Pular para o playerIr para o conteúdo principalPular para o rodapé
Luciano Timm, advogado e ex-secretário do Ministério da Justiça, comenta o trabalho do Supremo Tribunal Federal em decisões judiciais sobre operadoras de planos de saúde.
Baixe o app Panflix: https://www.panflix.com.br/

Inscreva-se no nosso canal:
https://www.youtube.com/c/jovempannews

Siga o canal "Jovem Pan News" no WhatsApp:
https://whatsapp.com/channel/0029VaAxUvrGJP8Fz9QZH93S

Entre no nosso site:
http://jovempan.com.br/

Facebook:
https://www.facebook.com/jovempannews

Siga no Twitter:
https://twitter.com/JovemPanNews

Instagram:
https://www.instagram.com/jovempannews/

TikTok:
https://www.tiktok.com/@jovempannews

Kwai:
https://www.kwai.com/@jovempannews

#JovemPan

Categoria

🗞
Notícias
Transcrição
00:00O outro ponto que você tocou muito, que toca a vida de todos nós, é a questão dos planos de saúde.
00:06No fundo, a mudança demográfica no Brasil, as pessoas vivendo mais,
00:11e o número de doenças cujo tratamento é muito mais caro,
00:15e isso também não está vislumbrado em muitos planos, como evitar a judicialização?
00:22Olha, é até uma piada irônica, mas que eu vou fazer.
00:27O que diz o Oscar Wilde, ele dizia que ele era capaz de tudo, menos de resistir à tentação.
00:36A piada é de que o judiciário brasileiro descobriu o tratamento do câncer antes da medicina,
00:41porque houve uma série de decisões judiciais que, uns anos atrás, vieram a público,
00:46que o judiciário estava dando um tratamento que não tinha nenhuma evidência científica.
00:51Então, no fundo, esse tema precisou 20 anos para o Supremo, no SUS,
00:55dizer que a concessão de medicamentos deve ser baseada em evidências.
01:02Ainda que, em alguns casos, juízes, ainda em relação ao SUS, descumpram essa orientação.
01:09Porque hoje nós temos decisões judiciais que são vinculantes e não vinculantes.
01:15Esta é vinculante, então não teria o que discutir, o Supremo estabeleceu.
01:19Tem que ser assim.
01:20Nos planos de saúde privados, onde o setor privado atua, não tem decisão, o que eu já acho um absurdo.
01:26Porque não tem por que tratar o setor privado diferente do público.
01:30O privado atende, são 45 milhões de brasileiros e brasileiras que têm plano de saúde.
01:35Então, a gente tem que cuidar, porque senão, se esses 45 forem ao SUS, quebra o SUS também.
01:39Então, não há e precisamos construir para ter.
01:43O setor privado também tem que ser baseado em evidências.
01:46E, com isso, eu também não quero dizer que eu não me sensibilizo com a situação de quem precise.
01:51Por isso, tem que ter o Estado.
01:52O Estado, se tem o SUS, ele deveria fazer esse papel.
01:56No setor privado, a gente tem que agir com a lógica do setor privado.
01:59É uma empresa, ela precisa da lucro, ela tem acionista, alguém investe.
02:02E ela investe, com base num plano que calcula, com base em cálculo atuarial, o risco.
02:10Então, o judiciário não pode aumentar o risco de um risco que não está calculado no prêmio.
02:15Porque esta é a lógica da coisa.
02:17Tem toda uma ciência por trás.
02:21E como evitar?
02:24Eu, sinceramente, não sei.
02:26Porque nós podemos pensar em métodos alternativos,
02:30mas aí a interpretação vai ser que você está retirando o acesso da justiça
02:35daquele consumidor ao poder judiciário.
02:39Então, acho que a gente vai ter que trabalhar no sentido, na verdade,
02:42de criar este precedente que tem para o SUS, para o setor privado.
02:46Acho que o Supremo deveria caminhar nesse sentido.
02:49Bom, precisa tomar um conceito.
02:51Não dê muitas boas ideias, não, Luciano?
02:52Porque se a gente começar a criar mais ativismo do judiciário em áreas como essa,
02:57nós vamos causar mais dor de cabeça.
02:59Mas, Dávila, veja que já são, acho que, mais de 500 mil casos de judicialização de plano de saúde.
03:08Os casos estão aí.
03:10500 mil casos?
03:12Então, você tem o custo desses casos, que o contribuinte está arcando,
03:22que alguém vai ter que bancar isso aí, e vai ser o contribuinte, esta litigância,
03:27que a pessoa não paga, embora ela tenha plano, às vezes é um plano caro,
03:31ela não paga para acessar o poder público.
03:35Que, de novo, fruto da ditadura, nós criamos, então, aquela coisa pendular.
03:41Primeiro não tinha acesso, depois estamos dando acesso, talvez, demais ou sem controle.
03:45Então, a pessoa não paga, ela vai litigar.
03:48E este tema vai ter que, estes 500 mil casos, vão ter que ter ali uma interpretação,
03:53que deveria ser vale o contrato, o judiciário não deve criar regras
03:57por sobre o texto do contrato e do regulamento,
04:01e que a concessão deve ser baseada em evidência.
04:03Acho que essa é a minha posição, que é a mais ponderada.
04:05Agora, o Brasil, como você disse, na Constituição,
04:09está que nós somos uma economia de mercado.
04:11Mas a cabeça do judiciário é uma economia anti-mercado.
04:14Portanto, toda decisão, ou a maioria das decisões tomadas,
04:18acaba sendo sempre contrário à empresa,
04:20porque é visto como um malvadão que suga dinheiro do contribuinte.
04:26Então, começa a ter uma ideia muito complicada,
04:29como você faz a economia de mercado funcionar
04:33se a cabeça do tomador de decisão no judiciário é anti-mercado?
04:39É, sabe que o Ronald Coase, Nobel de Economia,
04:43ele foi da aula de Direito nos Estados Unidos
04:45e concluiu que os juízes americanos tinham uma intuição econômica,
04:49apesar de não ter formação econômica.
04:53E aí, estudando os precedentes, ele disse,
04:56não, mas isso é economia.
04:57Os caras disseram, não, isso é direito, é um precedente.
05:00E aí eles criam, então, análise econômica do direito,
05:03que é usar ferramentas da economia
05:05para compreender as decisões legislativas
05:07e, nos Estados Unidos, sobretudo, do judiciário.
05:09Aqui você tem razão.
05:14Há um paper clássico do Armando Castelar
05:18sobre o judiciário brasileiro.
05:20Esse paper ainda não...
05:21Eu fiz outras pesquisas e a gente conclui a mesma coisa.
05:25O Castelar fez uma pesquisa e dá conta de que
05:2875% dos magistrados preferem fazer justiça social
05:34a aplicar o texto da lei ou do contrato.
05:38Então, isso...
05:40Como é que nós chegamos aí?
05:43Está na formação.
05:45Eu tornaria hoje obrigatório estudar a economia estatística
05:48para a pessoa saber o que ela está fazendo.
05:51Não é só na engenharia, na economia,
05:53que a gente deveria estudar essas coisas.
05:57Tem um campo do direito que se chama jurimetria,
05:59que é a estatística aplicada ao direito.
06:00Então, eu acho que não é só literatura e retórica
06:06que é importante para quem está decidindo
06:07casos de repercussão desse tipo.
06:10Então, a gente precisa rever a formação
06:14e rever o número de faculdade.
06:16Senão, você reproduz um modelo mental com ideias ruins.
06:21Hoje, as ideias que prevalecem
06:24são essas que nós estávamos falando.
06:26De um certo alto grau de ativismo,
06:29o neoconstitucionalismo,
06:31um certo pan-constitucionalismo.
06:33Eu tenho um amigo da USP
06:35que chama esse momento que a gente vive
06:38de farra principiológica.
06:39Você sorteia um princípio e julga um caso.
06:43Eu tenho um outro colega da USP
06:45que chama da justiça varinha de condão,
06:48como se você fosse criar recursos
06:50com uma varinha,
06:52uma fada mágica que, na verdade, não existe.
06:54Sabe o que é curioso?
06:58Tem alguns campos, para não generalizar,
07:01sabe, Dávila, que em temas econômicos,
07:06muitas vezes o Supremo dá ganho de causa
07:09para a liberdade econômica.
07:11Neste campo, não é onde eu tenho
07:13as maiores críticas ao Supremo.
07:15Já a justiça do trabalho tem mais críticas.
07:18Há um estudo do INSPER que dá conta
07:21que o trabalhador ganha
07:23todo ou em parte em 90% dos casos.
07:26Então, isso é um problema,
07:27que daí já não é mais justiça,
07:29não é uma justiça comprometida com uma parte.
07:31O meu juízo precisa se rever,
07:33porque nós não estamos mais em 1940.
07:36E na área de consumidor,
07:37também na área de consumidor e ambiental,
07:40quando tem vara especializada,
07:42tem muito ativismo.
07:43em varas de execução criminal,
07:47tem muito ativismo,
07:48aquela ideia de pena não funciona.
07:51Eu brinco que se pena não funciona,
07:53solto também não...
07:54Eu não sei o que vai acontecer.
07:57Então, algumas áreas têm mais ativismo
08:01e paternalismo do que outras.
08:03Em áreas muito graves,
08:05que aumentam a insegurança jurídica.
08:07Você acabou de tocar na questão trabalhista, né?
08:09Sim.
08:09No governo Temer,
08:11nós aprovamos uma reforma trabalhista
08:14que ajudou a derrubar bastante
08:16o número de casos na justiça trabalhista.
08:20Mas parece que alguns juízes
08:22na justiça trabalhista
08:23não consideraram o teor da reforma
08:26e passam a decidir
08:27contrário com o que está na lei.
08:29E isso continua judicializando.
08:32Na verdade, neste aspecto,
08:34sendo fiel aos fatos,
08:37enfim, é pior,
08:38porque há uma associação de juízes trabalhistas
08:41chamada Amatra,
08:43ela que entrou com a ação de inconstitucionalidade.
08:46Imagina, uma associação de juízes
08:48que vai julgar os casos
08:49entrou com uma ação de inconstitucionalidade
08:51da reforma.
08:52entrou no Supremo.
08:55E o Supremo julgou
08:58constitucional vários dispositivos
08:59para a nossa sorte,
09:01no sentido de economia de mercado.
09:03Por isso que eu te digo
09:04que do ponto de vista econômico,
09:07as decisões do Supremo,
09:09até hoje,
09:09elas na sua maioria
09:10são pró-liberdade econômica,
09:13mas errou
09:13e errou num ponto processual
09:16que foi da sucumbência.
09:17O Supremo disse
09:18que o empregado pagar
09:19sucumbência seria inconstitucional.
09:22Acho que o Supremo deve estar arrependido,
09:24porque o número,
09:26na sua maioria,
09:27porque o número de ações
09:28vinha caindo.
09:29Eu vi que caiu para 2 milhões e meio,
09:31voltou para 5 milhões?
09:31Voltou.
09:33De novo,
09:34para um professor de análise econômica,
09:35não é nada surpreendente.
09:37Era isso que iria acontecer.
09:39Você tirou o risco da demanda
09:40e você tem certas indústrias
09:42de litigância
09:43que hoje em dia
09:45a gente vem reconhecendo
09:46como indústria de litigância abusiva,
09:50às vezes até predatória.
Seja a primeira pessoa a comentar
Adicionar seu comentário

Recomendado