00:00O Nordeste brasileiro vive um desafio que é a adaptação climática nesse cenário que nós temos que nos adaptar a uma mudança na temperatura da ordem de 1,5 grau que a gente já está verificando.
00:20Como as pesquisas da Embrapa tem sinalizado caminhos para o semiárido brasileiro, para o Nordeste e para a Bahia especificamente?
00:30A principal fonte de informação que a gente tem é a Caatinga.
00:36Então é na Caatinga que a gente tem buscado muitas alternativas para isso.
00:40Uma delas, por exemplo, a gente está mostrando aqui é uma maracujá da Caatinga.
00:43É uma espécie nativa que tem altíssima tolerância à temperatura, a baixa disponibilidade de água e por isso é atrativa.
00:51Além disso, a gente está trabalhando com pesquisas voltadas para mitigar a mudança climática.
00:57Como o semiárido pode contribuir para impedir a mudança climática?
01:01Então, como manejar o solo, práticas para aumentar o sequestro de carbono na matéria orgânica, no tipo de cultura ser cultivada?
01:10A outra é a adaptação, como você falou.
01:12Então a gente precisa de culturas mais tolerantes, a gente precisa de culturas com ciclos mais curtos,
01:18porque um dos cenários é encurtar o período chuvoso.
01:20A gente precisa de materiais que tolerem bem a seca, que pode se tornar ainda mais comum as secas extemporâneas.
01:29Então, essas duas abordagens que são as mais comuns hoje.
01:35Quando a gente fala também na resiliência da Caatinga, que ela tem se mostrado também como um grande sumidouro de carbono,
01:44olhando para a adaptação.
01:45Fala um pouquinho do papel da Caatinga no sequestro de carbono.
01:48Fantástico. Ontem, na terça-feira, na verdade, nós tivemos um painel lá no espaço Nordeste, na Green Zone,
01:56só para discutir isso.
02:00A Caatinga é muito interessante, porque a maior parte do carbono que ela tem no solo está vivo,
02:06está armazerada nas raízes das plantas.
02:09Uma das adaptações que a vegetação da Caatinga passou foi investir muito na formação do sistema articular muito extenso.
02:15Então, com isso, ela acumula muita matéria, muito material no subsolo, ao contrário de outras formações,
02:23locais mais úmidos.
02:25Então, essa predominância de plantas arvostivas e arbóreas, com o sistema articular muito profundo,
02:32aumenta muito a eficiência.
02:34Existem estudos recentes, publicados esse ano, mostrando que, em alguns momentos, em alguns períodos,
02:43acumula mais do que a mata tropical, a floresta tropical.
02:46É lógico que nós temos uma extensão menor do que a Amazônia, por exemplo,
02:50mas a eficiência de acúmulo de carbono no solo, que é, então, se tornar um sumidouro de carbono,
02:58é muito maior, por unidade de área.
03:03Mas, e essa é uma grande característica dela, o fato de ela armazenar esse carbono na matéria viva,
03:12nas raízes, e quando você remove isso, as culturas já não têm a mesma contribuição.
03:18Quando é cultura anual, por exemplo, a contribuição é próxima a zero.
03:21Então, hoje, um dos grandes esforços é encontrar tecnologias que permitam manter a caatinga em pé,
03:28manter a caatinga viva, explorar o ambiente, mas conservar o máximo possível o ambiente natural,
03:34vivo e em pé, para que ele continue sendo esse sumidouro de carbono.
03:39Ou seja, você cultivar na caatinga, porém respeitando também o bioma, nesse sentido,
03:45seguir o Código Florestal é suficiente, ou a gente precisa fazer mais, conservar mais a caatinga?
03:53Eu acho que o nosso Código Florestal é um dos melhores do mundo,
03:56então ele já traz muitas alternativas, mas o que a gente precisa fazer é com que os produtores também façam isso.
04:02Por exemplo, a gente precisa saber se os solos são aptos à agricultura.
04:08Muitos solos marginais ou não aptos estão sendo incorporados nesse tema de produção.
04:12E quando a gente faz a agricultura, adotar estratégias similares a que a caatinga já usa,
04:19para aumentar, fazer com que a agricultura também contribua para esse sumidouro de carbono.
04:26A gente vive num dilema muito sério, hoje, a humanidade, porque a gente precisa conservar o ambiente,
04:31para impedir mudança climática, mas a gente precisa continuar produzindo alimentos.
04:34Então, esse é um desafio, equilibrar essas duas demandas é um desafio que a gente enfrenta todo dia.
04:42Então, o que a gente busca o tempo todo na Embrapa, para todos os biomas brasileiros?
04:46Alternativas que permitam que a gente equilibre isso, produzir alimento e também conservar o ambiente.
04:52E hoje, mais do que nunca, aumentar a conservação da matéria orgânica do solo,
04:56para que esse solo, então, vire no Brasil inteiro um grande distribuidor de carbono.
05:02Mas lá na caatinga, estratégias que permitam manter as árvores em pé são, por exemplo,
05:09o uso de caatinga associada ao cultivo de forrageiras para alimentação animal,
05:17que é uma das grandes demandas que nós temos.
05:19A maior área que nós temos é a área para a produção animal, exigem áreas muito extensas.
05:26Então, a gente tem que equilibrar as duas coisas e manter os dois juntos.
05:29A caatinga como fonte de alimento e sombra para o rebanho e o cultivo de forrageiras,
05:36para dar suporte também à caatinga, porque ela tem um crescimento mais lento.
05:40A ciência aliada à conservação?
05:42Sim, ciência aliada à conservação, essa é a ideia.
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