00:00O presidente da república, comandante maior das forças armadas, reuniu os mais altos militares das três forças para dar-lhes a conhecer seus planos.
00:13Logo mais, o ministro de estado da defesa, ele mesmo, convocou os comandantes militares para revelar-lhes a estratégia a ser adotada.
00:23Repare-se bem que a reunião não se deu para que os comandantes tivessem ciência do grave ato, a fim de que a ele resistissem energicamente.
00:39Não. Foram convocados para aderirem ao movimento golpista estruturado.
00:46Foram então expostos a minutas de decretos que estatuíam providências estapafúrdias para a normalidade constitucional a serem tomadas em detrimento das competências do Supremo Tribunal Federal e do Tribunal Superior Eleitoral e do processo sucessório do executivo.
01:03Basicamente, fixava-se que o então presidente da república prosseguiria à frente do governo do país e se impediria a posse e o exercício do cargo pelo candidato que a população escolheu.
01:17O comandante da marinha chegou a assentir ao convite para intervenção no processo constitucional de sucessão do executivo.
01:28Não é preciso esforço intelectual extraordinário para reconhecer que quando o presidente da república e depois o ministro da defesa
01:38convocam a cúpula militar para apresentar documento de formalização de golpe de Estado, o processo criminoso já está em curso.
01:49Não se está, nesse caso, num ambiente relativamente inofensivo de conversas entre quem não dispõe de meios para operar um put.
02:00Quando o presidente da república e o ministro da defesa se reúnem com os comandantes militares sob a sua direção política e hierárquica
02:10para concitá-los a executar fases finais do golpe, o golpe ele mesmo já está em curso de realização.
02:20Some-se a isso a campanha ignóbil, determinada pelo militar, candidato à vice-presidência,
02:26para destruir o ânimo legalista demonstrado pelos comandantes da aeronáutica e do exército ao se afastarem das etapas decisivas do levante.
02:37A campanha pela adesão dos comandantes dessas duas forças prosseguiu, não somente pela pressão difamatória de grupos sociais,
02:46como também por meio de carta pública de militares conjurando comportamento insurrecionista.
02:51A campanha ganhou corpo com acampamentos incentivados e em parte mantidos pelos réus à frente de instalações militares em vários pontos do país
03:03e mais notadamente em Brasília, diante do quartel-general do exército.
03:09Ali, com demonstrações diversas, com faixas e discursos inflamados, pedia-se a intervenção militar,
03:18nada diferente de golpe militar.
03:22Passados mais alguns meses, o público, seduzido pelo discurso de inconformismo com a ordem constitucional, passou à ação física.
03:32O momento culminante da balbúrdia urdida se deu em 8 de janeiro de 2023,
03:38com a tomada dos prédios que cediam os poderes, com articulada destruição física do patrimônio público histórico nacional.
03:47Mas, já antes, também houve ações de violência acordantes com os desejos do grupo,
03:56ao tempo da diplomação do novo presidente da República,
03:59como a invasão da sede da Polícia Federal em Brasília e atos típicos de terrorismo,
04:04como o atear fogo em automóveis e ônibus na capital.
04:09Chegou-se ao extremo da aproximação do aeroporto de Brasília de caminhão repleto de combustível destinado à explosão.
04:16A instauração do caos era explicitamente considerada etapa necessária do desenrolar do golpe,
04:25para que se atraísse a adesão dos comandantes do exército e da aeronáutica.
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