00:00Na edição desta semana da Cruzoé, que já está no ar, o ministro diminuiu.
00:06Em um ano, Onyx Lorenzoni viu seu poder definhar e virou uma espécie de figura decorativa no Palácio do Planalto.
00:15A farra dos jetons, a base de brechas na lei, funcionários de alto escalão do governo continuam se lambuzando com pagamentos extras em conselhos de estatais.
00:26A contribuição do Supremo para a impunidade. A Cruzoé se debruçou sobre os processos contrapolíticos que foram enviados para a justiça eleitoral.
00:35E o resultado é aquele que já se imaginava. As condenações são raras.
00:41Aqui comigo, Helena Mader, Matheus Coutinho e Igor Gadelha. Helena, eu começo por você, com um aperitivo do que traz essa sua reportagem.
00:51Bom, a lei das estatais até tentou por um freio nesse esquema dos jetons, mas o velho jeitinho brasileiro falou mais alto. É isso?
01:02É verdade, Rodrigo. Eu analisei a tabela, a lista de todos os servidores do governo federal que recebem um jeton,
01:09que é um pagamento extra para que esse funcionário participe de reuniões de conselhos de administração ou conselhos fiscais de empresas estatais.
01:16Normalmente, essas reuniões são raras, uma por mês, duas por mês e os valores acrescidos ao contra-cheque desses funcionários é enorme.
01:25Pode chegar até R$ 21 mil de extra.
01:30E aí eu achei alguns casos que chamaram a atenção, como você falou, do chefe de gabinete do presidente Bolsonaro,
01:37que é um policial militar.
01:38No currículo dele, há apenas cursos na área militar, sobre policiamento comunitário, uso da força em manifestações, enfim.
01:47E ele foi nomeado para o conselho do BNDES-PAR, que é uma holding no BNDES, que gera um orçamento de mais de R$ 100 bilhões,
01:55um cargo muito técnico, né, que aprova a emissão de debêntures, aprova a balancete, enfim.
02:01E, como você falou também, muitos ministros no Sistema S, porque a lei de estatais proíbe a participação de ministros no Conselho de Estatais.
02:09Mas, como o Sistema S está fora da lei, foi a brecha, como você falou, que o governo achou para colocar ministros,
02:17como o ministro da Saúde, Mandetta, Luiz Henrique Mandetta e o chefe da Secretaria-Geral, Jorge Oliveira.
02:23Bom, os detalhes disso tudo na edição.
02:25Igor, Onyx esteve próximo de Bolsonaro ao longo da pré-campanha e, depois da eleição, ganhou uma das posições historicamente
02:35mais relevantes dentro do Palácio do Planalto, que é a Casa Civil.
02:41O que explica o fato de ele ter perdido tanto poder ao longo desse primeiro ano do governo?
02:46Olha, Rodrigo, no último semestre de 2019, houve ali uma articulação casada de vários ministros,
02:53entre eles Paulo Guedes e outros ministros, como Augusto Heleno, para enfraquecer o poder de Onyx Lorenzoni.
02:59Essas intrigas palacianas já ocorriam ali desde o início do governo.
03:03O ministro do GSI, o general Augusto Heleno, entregou ao presidente Jair Bolsonaro um dossiê
03:09com informações sobre o passado de Onyx.
03:12Bolsonaro, que já vinha um pouco insatisfeito com a relação de Onyx com o presidente da Câmara e do Senado,
03:17estava achando essa proximidade muito grande, estava incomodado,
03:20aproveitou aí o episódio do número 2 da Casa Civil, o José Vicente Santini,
03:26que voou de FAB lá para Davos, e aí aproveitou nessa última semana para enfraquecer ainda mais Onyx,
03:32demitiu Santini, e agora Onyx, que já havia perdido a articulação política do governo,
03:37também perdeu o PPI, que é o programa de privatizações.
03:40Onyx derreteu.
03:42Onyx derreteu.
03:43Ah, certo. Matheus, fala comigo.
03:45Bom, o Supremo decidiu enviar para a Justiça Eleitoral aqueles processos contrapolíticos
03:53que envolviam corrupção e Caixa 2, que tinham alguma relação com campanhas.
03:59Tem cerca de nove meses, dez meses que o Supremo tomou essa decisão.
04:05Você se debruçou sobre esses processos, sobre mais de uma centena de processos,
04:12e o resultado é pífio.
04:14Exatamente, Rodrigo. Infelizmente, nesse caso, como já se previa,
04:17a Lava Jato já anunciava quando o Supremo se debruçou sobre esse assunto,
04:20o desempenho da Justiça Eleitoral para cuidar desses casos tem sido simplesmente vergonhoso.
04:25E isso são por vários motivos.
04:28Passa desde a falta de capacitação técnica mesmo,
04:30você tem servidores, juízes que não estão acostumados a lidar com esses processos,
04:34que são bem complexos. Falta de estrutura física mesmo,
04:37você tem casos, assim, eu procurei vários TRS de todo o país,
04:41vários que sequer sabiam responder direito quantos processos tinham,
04:44e vários simplesmente falavam que, olha, nós não temos nem sala-cofre
04:47para poder guardar processos sigilosos,
04:49que são esses casos de investigações complexas.
04:51E o que se vê até hoje, no balanço, no saldo disso tudo,
04:54você pega desses principais casos da Lava Jato,
04:56são apenas duas condenações até agora na Justiça Eleitoral.
04:59São os casos de Fernando Haddad, o ex-prefeito de São Paulo
05:02ali, esse candidato petista à presidência,
05:04e de Fernando Pimentel, o ex-governador de Minas,
05:06que foram condenados nas respectivas justiças eleitorais em seus estados
05:10e aguardam, estão recorrendo agora.
05:12Mas, tirando esses casos, assim, o que se tem visto é uma demora muito grande,
05:16um vai e vem desses processos...
05:18Processos patinando.
05:20Exatamente. E os advogados também estão aproveitando para surfar nisso.
05:23Falam que tem crime eleitoral, quando nem sempre tem,
05:26ou vice-versa, falam que é castão da Justiça Federal,
05:28aí o Supremo fala que é justiça eleitoral, enfim, é uma confusão.
05:32Bom, uma boa contribuição para a velha cultura da impunidade.
05:35Exatamente.
05:36Essas e outras reportagens você lê na nossa edição,
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