- 29/06/2025
A Coalizão Licença Paternidade (CoPai), grupo formado por organizações da sociedade civil, por empresas e por parlamentares, lançou no início de maio uma frente parlamentar para ampliar o número de dias de licença-paternidade no Brasil, atualmente de cinco dias.
O objetivo é, via projeto de lei, mudar a legislação para permitir que a licença para os pais suba para 30 dias, podendo ser mais tarde ampliada para 60 dias. Camila Bruzzi e Caroline Burle, da Copai, são as convidadas do Crusoé Entrevistas desta semana.
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O objetivo é, via projeto de lei, mudar a legislação para permitir que a licença para os pais suba para 30 dias, podendo ser mais tarde ampliada para 60 dias. Camila Bruzzi e Caroline Burle, da Copai, são as convidadas do Crusoé Entrevistas desta semana.
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NotíciasTranscrição
00:00Olá, seja muito bem-vindo. Eu sou Duda Teixeira e esse é mais um Cruzoé Entrevistas. Hoje o
00:13assunto é licença-paternidade e para falar sobre isso a gente tem aqui no estúdio a Camila Bruse,
00:21presidente da coalizão licença-paternidade ou copai. Camila faz um aceno para a gente saber que
00:27você e a Caroline Burli, que é presidente adjunta da copai. Serão muito bem-vindas ao Cruzoé Entrevistas.
00:36Obrigada, é um prazer estar aqui com você, Duda. Obrigada pelo convite, é um prazer mesmo.
00:41Legal. Bom, gente, eu queria então que vocês explicassem a licença-paternidade hoje por lei,
00:47são cinco dias, certo? Por que essa campanha para aumentar o número de dias?
00:53Olha, quando a gente pensa licença-paternidade, vem muito de uma tradição que a gente, o mundo
01:05que a gente cresceu, onde o pai ele não era compreendido como sendo uma figura em que tinha
01:11um papel fundamental na criação dos filhos. O papel do pai é entendido muito como sendo o provedor,
01:18sendo aquele que tem que proteger a família, e isso continua sendo muito válido. Mas hoje há estudos
01:24e muitos dados mostrando que o papel do pai é fundamental em inúmeros aspectos, né? E a gente está
01:34numa situação hoje de sociedade que a família está sendo muito enfraquecida. A gente tem inúmeros problemas
01:41sociais sociais, né? De abandono paterno, de delinquência juvenil, de jovens cada vez mais
01:49envolvidos em criminalidade, abandonando a escola, que no final das contas muitos desses são causados por
01:57esse enfraquecimento do conceito de família e da criação desde o começo da vida, da primeira infância.
02:05Então, quando a gente, de novo, volta nessa questão dos estudos, a gente consegue entender, né, que ter a
02:16presença do pai na criação dos filhos, de uma forma com um vínculo fortalecido e atuante no cuidado,
02:24tem uma interferência direta no desenvolvimento cognitivo, no desenvolvimento da inteligência emocional, né, que cada dia mais a gente sabe o quanto isso é importante
02:34para os estudos de um adulto saudável, né? Da autoestima e, né, enfim, a saúde mental, obviamente, e por consequência e todo o potencial de desenvolvimento que aquela criança vai ter no futuro, né?
02:49Quando a gente olha também estatísticas dessas questões sociais, né, que eu mencionei antes, a quantidade de, né, quem são as crianças que dão problema na escola,
02:59quem são aqueles que abandonam os estudos, quem são aqueles que se envolvem com criminalidade, né, dados da população carcerária, de uma penitenciária,
03:09e a gente vê as estatísticas, a grande maioria, em todos esses, são filhos de, ou seja, são pessoas que não tiveram um pai presente durante a sua criação, né?
03:22Então, aí, isso estabelece uma importância muito grande de ter uma atuação muito mais próxima da presença do pai na criação dos filhos.
03:33E aí, voltando aí para a licença paternidade, um dado que a gente vem observando em inúmeros países que adotaram essa política,
03:42e quando comparamos famílias em que os pais estavam presentes de uma forma ativa no cuidado das crianças durante a licença,
03:53de uma licença ampliada, versus pais que não tiveram uma oportunidade de uma licença ampliada,
03:59o que a gente observa é que a probabilidade desse pai continuar presente no cuidado dos filhos ao longo da vida,
04:05ela aumenta muito.
04:07Então, é um benefício que traz...
04:09Você quer um vínculo ali, né?
04:10Exatamente. Você dá a oportunidade de criação, o fortalecimento desse vínculo afetivo e de criação de hábito, né?
04:19E a criação de hábito não acontece em cinco dias, não acontece nem em poucas semanas.
04:24Ela acontece ao longo de um bom período.
04:27A campanha de vocês é levar esses cinco dias para quantos dias?
04:32Então, isso é uma questão complexa, porque existe o ideal e existe o que é possível, né?
04:40E a gente acha que hoje no Brasil, cinco dias é pouco demais.
04:45A gente quer ir aumentando isso progressivamente, para também considerar que a gente não faz sentido fazer uma mudança muito brusca.
04:53A gente pode ir aumentando isso progressivamente.
04:56Hoje a gente apoia um PL, um projeto de lei, que propõe iniciar com 30 dias de licença,
05:03expandindo para 45 e chegando até 60 dias ao longo de quatro anos.
05:08Então, essa é a proposta que a gente está apoiando como coalizão.
05:13Deixa eu complementar o porquê que a gente está apoiando essa proposta, que eu acho que é importante.
05:17Houve um grupo de trabalho na Câmara dos Deputados, que foi um grupo multissetorial,
05:22que ocorreu, ele ainda existe, mas de 2023, início de 2023 até o final do ano,
05:29houve diversas reuniões desse grupo de trabalho.
05:33Então, é um grupo que tem na sua composição parlamentares, né?
05:37Então, deputados e deputadas da Câmara.
05:41Tem representantes das empresas, então, das associações empresariais, por exemplo.
05:45Também a CNI, a CNC, que são as confederações do nacional do comércio, da indústria do comércio.
05:54Representantes do governo, do executivo.
05:58E também instituições não governamentais que apoiam a licença, a ampliação dela.
06:05E com muito embasamento científico nessas discussões.
06:08Então, foi um ano de discussão para a gente chegar nesse projeto que a Camila comentou.
06:14Ou seja, só para dizer, não é qualquer projeto de lei.
06:17Existem inúmeros que foram propostos ao longo dos anos.
06:20Mais de 100.
06:20E esse a gente escolheu especificamente porque foi um trabalho robusto, multissetorial, multipartidário,
06:26com envolvimento da sociedade civil.
06:28Então, é isso.
06:29Eu acho que isso que a Camila comentou agora também é importante.
06:31É um projeto de lei que foi assinado por 17 parlamentares de diferentes partidos.
06:38Então, isso é importantíssimo.
06:39Então, eu vi que na frente parlamentar estava a Damaris Alves e a Tabata.
06:47Vocês estão meio que em todos os partidos?
06:49Ou tem algum partido que oferece resistência, algum setor?
06:53Olha, a gente está nesse processo que a gente está começando essa tramitação e essa
06:56conversa ali no legislativo.
06:59Mas a nossa posição é que nós, como organização, nós somos uma organização a partir da área.
07:06Nós temos uma causa que é válida para toda a sociedade e, portanto, deveria ser para todos os partidos.
07:13Então, nesse caso, a gente fez a avaliação de quais os projetos de lei que existiam disponíveis para a gente apoiar.
07:21A gente escolheu esse justamente por ser um projeto de lei que já naturalmente já envolvia múltiplos partidos.
07:30E ele está indo exatamente com essa abordagem de união.
07:35Então, eu acho que a gente fez o lançamento da Frente Parlamentar semana passada, que você está mencionando.
07:39E eu acho que foi muito legal, foi um grande avanço, uma conquista do nosso trabalho de ter conseguido montar essa frente
07:47unindo partidos de esquerda, centro e direita, em prol de uma pauta que deve fazer sentido para toda a sociedade.
07:57A gente ainda não chegou no ponto de entender quais os partidos que vão, possivelmente, ser contra.
08:03Mas o nosso objetivo é conseguir atingir e sensibilizar a todos.
08:07Acho que, só complementando, a gente tem muito claro que é uma pauta da família e os primeiros beneficiados, eles são as crianças.
08:16Então, a partir do momento que a gente entende que isso é em prol do futuro da nossa sociedade, começando agora, né?
08:24Alguns benefícios que a Camila já citou, então, essa importância do pai presente,
08:29fica fácil entender por que é uma causa super apartidária.
08:32Então, nós, como coalizão, somos apartidárias, né?
08:35Então, a gente não está ligado a nenhum partido.
08:38E a Frente Parlamentar, que a gente está atuando como Secretaria Executiva, é suprapartidária.
08:44Tanto que é o que você mencionou.
08:46A gente tem ali a Tabata Amaral como presidente,
08:49a Damares, que é a senadora, é uma frente parlamentar mista,
08:53então, ela envolve Câmara e Senado como vice.
08:56E também a deputada Benedita, que é a representante da Secretaria da Mulher,
09:03como vice junto com a Damares.
09:05Tá.
09:06Vocês falaram, então, de aumentar para 30 dias e depois, principalmente, para 60.
09:11Como é que funciona em outros países?
09:13E eu acho que eu sei que...
09:14Acho que tem alguns países europeus que você pode até escolher,
09:17em algum momento, se é a mãe ou o pai que vão cuidar mais da criança.
09:22Não tem uma coisa assim?
09:23Isso, exatamente.
09:24Hoje, internacionalmente, né, nos últimos anos,
09:29a licença paternidade, ela aumentou quatro vezes.
09:33Passou de 13% para 63% dos países, até 1995 a 2022, tá?
09:40Então, é uma tendência de aumento de licenças parentais e paternidade ao redor do mundo.
09:47A Europa, inclusive, estabeleceu, a partir de 2020,
09:49uma recomendação que todos os países da União Europeia adotassem,
09:54pelo menos, quatro meses de licenças maternidade e paternidade.
10:00E aí, indo para esse seu ponto, né?
10:02Hoje, os países que são vanguardistas em licenças parentais ampliadas,
10:08eles, geralmente, oferecem essa licença parental,
10:12que significa que é um período muito ampliado, né,
10:17em comparação com o que a gente tem aqui,
10:19onde eles dão a escolha para cada família fazer uma opção
10:23do quanto daquele tempo vai ser tirado pela mãe
10:26e do quanto daquele tempo vai ser tirado pelo pai.
10:28Mas, o interessante, a gente observou, né,
10:32até quando a gente estava fazendo todo esse estudo
10:34de ver as melhores práticas para propor o que era uma política ideal para o Brasil,
10:40obviamente, levando em consideração todas as diferenças culturais
10:43e socioeconômicas que a gente tem, né,
10:46a gente viu que até os países mais avançados nessa pauta,
10:51mais progressistas, né, enfim,
10:53eles também identificaram uma dificuldade de fazer a mudança cultural
11:00enquanto não havia um período mínimo obrigatório para os pais.
11:06Então, hoje, na Suécia, por exemplo,
11:08que é o grande case, né,
11:10que foi o primeiro país a adotar uma licença parental estendida,
11:15eles hoje já oferecem 90 dias que são obrigatórios para os pais.
11:19Se os pais não tiram, o casal não ganha esse período.
11:21O mesmo exercício, esse mesmo movimento de identificação
11:25da importância de ter um sumínimo obrigatório aconteceu na Alemanha, por exemplo.
11:29E, à medida que eles vão implementando esse período,
11:32eles vão observando os resultados das intenções
11:35quando as políticas foram desenhadas.
11:38Então, o último país que eu queria mencionar é a Espanha,
11:42porque a Espanha já é um país, obviamente,
11:45ainda bem mais rico que o Brasil, né, é um país europeu,
11:48mas que tem uma cultura um pouco mais na nossa direção, né.
11:53E eles já introduziram essa política pública
11:57considerando essa separação de licença maternidade e paternidade
12:01e foram implantando políticas para o pai progressivamente.
12:09Então, começaram também com um período menor
12:11e foram aumentando até que recentemente chegaram
12:14num período de quatro meses em paridade com a maternidade,
12:20conforme a recomendação da União Europeia.
12:22E esse é o modelo, né, esse modelo de manter a paternidade separada
12:28para o estágio de Brasil que temos hoje
12:32é o modelo recomendado, que a gente está recomendando
12:35e que a gente está entendendo que os especialistas também
12:40acham que é o melhor ser seguido nesse momento.
12:43E tem crítica do tipo, olha, mas a gente não pode dar 30 dias para o pai
12:47porque isso vai prejudicar a produtividade das empresas?
12:50Sim, sim. Existe, sem dúvida, existe essa preocupação, né.
12:57E o interessante é que as empresas,
13:02as empresas que não têm políticas parentais, né,
13:05não têm políticas de licenças estendidas,
13:07elas morrem de medo, elas têm um receio muito grande.
13:11Mas muitos desses receios são baseados em mitos,
13:14porque as empresas que oferecem a licença ampliada
13:18e muitas delas até acima do, da empresa cidadã, por exemplo, né,
13:25que oferece 20 dias, elas estão muito contentes com a política,
13:30elas estão observando que houve um impacto mínimo
13:34em termos de organização e, pelo contrário,
13:39um impacto muito positivo em diversos outros KBIs.
13:43Inclusive, a gente tem acesso a pelo menos três estudos
13:47de consultorias importantes, McKinsey, BCG, Ernest Young,
13:51mostrando que muitas empresas apontam aumento de lucratividade
13:55com licenças parentais estendidas, né.
13:58Por quê?
13:59Porque é o aumento de engajamento dos funcionários,
14:01que voltam muito mais engajados com a empresa,
14:05isso reduz a rotatividade, reduz o custo de contratação
14:10e também aumento de produtividade dos funcionários, né.
14:14Tem uma maturidade ali intrínseca que acontece
14:17nesse momento de exercer a paternidade por completo,
14:23que é refletido na produtividade na empresa também.
14:27Então, isso tem sido muito rico.
14:29Agora, tem um outro aspecto também que ajuda a desmistificar
14:32esse receio das empresas,
14:34que é muito simples, né.
14:36Primeiro, tem um medo de impacto em custo
14:40e a gente deixa muito claro que a proposta
14:44é que esse custo seja um custo do Estado, tá.
14:49Assim como acontece na maternidade.
14:52Hoje, quem paga pelos cinco dias são as empresas.
14:54E o que a gente está propondo é que a licença paternidade
14:57seja paga pelo INSS, assim como a maternidade também é, tá.
15:02E um outro ponto que é importante desmistificar
15:05é que quando a gente pensa, né, a nossa faixa etária,
15:09talvez os empresários, os empregadores,
15:11pensa em a taxa de natalidade que tinha antigamente, né.
15:15Mas hoje em dia, a taxa de natalidade no Brasil
15:18é de 1,6 filhos por casal, por pessoa.
15:22Ou seja, um funcionário vai sair de licença, na média,
15:271,6 vezes na vida dele.
15:29Isso é muito pouco.
15:32Você mesmo comentou que tem uma filha, né.
15:34Uma filha, é.
15:35Pois é, muitos nem têm filhos.
15:37Deixa eu só complementar, Camila.
15:39Eu acho que é importante a gente dizer o seguinte,
15:41as empresas que a Camila mencionou,
15:43que já aplicam a licença paternidade
15:47para os seus funcionários,
15:50elas têm casos muito interessantes.
15:53Então, vou dar alguns exemplos práticos aqui
15:56de empresas que já aplicam isso.
15:57A gente tem, por exemplo, a Visa,
16:01o escritório de advocacia Mato Filho, né,
16:03que é enorme aqui em São Paulo.
16:05A Estrela Galícia, uma empresa de bebidas,
16:08já aplicam 60 dias de licença paternidade,
16:11que é o que está no projeto de lei.
16:13Mas a gente tem outros casos muito interessantes
16:16e que é só benefício que estão colhendo.
16:20Por exemplo, a Sanofi, que é uma grande farmacêutica.
16:23A Diajo, que é uma empresa de bebidas, né.
16:25Outro escritório de advocacia,
16:28que é um pouco menos conhecido,
16:29mas também é um escritório grande aqui,
16:31que é o SBZ,
16:32tem 180 dias de licença.
16:34Ou seja, seis meses.
16:37Então, a gente tem casos muito ricos.
16:39Para os pais.
16:39Para os pais.
16:40Caramba.
16:41Agora, a Camila falou que é importante isso
16:45para melhorar esse vínculo, então,
16:47do pai com o filho ou com a filha, né.
16:49E que isso vai ser bom para o resto da vida, né,
16:52dessa criança.
16:54Mas acho que tem uma outra questão aí também,
16:55que é você meio que diminuir o peso
16:57em cima da mãe, né.
16:59Porque, geralmente,
17:01a mãe fica com a maior parte...
17:03A mãe, de qualquer maneira,
17:05tem muito trabalho no começo, né.
17:07Mas você também ajuda a equilibrar um pouco
17:09a relação do casal e do trabalho, né.
17:13De fato.
17:13Relação homem-mulher, né.
17:15De fato.
17:16E isso trazendo aí,
17:19tanto no curto prazo,
17:21ou seja, nesse momento da licença,
17:24que é um momento aí de muita mudança na família,
17:27e que é importante ter o apoio
17:29do marido em casa, ajudando a mãe,
17:32quanto no longo prazo, né.
17:34Então, assim, no curto prazo,
17:36a gente tem estatísticas mostrando
17:38que a presença do pai reduz
17:40até a taxa de mortalidade de recém-nascidos,
17:45aumenta o aleitamento materno,
17:47melhora o desenvolvimento de fala.
17:50E aí, essa questão do aleitamento materno,
17:52até um caso curioso, né,
17:53e muito vinculado também
17:54a essa questão da sobrecarga da mãe, né.
17:56Porque a primeira coisa que vem na nossa cabeça
17:59quando a gente pensa, né,
18:00do pai estar em casa na licença-paternidade,
18:02é, ai, gente, mas o pai não tem como amamentar, né.
18:07E é natural a gente pensar isso.
18:10Mas, quem já passou por isso, né,
18:14e depois, olhando as estatísticas também,
18:16entende melhor, né.
18:18Que é o que, primeiro,
18:19a amamentação não é uma coisa
18:21tão natural quanto se fala, né.
18:24Assim, tão fácil, digo, é natural, né,
18:26mas tão fácil e instantâneo como se fala, né.
18:31Mais de 50% das mulheres têm dificuldade
18:34de amamentar, ou seja,
18:36de fazer aquele processo de aprendizado,
18:39de adaptação dela e do bebê
18:41para que a amamentação aconteça.
18:44E aí, né, vou usar o meu caso específico,
18:46mas lembrando que isso é muito frequente, né.
18:49A minha filha, não, meu bebê não abria a boquinha direito,
18:54não sabia fazer a pega,
18:56ela chorava muito, não conseguia sugar o leite.
18:59Aí, com isso, o leite empedrava, né,
19:02isso dá mastite, a gente fica com febre,
19:05precisa fazer umas massagens especiais.
19:07Aí, a gente fala, o bebê começa a perder peso,
19:10emagrece muito, você fica preocupada com a saúde do neném.
19:14Aí, a gente fala com consultores de amamentação,
19:16com enfermeiras que nos ajudam,
19:18em muitas técnicas hoje em dia,
19:20mas que precisa de uma segunda pessoa,
19:22uma terceira pessoa, no caso, para nos ajudar,
19:24segurando o bebê numa outra posição.
19:26A gente precisa ficar inclinada numa posição
19:28que dá uma dor nas costas, assim, fenomenal.
19:31Você precisa estar bebendo água o tempo inteiro
19:33para poder conseguir amamentar,
19:35então, ter alguém ali te ajudando,
19:36trazendo essa água.
19:38A privação do sono, né,
19:39enfraquece muito.
19:42E aí, para fechar esse assunto
19:44com um dado estatístico, né,
19:45mostrando que isso não é um caso
19:47só peculiar lá em casa.
19:50Existe um estudo especificamente no Brasil,
19:52no Vale de Jaquitinhonha,
19:54comparando famílias em que o pai estava presente
19:56no nascimento do filho
19:57e o pai não estava presente,
19:59e os que estavam fora de casa
20:01aumentam em 1,6 vezes a chance
20:04de interrupção precoce da amamentação.
20:07E pensando aí na importância de amamentação, né,
20:11de saúde das crianças,
20:13enfim, do custo também,
20:15que é a compra-fórmula,
20:16que é um absurdo.
20:17Então, o pai tem essa importância
20:21de sobrecarga da mãe nesse começo,
20:24e aí, especialmente também,
20:26que não tem uma rede de...
20:27A maioria das famílias hoje
20:28não tem rede de suporte, né.
20:30Obviamente, as famílias privilegiadas
20:32podem pagar uma ajuda,
20:34mas a grande maioria das famílias no Brasil
20:36não tem.
20:37E a avó, que geralmente era uma pessoa
20:39que ajudava, a mãe da mãe, né,
20:41ajudava muito,
20:42hoje ela também precisa
20:43continuar trabalhando
20:45para garantir a renda dela.
20:46Ou está em outra cidade, né.
20:48Isso, então isso acaba ficando
20:49muito pesado nas mulheres.
20:50Aí, quando a gente pensa em longo prazo,
20:53quando ela volta para o mercado de trabalho,
20:56depois da licença,
20:5750% das mulheres,
20:59elas perdem o emprego.
21:02Seja porque elas foram demitidas,
21:04ou seja porque elas não conseguem voltar, né.
21:08E aí, lembrando, né,
21:09algumas mulheres têm a opção, né,
21:12privilegiada de escolher,
21:13tirar uma...
21:15Ou saírem do trabalho,
21:16ou tirarem um período sem trabalhar,
21:19para ficar com as crianças,
21:20que é uma opção muito válida,
21:22muito louvável.
21:23Mas a grande maioria das famílias brasileiras
21:25não tem essa opção, né.
21:27Mais de metade das famílias do Brasil
21:29já são chefiadas por mulheres.
21:31Ou seja, ou elas trazem o salário principal da casa,
21:36ou elas são mães solo.
21:39Ou seja, as mães perderem o emprego
21:41é uma situação gravíssima,
21:42socioeconomicamente falando, né.
21:45E aí, puxando para esse impacto de longo prazo,
21:50que as licenças ampliadas trazem,
21:53elas vão trazer também a normalização
21:56do que é você equilibrar um trabalho
22:00e o exercício da parentalidade, né.
22:03Que é a que você vai ter que sair mais cedo um dia
22:09para poder, né, buscar seu filho
22:10que pode estar doente na escola,
22:13ou que tem que levar o filho no pediatra,
22:16né, ou que, enfim, vai ter mais dificuldade
22:19de trabalhar no final de semana.
22:22E isso passa a ser mais normal
22:25à medida que os pais começam a fazer
22:26essas atividades também.
22:28Sim.
22:28Quer dizer, é uma mudança de mentalidade aí, né.
22:30Exatamente.
22:31Quer dizer, a hora que o filho fica doente,
22:33a professora ou a diretora da escola
22:35só liga para a mãe.
22:36Exato.
22:36E se o pai pedir licença no trabalho,
22:40pega mal, né.
22:41Pega muito mal, né.
22:42É mudar isso mesmo,
22:43tanto culturalmente nas empresas,
22:46quanto nas nossas famílias,
22:48na sociedade como um todo.
22:49Porque também tem o outro lado, né.
22:52O próprio SBZ, conversando com os pais
22:55que já tiraram licença lá,
22:57contaram que a dificuldade de, muitas vezes,
23:00a própria família falar,
23:02mas que absurdo, você vai ficar sem trabalhar
23:05há seis meses, onde já se viu.
23:08Então, assim, tem muita pressão
23:10da nossa sociedade, né,
23:12como um todo.
23:13Família, vizinhos, colegas, amigos.
23:16Então, é mudar também...
23:18Nosso próprio ego, né.
23:19É, tipo, ah, como assim eu vou deixar
23:21de ganhar dinheiro?
23:22Se bem que nesse caso,
23:23nem é deixar de ganhar dinheiro,
23:24porque a licença é remunerada, né.
23:26Esses casos que eu contei, né.
23:29E também, aproveitando o gancho,
23:31o que a gente defende para ser aprovado, né,
23:34para essa regulamentação,
23:36além de ter, no mínimo, 60 dias,
23:39é que seja uma licença remunerada.
23:42Então, né, a gente entende que,
23:45justamente para não onerar o empregador,
23:48que hoje, quem paga os cinco dias
23:50são as empresas, né.
23:53Isso não é o Estado.
23:54Inclusive, isso nem consta
23:56como licença paternidade.
23:58Entra como auxílio doença
23:59que a empresa paga.
24:02Então, além de mudar esse recado
24:04de que cinco dias é suficiente,
24:07que, na verdade, não é nem...
24:08Não chega nem perto de ser suficiente, né,
24:10para criar esse hábito
24:12e o pai está ali presente,
24:13tem também a questão
24:15da remuneração ser feita pelo Estado
24:18e as empresas não serem oneradas com isso.
24:21Gente, e essa conversa toda
24:23que a gente está tendo
24:23é muito baseado no emprego CLT, né?
24:28Não estamos falando aí
24:29dos empreendedores brasileiros
24:31que estão meio que...
24:32Essa é uma discussão que surgiu
24:34no grupo de trabalho,
24:35uma discussão muito importante,
24:37mas, nesse momento,
24:38a regulamentação, sim, é para CLT.
24:41Então, mas, por outro lado,
24:45os exemplos que eu dei
24:46de escritórios de advocacia,
24:47os advogados normalmente
24:51não são CLT, né?
24:52Alguns escritórios, sim,
24:53mas, no geral, não.
24:55Então, eu vou te dar um exemplo aqui
24:57muito legal
24:58de um dos nossos embaixadores,
25:00que é o Marcos Piangers.
25:02O assessor dele, o Douglas,
25:05o Piangers, para quem não conhece,
25:07é um pai super presente, ativo, né,
25:10muito ativo aí nas redes sociais,
25:11que fala da importância
25:13de realmente ser pai, enfim,
25:15é muito emocionante, assim,
25:17as falas dele são muito emocionantes
25:19e muita gente escuta,
25:20porque é uma mudança mesmo.
25:22E o Douglas, o assessor dele,
25:24é sensacional,
25:25porque ele tirou um ano
25:26de licença-paternidade.
25:28E ele é empresário também,
25:31ele é PJ, no caso, né,
25:33que é isso que você está trazendo,
25:34não é CLT.
25:35Ele trabalha só com Piangers,
25:37né, mas ele é um empresário,
25:39um microempresário,
25:40e eles fizeram um acordo
25:41que ele continuaria recebendo
25:43o salário dele,
25:44eles contrataram uma pessoa
25:46para substituí-lo
25:47nos primeiros meses,
25:48principalmente,
25:49foram ajeitando com o restante
25:50da equipe,
25:51e ele tirou um ano.
25:53E, inclusive,
25:53a falar dele é muito potente,
25:55porque ele fala que depois,
25:56quando o filho dele já estava
25:57com mais de seis meses,
25:59ele era muito sozinho,
26:00não tinha outro pai ali
26:02para compartilhar com ele.
26:03Ele era no parquinho,
26:04eram só as mães,
26:05o babás, enfim.
26:06Então,
26:08tem essa mudança interna também, né?
26:11É, não,
26:12é interessante que, assim,
26:13mesmo que a legislação agora
26:15foque nessa questão
26:16mais da CLT, né,
26:18e da lei,
26:19tem uma mudança toda
26:21de mentalidade
26:22que está acontecendo aí,
26:24que é super importante.
26:26Existem outros direitos
26:27que também podem ser dados
26:29aos pais,
26:31e aí que acabam depois
26:33beneficiando também a mãe,
26:35ou esse vínculo dos,
26:37vocês falam parentais, né?
26:39Dos pais com a criança.
26:43Pode falar, pode falar.
26:45Um outro possível direito
26:47que a gente acha
26:47que faz muito sentido
26:49é oferecer um pacote de dias
26:52que os pais podem tirar
26:53ao longo do ano,
26:55de licença,
26:57ao longo do ano das empresas,
26:59para poder acompanhar os filhos
27:00nessas atividades
27:01que geralmente são feitas
27:02exclusivamente pelas mães.
27:04Então, por exemplo,
27:05como a gente falou,
27:06levar no pediatra,
27:07ou ficar com o filho em casa
27:08quando ele está doente,
27:09com febre,
27:10não pode ir para a escola,
27:12né?
27:13Ou, enfim,
27:14para reuniões escolares,
27:16por exemplo,
27:17que geralmente também
27:18são reuniões que estão
27:19às mães.
27:20Então,
27:21é reconhecer,
27:23na verdade,
27:24o papel do pai
27:25como tendo uma importância
27:28fundamental
27:28na criação dos filhos,
27:30isso não sendo
27:31uma responsabilidade
27:32unicamente das mulheres,
27:34das mães.
27:36Eu até imagino que
27:37tem empresas
27:38que devem ter
27:38uma chefa
27:41ou uma presidenta
27:42e que também
27:43precisa mudar
27:44e entender
27:45que os funcionários homens
27:47têm
27:48essa importância
27:49também na criação
27:50dos filhos,
27:51não importa também
27:52se o chefe
27:53ou o dono da empresa
27:54é homem ou mulher, né?
27:55Todo mundo meio que
27:56precisa mudar
27:57essa mentalidade.
27:59Agora,
27:59eu lembro
28:00quando minha filha
28:02era pequena,
28:03logo que ela nasceu,
28:03eu fui
28:04no RH
28:05de uma outra empresa
28:06que eu trabalhava,
28:08eu estava todo feliz
28:08porque a empresa
28:09anunciava que tinha
28:10direito a creche
28:11e aí
28:12eu cheguei lá no RH
28:13e falei assim,
28:14gente,
28:15é o momento, né?
28:16E ele falou assim,
28:16não, não,
28:17direito a creche
28:17só para a mulher.
28:19Vocês acham que
28:19o homem também
28:20deveria ter o direito
28:21a creche?
28:22Com certeza,
28:23acho que você está falando
28:23de um apoio
28:24da empresa, né?
28:25Isso.
28:26Sim,
28:26não, com certeza,
28:27isso tem mudado, né?
28:29Você comentou
28:30que sua filha
28:30já tem quase 20 anos,
28:32felizmente,
28:33isso tem mudado.
28:34Então,
28:34pegando o meu exemplo,
28:35a empresa que eu trabalhava
28:36não era empresa cidadã,
28:38porém tinha
28:39esse direito
28:40a creche
28:41para os pais,
28:41esse benefício
28:42da empresa
28:42para os pais e mães.
28:44Então,
28:44se você tivesse
28:45um filho pequeno,
28:47seja pai ou mãe,
28:47você já tinha esse benefício.
28:49E eu acho isso
28:50de extrema importância
28:51que você está trazendo,
28:51porque é algo
28:52que a gente precisa
28:53institucionalizar
28:55para todas as empresas,
28:56é isso.
28:57Essa mudança
28:57parece muito pequena,
28:59mas na verdade
29:00é gigantesca.
29:01Super.
29:02Eu ia adorar
29:03levar e pegar
29:04na creche.
29:05Tem oportunidade
29:06de estar ali perto, né?
29:07Exato.
29:08Na hora do almoço
29:09pode dar uma passadinha, né?
29:11Sim, sim.
29:12Gente,
29:13deixei alguma coisa
29:14importante de fora
29:15que vocês queiram acrescentar?
29:17Não,
29:18eu acho que só
29:18para finalizar,
29:19a gente pode dizer
29:20que nós somos
29:21uma organização
29:22da sociedade civil,
29:24na nossa coalizão,
29:27tendo participantes,
29:29empresas,
29:30institutos,
29:30ONGs
29:31e pessoas físicas.
29:33Então,
29:33quem se interessar
29:33por esse assunto
29:34pode entrar
29:36no nosso site
29:36e entrar como signatário
29:38da pauta.
29:38É muito simples,
29:39basta preencher
29:40um formulário,
29:41pode ser com pessoa física,
29:43com pessoa jurídica,
29:45mas a partir daí
29:47vai começar a acompanhar
29:48um pouco mais
29:48do que vem acontecendo, né?
29:51Uma porta importantíssima
29:52para o Brasil,
29:53a gente precisa começar
29:54a avançar nessa conversa
29:56aí de passar a lei,
29:58né?
29:58E também da conversa
29:59na sociedade civil.
30:00Então,
30:01agradecemos aí
30:02quem quiser,
30:03tiver interesse
30:04de apoiar
30:05e entrar como signatário,
30:07vai ser maravilhoso.
30:08Eu acho que é uma briga
30:09que acontece em vários níveis, né?
30:10Então,
30:10é no Congresso,
30:12mas é também na empresa,
30:13é dentro de casa.
30:15Exato.
30:15Sem dúvida,
30:15dentro de casa é importantíssimo.
30:17É isso,
30:18é uma mudança cultural
30:19para toda a sociedade
30:20e a gente precisa ir aos poucos
30:22falando sobre isso
30:23e só para complementar,
30:26a Copai,
30:27ela não é nossa,
30:29ela é de todos nós, né?
30:30Então,
30:31por isso que é uma coalizão,
30:32é uma aliança de pessoas.
30:34A gente se coloca
30:34simplesmente como facilitadores
30:36de quem tem interesse
30:38na pauta
30:39e para dialogar mesmo.
30:41Legal.
30:41gente,
30:42parabéns aí
30:43pelo trabalho para vocês
30:44e muito obrigado
30:45pela presença
30:45hoje aqui.
30:47Obrigada a você,
30:47é um prazer.
30:49Bom,
30:49esse foi mais um
30:51Cruzoé Entrevistas,
30:53eu sou o Duda Teixeira
30:54e é isso,
30:54tchau,
30:55até a próxima.
30:55Transcrição e Legendas Pedro Ribeiro
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