No extremo norte do Brasil, onde as estradas não chegam e a presença do Estado é muitas vezes apenas simbólica, um Brasil profundo, quase invisível ao olhar urbano, se afirma com resiliência e propósito. É nessa vastidão verde que se encontra o Parque Nacional Montanhas do Tumucumaque, uma jóia natural que representa não só a maior unidade de conservação em florestas tropicais do planeta, com quase 4 milhões de hectares, como também um símbolo de soberania. A área, equivalente ao território da Suíça, estende-se pelos estados do Amapá e Pará, fazendo fronteira com a Guiana Francesa e o Suriname. Administrado pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), o parque é um santuário da biodiversidade amazônica e uma zona estratégica para a proteção territorial.
REPORTAGEM: WESLEY COSTA IMAGENS: WAGNER SANTANA EDIÇÃO: RAONI JOSEPH
00:00No coração da maior floresta tropical do mundo, entre rios e a mata fechada, uma missão silenciosa acontece.
00:08Em uma das regiões mais isoladas do Brasil, soberania, cultura indígena e proteção ambiental caminham juntos.
00:30É daqui, na fronteira entre Brasil, Guiara Francesa e Suriname, onde o acesso só é possível por avião ou pelos rios,
00:42que o Exército Brasileiro cumpre uma das missões mais desafiadoras do país.
00:47O Parque Nacional Montanhas do Tumucumac tem quase 4 milhões de hectares e é maior que países como a Suíça, por exemplo.
00:57A soberania é incalculável. A importância de estarmos presentes, por vezes, como a única instituição de Estado nessa faixa de fronteira.
01:10O exemplo disso é Tirióis, é o destacamento especial de fronteira de Vila Brasil.
01:15Então, acredito que esse é o maior ganho, que na verdade é um cumprimento de missão das Forças Armadas.
01:21No mais, é adquirir expertise, conhecimento, treinamento e nós temos feito isso, né?
01:29À medida que nós conseguimos coibir crimes transvolteiriços, nós capacitamos também os nossos militares.
01:36E esse ano a gente está com essa capacitação voltada para a COP30 e tem sido muito eficaz.
01:43Na comunidade de Tirióis, o Exército se junta aos indígenas para proteger o território e fortalecer os laços entre o Estado e os povos originários.
01:56Esses militares indígenas, eles são voluntários, né? Então, eles querem estar no nosso meio.
02:01E para eles também, primeiramente, é muito importante, além de ser um emprego, um sonho que eles tenham,
02:08porque todos são voluntários, confere, e também eles podem resultar na segurança do próprio povo deles.
02:19Então, normalmente, a gente sabe primeiro porque eles avisam a gente e depois o cacique,
02:27que é o responsável pelas aldeias, os caciques, vem falar conosco, mas o aviso prévio é deles.
02:32Então, assim, a gente consegue ter mais informações para o nosso território.
02:35Além de também eles servirem como guias, porque eles conhecem todas as trilhas aqui na palma da mão,
02:41conhecem todos os caminhos, todos os reconhecimentos de fronteira, todos os marcos, e também como intérpretes nossos.
02:47A língua, o dialeto aqui, que é mais presente, é o Tirióis.
02:51Então, temos militares aqui, um Apalai, dois Cachuiana, e são as Etilisner, e também seis Tirióis.
02:59Então, os militares Tirióis são os que mais fazem esse contato com a gente, são os que mais nos ajudam.
03:04Os outros também têm o seu papel fundamental, tanto na segurança do local, quanto na informação para a gente.
03:11Mas o que mais a gente tem contato aqui é com a etnia Tirióis.
03:14Nesta região, há mais de 40 anos, cerca de 40 militares, em regime de revezamento,
03:22vivem o extremo isolamento das áreas mais povoadas dessa região.
03:27Então, eu sou da região, me inspirei no caso seria o meu tio, a maior inspiração minha foi ele,
03:36ele já servia aqui no PES, ele foi cabo também, de exército, e a minha maior inspiração foi ele.
03:46Eu consegui me alistar, tive essa oportunidade, e hoje eu estou aqui presente, servindo, e somente gratidão.
03:55Hoje, graças a Deus, em 2024, tive a oportunidade de fazer o CFC, concluí, e em 2025, ali, recebemos promoção.
04:06O CFC é o curso de formação de cabos, né?
04:10Exatamente.
04:10E aí você, agora, esse ano, já é cabo do Exército Brasileiro.
04:14Isso, hoje eu, atualmente, sou cabo do Exército.
04:17Pra ti, o que é que tu sente, vestindo essa fada, você que é aqui da região, né, vendo, né,
04:25e também servindo de referência para as pessoas que também moram aqui e ocupam essa região?
04:31Pra gente, a nossa, é a maior alegria de nós estar compondo o Pelotão, sabendo que nós somos militares indígenas, né,
04:39nós ajudamos a comunidade, o próprio PEF, fazer a tradução da língua dos índios para o português aqui do PEF.
04:57Como foi que começou a tua história?
05:00Como é, nasceste isso aqui, né?
05:01Um pouco dessa tua trajetória.
05:04Exatamente.
05:05Eu sou nascido da região aqui.
05:09Meu avô, em busca das melhorias, ele nos levou para Macapá, em busca dos estudos ali.
05:18Conseguimos o que ele pretendia e, ao longo do tempo, terminamos os nossos estudos e retornamos aqui para a região.
05:28E aí, quando tu retornou para cá, o exército foi até a aldeia fazer aquele cadastramento e...
05:36Exatamente, exatamente.
05:38No caso, a gente veio, é feito uma divulgação ali durante o ano, é perguntado aos indígenas quem seria interessado,
05:49quem seria o voluntário para servir aqui no PEF.
05:51E, dentro de tudo isso, eu tive a oportunidade ali, fui, fiz o alistamento, fui convocado e hoje estou servindo.
06:02A Operação Ágata é uma força-tarefa das Forças Armadas com apoio do IBAMA, ICMBio e Polícia Federal.
06:11Ela combate crimes ambientais e reforça a presença do Exército Brasileiro, que na fronteira tem poder de polícia.
06:19Durante a última fase, mais de 7 toneladas de pescados foram apreendidos, além de madeira extraída ilegalmente, munições e drogas.
06:30Mas a missão vai além da vigilância.
06:33As ações de assistência cívico-social promovem atendimentos médicos, entrega de medicamentos e salvamentos aeromédicos.
06:43Em locais onde não há hospitais e o socorro depende de aviões, cada atendimento pode ser uma vida salva.
06:53E a nossa expedição desembarca agora aqui na comunidade de Missão Nova.
06:58Fica localizado no Parque Tumukumaki, onde residem indígenas da etnia Tiriós.
07:05Aqui são oferecidos serviços de saúde para esses indígenas e também atividades recreativas pelo Exército Brasileiro,
07:16que tem ocupado essa área há mais de 30 anos.
07:19A gente faz atendimento aqui de clínico geral, né?
07:22Eu sou clínico geral, faço atendimento dos primeiros auxílios que a gente tem aqui, né?
07:25Como eles são uma sociedade pouco mais afastada da sociedade, né?
07:32Então a gente faz o máximo possível o que tem disponível aqui.
07:35A gente tenta conscientizar eles a vir ao ponto de atendimento o quanto antes,
07:39para que não evolua a cada vez que a gente tiver de primeiro estágio,
07:44para que não evolua para uma fase crítica.
07:47No silêncio da selva, a presença do Exército e dos povos originários
07:54mostram que a soberania também se faz com diálogo, respeito e proteção.
08:00Na fronteira mais esquecida do país, o Brasil resiste,
08:06forte como a floresta e seus guardiões.
08:17No silêncio da selva, a presença do Exército e seus guardiões.
08:24No silêncio da selva, a presença do Exército e seus guardiões.
08:26No silêncio da selva, a presença do Exército e seus guardiões.
08:36No silêncio da selva, a presença do Exército e seus guardiões.
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