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  • há 4 meses
A campanha presidencial de Kamala Harris arrecadou quase US$ 50 milhões em doações desde que o presidente Joe Biden suspendeu sua candidatura à reeleição e endossou sua vice para assumir seu lugar. A equipe de Harris informou que, desde o endosso de Biden na tarde de ontem, americanos comuns contribuíram com exatos US$ 49,6 milhões até o fechamento desta matéria.
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00:00Duda Teixeira, vou começar por você com uma pergunta muito simples, fácil.
00:05Trump gostou de ter um outro adversário ou não?
00:10Então, eu acho que para o Trump seria melhor que o Biden ficasse até o final.
00:16A entrada da Kamala Harris, se é isso mesmo que vai acontecer, gera um pouquinho mais de dúvida sobre o resultado.
00:24Ainda que, como o Alexandre falou, é uma candidata ruim.
00:28Trocaram um candidato péssimo por um candidato ruim.
00:32Mas gera um pouco de incerteza.
00:34Por exemplo, a gente tinha agendado um debate entre o Trump e o Biden em setembro.
00:41Se fosse o Trump e o Biden, o Trump ia fazer a festa de novo.
00:46Mas agora, se tiver um debate, vai ser Trump e alguma outra pessoa, provavelmente a Kamala.
00:52Então, a gente não sabe o que vai ser nesse debate.
00:56Claro que o debate tem uma chance pequena de mudar muito o voto das pessoas, mas talvez seja o único.
01:04Então, alguma importância vai ter.
01:07E, é claro, o Trump já batia na Kamala Harris, vai continuar batendo.
01:12Acho até que tem um pouco aí de exagero, de passar do ponto.
01:18Os republicanos, muitas vezes, criticam coisas na Kamala Harris que é tipo...
01:23Ah, olha só o jeito que ela dá risada.
01:26Sabe assim, acho que existe até um certo machismo na maneira de lidar com ela.
01:33Isso eu acho que é condenável.
01:36Agora, o Trump já tinha um argumento, os argumentos do Trump todos continuam valendo.
01:44A Kamala Harris, o principal coisa dela é essa carta identitária.
01:49O Alexandre comentou um pouco, mas olha, eu sou uma mulher, eu sou uma negra, eles consideram que ela é negra,
01:56porque ela tinha um pai jamaicano e eu sou multirracial.
02:00A mãe dela era uma indiana, uma endocrinologista, então, ela usava essas cartas identitárias.
02:09E o Trump, o argumento dele faz assim, olha, se esses imigrantes ilegais continuarem entrando nos Estados Unidos,
02:17e aí a Kamala tem a responsabilidade dela, essa turma rouba o emprego dos negros, das mulheres,
02:26dos latinos, dos trabalhadores sindicalizados.
02:32Então, assim, essa carta identitária, o Trump consegue derrubar fácil, né?
02:40E estava fazendo isso muito bem, principalmente naqueles Estados pêndulo,
02:44que são os Estados que às vezes vão para os democratas e republicanos.
02:48Então, o Trump não tem que fazer um grande ajuste na campanha dele.
02:53Ele continua fazendo o que fez, vamos ver se a Kâmara consegue tirar alguma coisa da cartola.
03:01Agora, ô Duda, você falou de um assunto importantíssimo, que eu quero puxar,
03:06quero levantar a bola para o nosso grande Alexandre Borges.
03:09Porque eu acompanhei o noticiário ao longo do final de semana,
03:12e muito se falou, ah, o Trump vai ter que praticamente dar uma catapultada em sua campanha presidencial.
03:19Por quê? Porque ele estava mirando ali na idade do Biden, ia questionar a administração Biden,
03:25ia falar que o Biden era incapaz de continuar comandando os Estados Unidos, etc, etc, etc.
03:30Agora, Alê, de fato, vai ser necessária, vai ser necessária esse giro de 360?
03:38Ou, como falou o Duda, o que vai ser feito agora vai ser uma, digamos que,
03:42uma modulação do discurso do Trump a partir de agora?
03:46Não, claro que é uma outra campanha, né?
03:49Em vez de você batalhar contra o presidente da República, senil, branco,
03:55você vai batalhar e lutar contra uma mestiça californiana, ex-advogada, mais jovem.
04:05É uma campanha diferente.
04:06É uma campanha, na minha visão, muito mais ideológica.
04:10Porque a Kamala Harris é muito mais ideológica do que o Joe Biden,
04:15que é um cara que está há 50 anos.
04:17E o Washington é aquele cara do somebody love ali, né?
04:20Ele ia meio conforme a onda.
04:24A Kamala não.
04:25A Kamala tem opiniões mais à esquerda, mais woke, muito fortes.
04:29E eu acho que isso vai direcionar também um pouco da campanha e do embate entre eles.
04:35Agora, o que eu acho histórico ou interessante ao olhar da ciência política
04:42em relação ao que está acontecendo nos Estados Unidos,
04:45eu publiquei um artigo sobre isso,
04:47é que, na verdade, o J.D. Vance, que é o vice do Trump,
04:52é quem hoje simboliza o oprimido, o esquecido e o sonho americano.
04:58O cara que nasce em uma região pobre, abandonada, com uma família desfuncional,
05:04com a mãe drogada.
05:05E ele passa por todas essas dificuldades e ele consegue ser um fuzileiro naval,
05:12ele consegue se formar em Yale, ele consegue ter uma carreira profissional brilhante
05:17e vai para o Senado e agora é candidato a vice.
05:20Mas ele é branco.
05:21E a Kamala Harris, que é uma privilegiada, criada numa família de classe média alta,
05:28com todas as benesses e privilégios de quem tem o dinheiro dela na Califórnia.
05:35Só que ela é negra ou mestiça, depende de como você quiser classificar.
05:40Então, isso dá um certo choque nessa ideia woke,
05:44que automaticamente, se você está numa caixinha identitária, você é oprimido.
05:50E se você é branco, você está automaticamente na categoria de opressor e você está errado.
05:57E isso se choca muito claramente com a realidade
06:00quando você vê a história da vida da Kamala Harris e a história da vida do J.D. Vance.
06:06Então, eu acho que até em termos históricos, isso é muito interessante,
06:10porque agora a gente vai ver o que vai prevalecer.
06:14Se é a narrativa woke que tenta transformar uma moça californiana, rica,
06:21privilegiada numa oprimida,
06:23e um cara branco do Rusty Belt, dos Apalaches, o Rio Billy,
06:31que é, mas por ser branco, ele é realmente alguém que trilhou o sonho americano
06:37com todas as dificuldades, se ele vai ser tratado e vai ser visto como opressor.
06:44Então, é o que eu, particularmente, quero estar olhando no desenvolvimento dessa campanha
06:49e até no resultado.
06:51Alexandre, e acho que tem aí uma...
06:53Deixe-me lembrar da campanha, da eleição de 2016,
06:56porque esse debate, de alguma maneira, já apareceu antes,
06:59que é quando o Trump vence, e aí acho que é o Mark Lilla,
07:04uma das pessoas que colocam essa questão,
07:06que é, olha, a esquerda entrou nesse caminho identitário,
07:09e falou, a gente defende aqui as mulheres, ou os negros, os latinos,
07:14mas, de repente, veio um cara, um republicano,
07:17até nessa época se achava que o Partido Republicano ia acabar,
07:21estava em declínio,
07:22de repente o cara vem com um discurso patriótico,
07:27ali focado na economia,
07:30nesse sujeito esquecido dos estados industriais,
07:36que perdeu o emprego,
07:38que tem problemas ali com a família, com opióides e tal,
07:41e, de repente, o cara leva melhor.
07:44Então, já tinha uma crítica lá de 2016 em relação à esquerda,
07:48que a esquerda, ao adotar esse discurso identitário,
07:51acabou perdendo o voto desse cidadão,
07:54que mais ou menos é o perfil do Jade Vance,
07:57Exatamente, perfeito.
08:01A classe trabalhadora americana, que em grande parte é branca,
08:05você tem muito trabalhador,
08:07gente de classe média baixa,
08:09aqueles que foram mostrados naquele filme,
08:12por exemplo, Nomadland,
08:13que é um ótimo filme para quem não viu,
08:16essas pessoas vão se enxergar mais no Jade Vance
08:20do que no discurso woke da Kamala Harris,
08:22que é, por definição, elitista.
08:24E a esquerda foi para um caminho muito elitista,
08:28e você tem toda a razão.
08:29Quando você levanta o Mark Lilla,
08:30eu li os livros dele, adoro o Mark Lilla,
08:32e ele é um cara que,
08:35numa perspectiva progressista de esquerda,
08:37ele é essa galera mais old school,
08:39que consegue avisar.
08:42A pessoa, aqui, por exemplo, no Brasil,
08:44tem aquele Antônio Rizzério,
08:46não é isso?
08:46Você tem aquele Wilson Gomes,
08:49que você tem alguns nomes da esquerda
08:52que são de uma esquerda mais velha guarda
08:57e que falam,
08:58pessoal, vocês estão indo por um caminho.
09:00É a troca do PT pelo PSOL.
09:02Vocês estão esquecendo a classe trabalhadora,
09:05vocês estão esquecendo o sujeito
09:06que precisa de grana, oportunidade,
09:09programa assistencial,
09:11quer subir na vida,
09:12e vocês estão comprando essa conversa elitista.
09:15PSOL, Leblon, Vila Madalena,
09:18Porta dos Fundos,
09:20essa conversa de que você tem que olhar,
09:25um olhar quase racista,
09:27um olhar a fotinho e os símbolos,
09:30e uma discussão muito mais simbólica do que real,
09:33uma coisa que não fala a classe trabalhadora.
09:36Então, por exemplo,
09:37ninguém vai diminuir que uma pessoa trans
09:39tem problema na vida, tem que enfrentar.
09:41Agora, quantos trabalhadores hoje
09:43têm na escala de prioridade da vida deles
09:47a questão trans?
09:48Por exemplo,
09:49não estou diminuindo o problema do trans,
09:51mas o trans é 0,1% da população
09:54que tem um problema muito específico,
09:56que tudo bem que seja,
09:58ninguém quer que essas pessoas,
09:59como todas as outras,
10:00tenham menos direitos,
10:02que tenham acesso a tudo
10:04que qualquer cidadão tem que ter acesso.
10:07Mas o trabalhador que precisa de emprego,
10:08que está vendo a desindustrialização,
10:12que está vendo...
10:13E agora vem a inteligência artificial,
10:15que provavelmente vai causar
10:15uma nova onda massiva de desempregos
10:19e de rearranjo econômico,
10:21que quer botar o filho na universidade.
10:25E as universidades ficaram...
10:26Esse é outro ponto sociológico importante.
10:28Nas últimas décadas,
10:29as universidades americanas também
10:31ficaram muito mais elitizadas.
10:34Então, se você for olhar, por exemplo,
10:35até os anos 90,
10:37eu vi os números da UCLA, por exemplo,
10:39que é uma das maiores e mais importantes...
10:40UCLA, não, perdão,
10:41da Universidade da Califórnia.
10:43A de LA é apenas uma delas.
10:46Você tem várias ao longo da Califórnia.
10:48Você tem Irvine, Berkeley, San Diego,
10:51onde estuda minha filha, orgulhosamente,
10:53em várias outras,
10:53mas é tudo da Universidade da Califórnia.
10:55Até os anos 80, 90,
10:58mais ou menos 70% das pessoas
11:00que aplicavam, entravam.
11:02Hoje não chega...
11:03É cinco, é três,
11:05dependendo da universidade de elite.
11:07E essas universidades se orgulham disso.
11:09Mas, ao mesmo tempo,
11:10você olha e fala assim,
11:11isso virou uma brincadeira de elite,
11:15onde as faculdades custam
11:1770 mil dólares por ano,
11:1960, 70 mil dólares,
11:20que é uma coisa caríssima
11:22para padrões americanos, inclusive.
11:25Elas não...
11:27De cada...
11:28100 pessoas que estão aplicando,
11:30estão entrando três, duas, cinco.
11:32E essas pessoas vão criar essas dívidas
11:36e até, eventualmente,
11:37o Partido Democrata diz,
11:39olha, e a gente pode até,
11:40inclusive, em algum momento,
11:41perdoar.
11:43Ou te dar um empréstimo
11:44a perder de vista
11:45e, eventualmente, perdoar.
11:46Então, já tem gente olhando isso,
11:48inclusive do lado da esquerda,
11:49falando, olha,
11:50a gente está criando uma elite
11:52que vive numa bolha,
11:53que só ela tem diploma,
11:55que só ela tem acesso
11:57a uma série de coisas.
11:58e isso está fazendo,
12:00inclusive,
12:01com que essa elite
12:03fique totalmente desconectada
12:05das necessidades reais
12:07da classe trabalhadora.
12:08E, realmente,
12:09essas pessoas,
12:10a gente vai ver
12:10essa elite de Nova York,
12:12Los Angeles,
12:13Chicago,
12:14Washington,
12:14você vê realmente
12:15muita gente alienada,
12:17muita gente
12:18que só consegue enxergar
12:19essas questões simbólicas,
12:21essas questões identitárias,
12:23essas questões
12:23que não têm nada a ver
12:24com o americano comum,
12:26com o trabalhador comum.
12:27e isso leva a que essas pessoas
12:29se vinguem nas urnas.
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