Pular para o playerIr para o conteúdo principalPular para o rodapé
  • ontem
A taxa de mortalidade infantil no Benin é acima de 50%. A maior parte morre de malária, doença que já foi controlada em vários países do mundo. Os centros de saúde também não têm leite especiais para recém-nascidos. Quando a mãe não tem leite para dar, muitos bebês que nascem são deixados em um canto, à espera da morte. Neste podcast Latitude, dois médicos da Inspirali, Rodrigo Dias Nunes e José Lucio Martins Machado, falam sobre suas experiências e as de seus alunos na África.
-
Acompanhe O Antagonista no canal do WhatsApp.
Boletins diários, conteúdos exclusivos em vídeo... e muito mais.
Link do canal:

https://whatsapp.com/channel/0029Va2SurQHLHQbI5yJN344

Apoie o jornalismo independente, torne-se um assinante do combo O Antagonista | Crusoé e fique por dentro dos principais acontecimentos da política e economia nacional:

https://assine.oantagonista.com.br/planos

Ouça O Antagonista | Crusoé quando quiser nos principais aplicativos de podcast.

Leia mais em www.oantagonista.com.br | www.crusoe.com.br

Categoria

🗞
Notícias
Transcrição
00:00Rodrigo, e sobre as crianças, Rodrigo, você também tem alguma experiência?
00:05Sim, isso que o Zé Lúcio falou, eles têm esse conhecimento, eles têm essa consciência,
00:12tanto que todos nós, ao pegarmos um bebê no colo para fazer um exame,
00:17quando íamos devolver para a mãe, a mãe falava assim, não devolve, fica com ele,
00:21leva para o Brasil, porque aqui não tem chance de ter uma vida digna, de desenvolvimento,
00:26então eles têm essa consciência, e aí você imagina, uma mãe que tem como papel social ter filhos,
00:34e o amor que eles têm pelos filhos, é o mesmo amor que todos nós temos também,
00:39entregar na mão de outra pessoa, fala assim, leva, porque lá ele vai ter mais chance,
00:43é muito duro de ouvir, é muito duro de ver, é o que eu falo, dentro daquilo que eles têm,
00:49eles fazem milagre, eu me lembro a primeira vez que eu fui para o Benin,
00:54eu cheguei de noite, e no hospital me chamaram para atender uma paciente,
01:01que estava internada com uma infecção nos rins, e eu entrei na enfermaria,
01:06eram quatro camas, mas no chão da enfermaria, tinha pelo menos umas 15 pessoas deitadas,
01:11que eram os maridos e os filhos, porque quando eles iam para o hospital,
01:14eles levavam muitas vezes, como eu falei, dois, três dias caminhando,
01:17e não tinha como deixar a família em casa, tinha que ir todo mundo junto.
01:21E eu fui examinar essa paciente, por causa da infecção, ela estava sem leite,
01:26ela era uma puérpera, ela tinha ganho o bebê há sete dias,
01:29e eu perguntei onde estava o bebê.
01:31O bebê estava no canto da enfermaria, no chão, lá no cantinho mesmo.
01:35E a gente tem uma criança deitada de sete dias no chão,
01:38mas a explicação é que ela foi colocada lá como descarte, para morrer,
01:43porque como ela não tinha leite, ela não poderia,
01:45ela não tinha chance de sobreviver,
01:47porque lá não existe fórmulas artificiais como a gente tem aqui,
01:50e com bastante facilidade, né?
01:53E aquilo me chocou, me chamou muito a atenção.
01:55E a explicação que veio, eu falei assim, não, mas isso é normal.
01:59Se ela não tem leite, e ela tem outras seis crianças para cuidar,
02:02ela precisa gastar o tempo e a energia dela para cuidar aqueles que têm chance de sobreviver.
02:06Então, aquele foi descartado.
02:08Nós tínhamos acabado de chegar, então, quando a gente vai,
02:11a gente leva toda a nossa alimentação,
02:13a gente tinha leite em pó,
02:15e a gente preparava o leite em pó normal,
02:17que nós utilizamos para beber, em seringas,
02:19para dar para o bebê mamar no peito dela,
02:24mas era pela seringa.
02:25Isso estimularia a sucção no mamilo e formaria o leite.
02:29Se eu desse hoje, no Brasil, um leite em pó normal para uma criança,
02:34a gente seria preso, né?
02:35Mas lá foi a alternativa que a gente encontrou.
02:38Em uma semana, ela estava amamentando o bebê,
02:41ela recebeu alta com a infecção curada,
02:44e o bebê já hidratado e alimentado,
02:48e agora sim com chance de sobreviver.
02:50Mas eu trago essa história porque eles têm essa consciência
02:54da impossibilidade de vislumbrar um futuro melhor.
02:58Isso é muito triste.
03:01Eu acho que isso é uma das coisas que mais nos marca, né?
03:04E realmente, assim, como o professor José Luz falou assim,
03:07a quantidade de crianças é muito grande, é absurda.
03:12Muitas vezes, eles nem sabem a idade dos filhos.
03:17E a gente foi fazer um atendimento numa comunidade
03:20que ficava alagada no meio de um lago.
03:23É uma comunidade que se desenvolveu ali como fuga na época da escravidão
03:28para não ser capturado.
03:30E é de todas as comunidades que nós encontramos a comunidade literalmente mais paupérrima.
03:37Você fez uma pergunta da nossa comparação da pobreza da Amazônia com Benin.
03:42Eu acho que de zero a dez, se a gente considerasse a Amazônia como o zero,
03:48e a gente fosse olhar para Benin, Benin seria negativo, né?
03:51Em termos de pobreza.
03:52E nessa comunidade, na época de cheia, as casas são construídas em palafitas
03:57e o chão das casas são de madeiras ou de bambu com vários vãos.
04:02E ali, crianças pequenas, à noite, por não ter energia, não ter água encanada,
04:07à noite eles caem no lago e lá se perde.
04:11Então, é muito comum as pessoas morrerem nessa região do lago.
04:16E aí

Recomendado