Pular para o playerIr para o conteúdo principalPular para o rodapé
  • há 5 semanas
O podcast Divirta-se entrevista o cantor e compositor Odair José. Próximo de completar 77 anos – pouco mais de 50 dedicados à música – Odair José acumula sucessos e fracassos. Enquanto “Eu vou tirar você desse lugar” foi sucesso instantâneo, mas a história dele vai muito além dos hits, incluir dormir na rua, censura da ditadura e da igreja. É justamente essa trajetória que ele resume no show deste sábado (16/8), no Sesc Palladium. Coincidentemente, data do seu aniversário.

Categoria

🗞
Notícias
Transcrição
00:00Divirta-se! Divirta-se! Divirta-se!
00:02Cultura, advirta-se!
00:04Olá, olá! Hoje o Divirta-se está num formato diferente.
00:07Conversei agora há pouco com o Adair José
00:09e a íntegra da entrevista você confere agora.
00:12Vamos começar o papo pelo show de sábado, né?
00:15Como é que foi garimpar...
00:18Poxa, trazer pra uma hora, não sei, duas talvez, né?
00:2150 anos de carreira, né?
00:23Como é que foi condensar um repertório enorme?
00:2639 discos, enfim.
00:28Imagino que tenha sido desafiador demais, né?
00:31Lucas, é assim...
00:33Montar repertório é sempre muito complicado.
00:35Sempre foi complicado.
00:36Ultimamente mais ainda.
00:39Justamente por ter um repertório muito extenso
00:42e porque o show em si...
00:46Você falou...
00:47Por volta de uma hora e meia, uma hora e quarenta...
00:50É muito difícil você achar um repertório que agrade a todos.
00:55Eu costumo até dizer quando me perguntam
00:57como é que é o show de Guxu?
00:58O show é aquele que não satisfaz.
01:01Porque vai ter sempre alguém que sai dizendo
01:04Pô, o cara não cantou a minha música, entendeu?
01:07O cara cantou umas músicas que não era nem o que eu queria ouvir.
01:10Mas a gente tenta.
01:11Eu estou tentando.
01:12Isso faz anos.
01:13Como te falei ultimamente, mais ainda.
01:16Acertar o repertório.
01:18O repertório é o quê?
01:19Eu comecei gravando em 1969...
01:221969 com 70...
01:24E estou aí até hoje.
01:26Lancei um disco recentemente, no ano passado.
01:28São trinta e nove álbuns.
01:31Por volta de quase quinhentas músicas.
01:32Tem umas canções que tocaram mais no rádio.
01:36São as músicas que as pessoas, de um modo geral, o grande público conhece.
01:39Que aí você tem um universo dessas que tocaram no rádio.
01:42Por volta de trinta, quarenta músicas.
01:45Cinquenta músicas que as pessoas tocaram muito no rádio.
01:48E tem aquelas que às vezes o cara tem o disco.
01:51E ele gosta de uma música que nem tocou tanto no rádio.
01:53E, por outro lado, a gente também procura colocar músicas que a gente acha que vai dar ritmo ao show.
02:03Que a coisa não vai cair.
02:04Que a coisa não vai esfriar.
02:06Então, você vê, é complicado.
02:07Mas eu vou levar para aí.
02:10Primeiro é um prazer.
02:11Vai ser um prazer enorme estar tocando aí no sábado.
02:13Eu gosto muito de BH.
02:15Gosto muito de Belo Horizonte.
02:16Gosto muito de Minas.
02:17Sou casado com uma mineira há quarenta e dois anos.
02:20Já há quarenta e dois anos.
02:22É verdade.
02:23Parece que foi o vento, mas passa rápido.
02:26Vai fazer quarenta e dois anos.
02:28Conheci uma mineira.
02:29Eu morava no Rio.
02:29Conheci uma mineira em São Paulo.
02:31E, por conta dela, terminei vindo morar em São Paulo.
02:34Porque ela não curtia muito a ideia do Rio.
02:36Então, eu gosto muito da cidade.
02:39Gosto muito do povo mineiro.
02:40Antes de conhecer minha esposa, eu já gostava.
02:43E acho que o povo mineiro também gosta do meu trabalho.
02:47Gosta do que eu faço.
02:48Estive agora, recentemente, no Triângulo.
02:51Uberaba, Uberlândia.
02:52Uberlândia.
02:53Foi muito legal.
02:54Então, eu estou levando para a cidade no dia 16 agora.
02:57Que é o dia do meu aniversário, inclusive.
02:59Legal.
03:00Faço setenta e sete anos.
03:02De um modo geral, a gente não costuma fazer show nesse dia.
03:05Embora coincide.
03:07Quando é final de semana que coincide, tem sempre procuras.
03:10Procura, não quer fazer, não quer fazer.
03:13E, às vezes, a gente evita.
03:14Vai falar, tem uma possibilidade de fazer em BH.
03:17Então, vamos para lá.
03:17Poxa, que legal.
03:19É a gente que ganha o presente, né?
03:22Nada.
03:23O presente é meu de estar aí, cara.
03:25Tomara que as pessoas apareçam para a gente.
03:28Eu tenho uma música minha que diz que a felicidade não existe.
03:31O que existe na vida são momentos felizes.
03:34Que eles apareçam para a gente viver em momento.
03:36É verdade.
03:37O Dair, quero falar também sobre o seu álbum mais recente, né?
03:41O do ano passado.
03:42Os seres humanos e a inteligência artificial.
03:45Ali, e aí a partir dele, falar também da sua carreira.
03:49Porque ali reflete muito que, igual você falou, vai fazer setenta e sete anos.
03:54São mais de cinquenta anos de carreira.
03:56Você sempre procurou estar atualizado, né?
03:59Do que está rolando no mundo.
04:01E traduzir isso para a arte, né?
04:05Isso é uma preocupação que você ainda mantém.
04:07Assim, pô, na hora de compor, está ligado, né?
04:11No que está acontecendo.
04:14Ô, Lucas, é verdade.
04:15É uma coisa minha.
04:18Eu me descobri compositor quando eu tinha por volta de quinze anos de idade.
04:23Lá em Goiás, eu sou goiano.
04:25E fui para o Rio com dezoito, dezessete para dezoito.
04:28Eu me descobri compositor.
04:30E a minha maneira de compor...
04:32Eu até me lembro de um amigo meu que eu convivi no Rio.
04:35De sessenta e oito para sessenta e nove.
04:37Eu conheci ele, que é o Raul Zito, né?
04:39O Raul Seixas.
04:40A gente cruzou ali na Visconde do Rio Branco, 53, que era a sede da CBS.
04:47A grande gravadora daquele momento no Brasil.
04:50Acho que 80%, 90% do que se ouvia no rádio era da CBS.
04:55Era o som do Brasil, né?
04:56Era muito na cabeça do povo.
04:59Aquele time da CBS.
05:00O que se fazia na CBS é que conduzia o cenário musical no Brasil.
05:06E eu conheci o Raul ali.
05:08E a gente tinha umas conversas sobre justamente isso.
05:12De que forma a gente vai se colocar no mercado.
05:14Porque a gente chega nesse período de início de 70,
05:19já com muitas coisas já estabelecidas.
05:21Como Bossa Nova, como Jovem Guarda, como Velha Guarda, como Tropicália.
05:25Já tinha...
05:27E a gente sempre teve uma influência muito dessa coisa inglesa, americana, né?
05:32A música...
05:33O rock ali, né?
05:34O rock influenciou muito vocês ali, né?
05:36Você, o Raul.
05:38A gente ouvia muito isso, então.
05:40Na verdade, todo mundo ouvia, né?
05:42Porque o rock sempre foi uma coisa muito popular, né, Lucas?
05:44O rock é popular.
05:46E ele descobriu a maneira dele.
05:49E eu descobri a minha.
05:50A minha qual foi?
05:52Fazer essa análise do dia a dia.
05:54Eu acho que eu sou um compositor que faça uma reportagem daquilo que vejo.
06:00E devolvo em forma de canção.
06:02É a forma que eu tenho de participar.
06:05E eu sempre procurei...
06:06A gente não consegue sempre, mas eu sempre procurei fazer canções que fossem relevantes.
06:12Levar a minha música a ter uma relevância na vida das pessoas.
06:16No sentido de dizer, olha, esse assunto aqui seria legal falar.
06:20Nem sempre, às vezes, mesmo a canção de amor,
06:22Ela precisa ser apenas para, sabe, engabelar a pessoa.
06:28Às vezes, mesmo a canção de amor, você tem que dar um toque sobre o tema.
06:32Olha, é assim.
06:34Se você está sofrendo é por isso.
06:35Então, presta atenção nisso, naquilo.
06:37Então, por essa minha forma de compor,
06:40Essa é uma coisa minha.
06:42Eu estou sempre ligado no que está rolando.
06:45Na minha visão do mundo, na minha visão das coisas,
06:48Eu faço um trabalho, às vezes, até meio voltado para o social, de um modo geral,
06:53Mas o social da vida das pessoas.
06:55E sempre foi assim.
06:57Como eu disse, nem sempre a gente acerta.
06:59No caso dos seres humanos e a inteligência artificial,
07:01Eu, há dois anos atrás, quando eu pensei...
07:06Porque eu disse que já tem um ano que ele foi lançado, praticamente.
07:11E foi lançado no meio do ano passado, né?
07:13Mas ele, antes de ser feito, ele levou um ano e meio, né?
07:16Antes de ser lançado.
07:18E eu ia fazer um disco, Lucas, aqui em casa, no meu estúdio,
07:22Eu e o meu filho, que é o Júnior Freitas,
07:27Que é o multi-instrumentista,
07:29Que hoje em dia, com essa facilidade de computadores,
07:32De ferramentas, de programas,
07:35Vamos fazer um disco, só eu e ele tocando.
07:37Eu falei, eu não vou fazer um disco com banda.
07:39Eu tenho uma banda que anda comigo há 17 anos.
07:41Eu falei, eu vou fazer um disco só com a gente.
07:44Nesse intervalo, nesse período,
07:47Eu observei uma ferramenta que vinha,
07:49Chamada inteligência artificial.
07:52Mas não exatamente de princípio,
07:54Para ela executar nada no disco.
07:57De princípio, o que me chamou a atenção,
08:00O que me levou a colocar o título,
08:03Seres Humanos é Inteligência artificial,
08:05Porque na minha visão,
08:07Eu falei, pô, esse negócio vai ser muito importante na vida das pessoas.
08:12Essa ferramenta, ela vai andar com as pessoas lado a lado.
08:17E as pessoas têm que estar atentas,
08:19Para que ela não ande na frente.
08:20Essa ferramenta vai estar presente na vida das pessoas em tudo.
08:26Isso eu pensando há dois anos atrás, dois anos e meio.
08:29Quando eu ouvi falar pela primeira vez.
08:30As pessoas nem falavam disso ainda.
08:33Aí, começamos a fazer o disco.
08:36Eu conversando com o Júnior,
08:38Cheguei a uma conclusão, ele falou,
08:40Isso é uma ferramenta que a gente pode até usar,
08:44Ela toca com os instrumentos,
08:45Ela pode fazer alguma coisa.
08:46Eu falei, é, vamos pensar nisso,
08:48Mas, de princípio, eu quero dizer para as pessoas que ela existe.
08:52E que as pessoas fiquem espertas.
08:54Trazer a inteligência artificial para a pauta do dia a dia das pessoas.
08:57Esse era o meu pensamento há dois anos atrás.
09:01O que aconteceu, que um dia, eu já tinha gravado uma faixa,
09:04Ele me chamou lá embaixo no dia seguinte e falou,
09:07Escuta aquilo que foi gravado ontem.
09:09Aí eu ouvi, não era o que eu tinha sido,
09:11Eu percebi que não era o que tinha sido tocado ontem.
09:15Estava diferente, era a mesma música, mas estava diferente.
09:17Eu falei, o que está diferente?
09:18Ele falou, eu substituí todos os instrumentos tocados por mim e por você,
09:23Pela inteligência artificial.
09:25Falei, como assim?
09:26Então, eu pedi que ela executasse aquilo que a gente tinha executado.
09:30E ela tocou isso aí.
09:32Quem está tocando agora aí é ela.
09:34A bateria é ela.
09:36Só não está tocando o contrabaixo.
09:38O piano é ela, tudo é ela.
09:40Aquilo eu fiquei ouvindo e falei,
09:42Pô, cara, é isso interessante, porque ficou diferente.
09:45Aí eu percebi, Lucas, que eu poderia trazer o disco que ia ser feito por mim e pelo Júnior.
09:52Eu percebi que eu falei, pô, eu posso ter uma terceira pessoa aí,
09:57que seria a inteligência artificial, fazendo coisas.
10:00E resultado?
10:01Praticamente o disco, a produção é do Júnior Freitas e as ideias são nossas,
10:06as músicas são minhas, já vai com as ideias dos arranjos,
10:08mas tudo aquilo que a gente pensou, a gente, de um modo geral,
10:12passou para a inteligência artificial executar.
10:16E demora um pouco, porque até que você explique exatamente o que você quer,
10:21muita coisa não vem do jeito que você quer,
10:24mas 80% do que veio, veio melhor, melhor do que a gente estava fazendo,
10:30ou então pelo menos diferente.
10:32E ficou muito mais analógico do que se eu estivesse com a banda dentro do estúdio.
10:38E esse é um dos pontos.
10:40O outro ponto é que também mixou, masterizou, ajudou a fazer a parte gráfica da capa.
10:45E eu também estou trazendo o recado que eu falei para você do início,
10:51para as pessoas prestar atenção.
10:53Seres humanos e inteligência artificial.
10:55Hoje, dois anos depois, dois anos e meio depois,
10:58você vê, você sabe concordar comigo,
11:00a inteligência artificial está em tudo.
11:02Está na ciência, na medicina, no futebol, na mídia, no jornalismo, em tudo.
11:07E tudo, a inteligência está na indústria, em tudo quanto é lugar, no agronegócio, em tudo.
11:15E está cada vez mais e mais.
11:17Então era isso justamente que eu queria chamar a atenção das pessoas.
11:20Olha, presta atenção, porque a coisa vai vir aí e vai...
11:23Hoje eu acho até, sem exagero, se não está ainda, vai estar daqui a pouco,
11:29mais importante a inteligência artificial do que a própria internet.
11:33Porque as pessoas, daqui a pouco, tudo está sendo feito pela inteligência artificial, quase tudo.
11:39Então a minha ideia era e continua sendo que as pessoas prestem atenção nessa parceria.
11:46E não veja isso como um inimigo.
11:48Veja como uma parceria, porque se for visto como inimigo, vai ser uma guerra perdida.
11:54Exatamente.
11:54Então é melhor caminhar junto.
11:57Mas é isso. Desculpe se eu me estendi um pouco.
11:58Não, ótimo.
11:59O Daí, agora, continuando nisso, nessa questão do dia a dia, né?
12:05Você falou que as suas composições são como reportagens, né?
12:09Sempre foi assim.
12:11E igual você falou, né?
12:14Eu queria te perguntar sobre isso, essa característica sua,
12:18se isso em algum momento causou certo receio na CBS.
12:22Porque, como você mesmo disse, né?
12:25A CBS era a gravadora que mais executava música em rádio.
12:30Na época, a ditadura estava pesada na parte de censura e tal.
12:35E você sempre tocou em pontos ali que desagradou alguns setores, vamos dizer assim, né?
12:41A CBS, de alguma forma, ela te censurava?
12:44Chegou a te censurar ou não?
12:45Ela deixava livre e censura fica pro governo?
12:48A CBS não deixava ninguém livre.
12:52A gente não tinha muita liberdade, eu não sei...
12:56Bom, dos artistas que eu conhecia lá,
12:58talvez com a exceção do Roberto Carlos,
13:00que tinha um universo particular dele com a empresa,
13:05mas eu também não sei até que ponto ele fazia exatamente o que ele queria,
13:09porque às vezes a gente ouvia a história que ele queria uma coisa e vinha outra.
13:12É assim, eles não deixavam a gente livre.
13:16Tanto é que tanto eu quanto o Raul saímos de lá, e outros saíram também.
13:21Porque eu assino com a CBS no ano de 70 e fico 70 e 71, era um contrato de dois anos.
13:28No primeiro disco, eu cumpri exatamente a regra básica que era o som da CBS.
13:35No segundo também.
13:37No segundo, eu já tive uma certa dificuldade,
13:39porque o segundo disco meu de 71,
13:41tem uma música chamada Vou Morar Com Ela,
13:45que era lá na CBS de um disco chamado As 14 Mais.
13:48Não sei se é do seu conhecimento.
13:50Sim, sim, sim.
13:51Você até entrou, a sua música entrou nas 14 Mais.
13:53É uma coletânea, Lucas, que vendia muito.
13:58Era, por exemplo, um exemplo assim, pra simplificar.
14:01Se o disco do Roberto Carlos, que fazia muito sucesso na época,
14:05era o que mais vendia,
14:06As 14 Mais era o segundo que mais vendia no Brasil.
14:10Porque tinha também lá vários artistas,
14:12inclusive o próprio Roberto Carlos e outros ídolos da época.
14:16Eu sou lançado nesse disco em 70 com a música Minhas Coisas.
14:20Muito embora antes eu já tivesse gravado a música Uma Lágrima,
14:23que foi regravada,
14:25regravada pro meu privilégio aí pela Fernanda e pelo Johnny no Patufu, né?
14:32Uma Lágrima que vai estar no show, vou cantar essa música.
14:35Na verdade, essa foi a minha primeira gravação em 69.
14:38Mas em 70 eu entro nas 14 Mais com a música Minhas Coisas.
14:43E tudo bem, aí era uma coisa que estava na cara da CBS.
14:47Mas o Vou Morar Com Ela já foi um som diferente.
14:50Que tinha o Dom Salvador, não sei se você lembra,
14:52que tinha uma banda, Dom Salvador,
14:55ele era o pianista daquela banda,
14:57esqueci o nome dela agora,
14:59uma banda muito swing.
15:01Eu vi o Dom Salvador tocando em algum lugar
15:02e falei, pô, esse cara toca muito piano,
15:05mas era uma coisa swingada,
15:07meio jazz, samba, rock, sei lá o que que era.
15:09E eu trago o Dom Salvador pra tocar o piano ali.
15:12E essa música, ela vai pra 14 Mais.
15:14O nosso presidente, o seu Evandro, já não gostou.
15:18Porque tá na 14 Mais, ele colocou e tal.
15:21devido ao meu sucesso das minhas coisas.
15:24E eu era um artista que estava sendo preparado
15:26pra ocupar um espaço maior dentro da empresa.
15:28Mas ele não gostou.
15:29O recado que eu recebi foi,
15:30não é isso que espera que você faça.
15:34E esse foi o segundo disco.
15:36Quando eu faço, sem contrato,
15:39o primeiro disco que faz comigo é o Raul Zito,
15:43o Raul Seixas,
15:44mas o meu produtor era o Rocine Pinto,
15:46grande compositor, grande diversionista.
15:48Só que o Rocine não gostava muito de estúdio.
15:50Então o Raul ia pra lá.
15:52O Rocine diz, olha, o seu contrato acabou.
15:55E você, mas eu consegui um compacto simples pra você,
15:58que era muito comum gravar compacto simples na época,
16:01antes do LP.
16:03Aí eu apareço com a música,
16:04eu vou tirar você desse lugar.
16:06Então eu quero gravar isso.
16:07Cara, foi um horror,
16:09porque o próprio Rocine falou,
16:10você é louco.
16:11Porque como é que você vai gravar?
16:13Eu te dou uma oportunidade,
16:14já sem contrato,
16:15de você fazer um compacto,
16:16já que o homem não gostou do voo morar com ela.
16:19Você me vem com uma música
16:20que diz que vai tirar uma puta do puteiro
16:22e vai casar com ela?
16:23Você é louco, isso não existe,
16:25não funciona.
16:26O mercado não funciona assim.
16:29Aí citou vários artistas,
16:30inclusive o próprio Roberto Carlos,
16:32citou pessoas da Bossa Nova,
16:34citou bohemias,
16:34citou tudo da velha guarda.
16:36Falou, ninguém fala isso.
16:38Então isso não vai dar certo.
16:39Bom, eu insisti e tal,
16:40e tive alguns apoiadores do meu lado lá,
16:42o próprio Raul Zito,
16:45que estava junto,
16:46falei, não, a música é boa,
16:47deixa eu gravar e tal.
16:48Alguns foram...
16:48E eu terminei gravando a música.
16:51E eu não tinha contrato.
16:53O que aconteceu?
16:54A música pipocou,
16:56de tal forma,
16:57que até hoje ela é um clássico.
16:58É uma música que parece...
17:00Eu toco ela no show,
17:01parece que ela foi lançada ontem.
17:02Porque ela é um sucesso desse meio.
17:05Quando eu toco ela no show,
17:06parece que era um sucesso recente do Brasil.
17:09E ela não,
17:09ela tem 53 anos.
17:11Então,
17:13a música fez um sucesso muito grande.
17:16Muito grande.
17:17Mas,
17:18contrariando essa visão da CBS,
17:20do próprio Rocino e da própria...
17:21Pô, o cara vai falar de puta.
17:23E eu fui muito questionado na época,
17:25inclusive, na mídia.
17:26Como é que o cara...
17:27Aí a censura entra.
17:29A censura entra aí.
17:30Mas aí, como eu já não tinha contrato, Lucas,
17:32para resumir a sua resposta,
17:34eu saio da CBS e vou para a Philips,
17:37que foi para o selo Polidó.
17:38Na condição...
17:40Trabalhar com o André Midani,
17:42com o Jário Pires,
17:42com o Eliane de Oliveira,
17:43com o Roberto Menescal.
17:45A Philips,
17:46todo mundo que me andava comigo na época,
17:48disse,
17:48você vai fazer uma loucura.
17:50Porque a Philips tinha 5% do mercado,
17:52não tinha nada.
17:53Você vai sair de uma gravadora
17:54que tem 80% do mercado,
17:55como que não vende nada?
17:56Eu fui para lá.
17:58Mas na condição,
17:59o seguinte,
17:59eu tinha várias propostas.
18:01Permanecer na CBS,
18:02que queria que eu renovasse o contrato.
18:03Era a música mais sucesso do Brasil,
18:06o disco mais vendido era o meu.
18:08Mas espontaneamente.
18:09Eles nem trabalharam nada.
18:10O disco que aconteceu espontaneamente,
18:12a música que eles achavam
18:14que era uma do surdo.
18:15Exato.
18:16Caiu no gosto do povo,
18:17o brasileiro se identificou com ela,
18:19e como disse,
18:19até hoje é identificado com ela.
18:22Aí eu pego,
18:23acham,
18:23isso aqui não vai rolar,
18:24eles vão me boicotar minhas ideias.
18:26E eu já tinha umas ideias,
18:28para ir para o lado de Neil Young,
18:30para ir para o lado de,
18:31sabe,
18:32de Cat Stevens,
18:33de, sei lá,
18:34de Neil Diamond.
18:35Eu tinha uma ideia
18:36que não era bem aquele som da CBS.
18:38Eu tinha uma outra ideia.
18:40Eu tinha uma ideia,
18:41eu conheço,
18:42gostava muito,
18:42alguns artistas do Woodstock,
18:44eu tinha uma ideia
18:44de fazer uma coisa
18:45do meu jeito,
18:47mas não naquele som da CBS.
18:49Até porque o som da CBS
18:50já tinha dono.
18:52Que eram os ídolos de lá,
18:53o Roberto e outros.
18:55Então,
18:55se você continuasse fazendo aquilo,
18:57você ia fazer uma coisa
18:58que você ia copiar os caras.
18:59Não tinha como você...
19:00Porque até o órgão,
19:02até o violino,
19:03tudo era igual.
19:04O baixo,
19:05tudo era igual.
19:06Eu saio de lá
19:07e vou para a Filips.
19:09Mas eu vou tirar você desse lugar,
19:11já me levou até
19:12a censura federal,
19:15porque foi a primeira...
19:16Fui chamado lá,
19:17através de uma carta,
19:18no Rio,
19:19para o departamento de censura,
19:21para me explicar
19:22sobre essa música,
19:23porque eles não gostavam do título.
19:25Eu vou tirar você desse lugar.
19:26os caras achavam
19:28que eu estava falando
19:29entre aspas
19:30do governo federal,
19:31do governo federal militar.
19:33Aí, cara,
19:34eu com 20 e poucos anos de idade,
19:3621 para 22,
19:3722, sei lá,
19:39falei,
19:39mas não é.
19:40Eu estou falando
19:41do amor de um cara
19:42por uma moça
19:42que vai até a boate,
19:44conhece a moça,
19:45uma prostituta,
19:45se apaixona por ela.
19:47Quando eu expliquei
19:47o que era,
19:48eles ficaram mais horrorizados ainda.
19:50Piorou a situação.
19:53Piorou,
19:53porque o problema
19:54para eles,
19:55na cabeça deles,
19:56aquela caretice toda,
19:57era pior.
19:58Porque aí eu estava
19:58me atentando contra a moral,
20:01contra a família.
20:02O cara,
20:02como o senhor está dizendo
20:03que o senhor vai tirar
20:04uma prostituta
20:06e casar com ela?
20:07O que é absurdo.
20:08O que o senhor está querendo
20:09propor a família brasileira?
20:10Bom, aí começou
20:11essa história
20:13de censura,
20:14mas eu tive que sair
20:15da CBS, sim.
20:17Cara,
20:17e quando que você se sentiu
20:18assim,
20:19verdadeiramente livre
20:20para produzir?
20:22Porque, por exemplo,
20:23eu vi,
20:24pelo menos,
20:25o que eu acho
20:26de acompanhar
20:27o seu trabalho,
20:28o Ibernar,
20:29na Casa das Moças,
20:30ouvindo rádio,
20:32é um disco
20:32que eu acho
20:33que ele, assim,
20:34é muito,
20:35o Odais,
20:36é livre.
20:37Ali você experimenta
20:38muita coisa,
20:39até mesmo
20:40em parcerias,
20:41com as Bahias
20:42e com o Zé Mineiro
20:43e tal.
20:44E eu queria saber
20:45quando que foi
20:45que você se sentiu mesmo?
20:46Nossa,
20:46agora eu posso fazer
20:48o que eu quero,
20:49o que eu estou afim,
20:50assim.
20:51Olha,
20:52quando eu fui
20:52para a Philips,
20:53a minha condição
20:54para assinar
20:55um contrato
20:55com a Philips,
20:56como eu te disse
20:56antes,
20:58digo Philips
20:59barra Polidó,
21:00porque Polidó
21:01era o selo
21:01da Philips
21:02que lançava
21:04meus discos,
21:05quando eu fui
21:06para lá,
21:06tinha várias
21:07gravadoras
21:07querendo o Odair
21:08José
21:08naquele momento,
21:09um garoto novo,
21:09estourado,
21:10vendendo um milhão
21:11de compactos,
21:11todo mundo queria.
21:13Eu ofereci um dinheiro,
21:14um dinheiro
21:14que se pudesse
21:15comprar uma casa,
21:16um carro,
21:17então eu falei,
21:18olha,
21:18tudo bem,
21:19o dinheiro
21:19para comprar a casa,
21:20o carro,
21:21tudo bem,
21:21até porque eu estava
21:21fazendo show
21:22praticamente cinco por semana,
21:25nem precisava muito
21:25daquele dinheiro,
21:26eu já estava ganhando
21:27o meu dinheiro,
21:28até porque dinheiro
21:28de gravadora
21:29nunca foi luva,
21:30dinheiro de gravadora
21:31sempre foi um adiantamento
21:32em cima do que você vende,
21:33depois o cara fica
21:34descontando lá.
21:36Então,
21:36o que acontece é,
21:37eu falei,
21:38eu quero vir para cá,
21:39eu venho,
21:39porque acho que vocês
21:40me derem liberdade,
21:42vocês não podem se meter,
21:43nem na capa do meu disco
21:46vocês podem se meter,
21:47vocês não vão se meter
21:48na escolha das músicas,
21:49nos músicos
21:50que eu vou escolher
21:51para gravar,
21:51vocês não vão se meter
21:52em nada.
21:53E isso,
21:54isso foi,
21:55e isso eu consegui
21:56lá na Polidó,
21:57na Philips.
21:59Evidentemente,
22:00que quando ele diz
22:01que não vão se meter
22:02em nada,
22:03mais ou menos.
22:05É uma empresa,
22:06né?
22:06É mais ou menos.
22:08Aí eu comecei
22:09a vender discos demais,
22:10você tem uma ideia,
22:12minha venda explodiu
22:13na Philips,
22:14eu virei o da José Grande,
22:16do Vou Tirar do Terce Lugar,
22:17mas junto com esse trabalho
22:18da Philips,
22:19porque aí lancei
22:19uma LP no mesmo ano
22:20de 72,
22:21vendeu mais um milhão
22:22de discos,
22:23depois fui lançando
22:23discos,
22:24só vendendo um milhão,
22:25um milhão,
22:25tocando tudo no rádio.
22:27O que acontece,
22:28quando eu falo um milhão,
22:29não é um negócio
22:30para desnobar a série,
22:30porque não vendia
22:31esse um milhão.
22:32Sim, sim.
22:33Era um número
22:34que começou a acontecer ali.
22:38O Roberto também
22:39começou a vender e tal,
22:40mas começou a acontecer ali.
22:42Aí também a Napolidó,
22:43o Tim Maia começou a estourar,
22:45o Raul também já foi para lá,
22:46estourou,
22:46e outros artistas populares.
22:48E de repente
22:49nós colocamos a Philips,
22:50que era a fonograma,
22:51na verdade,
22:52a razão social,
22:54a fonograma,
22:55nós colocamos ela
22:55na frente da CBS.
22:57O nosso som da fonograma
22:59passou a ser o som do rádio,
23:01junto com o da CBS,
23:02ou mais até.
23:03Então nós criamos
23:04um novo hábito
23:05do povo brasileiro
23:06a ouvir um outro som.
23:08Só que o que eu falei
23:09mais ou menos,
23:10é mais ou menos.
23:11O meu contrato,
23:12por exemplo,
23:12o André Bidano sai de lá,
23:14vai para a Orne,
23:15aí o Jair sai,
23:17volta para a CBS,
23:18para ser presidente,
23:20ele já tinha sido de lá,
23:22mas ele era diretor artístico,
23:23volta como presidente,
23:24e o Menescal
23:25permanece com o Heleno
23:26lá na fonograma.
23:28Mas aí,
23:28quando eu tenho a ideia
23:29de fazer o filho
23:31de José Maria,
23:32em 77,
23:34que eu ia fazer lá.
23:36Aí,
23:36quando eu digo
23:37a ideia qual é,
23:37não sei se você conhece
23:38o filho de José Maria,
23:39que eu conheço
23:40como uma ópera rock.
23:43Inclusive,
23:43despertou a ira
23:44de setores da igreja
23:46também, né?
23:48Todo mundo ficou irado,
23:49viu, Lucas?
23:50Todo mundo.
23:51A mídia não gostou,
23:52nem minha família não gostou.
23:53A mídia também,
23:54é verdade?
23:54A sua família também não?
23:55Ninguém gostou.
23:57Ninguém gostou.
23:57Eu me lembro
23:57que eu fui trabalhar
23:58nesse momento
23:59com o Guilherme Araújo,
24:00como produção,
24:02como produtor de show
24:03e tudo de agenda,
24:05e o Guilherme Araújo
24:05já trabalhava com o Caetano,
24:07com o Gil,
24:07com a Betânia,
24:08com o Ney,
24:08Mato Grosso,
24:10com uma série de gente,
24:11com a Gal Costa,
24:12e eu fui trabalhar com ele,
24:13eu era um artista popular
24:15que ele não tinha lá.
24:16Aí,
24:17eu falei para ele,
24:18eu tenho um projeto assim,
24:19assado,
24:19e ele falou,
24:20não,
24:20eu toco fazer,
24:21vamos fazer,
24:21eu falei,
24:22tem que ir para teatro,
24:23ele é tipo uma ópera,
24:25música plugada uma na outra,
24:27conta a história
24:27de uma pessoa e tal,
24:29e ele entendeu,
24:30só que aí a Poligrã
24:31dá o pé para trás,
24:33diz,
24:33ah,
24:33isso não vai,
24:34e eu queria um álbum,
24:35isso,
24:35porque eram 18 músicas,
24:37isso não vai vender e tal,
24:38bom,
24:38enfim,
24:39e vieram para mim,
24:41e disseram assim,
24:41você faz o seu álbum,
24:43o seu filho,
24:43José e Maria,
24:44mas faz um disco normal
24:45para a gente,
24:46um disco de carreira.
24:48Eu falei,
24:48não,
24:49cara,
24:49vocês não estão entendendo,
24:50o disco de carreira
24:51é esse mesmo.
24:53Por isso que eu falei,
24:54então tem limite,
24:54eles não aceitaram a ideia,
24:55aí eu peguei...
24:56Aí você teve que fazer o outro?
24:58Não,
24:58não fiz,
24:59eu saí de lá.
24:59Ah,
25:00aí você saiu?
25:01Aí eu cheguei para o Roberto Menescal,
25:03que era o que estava conversando comigo,
25:05e com o Heleno,
25:05eu falei,
25:05eu vou sair daqui,
25:07vou para o seu gravador,
25:08porque não é assim que eu estou vendo a coisa.
25:10Aí todo mundo me aconselhando,
25:12não faça isso,
25:13que você vai perder o mercado e tal,
25:14não,
25:15mas é o que eu tenho que fazer,
25:16porque na verdade,
25:17eu fiquei fazendo de 72 a 76,
25:20a mesma coisa,
25:21eu vi que eu estava me repetindo muito,
25:23sabe,
25:24eu sempre com essa ideia de pegar as coisas,
25:26levar para o povo como pílula,
25:28como a música da empregada,
25:29tudo isso foram recados que eu dei,
25:31por exemplo,
25:32a música da pílula,
25:34ela foi proibida e tudo,
25:36só foi liberada quando a censura no Brasil acabou,
25:38quando o governo militar acabou,
25:40mas a pílula era um assunto,
25:42eu gostava de trazer o assunto,
25:44como é até hoje,
25:45para a pauta,
25:46vamos conversar sobre isso,
25:47aquele assunto que ninguém quer conversar,
25:49a pílula era um deles,
25:50a censura proibiu,
25:51a empregada doméstica é idem,
25:54a empregada doméstica não era uma profissão no Brasil,
25:57a empregada doméstica,
25:59ela trabalhava como um agregado da casa,
26:01da família,
26:01ela ficava por ali e tal,
26:03como se fosse um favor que você fazia para ela,
26:07e ela ficava ali,
26:08não tem horário,
26:09não tem nada,
26:10ficava por ali,
26:11e eu falei,
26:12não,
26:12isso está errado,
26:14então eu sempre gostei dessas,
26:16desses toques,
26:18está errado,
26:18vamos fazer isso,
26:19fazer aquilo,
26:19e o filho que o Zé Maria também me marcou,
26:22mas eu percebi que eu estava rodando muito em volta do meu negócio mesmo,
26:25falei,
26:25pô,
26:25eu tenho que estar muito repetitivo,
26:27eu tenho que fazer um trabalho diferente,
26:29diferente no sentido assim,
26:31com a mesma pegada de observação,
26:33mas eu tenho que mudar um pouco,
26:35mudar a química da melodia das coisas,
26:40a forma de dizer as coisas,
26:41é quando eu tive a ideia de escrever um disco com a história da pessoa,
26:45em seus momentos,
26:46desde quando nasce,
26:47momento de fraqueza,
26:48momento de merda,
26:50momento de disco,
26:51enfim,
26:51esse é o filho de Zé Maria,
26:54aí eles não topam fazer,
26:55que eu sou obrigado a sair de lá,
26:56e vou para a BMG,
26:59que era S.A. Vito antigamente,
27:01eu saio e vou para lá,
27:03aí resultado,
27:04não pôde ser um álbum,
27:06porque a censura proibiu oito músicas do disco,
27:09o disco só saiu com dez,
27:11virou um disco simples,
27:13e todo mundo odiou o disco,
27:14todo mundo da igreja ao governo,
27:18a minha família,
27:19o frentista,
27:20o pessoal do rádio não queria tocar,
27:22não quis tocar,
27:23e hoje o disco,
27:24eu fiquei vivo,
27:24não morri antes,
27:25que poderia ter morrido com outros colegas meus,
27:28hoje,
27:2848 anos depois,
27:30o disco,
27:31ele é bem aceito,
27:33as pessoas gostam muito dele,
27:34reconhece nele um trabalho bem feito.
27:36Vira um clássico,
27:37eu arrisco de ele.
27:38Vira um clássico.
27:39Agora,
27:39sobre a liberdade que você falou,
27:41você citou o hibernar,
27:42o hibernar é também uma coisa parecida com o filho de Zé Maria,
27:46parecida em quê?
27:48Porque,
27:48em vez de ser uma pessoa como o filho de Zé Maria,
27:51é um ambiente.
27:53Eu vou me hibernar na casa das moças,
27:56e vou ficar ouvindo o rádio,
27:57e lá,
27:58a gente vai conversar,
27:59aí vem os assuntos.
28:00E essa liberdade,
28:03eu tive,
28:04eu banquei ela no filho de Zé Maria,
28:08falei,
28:08vou fazer,
28:09e pronto,
28:09só faço se for assim.
28:11E depois disso,
28:13aí vem o meu erro.
28:15Por conta desse disco,
28:16que ninguém gostou,
28:17eu comecei a fazer concessões.
28:20Então,
28:21vamos fazer o que os caras querem,
28:23vamos fazer o que o produtor quer.
28:24Aí,
28:25desculpa,
28:26eu fiz um monte de disco de merda.
28:28Merda que eu digo assim,
28:28os discos são ruins?
28:29Não.
28:30Não é a sua identidade,
28:33não é a sua essência que estava linda.
28:35É,
28:35aí você fica fazendo o disco que o produtor quer,
28:38que a gravadora quer,
28:39faz sucesso?
28:40É,
28:40faz,
28:41toca ali,
28:41toca aqui,
28:42as pessoas conhecem as músicas,
28:43mas não é,
28:44hoje,
28:44olhando para trás,
28:45eu digo,
28:45não precisava ter feito aquilo,
28:46eu devia ter bancado a minha ideia,
28:48vou fazer,
28:48não que eu fosse fazer todo ano um disco
28:50filho de Zé Maria,
28:52mas,
28:52eu ia fazer disco sempre procurando uma leitura
28:55para ser relevante,
28:57e não para ficar essa mesmice.
28:59mas aí o que acontece?
29:01Dentro das gravadoras,
29:02isso é impossível,
29:04você tem que fazer aquilo que eles acham
29:06que já está no mercado que vai vender,
29:08eles não acreditam que você possa fazer uma coisa diferente e vender,
29:13e vender,
29:14por exemplo,
29:14vou tirar você desse lugar,
29:15o cara não queria,
29:16eu fiz e vendeu,
29:18talvez,
29:19até hoje,
29:20ela vendeu mais de 5 milhões de cópias,
29:22aquele compacto,
29:23o que acontece é,
29:24a pílula,
29:25alguém ia deixar alguém gravar a pílula,
29:28gravei na Polidó,
29:28porque eles não tinham como brecar,
29:30eu ia para o estúdio,
29:31gravava,
29:31e a música saía e estourava,
29:33eu estava vendendo muito disso,
29:34então,
29:35aí eu comecei a fazer aquilo que o produtor quer,
29:38o que o produtor quer?
29:39Repetir o que o outro artista já está fazendo,
29:41o que o rádio já está tocando,
29:42que não sei o que,
29:43não sei o que,
29:44porque a margem...
29:46Não, pode falar,
29:46a margem de erro...
29:48Não, pode falar,
29:49desculpa,
29:50eu te interrompi.
29:51Pode falar.
29:53Não, eu te interrompi,
29:54desculpa,
29:54pode continuar.
29:55Não, não,
29:56aí o que acontece,
29:57aí eu só voltei a ter essa liberdade mesmo,
29:59quando eu passei a fazer,
30:01eu mesmo,
30:01meus próprios discos independentes,
30:04e já que começou a partir do...
30:06porque é curioso isso,
30:07eu fiz um disco com o Zeca Baleiro,
30:09meu amigo,
30:09Zeca,
30:10em 2010,
30:122009,
30:13o Zeca falou,
30:13pô,
30:14vamos fazer um disco,
30:15eu estou com o estúdio aqui,
30:15estou com o selo Saravá e tal,
30:17eu falei,
30:17vamos,
30:18eu falei,
30:18Zeca,
30:19eu não estou afim,
30:19vamos fazer,
30:20vamos fazer,
30:21e terminei de fazer um disco com ele,
30:22meu amigo,
30:23o Zeca é muito meu amigo,
30:24gosto muito dele,
30:25mas terminou também não deixando fazer o que eu queria,
30:28que o negócio de produtor é terrível,
30:33diz que tem meia minha cara,
30:35que a outra cara é do próprio Zeca,
30:37entendeu?
30:38Agora,
30:39Odair,
30:39deixa eu te perguntar,
30:40sobre essas concessões que você começou a fazer,
30:43cara,
30:43isso,
30:44nessa parte da sua vida,
30:47isso não dá uma depressão não,
30:49de,
30:49putz,
30:49eu estou fazendo uma turnê de um disco que não é a minha cara,
30:53não sou eu e tal,
30:54e eu estou sendo obrigado a fazer isso,
30:58Lucas,
30:59eu costumo dizer que,
31:01as pessoas dizem que eu fiz,
31:04quem está do outro lado,
31:06e tem uma visão diferente da que eu vou te passar,
31:09eles dizem que eu fiz muita besteira,
31:11que eu errei,
31:12porque fez o filho de Zé Maria,
31:15que aí eu fui me envolver com a boemia,
31:17com drogas,
31:18com bebida,
31:19que não sei o que,
31:20não sei o que,
31:21mas isso realmente foi verdade,
31:23agora,
31:23o que acontece é assim,
31:24quando eu faço,
31:25você faz o negócio,
31:26e vê que o mundo é contra,
31:28aquele projeto que você tinha,
31:29de vender não um milhão,
31:31mas cinco milhões,
31:32que eu estava me baseando,
31:34no Frampton,
31:34ao live,
31:35o Peter Frampton tinha feito um disco,
31:38nos Estados Unidos,
31:39um duplo,
31:40que vendeu 25 milhões de algo duplo,
31:42como os Alive do Peter Frampton,
31:44o Paul McCartney estava vendendo um disco também,
31:46falei,
31:47pô,
31:47esses caras estão vendendo muito disco,
31:48eu vou fazer um disco,
31:50para esse lado,
31:51no Brasil,
31:51em 77,
31:52ainda não tinha bandinhas fazendo sucesso,
31:54eles só começam a fazer sucesso,
31:57a partir dos anos 80,
31:58porque aí eu tinha visto,
31:59falei,
32:00pô,
32:00vai rolar isso aqui,
32:01o que está acontecendo com o Peter Frampton,
32:03nos Estados Unidos,
32:03no mundo,
32:04vai acontecer no Brasil,
32:06esse novo trabalho do Paul McCartney,
32:07esse negócio do Ings,
32:08essas coisas,
32:09vai acontecer no Brasil,
32:10e outros artistas,
32:12outras bandas,
32:13vai acontecer no Brasil,
32:16o que acontece,
32:18o Neil Young,
32:19estava estourando,
32:19com o Harvard,
32:20essas coisas todas,
32:22falei,
32:22isso vai acontecer no Brasil,
32:23e eles não entenderam,
32:25não quiseram,
32:26era como se fosse assim,
32:27o cantor da pílula,
32:28ele não pode fazer isso aí,
32:30aí,
32:31o que acontece,
32:32a partir dos anos 80,
32:33veio aquela onda de muitas bandas no Brasil,
32:36veio Cazuza,
32:36veio Lulu Santos,
32:37veio uma série de gente,
32:39que fez exatamente aquilo,
32:40que eu estava dizendo,
32:41que tinha que ser feito,
32:43mas comigo não deu certo,
32:44e era muito frustrante para mim,
32:46você fica fragilizado,
32:48quando você fica fragilizado,
32:50tudo dá errado,
32:51as pessoas montam em cima,
32:52porque eu fazia os discos,
32:54que eu sabia que aqueles discos não eram fortes,
32:57eu sabia que aqueles discos não tinha,
32:59não tinha grandeza,
33:01sabe,
33:02para se impor,
33:03e você fica fragilizado,
33:05aí você começa a fazer um monte de besteira.
33:07É foda,
33:08é foda.
33:09Agora,
33:09eu queria te perguntar,
33:10tem uma história que eu acho muito curiosa,
33:13sua,
33:14é que aos seis anos,
33:15você pediu um violão de presente,
33:17e ganhou um cavaco.
33:19E como é que foi,
33:23eu queria saber a partir daí,
33:24como é que você,
33:26como é que você se comportou,
33:27você aprendeu a tocar o cavaco,
33:29ou deixou ele de lado?
33:30Não,
33:30deixou ele de lado?
33:32Ele está aqui até hoje,
33:33é que ele está em um lugar mais longe,
33:35que não tem como eu pegar,
33:36mas ele ainda está comigo até hoje.
33:38Na verdade,
33:38quando eu tinha seis para sete anos,
33:41eu me lembro,
33:42eu acho que eu fiz sete anos,
33:44eu nasci lá em Morrinhos,
33:46ali,
33:46perto de Caldas Novas,
33:47onde tem aquelas águas quentes,
33:48aquelas coisas.
33:50Eu sou filho de um pequeno agricultor,
33:52e eu me lembro que,
33:53quando tinha o negócio da colheita deles,
33:55lá na fazenda,
33:57tinha umas festas,
33:59e eles contratavam os violeiros,
34:01aqueles negócios,
34:02moda de viola,
34:03safona,
34:04e eu vi,
34:05eu fiquei,
34:06numa noite daquela,
34:07eu com seis anos de idade,
34:08isso é para sete,
34:09eu olhando pela,
34:11que criança tem que dormir cedo,
34:12não pode participar das festas,
34:14eu olhando pelo buraco da porta,
34:16eu vi o negócio do violão,
34:18achei interessante,
34:19e pedi para minha mãe,
34:20eu falava com meu pai,
34:21que eu queria ganhar um violão de Natal,
34:23naquele Natal,
34:24acho que do meu sete anos,
34:25e eu falei que ia ganhar um violão,
34:29aí foram na loja,
34:30e acho que imaginaram o meu tamanho,
34:32uma criança de seis, sete anos,
34:35e acharam que o violão proporcional pelo meu tamanho
34:37era o cavaquinho,
34:39então, quer dizer,
34:40eles não se antenaram que cavaquinho era uma coisa,
34:43e o violão era outra,
34:44mas aí compraram o cavaquinho,
34:46você pergunta,
34:47você aprendeu a tocar?
34:48Não,
34:49porque,
34:50é assim,
34:51eu me lembro que eu morava na rua ali,
34:54na Avenida Couto Magalhães,
34:56que era a rua para o pessoal,
34:57que tinha um bairro chamado Açude,
34:59porque os caras vinham para o centro da cidade,
35:01passavam pela porta da minha casa,
35:02morrinha,
35:02era uma cidade pequena naquela época,
35:05hoje tem o quê?
35:0560 mil habitantes,
35:0670 mil habitantes na época,
35:07e devia ter 10 mil,
35:09se é que tinha,
35:10e passava um cara que eu sabia de bicicleta,
35:13ele descia de manhã cedo para trabalhar,
35:15eu sabia que ele tocava na banda do coreto,
35:17e ele era o cara da guitarrinha lá,
35:19sei lá,
35:19o violão elétrico,
35:21ele tocava lá,
35:22ou coisa do gênero,
35:23ele passava,
35:24e eu me atrevi,
35:25falei com esse cara,
35:26um senhor para mim,
35:27era uma criança,
35:28sete anos de idade,
35:29que eu te mostrei o cavaquinho,
35:31que eu queria aprender,
35:31então ele,
35:32quando passava de manhã,
35:33ele muito gentil,
35:34muito bondoso,
35:35ele me ensinava um acordezinho,
35:37e eu ficava o dia inteiro batendo,
35:38quando ele voltava no final do dia,
35:40eu ficava esperando,
35:41ele mostrava um acordezinho para ele,
35:42me ensinava outro,
35:43então eu aprendi algumas coisas no cavaquinho,
35:46mas eu continuei insistindo com a minha mãe,
35:47que aquilo não era um violão,
35:49até que me deram um violão,
35:50uns seis,
35:51sete meses depois,
35:52o cavaquinho ficou mais como lembrança.
35:54E quando que você percebeu,
35:56assim,
35:56é música,
35:57de fato,
35:58o que eu tenho que fazer?
36:01Cara,
36:01eu acho que eu já percebi isso em Morrinhos mesmo,
36:03eu saí de Morrinhos com 13 anos,
36:05fui para Goiânia,
36:07quando eu fui para Goiânia,
36:08eu já tinha esse violão e tal,
36:10eu te falei,
36:11eu sei que eu me descobri compositor
36:13por volta de 15 anos de idade,
36:15quando eu chego em Goiânia,
36:16naquele período,
36:16todo o bairro,
36:19ou quase todos os bairros,
36:20ou quase toda a rua,
36:21ou todas as escolas,
36:22tinha uma banda,
36:23tinha um grupo musical,
36:25por conta de Rolling Stone,
36:26por conta de Beatles,
36:27e outras bandas,
36:29por conta de Elvis Presley também,
36:30que fazia muito sucesso,
36:32mas principalmente por causa de Beatles,
36:34em todo lugar tinha banda,
36:35e eu já cheguei em Goiânia,
36:37com 14 anos,
36:37já fui para a escola,
36:38já conheci umas pessoas,
36:39já tinha umas bandazinhas,
36:41e tal,
36:41e eu saí,
36:43e eu falava,
36:44pô,
36:44naquela época,
36:46dizia o que era bom,
36:46jogador de bola,
36:48que eu era bom de jogar bola,
36:49eu tenho um irmão que já faleceu,
36:51minha família é cheia de jornalistas,
36:53entendeu,
36:54ele era jornalista,
36:56e lidava com esporte,
36:57era editor do jornal popular,
36:59lá em Goiânia,
37:00e ele cismou que eu tinha que ser jogador de bola,
37:04ele era 6 anos mais velho do que eu,
37:06porque eu era bom,
37:07teve um torneio,
37:08de escola contra escola,
37:10lá de futebol,
37:11e eu sobressaí,
37:13na minha escola eu sobressaí bastante,
37:15aí queriam me levar para o Juventus,
37:16o Jornal do Goiás,
37:17do Atlético,
37:19era de quem,
37:19do Jornal,
37:20e aí eu falei,
37:21cara,
37:21isso não é meu negócio,
37:22não é meu negócio,
37:22é tocar violão,
37:23fazer música,
37:24eu não quero jogar bola,
37:26até ele insistiu bastante com aquilo,
37:28e os caras até sabiam que eu levava jeito,
37:30eu digo,
37:30não,
37:30mas eu não quero,
37:31eu só gosto de jogar bola para jogar,
37:33tanto é que mais tarde,
37:35tanto é que mais tarde,
37:35no Rio de Janeiro,
37:36eu até tive um campo de futebol,
37:37lá na Barra,
37:38eu tinha um sítio na Barra,
37:40no Recreio,
37:41eu tinha um campo de futebol,
37:42é uma história bem conhecida,
37:44as pessoas conhecem,
37:45tem até fotos,
37:46você achar na internet,
37:47eu jogando bola com as pessoas,
37:48tem um time de futebol que sou eu,
37:50Jorge Benjó,
37:51Jorge Benjó,
37:54o Fagner,
37:55Luiz Melodia,
37:58enfim,
37:58vários artistas,
37:59o Valins,
38:00todo mundo que gostava de jogar bola,
38:01ia para lá jogar bola,
38:02mas a bola não era meu negócio,
38:06eu com 14 para 15 anos,
38:07eu já tinha na minha cabeça,
38:10que eu tinha que mexer com música,
38:12por isso que eu com 15 anos,
38:13já comecei a fazer música,
38:15descobri qual era a temática da composição,
38:18antigamente era assim,
38:19a primeira parte,
38:20depois a segunda parte,
38:22com o evento dos Beatles,
38:24aquele negócio de refrão,
38:26isso veio com o Diolano e com o Paul McCartney,
38:28nas composições deles,
38:29porque antigamente a música não tinha refrão,
38:31ela tinha a primeira parte e a segunda parte,
38:34então tudo isso eu fui entendendo,
38:35e eu ficava ali na TV em Anguera,
38:38em Goiânia,
38:39que tem até hoje,
38:40a TV em Anguera fazia uns programas ao vivo,
38:42tinha programas da Juventude de Comando,
38:43com Arthur Rezende,
38:45ele trazia vários artistas do Rio,
38:46São Paulo,
38:47para se apresentar no programa,
38:49fazer show,
38:50e eu ficava por ali,
38:51eu tinha o quê?
38:5216 anos, 15 anos,
38:5316,
38:54eu ficava ali,
38:56atrás dele,
38:58junto com esses artistas,
38:59conversando com os artistas,
39:00até que cheguei à conclusão
39:02que eu tinha que ir para o Rio de Janeiro e fui.
39:05Que legal,
39:05e lá você passou sufoco no começo.
39:09É, porque assim,
39:10eu tinha umas músicas no caderno,
39:13sei fazer as músicas,
39:15eu falei,
39:16bom,
39:16a minha família não era a favor
39:18que eu nem mexesse com música,
39:19como já te falei,
39:20a ideia do futebol até que sim,
39:22mas,
39:22meu pai era agricultor,
39:24ele queria que eu fosse fazer outras coisas,
39:26e também não era muito comum,
39:27naquele momento,
39:28um cara sair de Goiânia,
39:29para ir para...
39:30geralmente as pessoas de lá
39:31até vinham para São Paulo,
39:32mas para o Rio de Janeiro,
39:34acho que eu fui o primeiro goiano
39:35que ia para o Rio de Janeiro,
39:36porque em Goiânia não ia para o Rio de Janeiro.
39:39Não era muito comum o cara ir para lá,
39:41para ser cantor,
39:42ser músico,
39:43essas coisas,
39:44não existia.
39:44Então a minha família foi contra
39:46e eu saí fugido de casa,
39:48anoiteci e não amanheci.
39:50Eu juntei uma grana
39:51e a grana não era muito,
39:54mas eu tinha alguns...
39:55peguei um ônibus e vazei.
39:57Eu só dei notícias depois.
39:59Uma irmã minha sabia que eu ia viajar
40:01e ela avisou,
40:02ele foi para o Rio,
40:02mas depois que eu já estava na estrada.
40:05Naquela época,
40:06as estradas não eram duplicadas,
40:09sem mais de dúvida,
40:09eu devo ter levado uns 3, 4 dias ou mais
40:11para eu chegar no Rio de Janeiro.
40:12O que acontece é que eu levei pouco dinheiro.
40:16Aí o que ocorre?
40:18Eu tinha os nomes,
40:19os endereços,
40:20que eu sabia que eu não tinha que procurar cantores.
40:22Eu já entendia,
40:23já estava entendendo a sua jogada.
40:25Eu tinha que procurar os produtores,
40:27os diretores de gravador e tal.
40:29Então eu tinha alguns nomes anotados
40:30que eu achava,
40:31por isso que eu fui para o Rio,
40:32porque as referências que eu tinha
40:34eram no Rio,
40:35não eram em São Paulo.
40:36As gravadoras, na verdade,
40:37elas eram no Rio.
40:38Tinha os artistas de São Paulo,
40:39mas as gravadoras,
40:40a sede era no Rio de Janeiro.
40:43O que acontece?
40:44Eu fui com esses nomes,
40:45eu achei assim,
40:46eu vou chegar lá,
40:47vou procurar o cara,
40:48o cara vai me receber,
40:49eu vou tocar,
40:49ele vai gostar,
40:50e tocar a vida resolvida numa semana.
40:52Só que não foi assim, né?
40:53Cheguei no Rio,
40:54primeiro para achar os endereços,
40:56já levou uma semana.
40:57Segundo,
40:58para achar os caras,
40:59levou seis meses.
41:00Não é assim,
41:01os caras não atendem,
41:02os caras não te recebem,
41:04e o dinheiro acabou,
41:0515 dias depois,
41:06eu estava totalmente sem dinheiro
41:08no Rio de Janeiro.
41:08Aí começa o tal sufoco,
41:10você fala.
41:10Aí cheguei a dormir na rua,
41:12mas aí também fui morar em casa de estudante,
41:16comia no calabouço,
41:17ficava ali no trevo do aeroporto,
41:20depois o governo fechou o calabouço,
41:22fecharam a casa do estudante,
41:24mas eu comecei a tocar na noite no Rio,
41:26e dois anos depois que eu estava lá,
41:29eu já consegui gravar meu disco,
41:31mas foi sufoco,
41:32mas foi rápido.
41:32Antes disso.
41:35O Daí,
41:35para finalizar,
41:36eu quero repetir o que você disse,
41:38você já disse,
41:40e disse nessa entrevista também,
41:41que a felicidade não existe,
41:44o que existe são os momentos felizes.
41:47Eu queria te perguntar,
41:49quais são os seus maiores momentos felizes,
41:53tanto na vida pessoal,
41:55quanto na profissional,
41:56e que você gostaria de ter semelhantes a ele no futuro?
42:04Lucas,
42:05a frase de que a felicidade não existe,
42:08o que existe na vida são momentos felizes,
42:10muito embora seja a frase de uma música,
42:12e quando você faz música,
42:13às vezes o compositor é meio romântico,
42:17ele é meio poético,
42:17então ele vai em umas frases,
42:19mas ela é um pensamento sincero meu mesmo,
42:23porque eu sempre achei que a felicidade,
42:25ela não existe por completo,
42:27ela não existe na sua,
42:28ela não é unânime,
42:29a felicidade não é uma coisa geral,
42:32porque a mesma coisa,
42:34ou a mesma pessoa,
42:36que te alegra pela manhã,
42:37pode te entristecer à tarde.
42:39Então, a vida,
42:41ela é feita dessas coisas,
42:42de momentos,
42:43às vezes você tem momentos felizes,
42:44momentos não felizes,
42:45momentos tristes,
42:47momentos ruins,
42:48momentos bons,
42:49e eu tive muitos momentos felizes,
42:51em todos os segmentos,
42:52seja na vida pessoal,
42:53no profissional,
42:54por exemplo,
42:55estar no palco,
42:56estar com as pessoas,
42:57para mim é um momento feliz,
42:58e eu fico torcendo sempre,
43:00para que a gente consiga fazer,
43:02uma coisa com qualidade,
43:04que a gente,
43:04que eu e a minha equipe,
43:05a minha banda,
43:06minha equipe de som,
43:07de tudo,
43:08consiga proporcionar,
43:10uma coisa de qualidade,
43:11para que as pessoas,
43:12que ali estejam com a gente,
43:13tenham também,
43:14a ideia de que seja um momento feliz,
43:17então,
43:17isso é um momento feliz,
43:18nascimento dos meus filhos,
43:19ou você reencontrar uma pessoa,
43:22que você tem saudade,
43:24ou uma realização profissional,
43:25você tem muito momento feliz,
43:26você pode ter um momento feliz,
43:27às vezes,
43:28o momento feliz,
43:28às vezes,
43:29é tão simples,
43:30por exemplo,
43:31eu tenho,
43:32eu não,
43:32aqui em casa,
43:33tem três gatos,
43:35antigamente tinha cachorro,
43:36agora não tem mais cachorro,
43:37os cachorros morelos,
43:38tem gatos,
43:40e eu nunca tinha convivido com gatos,
43:42eu gosto muito de bicho,
43:43seja formiga,
43:44seja árvore,
43:45passarinho,
43:47eu não mato nada,
43:48se depender de mim,
43:49se depender de mim,
43:50eu não como carne nunca,
43:51se depender de eu matar,
43:52não vou comer carne,
43:53porque eu não mato,
43:55então,
43:55às vezes,
43:55é convivência com gato,
43:58você vê,
43:59o bicho,
44:01ou seja,
44:01o cachorro,
44:02ou seja,
44:02o animal,
44:03de um modo geral,
44:04essa convivência,
44:05já é um momento feliz,
44:07você encontrar uma amiga,
44:08é um momento feliz,
44:09enfim,
44:09a vida é cheia de momentos felizes,
44:11como também,
44:12como te disse antes,
44:14o mesmo,
44:14a mesma coisa que te faz,
44:15feliz pode te entristecer.
44:17Sim,
44:18total.
44:18O Daí,
44:19muito obrigado mesmo,
44:20mais uma vez,
44:21valeu demais,
44:22um prazer enorme falar com você.
44:26Cara,
44:26eu te agradeço,
44:27espero não ter te decepcionado,
44:29com as minhas conversas longas.
44:30De forma alguma,
44:31foi maravilhoso.
44:32Eu agradeço a você,
44:34e aproveitar para te convidar,
44:35e convidar todo mundo,
44:36para se encontrar comigo,
44:37depois de amanhã,
44:38aí,
44:38dia 16,
44:40no Sesc Paládio,
44:41para a gente viver esse momento feliz,
44:43vai ser um show legal,
44:44vou tentar contar,
44:46através das minhas músicas,
44:47uma,
44:48a história musical,
44:50e a história de vida do Odair José.
44:52Então,
44:52vai ser muita música,
44:53que todo mundo conhece,
44:54a intenção do repertório,
44:57é colocar as pessoas,
44:58para cantar junto,
44:59e vai ter também,
45:00uma coisa ou outra,
45:01do disco novo,
45:02mas,
45:02de um modo geral,
45:03são 27,
45:0428 músicas,
45:05e na maioria,
45:07todas as músicas,
45:07as pessoas conhecem.
45:08Então,
45:08você está convidado,
45:09todo mundo está convidado,
45:10para se encontrar comigo aí,
45:11depois de amanhã,
45:12tá bom?
45:13Boa.
45:13Então,
45:14obrigado,
45:14Luca.
45:14Eu que agradeço,
45:15Odair,
45:15um grande abraço para você.
45:18Obrigado.
45:18Ficamos por aqui,
45:20deixe seu like,
45:21e para notícias do Brasil e do mundo,
45:23em.com.br.
45:25Até a próxima.
45:26Divirta-se.
45:27Dura,
45:28advirta-se.
45:29E aí
Seja a primeira pessoa a comentar
Adicionar seu comentário

Recomendado