- há 2 semanas
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NotíciasTranscrição
00:00Olá, bem-vindos e bem-vindas ao Ponto de Vista.
00:12Hoje aqui no programa eu recebo uma multiartista pernambucana,
00:16uma mulher que tem se destacado como empresária da moda e comunicadora.
00:20Eu estou falando de Jéssica Zarina, cofundadora da Zarina Moda Afro,
00:26feminista e sempre muito ligada em tudo o que diz respeito à valorização das nossas raízes africanas.
00:34Jéssica, seja muito bem-vinda ao Ponto de Vista.
00:38Eu que agradeço pelo convite.
00:40Jéssica, você está com a Zarina Moda Afro há 10 anos, mas você só tem 31,
00:46ou seja, você começou a Zarina Moda Afro aos 21 anos de idade.
00:50Como foi essa inspiração, como foi que você decidiu se lançar no empreendedorismo tão jovem?
00:57Eu posso dizer que eu venho da família também bem empreendedora.
01:00Meu pai, minha avó, também bebo dessa fonte.
01:04Também já empreendia na dança, sou bailarina afro.
01:08Então, nesse caminho também, eu encontro a moda como ferramenta de empoderamento,
01:15de auto-me lançar também como mulher, mulher preta na sociedade.
01:19E aí eu trago esse movimento do meu empreendimento de uma forma sutil e também de uma forma muito intuitiva.
01:28Enquanto eu, o Rodrigo, que na época era meu companheiro,
01:31e aí a gente iniciou esse projeto juntos, da Zarina,
01:35em forma também da gente poder também auto-afirmar a nossa ancestralidade, a nossa identidade negra.
01:42E a gente não iniciou esse projeto também com forma de empreender, mas sim da gente comunicar.
01:50E o empreendimento, ele veio realmente no decorrer do tempo.
01:54Como foi no início?
01:55Alguém te inspirou a fazer esse tipo de trabalho que você vem fazendo?
01:59Então, no início foi a inquietude mesmo, de entender e ver que as marcas, as lojas, departamento,
02:08não estavam me representando.
02:11Então, eu vi ali um ponto também de partida para esse empreendimento acontecer.
02:16Depois, em seguida, que eu fui estudar mais sobre moda, sobre quem são as pessoas pretas na moda,
02:22que poderiam ser essas inspirações, eu encontrei várias, que me inspiraram muito.
02:27E uma delas é o continente africano, que é algo que a ferramenta do tecido africano, a capulana,
02:35foi algo que eu trouxe de início para a Zarina, para que a gente pudesse resgatar essa ancestralidade.
02:42Em que momento, Jéssica, você sentiu que tinha de dar valor ao fato de ser mulher,
02:48de ser mulher negra e que isso não podia ficar, você não podia ficar parada, que tinha que se lançar.
02:55Então, acho que foi quando eu começo a entender que eu preciso ser protagonista da minha própria história, né?
03:02Então, sendo protagonista dessa minha própria história, de que forma eu estou me comunicando para a sociedade, né?
03:09Então, a moda, ela entra nesse campo para mim, que é onde eu trago as vestimentas, o turbante, os acessórios, né?
03:17Qual está comunicando quem é a Jéssica, a Zarina, no dia a dia.
03:21Então, através disso, eu também saio inspirando outras mulheres, empoderando outras mulheres também, né?
03:28E pessoas pretas, para que elas possam se identificar e ver quanto elas são lindas, né?
03:34Que elas podem se vestir da forma que elas se sentem bem, né?
03:38E que elas podem também estar lançando essa expressão corporal.
03:42Agora, você se apresenta sempre como cofundadora da Zarina Moda Afro, né?
03:48Isso.
03:49Quem é o outro cofundador?
03:51É o Rodrigo Zarina, né?
03:52Qual ele também teve essa participação do projeto junto comigo, né?
03:56Porque a gente era companheiro.
03:58E aí, a gente lançou esse projeto juntos, né?
04:00Como eu falei, muito intuitivo.
04:02A gente não tinha muito no início, né?
04:06O que é que a gente quer fazer?
04:07O que é a moda?
04:08A gente sabia que queria expressar algo e queria representar o nosso povo, né?
04:12Então, nesse processo, né?
04:14Quando a gente compra a primeira máquina de costurar, a gente vai entendendo o que é
04:19que a gente está querendo fazer, como é que a gente vai modelar essas primeiras peças, né?
04:24A gente vai procurando outras pessoas que já estão nesse mercado há mais tempo que nós
04:28para também dar essa consultoria, né?
04:32Essa projeção também de aulas.
04:35E aí, onde a gente vai se capacitando, né?
04:38E entendendo o que a gente vai fazer na Zarina, né?
04:42De início.
04:43Hoje, na Zarina Moda Afro, você trabalha com quantas pessoas?
04:46Quantos são envolvidos no projeto?
04:49Eu posso dizer que cinco pessoas.
04:51Eu, Rodrigo, né?
04:52E mais três pessoas que não trabalham dentro do nosso ateliê, mas que trabalham em outros
04:56ateliês, né?
04:57Então, a gente também tem esse, a gente também tem essa, dentro da Zarina, a gente
05:02também tem isso de estar sempre nessa, como é que eu posso dizer, estar também, como
05:10a gente fala, né?
05:11Nessa ferramenta da troca dentro da nossa comunidade também.
05:15Então, a gente tem outras pessoas que costuram também, modelam, enfim, afins, que trabalham
05:21indiretamente para a gente, né?
05:24E outros que trabalham diretamente.
05:26Você dizia no início aí que não se sentia muito representada quando ia nas lojas, né?
05:31Daí surgiu a ideia, né?
05:33Cada vez maior de empresas que se voltam agora para a moda afro.
05:37Além da sua, tem outras, né?
05:39Muita gente, então, sentia o mesmo incômodo que você vinha sentindo, de chegar nas lojas
05:45e não se sentir representada.
05:48Isso.
05:48Então, quando a gente empreende com moda autoral ou moda preta, né?
05:52A gente tem que ir trazendo uma comunicação diferenciada, né?
05:55Primeiro, a gente fala do atemporal, né?
05:59Porque a gente não segue tendências, né?
06:00E segundo, que quando a gente vai entrar nessa moda afro-brasileira, africana, né?
06:07E moda autoral preta, como eu falo, é a gente estar comunicando exatamente um público, né?
06:13Na verdade, a gente está dando protagonismo a um público, que é a comunidade preta, né?
06:19Para que elas se sintam cada vez mais reconhecidas, que a gente possa se conectar ao ver, né?
06:24Ao passar na rua.
06:26Nós vamos soltar agora algumas imagens do projeto Moda Preta Autoral.
06:30Isso.
06:30O que é esse projeto? Explica para a gente.
06:32É um projeto que iniciou um pouco na pandemia, né?
06:38Qual eu iniciei a minha projeção de...
06:44Como eu posso dizer assim?
06:46De que forma a Azarina, enquanto marca empreendimento,
06:51a gente pode estar transformando vidas dentro das comunidades,
06:57das periferias de Recife, de Olinda, Pernambuco.
07:00Mas é um projeto que a gente já saiu daqui, já foi para Salvador, Fortaleza, São Paulo também, né?
07:05É, a gente está vendo aí nesse projeto que tem muito mais do que cinco pessoas, né?
07:09Isso.
07:10O projeto Moda Preta Autoral, ele envolve outras pessoas e muito mais do que as cinco só que trabalham com você.
07:18Esse agora que a gente...
07:20Foi o último, né?
07:21Que a gente teve lá como ferramenta na nossa casa.
07:25Foram três meses, então foram sete criativos que deram vidas a uma coleção para a Azarina Moda Afro.
07:34Então, essa coleção é Raízes do Futuro.
07:37Então, esse futuro que são esses jovens e também essas matriarcas,
07:42porque a gente teve duas rainhas que têm uma de 63 e outra de 65 anos,
07:47que também fizeram parte desse projeto.
07:49E esse projeto foi construído por eles, né?
07:51E aí, desse projeto, a gente fez esse lançamento na nossa casa também,
07:57para que outras pessoas pudessem ver essas potências, né?
08:00Então, a gente pode afirmar que a Casa Azarina também é uma incubadora, né?
08:04Onde a gente traz pessoas para entender um pouco dessa moda,
08:08dessa tecnologia ancestral que criamos há 10 anos
08:11e que elas estão preparadas, sim, para o mercado, né?
08:14Para elas autos se promoverem como empreendedores, afroempreendedores
08:19ou até mesmo em outra área da moda, né?
08:21Porque a gente fala de uma moda, a gente fala de uma moda como empreendimento,
08:25mas também a moda, ela está em outros movimentos, né?
08:29Como tem alunos que já estão participando de...
08:32Como figurinistas, em filmes e minisséries aqui em Pernambuco.
08:39Agora, Jéssica, o Zarina Moda Afro tem 10 anos
08:43e no meio desses 10 anos aí nós tivemos uma pandemia, né?
08:47Isso.
08:47Como foi enfrentar a pandemia quando você queria estar avançando com o seu negócio,
08:53vendendo mais roupas, vendendo mais acessórios
08:56e de repente teve que encarar uma pandemia?
08:59Ela, de alguma forma, te deu alguma ideia?
09:01Então, a pandemia foi algo assim muito desesperador, né?
09:04Para todos que estávamos vivendo aquilo.
09:08A gente não sabia o que é que estava acontecendo e onde a gente ia parar, né?
09:12Então, acho que eu fiz um momento mesmo de reflexão, de respirar, né?
09:17Entender o movimento, né?
09:19E saber como é que eu ia agir dentro da marca, né?
09:23Como é que a Zarina ia se posicionar nesse movimento, né?
09:26Então, a gente começou a fazer alguns trabalhos voluntários, né?
09:31De construir máscaras com nossas estampas africanas, para algumas instituições, né?
09:37Para fazer essa distribuição dentro da cidade.
09:39Quer dizer, aquelas máscaras que todo mundo era obrigado a usar.
09:42Isso, exatamente.
09:43Você conseguiu botar motivos africanos nas máscaras.
09:46Para que, pelo menos, a gente ficasse na pandemia estilosos, né?
09:51Então, a gente fez esse trabalho voluntário, né?
09:53Dentro desse trabalho voluntário, alguns clientes começaram a pedir também.
09:58E daí também veio, de uma forma muito leve também, a venda das roupas, junto com as máscaras.
10:04Então, assim, dentro da pandemia, a Zarina não sofreu por esse fator, né?
10:09Como aconteceu com outras marcas, que terminaram, que não conseguiram se manter, né?
10:15Foi algo realmente muito desesperador.
10:18Mas, assim, vamos dizer, a gente resistiu à pandemia, né?
10:21Isso foi uma grande vitória.
10:22De fato, você teve algumas ideias, né?
10:26Para enfrentar a crise, né?
10:28Exatamente.
10:28Isso, exatamente.
10:30Então, a gente não parou nenhum momento.
10:31Na verdade, a gente se movimentou muito na pandemia, né?
10:35Então, de que forma também, como comunicadora também, como é que eu estava...
10:39Eu sempre estava, mesmo ali, como diz, na tela do Instagram, do Facebook, né?
10:44Mas, de que forma eu estava tentando entrar em contato com esse cliente,
10:48de saber como é que ele está também, se ele está precisando de ajuda.
10:51Então, a gente fez realmente uma rede, né?
10:53Uma rede que a gente pudesse se conectar ainda mais.
10:56E, de que forma a gente também poderia se ajudar se alguém precisasse, né?
11:01A sua loja hoje vende para outros estados do país também?
11:04Então, a gente sempre está transportando para o Brasil todo, né?
11:10Inclusive, para fora do Brasil também.
11:12No momento, a gente não tem outra marca fora daqui de Pernambuco.
11:17Outra loja fora aqui de Pernambuco, né?
11:19Então, temos a nossa casa, que fica no centro do Recife, que é Casa Atelier, né?
11:24E a gente tem a loja Amap também, onde a gente também está lá,
11:28que fica no centro do Recife também, no Marco Zero,
11:31que é a primeira loja de modo autoral pernambucana.
11:34E a gente está sempre nas redes sociais muito ativo.
11:38Então, esses outros clientes que são de outros estados, de outras cidades,
11:42ou até mesmo de outro país, sempre entram em contato conosco.
11:46Mas os clientes de outros estados são pessoas individuais ou são pessoas que querem revender?
11:52Então, acontece de ter pessoas que querem revender.
11:54Mas como somos uma marca ainda pequena, né?
11:58Eu falo pequena em questão de produção, né?
12:00Porque a nossa ideia não é a gente entrar em grande escala,
12:03até porque a gente não é, como diz, uma loja de fast food e tudo mais.
12:10Então, a nossa ideia é sempre ter esse trabalho um pouco mais lento,
12:14porque a gente tem, como diz, todo um entorno, né?
12:17Trabalhamos com pessoas, né?
12:19Essas pessoas, elas recebem de forma justa o que é feito no trabalho, né?
12:25Não compramos também grande quantidade de tecidos,
12:29para que a gente não precise ter estoque.
12:31Então, para estoque, para a gente não é viável também, né?
12:36Então, a gente trabalha realmente dessa forma mais tranquila, que eu posso dizer, né?
12:41Então, já aconteceu de ter lojas querendo fornecer as nossas peças, né?
12:48Mas aí, em grande quantidade, a gente não é uma confecção, né?
12:51Então, a gente está justamente saindo dessa massa da confecção,
12:55que termina sendo um trabalho escravo,
12:57para poder ser essa marca que tem esse olhar mais humano.
13:01A empresa já completou os 10 anos, como a gente falou, né?
13:04E você sabe que cerca de 60% das microempresas no Brasil
13:10não passam dos 5 anos.
13:12Então, a Zarina Moda Afro já é uma vencedora, a gente pode dizer, né?
13:17Ah, demais.
13:18Como é que você se sente vencendo essa estatística?
13:22É, então, eu me sinto vitoriosa mesmo, né?
13:26Porque, como eu falo, é muita dificuldade você empreender,
13:30ter seu próprio empreendimento, né?
13:32E você está sempre nesse movimento,
13:34porque é um movimento que você vai e volta muitas vezes, né?
13:39Então, a gente está com esses 10 anos,
13:42também está no centro do Recife,
13:44porque a gente sai da periferia, né?
13:46Da periferia de Olinda,
13:48e vai ocupar o centro do Recife, que é a Boa Vista,
13:50a grande Boa Vista, né?
13:52Então, tudo isso...
13:52É na rua Manoel Borba, não é isso?
13:54É, na Manoel Borba.
13:55Então, tudo isso é uma grande vitória, né?
13:58Tanto para o nosso empreendimento,
14:01mas como para nós, pessoas pretas,
14:03estar nesse espaço, né?
14:04Que, querendo ou não, é um espaço que, muitas vezes, foi nos negado, né?
14:09Então, para mim, é uma grande vitória.
14:12E, assim, mais vitoriosa ainda, porque a gente avançou muito, né?
14:16Como eu falei, esse projeto, nossas projeções,
14:19elas estão saindo, inclusive, de Pernambuco.
14:22Então, isso já é um grande avanço
14:24para uma marca que ainda se considera pequena dentro do Recife, né?
14:28Jéssica, a gente vai fazer um rápido intervalo.
14:30Você que está acompanhando, não saia daí.
14:32A gente volta já, já.
14:47O Ponto de Vista está de volta.
14:48Hoje, eu estou entrevistando Jéssica Zarina,
14:52uma empreendedora na área da moda.
14:54Jéssica, há três anos,
14:56você integrou um grupo de artistas pernambucanos, né?
14:59Que foi a África do Sul e a Moçambique.
15:02Como é que foi essa experiência para você,
15:05esse encontro, digamos, com as raízes africanas?
15:08Foi uma grande realização, na verdade, né?
15:11Porque eu, enquanto pesquisadora,
15:16enquanto também afrodiasporicamente falando,
15:22sempre tive esse grande sonho de ir à África, né?
15:26E a África é um continente muito grande, né?
15:29Que qual a gente até fica...
15:31Quando, assim, pensar em qual país você vai para conhecer, né?
15:36São muitas coisas, né?
15:38São muitas...
15:39São muitos...
15:40Como eu posso dizer...
15:42São muitas sutilezas, né?
15:47E aí, quando eu recebi esse convite
15:48de ir para a África do Sul e Moçambique, né?
15:50Através do produtor Afonso Oliveira,
15:54eu fiquei, assim, emocionadíssima,
15:56não imaginava e, inclusive, nem acreditava até chegar lá, né?
16:00E quando eu cheguei, né?
16:01Eu já fui com a missão de pesquisar, né?
16:05De saber, conhecer mais os meus pares, né?
16:07Como é que funciona.
16:09O que é que também a gente consegue identificar também aqui no Brasil, né?
16:13Aqui no nosso dia a dia, né?
16:14Então, em África do Sul, eu tive um contato muito bacana também,
16:19ali um pouco com a história de Nelson Mandela, né?
16:21Mas em Moçambique foi onde realmente eu me eternizei, né?
16:25Que, para mim, eu estava em casa,
16:27até porque eles falam português, né?
16:28Português de Portugal, né?
16:30Então, o acolhimento, né?
16:32Como dizer, o calor humano,
16:34eles...
16:35É muito mais...
16:37Mais...
16:38Dá para se sentir mais forte.
16:40Isso, mais forte, né?
16:41Como nós brasileiros, né?
16:42Então, assim, chegando lá, né?
16:46Eu me conecto muito com o Tufo da Mafalala,
16:48onde tem essas mulheres de referência,
16:51essas mulheres que, através da música, da dança,
16:54das pinturas e das capulanas,
16:57elas se...
16:59Como eu posso dizer?
17:01Elas se expressam, né?
17:03Então, foi emocionante.
17:05O que é Mafalala, o que é capulana...
17:06Vamos traduzir?
17:08Mafalala, né?
17:09É esse grupo cultural que existe dentro da comunidade Mafalala,
17:14que fica em Maputo.
17:16E esse é um grupo só de mulheres.
17:18Maputo, que é a capital de Moçambique.
17:19Isso, de Moçambique.
17:21Então, essas mulheres, elas usam, como diz,
17:23a comunicação delas é a dança, a música, né?
17:28As capulanas, que é o tecido, né?
17:31Popularmente falando, a gente pode dizer que é um tecido africano, né?
17:33Que todo mundo conhece.
17:34E, através das pinturas corporais.
17:38Então, assim, é emocionante demais, né?
17:40A gente foi recebida por elas.
17:43Tem a rainha desse grupo, que é a Mama Saquia, né?
17:47Que é uma mulher à frente do seu tempo,
17:49qual me ensinou muita coisa, assim, sabe?
17:52Eu acho que até de ressignificar muito, né?
17:55A mulher que eu sou também.
17:57Então, eu fui nessa busca mesmo, né?
17:59De conhecer, de entender, de pesquisar esses tecidos.
18:03Porque eu já tenho um trabalho de pesquisa com os tecidos africanos.
18:07Então, eu fui pra lá pra pesquisar ainda mais, né?
18:10Como é que esse tecido, ele comunica, né?
18:13Dentro daquela cidade, né?
18:16Como é que as mulheres, elas utilizam esse tecido, né?
18:18De que forma.
18:20E, assim, resumidamente falando, né?
18:22É um tecido que, pra elas, é mais do que uma fortaleza, sabe?
18:28Então, ele não é só apenas um tecido, né?
18:31É um multi...
18:33É, como dizer, multi-sensações, né?
18:35Porque cada uma traz uma referência diferente.
18:38Você sempre teve esse interesse pela África,
18:41pelas coisas da África,
18:42mas eu imagino que essa viagem tenha aguçado, né?
18:46Esse sentimento até de ancestralidade africana em você.
18:50Isso aí.
18:51E como é que você resumiria essa sensação
18:53quando você chegou na África,
18:56aquele continente que você só conhecia de ouvir falar
18:58ou de estudar, mas que nunca tinha ido?
19:02Emoção.
19:03Emoção.
19:04Porque foi muito emocionante.
19:06Até hoje, é emocionante, né?
19:08Porque eu trago essa vivência também
19:10pro meu projeto Moda Preta Autoral, né?
19:12Então, a gente dá uma pincelada, claro,
19:15do que foi vivido lá e como é que foi.
19:18E sempre é muito emocionante lembrar, né?
19:20Esse retorno.
19:22É como eu disse assim,
19:23pra mim foi um retorno.
19:24Eu voltei pra minha casa, né?
19:27Então, eu ainda tenho também
19:30sonhos de conhecer outros países, né?
19:33Então, isso já tá no meu roteiro também, inclusive.
19:35E pra sempre ter essa...
19:39Como dizem, é muito importante a gente
19:40entender quem somos nós, né?
19:42Então, eu acho que falar de África, né?
19:46Falar de África é entender isso também, né?
19:49Quem sou eu, quem é Jéssica, né?
19:51Um pedacinho do que a gente é também aqui no Brasil.
19:55Eu li também que você é filha de Oxum, né?
19:58Isso.
19:59Qual a importância dessa religião,
20:01da presença, né?
20:02Da religião afro na sua vida?
20:05Então, a religião afro, ela...
20:08Ela, na verdade, ela me faz ainda...
20:12Ainda me pertencer ainda mais, né?
20:15Dentro da sociedade, assim, me centrar, na verdade, né?
20:19De entender quem eu sou.
20:21E também de ter essa Iabá, que é Oxum, né?
20:24Como referência, como referência de vida, né?
20:29Porque quando eu vou ler os entãs,
20:31ou quando eu tenho muito contato, né?
20:34Com essa ancestral maior,
20:36que toma conta de mim, que eu posso dizer assim,
20:38Eu consigo me empoderar dessa força, né?
20:42Entender que minha vida, minha movimentação,
20:45meu empreendimento também faz parte dela, né?
20:49Por isso que o nome Zarina tem essa ligação também com Oxum,
20:53porque significa mulher de ouro.
20:55Então, esse ouro, essa potência, essa fortaleza,
20:58dessa mulher que gera, né?
21:00Dessa mulher que dá fertilidade.
21:02Por isso a roupa amarela também.
21:03Por isso a roupa amarela, né?
21:05Os brincos dourados também, né?
21:08Então, tudo isso tem muita referência a essa Iabá, né?
21:11Que toma conta de mim, toma conta do meu empreendimento, né?
21:15Nós sabemos que ser mulher já é difícil,
21:17ser mulher negra é mais difícil ainda, né?
21:20Na sua vida, você já enfrentou situações de racismo
21:23por ser mulher negra?
21:25Vários, vários, vários, vários.
21:28Mas eu tento ressignificar, né?
21:32Não trazer isso para algo que vá me abater, né?
21:36E eu ressignifico em todos os movimentos, né?
21:40Claro que isso é algo que machuca, dói, né?
21:45Até porque a gente está falando,
21:47estamos falando de pessoas, né?
21:49E por conta da minha cor da pele,
21:50ou meu cabelo, ou meus traços, né?
21:53Chega a tal ponto dessa questão do racismo, né?
21:58Que é uma coisa estrutural, estruturalmente falando, né?
22:02Mas eu tento ressignificar.
22:04Então, o meu trabalho, ele também está nesse movimento, né?
22:08De ressignificar e de combater o racismo, né?
22:12Através desse protagonismo que eu venho me, como dizer, me posicionando.
22:19A gente, no Brasil, tem grandes artistas negros, né?
22:22Só na música, eu lembro agora, Milton Nascimento, Gilberto Gil, né?
22:26Até outros, muitos outros, Djavan, né?
22:30Esse pessoal todo serve de inspiração, eu imagino, para todo mundo,
22:33todo brasileiro negro, querer se afirmar e mostrar que pode muito mais.
22:39E negro é lindo, é potente, né?
22:42A gente vai falar da história, né?
22:43A história é baseada em toda essa construção da população negra, né?
22:49Então, é como eu falo, né?
22:53Como a gente vai ressignificar esse olhar, né?
22:57Para a gente se projetar, para a gente avançar, conseguir chegar em lugares que diziam que não.
23:05Mas a gente vai chegar, a gente vai estar lá e vai ocupar.
23:09Então, é isso que eu faço.
23:11O racismo, infelizmente, ainda está muito presente na sociedade brasileira, né?
23:15Nós somos um país de maioria negra, mas os negros ainda sofrem muita discriminação.
23:21Por isso, é tão importante aquelas palavras, são tão importantes aquelas palavras,
23:25não basta dizer, não basta não ser racista.
23:29Você tem que ser, você precisa ser antirracista.
23:33É uma frase da Angela Davis, né?
23:35E é uma frase muito forte e que, eu acho que todo brasileiro que é contra o racismo tem que se manifestar.
23:41Sim, exatamente.
23:42Como diz, né?
23:43Ter os nossos aliados, para que a gente possa crescer e avançar, né?
23:49Jéssica, que conselho você daria a outras meninas, né?
23:52Os jovens negras, que buscam uma vida melhor e que muitas vezes veem nessas diferenças
23:59ou nesse preconceito que ainda existe na sociedade brasileira,
24:03vêem isso como um muro, como uma impossibilidade.
24:06Primeiro que elas consigam quebrar essas barreiras, né?
24:13Do não, ou do racismo, ou de várias outras, como diz.
24:18Porque mulher já é difícil, ser mulher negra ainda é mais difícil, né?
24:23E a gente não trazer isso como algo que a gente não consiga crescer ou avançar, né?
24:34Eu falo isso porque, quanto eu, né?
24:37É 31 anos, né?
24:38Já estou nessa jornada há 10 anos.
24:40E o quanto eu também consegui construir, né?
24:43Então, por conta de possibilidades que eu mesma também construí, né?
24:49Junto com meus pares, porque a gente também não faz nada só, né?
24:51Sim.
24:52Então, a gente vai juntando esse quilombo para que a gente se fortaleça, né?
24:56Então, eu digo para elas que se elas tiverem os seus projetos de vida,
25:01vidas, elas acreditem, né?
25:03Não deixem que isso seja algo de empecilho, né?
25:09E que elas possam se projetar ainda mais, ser protagonista da própria história, né?
25:15Narrar a sua história, né?
25:16E a sua história, ela sempre vai ser importante, né?
25:19Porque é exatamente isso, né?
25:21Por que não falar da sua história, dizer quem você é, né?
25:25Ter orgulho de onde você veio, de onde você está e de onde você vai chegar.
25:30Agora, Jéssica, além de empresária da moda, você falou aí rapidinho no início
25:35que também é bailarina, né?
25:37Como é que a dança entra na sua vida e tem tempo para dançar?
25:41Você é tão ocupada aí com a afromoda?
25:44Então, a dança, na verdade, é a minha construção, minha base, né?
25:50A minha base, como dizer assim, para a sociedade, né?
25:54Da minha comunicação, começa aí da minha comunicação corporal, né?
25:58Da onde eu me expresso nos palcos, né?
26:00Nos grandes palcos.
26:01Então, já participei de vários grupos culturais daqui, né?
26:05Já saí também daqui com esses grupos, né?
26:09E a cultura, na verdade, culturalmente falando, né?
26:14A cultura é a base, é a base da nossa fortaleza, né?
26:18Então, assim, é através dessa cultura que eu me afirmo, que eu me comunico, que eu me empodero, né?
26:24Para depois vir a moda.
26:26No momento, a dança está um pouco parada na minha vida, né?
26:31Porque eu preciso me dedicar mesmo ao que está me trazendo um retorno, não que a dança não traga,
26:37mas esse retorno que eu preciso, como eu falei, como missão, né?
26:42De trabalho, de transformação de vidas.
26:45Mas que ela está sempre ali junto comigo, né?
26:48Porque esse movimento é o que faz eu também crescer enquanto empresária também.
26:54A gente sabe que você não é a única empreendedora negra do Estado, né?
27:00Mas você é um exemplo, né?
27:01Um exemplo reconhecido, né?
27:03Você percebe que a sua atuação é exemplo para outras pessoas?
27:07Tem noção disso?
27:09Então, quando eu tive essa noção, né?
27:13Eu fiquei sentindo, nossa, é muita responsabilidade.
27:17Mas depois eu entendi, né?
27:19Que como eu trago esse trabalho, esse projeto como missão,
27:22Então, a ideia é que apareçam outras Jéssicas, outras Arinas, né?
27:27Outras mulheres que realmente se empoderem, né?
27:30Dessa projeção que elas são, né?
27:33Isso seja empreendendo ou não, né?
27:37Mas que elas consigam entender que elas podem chegar, que elas podem fazer, né?
27:42E então, quando eu tenho esse feedback direto com elas,
27:49Eu fico muito emocionada, eu fico feliz também de saber que,
27:52Através da minha história, do trabalho que eu faço, né?
27:55Eu estou inspirando outras mulheres e afins.
28:00Jéssica, o nosso tempo está acabando e eu queria agradecer a você
28:03Pela presença aqui no Ponto de Vista.
28:06Eu que agradeço.
28:07Eu também vou deixar o nosso arroba aqui,
28:09Para que as pessoas possam também acessar, né?
28:11Arroba Zarina Moda Afro,
28:13Arroba Moda Preta Autoral e Arroba Jéssica Zarina.
28:17Muito bem, obrigado.
28:18E para você que acompanhou até aqui,
28:20Obrigado pela audiência e companhia.
28:22A gente volta na semana que vem.
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