00:00Depois segue a vida, aí o Will Strick é o treinador, foi o treinador que nós perdemos lá dos pênaltis, e quando ele saiu, ele saiu chutando o balde, falando que quem botou ele para fora, que era eu, o Joãozinho e o Raul.
00:21Que o Joãozinho era maconheiro, que eu era maconheiro, que todo mundo, que eu era laranja podre no meio do grupo, falou um monte de besteira, e a vida segue, aí ele volta, ele volta em 82, início de 82.
00:39Aí ele é contratado, quando é contratado, ele reúne lá na toca ou na grama, o time todo, um círculo grande, todos os jogadores sentados, e a imprensa atrás dos jogadores, todo mundo em pé, e ele vai e começa a dar preleção, falando lá do estilo dele,
00:59Mas ele estava, ele estava aqui no círculo, eu estava do outro lado do círculo, em frente a ele, e ele começou a falar, falar, falar, e terminou de falar, e falou assim,
01:10Bom, agora daqui, nós vamos sair somente os jogadores, e eu, nós vamos para dentro do vestiário, para ter uma outra preleção lá dele.
01:20Aí ele levantou, e falou, todo mundo de pé, todo mundo ficou em pé, ele saiu para a direita, apertando a mão de jogador por jogador.
01:28Quando ele começou a andar aqui, eu comecei a andar lá, aí ele foi andando, andando, eu fui andando, andando.
01:35Quando ele chegou no lugar dele de origem, eu cheguei no meu de origem, eu não dei a mão para ele, entendeu?
01:41Aí terminou, agora vamos, e todo mundo viu isso, aí terminou, falou assim, agora vamos lá para o vestiário.
01:48Aí eu falei assim, eu não vou para o vestiário, não vou ter preleção com esse cara.
01:52Aí o diretor falou, por mim, cara, faz por mim, eu gostava muito do diretor.
01:56Faz por mim, vamos lá, eu digo, não vou, cara, ninguém me obriga a ir.
02:01Vocês fazem o que quiser comigo, mas eu não trabalho com esse cara.
02:05Ele pode fazer o que ele quiser.
02:06Aí ele vira e fala assim, então tá bom, nós vamos jogar no Rio de Janeiro contra o Fluminense,
02:12você viaja com a gente.
02:14Eu digo, vou viajar para quê?
02:16Não, só para compor lá, só para ir no grupo.
02:18Ele estava com esperança que a gente fizesse as pazes.
02:21E aí eu fui, fui, tive papo com ele, tive preeleção.
02:26Aí ele coloca no quarto, eu e Luiz Antônio Goleiro.
02:32E aí eles vêm com uma mania, que todo dia, no dia do jogo, ele ia no quarto de cada um,
02:40às seis horas da manhã.
02:42Aí ele fazia uns movimentos lá de alongamento e uma massagem rápida,
02:46que ele levava o massagista para fazer isso.
02:48Eu digo, pô, tá de sacanagem que eu vou acordar seis horas?
02:52Eu não vou jogar, não vou fazer nada, o que ele vai fazer aqui?
02:55Mas deixa estar.
02:56Aí o que eu fiz?
02:57Eu e Luiz Antônio...
02:58Aí eu pego...
03:00Acho que era um alemão, um cara até,
03:03que estava do lado, um cara solteirão lá, do lado do nosso quarto.
03:06Eu fui, cara, à noite,
03:08eu tirei o número do quarto dele.
03:12Por exemplo, era 301, e o meu era 302.
03:16Eu troquei as placas.
03:18Troquei as placas e deixei lá.
03:20E aí, chegou às seis horas da manhã e ele foi lá.
03:23Quando ele bateu, veio um alemãozaço lá.
03:26Ele querendo...
03:26Porra, cadê?
03:27Aqui que é o Nelinho e o Luiz Antônio.
03:29É, mas não está aqui.
03:30Não sei o quê.
03:31Deu uma confusão do cacete, aquela gritaria lá dentro.
03:34E a gente quieto, né?
03:35E aí, ele sai.
03:37E aí, quando ele foi embora, nós fomos lá destrocando.
03:40E aí, ele manda o supervisor.
03:42Porra, vai lá.
03:44O Benefico Queiroz foi lá.
03:46Ele falou assim, não, estrique.
03:46Isso já não era mais seis horas.
03:49Já era oito horas da manhã e acabou.
03:51Não, está lá o Nelinho e o Luiz Antônio.
03:53Não é possível eu bater lá, sair um alemão lá.
03:55Não, era o Luiz...
03:56Era o Nelinho que está lá.
03:57Bom, não aconteceu nada.
04:00Eu voltei, junto com a delegação.
04:03E quando voltei, eu falei para a direção.
04:05Digo, eu não jogo com esse cara.
04:07Pode esquecer.
04:08Faz o que vocês quiserem.
04:09Fica comigo aí, me pagando.
04:11Cancela meu contrato.
04:13Me vende.
04:13Faz o que vocês quiserem.
04:14Eu não jogo mais.
04:15E aí, vem o Atlético, com interesse.
04:22Era o Ivo Melo, que era o que mais gostava de mim.
04:24Ele era do Atlético.
04:26E falou, vamos lá contratar o Nelinho.
04:28E aí, quando chegaram lá para fazer a oferta,
04:33aí tinha um diretor da época, junto com o Felício Brandi,
04:36e falou assim, não, vamos vender que ele é líder negativo hoje.
04:39Vamos mandar para lá, que ele vai acabar com o ambiente lá do Atlético.
04:44Pode deixar, vamos vender.
04:46Cara, me venderam.
04:47O Atlético, acho que era 20 mil, 20 milhões,
04:50para pagar de 10 prestações, de 2, uma coisa assim.
04:53E aí, eu fui vendido para o Atlético desse jeito.
04:57Mas, quando eu fui, eu sabia.
04:59Eu tinha a ideia de que eles me venderam pensão dessa forma.
05:06E eu, comigo, eu falei assim,
05:07pô, eu vou chegar no Atlético, cara.
05:09Eu vou ter que jogar muito.
05:11Porque os caras vão me cobrar os atleticanos.
05:13Eu fiz gol pra cacete contra eles.
05:15Agora eu vou ter que fazer contra o Cruzeiro.
05:17E aí, e agora?
05:18Como é que faz?
05:20E aí, meu irmão, vou eu para o Atlético.
05:23Nisso, os caras estavam na Seleção Brasileira.
05:26Na Copa do Mundo, de 82.
05:30E aí, quando eles voltaram,
05:31a gente treinava no clube, né?
05:36Vila Olímpica.
05:37E os torcedores ficavam ali em cima.
05:39Tudo.
05:41E aí, cara, eu estou treinando um dia.
05:43Aí, volta os caras da Seleção.
05:45E eu era o cara que eu desbrigava.
05:47Porra, eu detestava o Cereza, o Paulo de Dora.
05:49Eu gostava de meter a porrada nele.
05:51Porra, não gostava, né?
05:52Porque a rivalidade era muito grande.
05:54O Éder.
05:56Era assim.
05:57Eu falei, porra, como é que vai ser, né, cara?
05:58Aí, os caras voltaram.
06:01Quando os caras voltaram,
06:03porra, meu companheiro de quarto na nossa concentração,
06:05no Planalto, era eu e Éder.
06:08E acho que o Catatau, o Edivaldo, falecido Edivaldo.
06:12Bom, aí vem treino.
06:15Aí, nos treino, cara, quando começou, os caras não estavam feridos.
06:19Os caras evitavam de dar bola pra mim, né?
06:22E aí, teve um treino lá que eu apelei.
06:24Apelei feio lá.
06:25E aí, eu lembro que os torcedores do Atré falaram,
06:28é isso mesmo, né?
06:29Põe ordem nessa casa aí, porra.
06:31Que os caras estão muito...
06:32Eu sei que, rapidamente, eu fiz amizade com todo mundo.
06:36Fiquei muito amigo do Paulo de Dora, do Cereza, do Reinaldo.
06:39Então, porra, era a dama, né?
06:42O Éder.
06:43Eu fiquei amizade.
06:43O Luizinho.
06:44Aí, pronto, eu já me enturmei.
06:47Mas aí, eu comecei a jogar, jogar bem.
06:49Comecei a fazer gol, porra.
06:50Aí, acabou.
06:51Aí, foi a minha sorte.
06:54Porque se eu não tivesse ido para o Atlético,
06:56minha carreira praticamente tinha encerrado.
06:58Porque o Atlético me deu uma motivação a mais,
07:01continuar jogando.
07:02Porque se eu fosse pra São Paulo, Rio de Janeiro,
07:04não seria a mesma coisa.
07:05Tinha outra proposta?
07:06Não, nenhuma.
07:08Nenhuma.
07:08Foi só o Atlético chegou e acabou.
07:11Foi muita sorte minha, cara.
07:12Porque ia ser muito difícil pra mim.
07:15E se você não chegou a repensar na hora?
07:18Será que eu vou pro rival?
07:19Mas nem um pouco.
07:20Pô, o Cruzeiro tava na baba na época, cara.
07:24O time do Cruzeiro tava muito arriado, cara.
07:26E o Atlético vinha de penta.
07:27É, não tinha ninguém, cara.
07:29Só tinha eu e Joãozinho.
07:31Acho que o Eduardo já tinha acabado de ir pro Corinthians.
07:36Não tinha.
07:37O time tava muito ruim.
07:39Tava se refazendo, né?
07:40E o time do Atlético, não.
07:42Já tava voando.
07:43Tava um time massa.
07:44E aí, me facilitou também.
07:46Eu chegar num time como o Atlético.
07:47Eu jogar seria mais fácil do que jogar num outro time que não tivesse a mesma condição.
07:52Então eu fui e fui consciente de tudo.
07:54E foi o que me deu motivação pra seguir jogando.
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