O IBGE divulgou que a taxa de desemprego no trimestre encerrado em agosto ficou em 5,6%, repetindo o índice de julho e mantendo-se no nível mais baixo desde 2012, início da série histórica da Pnad Contínua. O resultado reflete estabilidade no mercado de trabalho e aponta tendência de recuperação econômica. Alan Ghani, Deysi Cioccari e Thulio Nassa analisaram. Comentarista: Alan Ghani, Deysi Cioccari e Thulio Nassa
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00:00De economia, a taxa de desocupação para o trimestre encerrado em agosto ficou em 5,6%.
00:07É o patamar mais baixo desde 2012, início da série histórica da PNAD Contínua, divulgada hoje pelo IBGE.
00:14Alan Gani está aqui no estúdio, segue comentando com a gente os assuntos relacionados à economia.
00:19Gani, esse dado surpreende? Está dentro daquilo que é esperado diante dos outros índices que foram apresentados?
00:27Olha só, Nonato, veio dentro das projeções do mercado financeiro a taxa de desemprego em 5,6%.
00:34De fato, traz um aquecimento no mercado de trabalho, houve aumento de empregos formais no setor privado,
00:42mas me chamou a atenção também o aumento da população fora do mercado de trabalho.
00:49O que significa isso? São pessoas que têm idade para trabalhar, mas optaram por não trabalhar.
00:55Então, por exemplo, a pessoa lá vive de um auxílio do governo, uma dona de casa, um estudante que resolveu estudar e não quer trabalhar,
01:04alguém que vive de herança, o que quer que seja.
01:06Então, você não considera essas pessoas, mesmo que tenham idade para trabalhar, não consideram elas como desempregadas.
01:14E houve um aumento do percentual dessas pessoas.
01:16Isso pode ter atingido a taxa de desemprego, porque à medida que a pessoa optou por não trabalhar, ela não é considerada desempregada.
01:28Mas, de fato, também houve aumento nos empregos formais.
01:31Com isso, a gente tem hoje no Brasil, grandes números, 102 milhões de pessoas empregadas, 6 milhões de pessoas desempregadas
01:42e mais ou menos 65 milhões de pessoas que têm idade para trabalhar, mas optaram por não trabalhar e, portanto, não são consideradas desempregadas.
01:52Gani, na sua avaliação, o mercado de trabalho vive um bom momento ou, de fato, até o avanço do emprego informal que você pontuou também tem a ver com esses dados?
02:03Vive um bom momento o mercado de trabalho.
02:05Isso é inegável.
02:07Há um aquecimento no mercado de trabalho, embora a economia esteja desaquecendo,
02:13mas o mercado de trabalho acaba respondendo tardiamente ao ciclo econômico
02:18por conta de custos de demissões, admissões, treinamentos, etc.,
02:23o que a gente chama de fricções no mercado de trabalho.
02:26Mas o mercado de trabalho está aquecido.
02:28Agora, poderia ser ainda mais robusto, caso essas pessoas que estão fora do mercado de trabalho por opção,
02:38elas estivessem trabalhando.
02:41O Brasil é um dos países que tem o percentual mais alto de pessoas fora do mercado de trabalho,
02:47que por opção própria, e poderiam estar trabalhando.
02:51Isso é muito importante, principalmente num país jovem, num país numa economia emergente,
02:56porque você tem que utilizar essa mão de obra.
03:00Eu ia perguntar, esse povo não paga boleto?
03:02Pois é, mas aí a inadimplência está alta, a gente comentou disso.
03:05É, exatamente, inadimplência está alta e o que acontece?
03:08Então, muitas vezes, a pessoa...
03:10Isso acontece muito em regiões mais pobres do país.
03:13A pessoa vive lá de um auxílio do governo, consegue...
03:16Vai tocando.
03:16Vai tocando, né?
03:17E também tem uma questão metodológica que é bastante interessante.
03:21É assim, em vários países.
03:23Então, além da pessoa que optou por não trabalhar, não é considerada desempregada,
03:29segundo o IBGE, se você trabalhar uma hora por semana,
03:34e isso for contínuo, de maneira contínua,
03:37sempre uma hora por semana você já é considerado empregado.
03:40Então, também é questionável toda essa metodologia, mas é assim.
03:45Agora, o fato é que o Brasil poderia utilizar melhor essa força de trabalho,
03:52a mão de obra, porque mão de obra significa mais capacidade produtiva do país.
03:57Sim, e claro que esses que trabalham aí uma hora, como você citou, são exceções.
04:01São exceções.
04:02Isso, exatamente.
04:02Legal, Gani.
04:04Vamos passar essa conversa, esse assunto, para os comentaristas,
04:08a Deise Siocari e também o Túlio Nassa, que estão com a gente.
04:11O Deise, esse índice de 5,6 no trimestre, encerrado em agosto,
04:17como o Gani destacou, é um bom indício, é um bom cenário.
04:21Ou seja, o governo poderá trabalhar bem esse índice,
04:26no que diz respeito a dizer que está fazendo muito pelo emprego aqui no Brasil,
04:31pela economia.
04:32É um dado interessante para ser usado politicamente, Deise?
04:37É um dado interessante, Renato.
04:39O número é positivo, sim, para o governo,
04:42que tenta usar o mercado de trabalho como uma vitrine política,
04:46mas ele esconde alguns problemas estruturais.
04:49A informalidade, ela ainda é muito alta.
04:53E o rendimento médio do brasileiro, ele tem avançado muito pouco.
04:58Além de tudo isso, a gente tem uma desigualdade regional muito forte.
05:03Então, em outras palavras, a gente tem, sim, mais gente ocupada,
05:07e é isso que esses números revelam,
05:10mas nem sempre em empregos de qualidade.
05:14E tem um outro dado que é importante observar,
05:16que o ritmo de geração de vagas formais, ele caiu,
05:20o que indica uma desaceleração.
05:23É óbvio, como você falou, Renato,
05:25que politicamente o presidente Lula ganha fôlego no curto prazo,
05:29mas ele também acaba assumindo um risco,
05:31porque se esse cenário, por acaso, se inverter,
05:35o desemprego pode virar rapidamente um ponto frágil na narrativa do governo.
05:39Aliás, esse tem sido um dos assuntos do governo,
05:43na geração de emprego, a volta do mercado formal desde a campanha eleitoral.
05:47Mas esses números, eles não são tão sólidos quanto parecem.
05:52Mas, na hora da narrativa política e das eleições, eles funcionam, sim.
05:55Túlio, a Deise citou aí a qualidade, né?
05:59Como que você avalia essa qualidade da recuperação do mercado de trabalho,
06:04como a gente falava há pouco com o Gani,
06:06a persistência da inadimplência ainda em grande parte e parcela da população,
06:11mesmo com mais gente empregada, indica o que exatamente?
06:16Olha, Soraya, você tocou no ponto fundamental,
06:18a qualidade dos números da economia de hoje.
06:21É isso que a gente precisa olhar, e não apenas a quantidade.
06:23Se nós observarmos aí a história da política econômica dos governos,
06:28nós vamos ver no passado recente que esse modelo econômico keynesianista
06:32que o governo adota, ou seja, de aumentar o gasto público,
06:36de fazer programa de aceleração de crescimento,
06:39ele gera, num primeiro momento, efeitos positivos.
06:42Ele aquece a economia, aquece o consumo,
06:44e com isso o número de empregos tende a aumentar.
06:47Mas é preciso verificar até quanto tempo isso dura.
06:49Porque esses créditos, por exemplo, que são oferecidos à população,
06:53são créditos para o consumo, não são créditos que a população pega
06:56e vai efetivamente melhorar de vida, ter uma autonomia.
06:59Ela vai se endividar.
07:01E isso provoca, então, a médio prazo, um efeito ruim para a economia,
07:06porque aumenta a inflação, porque essa taxa de emprego vai no futuro cair.
07:11Então, por essas razões, seria muito melhor que o governo
07:14tivesse uma política de responsabilidade fiscal,
07:17que o crescimento fosse paulatino e sustentável.
07:21Por essas e por outras que o diabo realmente mora nos detalhes, Soraya.
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