estava
21:15fazendo o roteiro,
21:16e isso acontece no Brasil,
21:18assim...
21:18Museu de Língua Portuguesa,
21:19São Paulo...
21:20A lista é enorme,
21:21assim,
21:21de ano em ano,
21:23de dois em dois anos,
21:24queima algum espaço
21:24de guarda,
21:25de memória,
21:26né?
21:26Então,
21:27é um...
21:28é um jeito de pensar
21:30sobre esse acontecimento,
21:33e acho que,
21:34de uma forma mais ampla,
21:35é de pensar
21:37sobre memória,
21:39como a gente lida
21:40com memória,
21:41como a gente constrói
21:42a nossa memória
21:43e a nossa identidade,
21:44também,
21:45eu acho,
21:46porque não é também
21:51um acervo qualquer
21:51que queimou,
21:53é um acervo
21:55de história
21:55pré-colonial.
21:57Então,
21:58antes da invasão
22:01europeia,
22:02antes da chegada
22:03aqui
22:04desses povos,
22:06essa história
22:08que,
22:10inclusive,
22:11a gente pensou muito nisso,
22:12a gente conversava muito
22:14sobre isso,
22:15qual que é a função
22:15da arqueologia,
22:17porque
22:18esse...
22:23se ela nasce
22:25dessa culpa,
22:26se ela é uma ciência
22:27que nasce
22:28da culpa europeia,
22:29de pesquisar
22:30esses povos
22:31que a própria
22:32colonização
22:32extinguiu.
22:34Então,
22:35acho que também
22:35ele tem
22:36essa função,
22:40eu acho que
22:41mais para a gente,
22:42do que talvez
22:43para os europeus,
22:44os europeus
22:45não estão interessados
22:46nisso,
22:46mas eu acho
22:47que é importante
22:48a gente pensar
22:49nisso,
22:49como latino-americanos,
22:54o que isso significa.
22:57Recentemente,
22:57teve aquele roubo
22:58do Louvre,
22:59acho que a gente
22:59pode falar um pouco
23:00disso,
23:01porque está sendo
23:02muito falado isso,
23:04e aí muita gente
23:06falou assim,
23:06quem rouba
23:07quem roubou,
23:08o ladrão
23:09que rouba ladrão,
23:10pois é.
23:12Nesse caso,
23:14você vê alguma relação,
23:15Lara,
23:16nesse sentido,
23:17não desse museu
23:19ter praticado roubos
23:20da mesma forma,
23:22mas nesse sentido,
23:24quando você falou,
23:24por exemplo,
23:24as peças que viajaram,
23:26se salvaram e tal,
23:30o que você vê
23:31do aspecto,
23:32isso até que ele falou
23:33um pouco,
23:34dessa culpa,
23:35desse apagamento
23:36que a gente já faz
23:37naturalmente,
23:38a gente se pegar
23:40nossos sobrenomes,
23:41raramente vai ter
23:42um indígena,
23:43raramente vai ter
23:44um sobrenome
23:45latino,
23:46efetivamente,
23:47e a gente está
23:47sempre nessa,
23:49estou aqui falando
23:49também um pouco
23:50de cabeça,
23:51mas já existe
23:53um apagamento
23:54normal,
23:55e aí o museu
23:56entra para tentar
23:57aplacar isso,
23:58e aí o museu
23:58pega fogo,
24:00no caso do Louvre
24:01mesmo,
24:01como que você viu,
24:02por exemplo,
24:03porque eu estou fazendo
24:04uma pergunta muito
24:05doida aqui,
24:06mas como que você viu
24:09o roubo lá do Louvre,
24:11e de que forma
24:12você acha que isso
24:12conversa com esse
24:14maltrato dos acervos
24:16que a gente tem
24:17aqui na América Latina?
24:19Eu acho muito importante
24:20a produção de
24:21contra-arquivos,
24:23contra-arquivos
24:24são narrativas
24:26ou materialidades
24:27que estão tentando
24:28buscar contar
24:30histórias diferentes
24:31do que as formas
24:32como a gente já
24:33ouviu essas histórias.
24:34os museus
24:35podem se tornar
24:37contra-arquivos,
24:38mas o fato é
24:39que eles são
24:40o arquivo oficial,
24:41eles são
24:42a linha pela qual
24:43se desenrola
24:45literalmente,
24:48linearmente,
24:48a memória
24:49que a gente escolhe
24:51preservar
24:52na sociedade
24:53como a gente tem hoje.
24:55Eu acredito
24:56que
24:57o museu
24:59pode ser outra coisa,
25:00museus,
25:01de uma forma geral,
25:02eles podem ser
25:02outras coisas,
25:03mas eles ainda
25:04têm um caráter
25:05muito profundo
25:07dessa origem
25:10genealógica deles
25:11que surgem
25:12com os gabinetes
25:13de curiosidades,
25:15com esses acúmulos
25:17europeus
25:18de coisas exóticas,
25:20diferentes,
25:21para poder entreter
25:22uns aos outros,
25:23se assustar.
25:24Em alguns dos museus,
25:25antes,
25:26a gente tinha
25:26exemplares de pessoas
25:28vivas,
25:30os museus humanos.
25:31Então,
25:32a gente tem
25:32uma forma
25:34de ser fascinado
25:35com a memória
25:36de uma maneira
25:37muito particular
25:38quando a gente está pensando
25:39no que seria museu.
25:41Mas,
25:42tão diversas
25:43quantas são as opiniões,
25:44são os povos também,
25:46e a gente já tem pessoas
25:47pensando museus
25:47de formas diferentes.
25:49Então,
25:49a gente tem,
25:50por exemplo,
25:51no Peru,
25:51o Museu Vivo,
25:52onde você não tem
25:54objetos
25:56para serem vistos,
25:57mas você tem
25:58pessoas
25:58de comunidades tradicionais
26:00ensinando saberes
26:02tradicionais,
26:03como pintar a lã,
26:05como tear,
26:07como fazer
26:08uma casa de adobe.
26:10Isso faz
26:12uma manutenção
26:13da memória
26:13de uma forma
26:14que também não seja
26:15extrativista
26:16a esse povo,
26:17que eu acho
26:18que tem o direito
26:19ao seu material.
26:20Então,
26:21quando eu penso
26:22em salvaguarda,
26:23eu acho,
26:25para mim,
26:25escavar
26:26a reserva técnica
26:28do Museu de História
26:28Natural da UFMG
26:29foi muito
26:30revoltante e irônico,
26:33porque
26:33eu não estava
26:34me sentindo
26:35nem salvando
26:36e nem guardando.
26:38Eu estava
26:39envergonhada
26:40por algo
26:40que era isso,
26:42não acendi
26:43o fósforo de julguei,
26:44mas eu sei
26:44que a gente está
26:45num processo
26:46cada vez mais intenso
26:47de repatriação
26:48de materiais.
26:49Essa repatriação
26:50de materiais
26:51pode ir,
26:52inclusive,
26:52direto
26:53para as populações
26:54originárias,
26:55para as populações
26:56descendentes
26:57desses povos
27:00que construíram.
27:00O governo demarcou
27:01agora
27:01a terra lá
27:03dos Tupinambá
27:04de Olivença,
27:05que é do manto.
27:06Eu ia citar
27:07um manto,
27:08eu quero citar
27:08depois numa outra
27:10pergunta
27:10que complementa
27:10a doutora,
27:11mas pode continuar.
27:11Eu acho,
27:15portanto,
27:15que é uma ironia
27:17muito grande
27:18a gente ter
27:19muita certeza
27:19de que a gente
27:20sabe melhor
27:21do que os outros
27:22como guardar
27:22as coisas deles.
27:24É muito mais
27:25interessante
27:25quando a gente
27:26tem uma questão,
27:29a gente tem
27:30um problema
27:31para resolver,
27:32que a gente
27:32coloque mais pessoas
27:33envolvidas
27:33para fazê-lo.
27:35Assim,
27:36mas com certeza,
27:38as pessoas
27:38que vão ter
27:39ideias mais próximas
27:40do ideal
27:42vão ser aquelas
27:43que estão mais próximas
27:44daquele contexto.
27:46Então,
27:46a gente consegue
27:48pensar que
27:49esses materiais
27:50que estão
27:52sendo repatriados,
27:54talvez eles tenham
27:55uma vida
27:57mais digna
27:59do que dentro
28:00da reserva técnica
28:01também.
28:02Para muitas pessoas,
28:03a gente está falando
28:04de ancestrais diretos,
28:06a gente não está falando
28:07de fragmentos
28:09de ossos
28:10ou de pó
28:12de cálcio,
28:13a gente está falando
28:14de pessoas,
28:15pessoas essas
28:17que nos
28:19legaram coisas,
28:20mas dentre as coisas
28:21que elas legaram,
28:22os próprios corpos
28:23não foi
28:24intencionalmente
28:25que elas legaram.
28:26Quase nunca
28:27se constrói
28:28um cemitério
28:30na intenção
28:30de que essas pessoas
28:31sejam desenterradas.
28:32É, nem nas pirâmides,
28:34que a gente tem
28:35muita essa ideia.
28:37Ainda é uma
28:38violação de tudo.
28:40E o Louvre,
28:41ele é esse lugar
28:42fantasioso,
28:44a gente trata ele
28:46como o maior museu
28:48do mundo.
28:49A impressão
28:50que a gente tem
28:50é que museu
28:52e organização museal
28:54é completamente
28:55diferente lá.
28:56Mas quando a gente
28:57vê que a senha
28:58do Louvre
28:58era Louvre,
28:59a gente percebe
29:00que talvez
29:01eles sejam muito,
29:04a humanidade
29:05muito parecida
29:06em diversos povos.
29:07A gente deu mais crédito
29:08do que talvez
29:09eles merecessem.
29:10A câmera de segurança
29:11virada para o outro lado,
29:13uma janela
29:13que era só forçar
29:14para o pessoal entrar.
29:15coisas absurdas.
29:17Mas eu particularmente
29:19achei assim,
29:20surreal,
29:21porque foi de uma coragem,
29:23de uma,
29:24sabe?
29:26Maldade.
29:27Uma maldade,
29:28mas uma maldade
29:29meio macaco louco,
29:30sabe?
29:31Uma coisa
29:32meio cinematográfica,
29:33porque não...
29:34Total,
29:34inspetor bugiganga.
29:35Fiquei achando
29:36que aquilo dali
29:37tudo era muito
29:38macarrônico,
29:39sabe?
29:40E aí,
29:42enquanto...
29:43É isso,
29:44eu me preocupo
29:45com o patrimônio,
29:45eu acho que o patrimônio
29:46é um direito de todos.
29:49Essas joias
29:50que foram roubadas,
29:50provavelmente,
29:51elas vão ser vendidas
29:52para pessoas
29:52que vão deixá-las
29:53ainda menos acessíveis
29:55do que elas já eram
29:56estando nos museus.
29:57mas eu teria ficado
30:02mais preocupada
30:03se algo do acervo
30:04etnográfico
30:06ou arqueológico
30:06deles tivesse sumido.
30:08Sim.
30:09Eu quero falar,
30:09entrando a partir disso,
30:11dessa resposta sua,
30:13justamente nessa...
30:15na repatriação
30:16das peças,
30:17o manto
30:18que foi citado
30:19no ano passado,
30:21que gerou uma discussão
30:22muito interessante também,
30:23porque é um objeto
30:25religioso
30:26para aquele povo.
30:30E aí o debate,
30:31pelo menos um dos debates
30:33que eu acompanhei
30:34era assim,
30:34ele deveria ser exposto,
30:36ser usado com essa finalidade
30:38ou não?
30:40E eu quero julgar
30:41essa pergunta para vocês,
30:42até porque
30:43o que pode ser exposto,
30:45tudo pode ser exposto
30:46ou não,
30:48ou esse debate é inócuo,
30:50porque você também,
30:51Felipe,
30:52você falou
30:52do dilema ético ali
30:54ou moral
30:55de filmar
30:56um crânio
30:57e tal,
30:57porque é uma pessoa
30:58e tal.
30:59Então eu queria
31:00perguntar isso,
31:01num museu,
31:02tudo pode ser exposto?
31:04Não pode?
31:05O que vocês acham?
31:06Se der para contextualizar
31:08um pouquinho também
31:08essa questão do manto,
31:09para quem não souber
31:10e estiver assistindo
31:11a gente também,
31:12por favor,
31:13um de vocês,
31:14rapidamente.
31:15pode comentar.
31:17Bom,
31:18tem até um professor nosso
31:20que participou um pouco,
31:22o Rubinho,
31:22né?
31:24Mas o manto
31:26é um manto
31:26que estava na Suécia?
31:28Dinamarca.
31:29Dinamarca.
31:29Eu fui olhar aqui
31:30justamente para isso,
31:31você sabe.
31:31Bom,
31:32é o manto Tupinambá
31:33de penugens vermelhas.
31:35De penugens vermelhas,
31:36não sei.
31:37Aí,
31:38pois é,
31:38pode ser mais por alto.
31:39Pode ser mais por alto.
31:40É o manto
31:40do século XVIII?
31:43Isso.
31:44Tupinambá,
31:45que estava no Museu
31:46na Dinamarca
31:47e esse manto
31:49não existe mais
31:50no Brasil,
31:51né?
31:51Sim.
31:51Como do jeito
31:52que ele era feito,
31:53né?
31:54E aí,
31:55acho que o mais interessante
31:56dessa história
31:57é como que ele volta,
31:58né?
31:58Assim,
31:58que tem a coisa
31:59dos sonhos,
32:00né?
32:00Da,
32:01como que ela chama?
32:02Ah,
32:04agora não.
32:04Tudo bem,
32:05é.
32:05Enfim,
32:06ela,
32:07o manto Tupinambá
32:08que tem esse processo,
32:09assim,
32:10de retomar
32:10e ela começa a fazer
32:11um novo manto,
32:13né?
32:13A partir do sonho dela
32:14de entender
32:17como era a técnica
32:18e a partir desse contato
32:21com o manto
32:22que está preservado lá,
32:24né?
32:24No Museu
32:25na Dinamarca.
32:26Que traz,
32:27assim,
32:28milhões de questões,
32:29né?
32:29Mas,
32:31é,
32:32o que eu comentei
32:33que eu até interrompi
32:33a Lara
32:34que eu acho
32:34que é mais,
32:37talvez,
32:37mais importante
32:38é que
32:38a terra
32:40Tupinambá
32:41de Olivença,
32:43desse povo
32:43que,
32:45de onde o manto
32:46saiu
32:46para ir para a Dinamarca,
32:47foi demarcada
32:49essa semana.
32:50Depois que...
32:51Então, assim,
32:51é uma consequência
32:52direta do...
32:54Se não tivesse
32:54essa exposição toda
32:56dessa história
32:56do manto,
32:58a terra não teria
32:58sido demarcada, né?
32:59Mas, enfim,
33:01você estava perguntando
33:02se...
33:02É, que legal.
33:03É, interessante.
33:04Sobre a...
33:05É, dessa discussão,
33:06né?
33:06É, assim,
33:07é uma discussão
33:09válida,
33:10legítima
33:10ou é inócuo?
33:11Porque o museu...
33:13Essa é uma das funções
33:14do museu também,
33:14acredito eu.
33:17É...
33:18Eu acho...
33:18Lincélia Tupinambá.
33:19Lincélia.
33:20É.
33:21Que é ela
33:22que teve o sonho.
33:23Enfim...
33:25É...
33:27Mas eu ia dizer,
33:28assim,
33:28tem...
33:29Eu acho que...
33:31É muito...
33:32O que a Lara
33:33estava falando,
33:34assim,
33:34que...
33:36O importante
33:38é o que...
33:41É...
33:41Os Tupinambá
33:42de Olivença
33:43pensam sobre
33:44o que deve ser
33:45feito com o manto,
33:46sabe?
33:46Eu acho que eles são
33:47as primeiras pessoas
33:48que devem dizer, né?
33:49Se ele deve ser exposto,
33:51se ele deve ser preservado,
33:52se eles acham que a Dinamarca
33:54se preserva melhor o manto
33:56ou não, sabe?
33:57Eu acho que não,
33:57por isso que ele voltou,
33:59mas, enfim,
33:59eu acho que...
34:01Quem...
34:01Quem...
34:02De direito
34:03deve dizer
34:04são eles, né?
34:05Lara,
34:06quer continuar?
34:06O que você estava falando?
34:07Tem um...
34:08Um texto de...
34:10Uma arqueóloga
34:11que trabalha...
34:13Lá no Amapá,
34:14a Daiane,
34:15que chama
34:15O Roubo das Urnas.
34:17E ela está falando
34:18justamente sobre
34:19as...
34:20É...
34:21as políticas de patrimônio.
34:23Quando ela está falando
34:24de roubo das urnas,
34:25ela está falando
34:25de urnas que foram
34:27escavadas,
34:28urnas funerárias,
34:29que foram levadas
34:29para os museus,
34:31que foram levadas
34:31para as reservas técnicas,
34:33né?
34:34E como que...
34:35O que para a gente
34:36pode parecer
34:37que a gente está
34:38cuidando,
34:39zelando,
34:40guardando,
34:42também pode ser
34:43uma forma muito
34:44intensa
34:45do Estado
34:46demonstrar
34:46que nem aquilo
34:47que você produz
34:48pertence,
34:49nem aquilo
34:49que são...
34:51que desrespeita
34:52a sua história,
34:52direta a história
34:53do seu povo,
34:54é maior,
34:56deve ser mais próximo
34:58a você
34:58do que
34:59a essa ideia
34:59de construção
35:00de Estado.
35:01Então,
35:02eu acho que
35:03essa questão
35:04da repatriação
35:05é muito importante.
35:06A questão
35:07da exposição
35:08dos materiais,
35:09ela também
35:10é muito delicada,
35:12porque,
35:13ao mesmo tempo
35:14que eu acho
35:15que o arqueólogo,
35:18o cientista,
35:19ele não é
35:20um ser humano,
35:22um super-ser humano
35:23que aí a mão dele
35:24tem menos gordura
35:24do que a dos outros
35:25e aí por isso
35:26ele pode tocar
35:26nas coisas,
35:28sabe?
35:28Eu acho que tem
35:28uma forma
35:31muito curiosa
35:33que a nossa sociedade
35:34tem de imputar
35:35micropoderes
35:36nas pessoas
35:37e aí elas sentirem
35:38que elas podem
35:39mais do que os outros.
35:40Eu sempre gostei
35:41de brincar
35:41com o máximo
35:42de gente possível
35:43no parquinho.
35:43então eu teria interesse
35:45que mais pessoas
35:46tivessem acesso
35:48a uma história
35:48que é nossa,
35:49porque como que eu consigo
35:50convencer outro indivíduo
35:51que aquilo é importante,
35:52não para mim,
35:53mas para nós,
35:54se ele está vendo
35:56que, para mim,
35:57aquele negócio
35:58tem mais acesso
35:59do que para ele.
36:00Entretanto,
36:01eu acho que tem formas
36:02e que a gente pode pensar
36:04cada vez mais
36:04em formas mais criativas
36:06de fazer isso,
36:07sem precisar
36:08expor histórias
36:09e expor figuras,
36:11principalmente,
36:12que tem
36:14uma trajetória
36:16da qual a gente
36:18nem conhece
36:18por inteiro,
36:19porque a gente
36:20o túmulo
36:23de Dom Pedro I
36:25ou II,
36:26eu não lembro mais,
36:27mas que teve uma época
36:28que tinha o coração dele,
36:30que foi exposto,
36:31vocês lembram?
36:32É o primeiro.
36:33Foi na Independência.
36:34Aquilo dali,
36:39ele teve um ritual
36:41para poder ser exumado,
36:43ele teve um ritual
36:44para ser devolvido,
36:46ele teve uma comitiva,
36:48isso é um tratamento
36:49funerário
36:50que é extremamente
36:52complexo
36:54e que não é o mesmo
36:56tratamento que é dado
36:57a outros corpos.
36:59por que ele pode ter
37:00um ritual
37:01que não é científico,
37:02essas partes não são científicas,
37:04mas,
37:05às outras pessoas,
37:06é designado
37:07o direito,
37:09na verdade,
37:10quase o dever
37:11de servir
37:12à ciência.
37:13Então,
37:13eu acredito
37:14que
37:15essa questão
37:16de expor
37:17os corpos,
37:18a gente tem
37:19uma série
37:19de possibilidades
37:21alternativas.
37:22A gente pode,
37:23com as novas
37:24tecnologias,
37:25fazer modelos 3D,
37:27a gente pode fazer réplicas,
37:28a gente pode,
37:29inclusive,
37:29pensar em materiais
37:31diferentes
37:31que permitam o tato,
37:33porque aí a gente pode
37:34ter outras formas
37:35de experimentar
37:36esse mundo
37:36que não seja só
37:37por essa visão
37:39que quer consumir tudo
37:40num grande feed
37:41onde a gente vai ver
37:42tudo do mundo todo.
37:44Existem muitas pessoas
37:45que vão nos museus
37:46e, mesmo com as coisas
37:47expostas para serem vistas,
37:49elas não conseguem
37:50ter uma boa experiência,
37:51ou porque elas não enxergam,
37:53ou porque elas não têm
37:54a mobilidade
37:55para chegar até onde
37:56aquele espaço está,
37:57tem formas diferentes
37:58de a gente aproximar
37:59as pessoas que estão vivas
38:01daquilo que já foi construído
38:03por outras pessoas
38:04sem, eu acho que,
38:06desonrar os mortos.
38:08E aí, dentro disso
38:09que você está falando,
38:10uma dessas formas,
38:11por que não o cinema?
38:13E acho que a gente pode
38:14encaminhar um pouquinho
38:15para esse lado agora.
38:17A gente já falou muito
38:18aqui de museu
38:19e acho que foi incrível.
38:23Mas eu queria que você falasse
38:25um pouco do processo
38:26um pouco do processo do filme,
38:27que vocês chegaram,
38:29começaram a fazer
38:29um banco de imagens gigantesco,
38:32um HD,
38:33e vai colocando e colocando.
38:36E aí, como que isso virou um filme?
38:38Eu sei que está no Boteco,
38:39vocês decidiram,
38:40você falou,
38:41mas, assim,
38:42nessa linguagem
38:43e um pouco dentro
38:45dessa ideia cinematográfica mesmo,
38:48que acho que a sua trajetória
38:50até conversam um pouco com isso,
38:52você já fez outros documentários
38:54de diversas questões.
38:56Eu queria que você
38:57tentasse detalhar um pouco isso,
38:59esse processo.
39:00O que um bando de imagem
39:02ou aquele momento emocional
39:04que vocês foram impactados ali
39:05trouxe vocês até agora,
39:08esse fim de semana,
39:08onde vai sair o filme
39:09na telona, cara?
39:12Nossa!
39:12É muita coisa, né?
39:15Um filme na minha cabeça.
39:16Tem que dar uma resumida
39:17no processo,
39:18mas só para a gente
39:18tentar entender também
39:19esse processo de um documentário
39:21um pouco dentro disso
39:22que ela falou, né?
39:23Com essa outra função também,
39:26talvez,
39:26da história.
39:28Eu acho que
39:29o documentário tem uma coisa,
39:32assim,
39:32que a gente costuma pensar
39:34o cinema
39:35a partir do cinema
39:37de ficção, clássico, né?
39:39Então, você pensa assim,
39:39que você tem um roteiro de partida
39:41e você vai filmar ele
39:43e o filme vai ficar
39:43daquele jeito ali
39:44e está pronto, né?
39:45Aí você só corta ali na ele.
39:47E o documentário
39:48é um processo
39:48quase inverso, assim, né?
39:52E nesse caso nosso
39:54foi muito na experiência,
39:56assim,
39:56na tentativa e erro
39:58da gente estar lá
39:59acompanhando
40:01a experiência do resgate
40:03e se perguntando, assim,
40:04onde que está o filme aqui?
40:06Porque a gente sabia
40:07que tinha um filme ali,
40:08mas não sabia
40:09onde que estava,
40:10o que que era o filme.
40:11E aí a gente foi caminhando
40:13para uma coisa
40:13muito sensorial, assim,
40:15de entender
40:16que aquela experiência ali
40:18do resgate,
40:20de você estar ali
40:21dos barulhos,
40:22das imagens que a gente via ali,
40:25das coisas queimadas, sabe?
40:27Dessa experiência, assim,
40:29que eu acho
40:30que é muito impactante,
40:33que é você catar
40:35um pedacinho de osso ali
40:36e separar
40:38de um pedacinho
40:39de carvão
40:40e falar
40:41isso aqui
40:41que é um pouco
40:43do que a gente estava conversando,
40:44né?
40:44Isso aqui vai para o museu
40:46e isso aqui vai para o lixo.
40:48E a gente começou
40:50a pensar isso, né?
40:50Que o filme estava ali.
40:51Ficamos acompanhando
40:52essa coisa, assim,
40:53tempos, né?
40:54E aí filmamos muito
40:56e enquanto a gente estava ali,
40:59voltava para filmar,
41:00a gente ficava se perguntando
41:02e fazendo experiências também,
41:03algumas coisas de ficção,
41:05algumas coisas de corpo,
41:07uma amiga nossa
41:07que é bailarina,
41:09fazemos experiência
41:10de corpo,
41:12de coreografia,
41:14porque a gente estava
41:15lidando com corpos também, né?
41:17E aí a gente
41:20chegou numa ideia, assim,
41:25muito na conversa,
41:27eu, Lara, André,
41:29Bola também,
41:31a partir do que a gente
41:34já tinha filmado,
41:36algumas coisas acompanhando ali,
41:38de que a gente
41:39precisava ter uma narradora.
41:42É, porque,
41:42desculpa te interromper,
41:43mas é que quando você fala assim,
41:44a gente chega numa ideia,
41:45a coisa que eu penso
41:46é uma ideia de forma, né?
41:47O documentário tem um pouco
41:48essa coisa
41:49que você pensa primeiro,
41:50da forma
41:51e depois o desenrolar.
41:53É por aí?
41:54Fala aí,
41:55pode continuar.
41:56É por aí,
41:57é porque eu estou
41:57indo pelo lado
41:58do que aconteceu ali.
42:02Mas,
42:03como a Lara falou,
42:04teve
42:04uma criança
42:06sepultada
42:08que não foi queimada,
42:10ela estava
42:11na exposição,
42:12ela não estava
42:13na reserva técnica.
42:15E aí,
42:16a gente começou
42:16a se perguntar,
42:18e se
42:18a gente fizer o filme
42:20da perspectiva
42:20dessa criança.
42:23Se foi ela
42:24narrando.
42:25Que legal.
42:26Mas aí,
42:26pô,
42:26a gente ficou pensando,
42:27mas essa criança,
42:28ela viveu
42:29em Diamantina.
42:31A gente também
42:32não conhece ela.
42:32É, tipo assim,
42:33como que nós vamos
42:34ser a voz
42:35dessa criança
42:36se a gente
42:36não faz ideia.
42:38A gente sabe
42:38muito pouco
42:39sobre ela.
42:40E a gente
42:41foi caminhando
42:41para esse lugar,
42:44para essa forma,
42:45que é
42:46uma pessoa
42:47que está
42:48vendo um incêndio ali,
42:49está vendo
42:49essas imagens
42:50e tentando entender.
42:52Então,
42:53a gente
42:53chegou
42:55no roteiro,
42:56no argumento
42:57que seria
42:57uma arqueologia
42:59das imagens
43:00que a gente
43:00estava fazendo.
43:01então,
43:02a partir
43:03daquelas imagens,
43:05vamos fazer
43:05uma pesquisa
43:06arqueológica
43:06para entender
43:07o que é isso,
43:08o que essas imagens
43:09dizem.
43:11E aí,
43:13muitas conversas,
43:15vimos muitas vezes
43:17as imagens,
43:18a gente viu
43:18tudo que a gente
43:19filmou
43:19e ficava conversando,
43:21chegamos na ideia
43:22de que seria
43:23uma alienígena,
43:25que era também
43:26um jeito
43:26de buscar
43:28essa alteridade,
43:29de como
43:31aquele sepultamento
43:34só a gente
43:34alienígena
43:35para eles
43:35e vice-versa,
43:37é um mundo
43:38inalcançável,
43:40que essas imagens
43:42também seriam
43:43vistas
43:44por olhos
43:45de uma pessoa
43:45que também
43:46é de outro mundo.
43:48E aí,
43:49de outro mundo
43:49pode ser,
43:50enfim,
43:50de outro planeta,
43:51mas assim...
43:51Ou de outro espaço
43:52temporal.
43:53É.
43:53E aí,
43:54a gente chegou
43:55nessa personagem,
43:56que é a voz
43:57que foi feita
43:58pela Regina Faria.
43:59E aí,
43:59foi um texto também
44:00que foi difícil
44:01de onde fazer,
44:02assim.
44:02Porque foi super poético
44:03e a gente ficava
44:04indo e voltando,
44:06assim,
44:06porque a gente achava
44:07que estava difícil
44:08demais o texto,
44:09aí a gente facilitava ele,
44:11e aí Lara é poeta,
44:14aí a gente ficava
44:15fazendo os exercícios
44:16de escrita,
44:16indo e voltando,
44:18e gravando a voz
44:19para ver se estava
44:19funcionando,
44:20e jogando em cima
44:21das imagens.
44:23E aí chegamos nisso,
44:24assim,
44:24que era...
44:25e a gente fez ele
44:26capitulado.
44:27Então,
44:27era uma forma
44:30também que é
44:31meio palipsística,
44:32assim,
44:32que tem uns capítulos
44:35que estão meio
44:36sobrepostos ali
44:37e não é linear.
44:39E aí o filme
44:40virou isso,
44:41assim,
44:41é essa pessoa,
44:43essa voz
44:44que tenta entender
44:45o que aconteceu ali.
44:47Que legal.
44:48Eu quero entrar
44:48um pouquinho mais
44:49na forma do documentário,
44:50justamente porque
44:51eu fiquei muito curioso
44:52quando você falou
44:53que tem performance
44:54ali também
44:55e são capítulos
44:57sobrepostos.
44:58Como é que ficou
44:59esse resultado final,
45:00assim,
45:01mais ou menos,
45:02como é que você diria?
45:04Porque ficou
45:05muito distante
45:06da visão tradicional
45:07que as pessoas
45:08têm do documentário,
45:09entrevista e imagem
45:10de corte,
45:11entrevista e imagem
45:12de corte,
45:12imagino que não é bem
45:14assim, né?
45:14Não, não tem
45:14nenhuma entrevista.
45:18Cara,
45:19é isso,
45:20é aquela pergunta
45:21que eu falei no começo,
45:22assim,
45:22muitas pessoas
45:23perguntam,
45:23é documentário
45:24ou é filme?
45:26Enfim,
45:26documentário é filme,
45:27né?
45:27Mas a gente
45:29queria fazer um filme
45:30e a gente queria,
45:31que acho que foi
45:32um desafio
45:32que a gente se colocou,
45:33assim,
45:34não sei se a gente
45:34conseguiu,
45:35mas fazer um filme
45:36sobre o museu,
45:39sobre um tema
45:40tão difícil,
45:41assim,
45:42e com discussões
45:45muito profundas também,
45:49que fosse um filme
45:50acessível,
45:52sabe?
45:52que pessoas
45:53que não conhecem
45:54o Museu
45:54do Estenal
45:54Natural,
45:55que não estão
45:56contextualizadas
45:58nessa discussão
45:59sobre museu,
45:59sobre patrimônio
46:00e preservação,
46:02conseguissem assistir
46:03aquilo e se conectar.
46:05Então,
46:06acho que foi,
46:08enfim,
46:09foi esse desafio
46:10que a gente se colocou ali,
46:12não sei se conseguimos.
46:13É legal isso
46:14que você está falando,
46:15né?
46:15E eu acho que
46:16da outra entrevista
46:16que eu fiz com você,
46:17durante a pandemia,
46:18a gente conversou
46:20um pouco sobre isso,
46:21se não me engano,
46:21foi na época do Arara,
46:23né?
46:23Sim.
46:24E que o Eric Romer,
46:27mas vários outros
46:28cineastas,
46:30falam que é o contrário
46:31do que você estava falando,
46:32né?
46:32Todo documentário,
46:33é um filme,
46:34óbvio,
46:34mas o que ele fala é,
46:35todo filme é um documentário
46:37do seu próprio tempo,
46:39por que não,
46:40né?
46:40Porque está trazendo
46:41coisas ali,
46:42enfim.
46:43E aí eu queria falar
46:44um pouco de cinema,
46:45você já tinha participado
46:46de filme,
46:47como que foi para você,
46:49que é uma arqueóloga,
46:50o processo cinematográfico aí,
46:53principalmente com esse
46:55envolvimento emocional
46:56que você citou mais cedo aí?
47:00Eu queria fazer um comentário
47:02também antes da resposta,
47:04porque tem um professor,
47:05o André Pruss,
47:08que é um dos nossos
47:09professores mais longevos
47:12da arqueologia,
47:15e ele falava em aula
47:17uma coisa que,
47:18para a gente,
47:18ressoou muito
47:19na hora que a gente
47:20estava pensando nessa coisa
47:22do roteiro do filme,
47:23que,
47:24quando ele está explicando
47:26a evolução humana,
47:27e aí ele vai falar
47:28sobre como que
47:30a inserção do fogo,
47:32ela mudou os rumos
47:34da nossa espécie.
47:35muitas,
47:36a maior parte das vezes
47:37que a gente está estudando
47:39isso de uma forma geral,
47:41o que é nos explicado
47:42é que o fogo
47:43nos auxiliou
47:44para a coxão dos alimentos,
47:46isso quebra as enzimas
47:46de uma forma diferente,
47:48faz com que a gente tenha
47:49um consumo
47:52de elementos diferentes
47:54e se desenvolva.
47:56Mas, na opinião dele,
47:57o fogo também tinha
47:58um outro aspecto
48:01que era até
48:02mais deslumbrante
48:03da parte dele
48:04que eu concordo,
48:05que é o fogo
48:06nos permitiu sonhar.
48:08Quando a gente
48:09tem uma fogueira
48:11à noite,
48:12a gente tem
48:13uma segurança maior
48:14do que a gente tinha
48:15para dormir anteriormente,
48:17isso faz
48:18com que as pessoas
48:19consigam ter
48:20um estágio de sono
48:21diferente do que eles tinham.
48:23E aí você
48:24imagina,
48:25sonha,
48:25cria mundos novos.
48:26Para muitas culturas,
48:29o fogo funciona
48:30como um disco rígido,
48:31de fato,
48:32onde ele vai
48:32coletando essa memória,
48:34coletando conhecimento.
48:36Isso atravessou
48:37a nossa ideia
48:39o tempo todo
48:40quando a gente
48:40estava pensando
48:41sobre também
48:43o fascínio do fogo,
48:45essa coisa
48:46que não é
48:47definitiva
48:50na medida em que
48:51é só para destruir
48:52ou só para cultivar,
48:57florescer,
48:57crescer,
48:58evoluir.
48:59Ela é um elemento
49:01que, assim como
49:01todos eles,
49:02tem esse aspecto
49:03de fármaco.
49:05Vai ser utilizado
49:07a depender
49:08da circunstância.
49:08Até na coisa
49:08da caverna de Platão
49:10também,
49:10em algum aspecto
49:11da sombra.
49:13São muitas camadas.
49:15E do cinema.
49:16Porque no fim
49:16é o cinema isso também,
49:18de jogo de sombras.
49:19Legal.
49:20E aí isso,
49:21nossa,
49:21deixou a gente
49:22muito...
49:23É uma das coisas
49:25que eu mais gosto
49:25de contar
49:26sobre o filme.
49:27Por isso que eu não
49:27queria deixar de falar.
49:29Mas em relação
49:30à última pergunta
49:32que você fez,
49:33para mim foi
49:33completamente inédito.
49:35Eu tinha participado
49:36antes,
49:37enquanto poeta,
49:40de só alguns vídeos
49:42de declamação,
49:43de poesia,
49:44ou clipes de música,
49:47nada que seria...
49:48E o universo audiovisual
49:50ele é muito diferente
49:51dos outros
49:52universos das artes.
49:54O poeta,
49:54quando ele vê
49:55um cinegrafista,
49:56ele fica...
49:57Vocês têm dinheiro?
49:58Vocês têm...
49:59E, às vezes,
49:59não têm também.
50:01Geralmente não têm.
50:02Geralmente não têm.
50:02A verdade é essa.
50:03Mas tem toda
50:04uma estrutura,
50:05porque o poeta
50:06no palco,
50:07ele trabalha
50:07com a voz e a memória.
50:09Agora,
50:10o cinema,
50:11ele tem câmeras,
50:13ele tem microfones,
50:14ele tem...
50:15Bum,
50:16parafernálias,
50:18trapizongas,
50:19negócios.
50:20E aí,
50:21para arqueólogos,
50:22isso é interessantíssimo.
50:23Um objeto que eu não sei
50:24o que é,
50:24para mim,
50:25é colônia de férias.
50:27Ao mesmo tempo,
50:27a gente ficou
50:28meio acuado,
50:29acho que todos nós
50:30da equipe de arqueólogos,
50:32de se pensar assim,
50:33poxa,
50:34mas eu sou cientista.
50:36Antes de ser ator,
50:38antes de ser personagem,
50:40o quanto do que está
50:41sendo mostrado
50:42é algo que impacta
50:44ou não
50:45esse outro universo.
50:48Mas,
50:49no final das contas,
50:50eu acho que,
50:51para mim,
50:51foi um grato presente
50:54ter conseguido participar
50:56tanto dessa parte
50:58de trás,
50:59sabe,
50:59do roteiro,
51:01para perceber
51:01o tanto de gente
51:02envolvida
51:03para fazer um filme também.
51:05A gente,
51:06acho que não tem dimensão
51:07e olha que é isso,
51:08a gente não teve
51:09muitas diárias
51:11programadas
51:12para filme.
51:13A gente teve
51:14muitas diárias
51:15de escavação.
51:18Então,
51:18a gente teve
51:19só realmente
51:20uma amostra
51:21do que pode ser
51:22esse processo
51:23de filmagem.
51:25E,
51:27para todos nós,
51:28foi assim,
51:29uau!
51:29E aí,
51:30como eu estava
51:30participando do roteiro,
51:32os outros arqueólogos
51:33ficavam me perguntando,
51:34se está tudo bem,
51:36o que eles estão falando,
51:37está certas datas,
51:38a gente está aonde,
51:39como que está,
51:39vão achar ruim?
51:40E foi muito divertido
51:42isso também,
51:43ficar vivendo
51:44nesse mundo
51:46de fazer as pontes.
51:47Que legal,
51:47tem aquela história
51:48de que uma criança
51:49necessita de uma aldeia
51:51para ser criada,
51:52um filme é um pouco
51:53por aí também.
51:54Felipe,
51:55a gente está indo
51:55para o final,
51:56o diretor já sinalizou ali,
51:58eu queria que você
52:00falasse um pouco
52:01da sua trajetória
52:02no cinema,
52:03eu citei o Arara,
52:05você fez mestrado
52:06em cinema em Portugal,
52:08rapidamente,
52:08queria que você falasse
52:09um pouquinho aí
52:10o que você achava
52:11que vale a pena
52:11compartilhar aí
52:14com quem for ver
52:15esse filme
52:15ou com quem está vendo
52:16o Divirtas com a gente aí.
52:19Eu vou começar,
52:20eu tomei nostálgio
52:21porque eu trabalhei
52:22aqui no estado de Minas
52:24e passei aqui no prédio,
52:26lembrei assim,
52:27eu acho que foi uma coisa,
52:29enfim,
52:29que eu acho que vale citar
52:30da minha trajetória,
52:31que eu sou jornalista
52:33de formação,
52:34fui repórter aqui
52:35do estado de Minas
52:36e eu fiz uma matéria
52:38em 2013
52:39sobre o relatório Figueiredo,
52:42que era na época
52:43da Comissão da Verdade,
52:44no esforço da Comissão
52:45da Verdade
52:46de investigar,
52:47especificamente nesse caso,
52:50a relação do estado
52:51com os povos indígenas
52:52e aí era esse documento,
52:54o relatório Figueiredo
52:54tinha desaparecido
52:55de 68,
52:58em 2013,
52:59eu encontrei
53:00o Marcelo Zelic
53:02que encontrou o documento,
53:03então eu dei esse furo aqui
53:04e foi uma coisa
53:06que me marcou muito
53:07e disso
53:09eu fiz essa matéria,
53:11foi uma série
53:11que saiu aqui,
53:12saiu no Correio também
53:13e me chamaram
53:15para fazer pesquisa
53:16para um documentário
53:18sobre isso,
53:19que nunca saiu,
53:20mas foi minha ponte
53:21para o cinema,
53:22porque aí eu comecei
53:23a fazer pesquisa
53:24para esse filme
53:25e me dei conta
53:26que era mais ou menos
53:28o que eu fazia aqui
53:28como repórter
53:29e aí fui me enfiando
53:31no cinema,
53:32depois passei
53:34no mestrado
53:34na Universidade do Minho
53:36e aí fui estudar
53:39audiovisual lá
53:40e aí
53:43depois já no cinema,
53:46eu fiz um filme lá
53:48que foi premiado
53:48no festival de...
53:51eu fiz dois filmes,
53:52os dois filmes
53:53que eu fiz lá no mestrado,
53:54os dois ganharam o prêmio
53:55lá no festival
53:55de cinema de Braga,
53:57que é o Bailarino
53:58e um outro
53:59que era...
54:00essa noite
54:01vi dois marcianos
54:02de Smoking,
54:02que é sobre uma história
54:04de rádio lá,
54:05que a galera faz
54:06tipo o Orson Welles,
54:08faz uma invasão
54:09da Guerra dos Mundos
54:11lá em Portugal.
54:13Aí eu fiz mestrado lá
54:15e aí eu me dei conta
54:16que não era só isso,
54:18cinema não é reportagem,
54:21então aí foi uma trajetória
54:22de anos,
54:24fiz uma produtora
54:27com alguns amigos,
54:28aí eu fiz vários curtas
54:30e me aprofundei no cinema
54:33para entender também isso,
54:36que cinema é cinema
54:38e não precisa...
54:42ele tem uma função
54:43que é a função,
54:44acho que é a função da arte,
54:46que está ali,
54:47que o Leminski vai falar
54:48que é um utensílio,
54:49mas é importante para caramba,
54:51eu acho que é isso.
54:52O Leminski fala uma coisa
54:54muito legal,
54:54que ele fala que é
54:55o gol do Zico,
54:56o gol do Zico sai
54:56para quê, cara?
54:58O gol do Zico serve
54:58para o gol do Zico,
54:59sabe?
55:00É para você gozar,
55:02liga o gol,
55:02é lindo,
55:03é isso.
55:04Então acho que assim,
55:05a arte serve para isso também,
55:07para a gente sentir,
55:10eu acho,
55:11talvez das coisas
55:13menos importantes
55:14a coisa mais importante
55:15que tem.
55:15e aí foi isso,
55:18aí fui me enfiando no cinema
55:20até chegar no Palimpo Sexto,
55:23que é o filme
55:23que nós estamos lançando agora.
55:25Pois é,
55:26bom,
55:26a gente precisa ir
55:27para os finalmentes,
55:28se a gente tem feito
55:28um joguinho aqui,
55:30eu vou fazer duas perguntas
55:31para cada
55:32e aí responder
55:32da forma mais concisa possível,
55:35beleza?
55:36Começar com a Lara,
55:38arqueóloga,
55:41eu queria que você falasse
55:42um povo.
55:45Um povo?
55:47O que te marcou
55:47na trajetória?
55:49Humano.
55:51Legal.
55:52E um museu?
55:55Museu Afro Brasil
55:56em São Paulo.
55:58Legal.
56:00Um cineasta?
56:05Nossa,
56:05já passou muitos,
56:06enfim,
56:07Adirley Queiroz.
56:09E um documentário.
56:11Um documentário?
56:15Bom,
56:16já que eu falei
56:16da Adirley,
56:17a cidade é uma só.
56:19Legal,
56:20legal.
56:21Fiquei o convite
56:22para a Adirley vir aqui,
56:23já foi convidado,
56:24a gente está
56:25sempre tentando
56:26trazer cinema
56:27mineiro,
56:28independente,
56:29então,
56:30um abraço
56:31para a Adirley,
56:32venha no Divirta-se,
56:33a gente quer
56:34conversar com você.
56:35Gente,
56:36para as palavras
56:37finais,
56:38queria que vocês
56:38contassem
56:39onde que o filme
56:40vai estar,
56:40a gente vai lançar
56:41esse podcast,
56:43hoje está sendo lançado,
56:44quinta-feira,
56:46pode ser visto
56:46atemporal,
56:48mas para quem
56:49está vendo
56:49há tempo,
56:51dá aí a divulgação
56:52e também das redes,
56:53onde encontra vocês,
56:55a produtora
56:56e tudo mais.
56:57sim,
56:58o Palimpo Sexto
56:59estreia
57:00aqui em Minas,
57:02aqui em BH,
57:03no Fórum DOC,
57:0429º Fórum DOC,
57:06que eu
57:06aproveito
57:08para
57:08fazer um elogio,
57:10que é um festival
57:10incrível,
57:11que eu gosto
57:11muito,
57:13vai passar
57:13no Sino
57:15Humberto Mauro
57:16nesse domingo
57:17agora,
57:18dia 23,
57:19às 18 horas,
57:20gratuito,
57:21e no dia 28,
57:24sexta-feira,
57:25às 17 horas,
57:27no Cine Santa Tereza.
57:29O filme já passou,
57:31ele teve
57:32uma estreia internacional
57:32agora em novembro
57:33no Festival de Pequim,
57:35mas a gente não foi,
57:36infelizmente.
57:37Não mandaram
57:38a passagem, não?
57:41Eles fizeram
57:41a legenda
57:42em mandarim,
57:43mas não mandaram
57:43a passagem.
57:46Passou
57:47no Festival de Brasília,
57:48passou no Cine
57:49Esquema Novo,
57:50no Rio Grande do Sul,
57:51e a gente está
57:54pensando como
57:55que a gente,
57:57depois desse
57:58circuito de festivais,
58:00o filme estreou
58:00em dezembro
58:01do ano passado,
58:03como que a gente
58:03consegue circular
58:04com ele mais.
58:05Às vezes,
58:06um sonho é a gente
58:07conseguir colocar
58:08ele em sala comercial,
58:09que seja uma semana,
58:11mas não temos
58:12isso previsto ainda.
58:15É, bom,
58:16e a gente tem também
58:17as redes sociais
58:18do pessoal
58:21que fez o filme,
58:22o Almôndega Filmes,
58:23a Quarteto Filmes,
58:24a produtora,
58:24o Quarteto Filmes.
58:25Ah, o Quarteto está
58:26envolvido?
58:26Que legal.
58:28E o meu Instagram
58:29pessoal,
58:30Arque ou Poesia.
58:31Legal.
58:33Lucas,
58:33mais alguma coisa?
58:34É, só agradecer,
58:35obrigado mesmo,
58:36viu, gente?
58:36Valeu mesmo
58:37por vir aqui
58:38para aceitar o convite.
58:39É, foi um debate
58:40um pouco mais profundo
58:41até do que a gente
58:42às vezes está acostumado.
58:44Então, eu queria pedir
58:44o meu diretor
58:45para cortar naquela ali
58:46para a gente dar
58:47um tchau final.
58:49Para mais notícias
58:49do Brasil e do mundo,
58:51é m.com.br.
58:52Deixa o seu like,
58:54comenta aqui,
58:55se você viu o filme,
58:56gostou, detestou,
58:58manda aqui embaixo
58:59que a gente vai repassar
59:00para o Felipe
59:01e ele vai atrás de você
59:02se você tiver falado mal.
59:04Beleza?
59:05Brincadeira.
59:06Até a próxima
59:06e um abraço.
59:09e um abraço.
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