00:01Não as vemos, mas são verdadeiros rios e albufeiras debaixo dos nossos pés.
00:06Serão as águas subterrâneas um tesouro que não estamos a aproveitar?
00:11Há riscos?
00:14Ao contrário de uma albufeira, que é um ponto único que distribui depois a água,
00:18portanto é fácil decidir, o aquífero não é uma massa de água contínua no espaço
00:22em que cada pessoa tem o seu furo, tornando um bocadinho difícil a sua gestão.
00:27Há quem defenda que estamos a utilizar as águas subterrâneas em excesso
00:31e a contaminar de forma preocupante.
00:34Mas há também quem tenha a visão oposta.
00:36É possível recorrer muito mais a estas águas invisíveis, os aquíferos,
00:41mesmo em períodos de seca.
00:42Temos aquíferos que estão claramente em subexploração,
00:46ou seja, conseguimos tirar lá muito mais água.
00:48Qual é a dificuldade?
00:49É que gerir um sistema aquífero é muito mais complexo do que gerir uma água superficial.
00:54Porquê? Porque não se vê.
00:55Muito preocupado, mesmo muito preocupado.
00:58É um recurso fundamental, quer para o consumo humano, mas também para a agricultura.
01:02É estratégico, é uma reserva estratégica fundamental.
01:05Infelizmente a seca, a redução da precipitação, não permitir recarregar esses aquíferos.
01:10Em Portugal, as águas subterrâneas são usadas sobretudo para a rega.
01:15Só 30% é usada para consumo humano.
01:17Mas no passado, a história já foi diferente.
01:21Lisboa era abastecida exclusivamente por águas subterrâneas.
01:24O aqueduto das águas livres, construído no século XVIII,
01:27era um vasto sistema de captação e transporte de água por via gravítica.
01:33Com o crescimento da população, as águas subterrâneas foram sendo abandonadas
01:36e substituídas por águas superficiais vindas da barragem de Castelo de Bode.
01:42As águas subterrâneas foram perdendo a importância que tinham até para o abastecimento humano.
01:47Se nós olharmos aqui há 40 anos, nós tínhamos muitíssimo mais água subterrânea
01:54a garantir o abastecimento das populações do que agora.
01:58E se, em alguns casos, essa água superficial trouxe realmente uma maior constância e capacidade de abastecimento,
02:08noutros casos, já não.
02:11Veja-se o caso do Algarve, onde eu construí duas barragens para abastecer o Barlavento e o Sotavento
02:18e agora já falo da desalinização.
02:20Mas a base que estava no consumo de água há umas décadas atrás era a água subterrânea.
02:26Portanto, eu tenho perdido sustentabilidade naquilo que é esta capacidade de gestão de água
02:35e agora já não consigo voltar atrás.
02:37Num futuro com períodos de maior seca e menos chuva,
02:40serão as reservas subterrâneas resilientes o suficiente para voltarmos a elas?
02:45Os aquíferos eram, obviamente, uma forma muito mais resiliente de eu poder ter água armazenada.
02:53Porque eu posso ter dois, três anos de seca, quatro anos, quer dizer, mas a água subterrânea não evapora
02:59como evapora a água superficial.
03:03E, portanto, tinha ali uma garantia, digamos, de gestão.
03:09Mas o que são exatamente estas massas de água ou sistemas de aquíferos?
03:13Como funcionam?
03:14Um aquífero é uma reserva de água subterrânea.
03:19Essa água vem da chuva e infiltra-se nos solos, alimentando vários níveis diferentes
03:23que funcionam como reservatórios.
03:26Alguma da água escoa para os rios e para o mar, enquanto outra fica depositada debaixo do solo.
03:33É essa que podemos ir buscar.
03:35João, isto é um furo para captar águas subterrâneas.
03:38Como é que isto funciona?
03:39É verdade.
03:40Nós, em Portugal, tradicionalmente captamos a água subterrânea de três maneiras.
03:45As nascentes, como nós conhecemos, que é onde a água subterrânea surge à superfície.
03:49Temos os poços, que são aquelas captações tradicionais.
03:52E depois, a partir dos anos 60, 70, com base na tecnologia de petróleo, começou a se desenvolver
03:57então furos, que são captações mais estreitas, mas de grande profundidade.
04:01E vão buscar água aos aquíferos.
04:03Exatamente.
04:03Este caso, em concreto, é para consumo humano, porque é um sistema de abastecimento.
04:08Os agricultores, geralmente, têm os seus furos próprios e a indústria pode usar o de
04:12abastecimento público ou, se a rede de abastecimento público não tiver capacidade, fazem também
04:16os seus furos.
04:16Estamos a falar na Península de Setúbal, onde temos uma grande riqueza de águas subterrâneas.
04:20Noutras zonas não será assim, será mais superficial.
04:23Neste caso aqui é 100% águas subterrâneas.
04:25Estamos a falar de furos que podem dar entre 100 a 150 litros por segundo.
04:29E se nós admitirmos que 150 litros por segundo é mais ou menos a capacitação de uma pessoa
04:34que gasta por dia de água, estamos a ver a capacidade de abastecimento público com
04:39furos desta natureza, com este caso, pode dar.
04:42É quando olhamos para a margem esquerda do Tejo que percebemos a importância das águas
04:46invisíveis.
04:48O sistema aquífero da bacia do Tejo Sado é o mais importante do país, um enorme reservatório
04:53natural que abastece quase 120 mil pessoas na Península de Setúbal.
04:58Mas no país há situações muito diferentes.
05:01Há aquíferos com reservas de água comparáveis a vários alquevas e outros onde a subexploração
05:07levanta já preocupações.
05:09A bióloga e ambientalista Cláudia Sil, da plataforma Água Sustentável, alerta para
05:15a situação no Algarve.
05:16Vai-se medindo o nível dos aquíferos e todos os aquíferos no Algarve estão abaixo do
05:21percentil 20, ou seja, têm muito pouca água.
05:24É evidente que os aquíferos não têm sofrido recarga por causa da redução da polvilicidade,
05:31mas também é evidente que um aumento, uma explosão da área de regadio está a contribuir
05:39para esse fenómeno que nós estamos a assistir.
05:42A informação oficial que nós, a plataforma Água Sustentável, temos é que existem legais
05:4720 mil furos, mas há uma estimativa de que ilegais sejam os outros.
05:52O consumo é muito elevado.
05:54João Nascimento tem uma perspetiva diferente.
05:56O Algarve tem sistemas aquíferos que estão subexplorados, ou seja, podemos ir lá buscar
06:00mais água.
06:01Parece contraditório?
06:03Como se explica que seja possível olhar de forma tão divergente para as águas subterrâneas?
06:07A explicação está nos modelos utilizados para medir a quantidade de água disponível.
06:12Muitas vezes temos um indicador que nos dá um ponto em mau estado, mas depois vamos
06:17ver a série desse ponto e só baixou um metro e um metro numa altura de seca em água subterrânea
06:23é insignificante.
06:25Não se esqueçam que estamos a falar de furos de 200, 300 metros e um metro não é nada.
06:29O que se passa é que os aquíferos têm sido reservados mais para a agricultura por
06:33serem difíceis de gerir.
06:35Então afastamos um bocadinho a responsabilidade da gestão do aquífero assim.
06:39Mas não, existem aquíferos no Algarve que poderão contribuir para o assistimento público.
06:43Aliás, como já foi feito, na seca de 2004-2005, em que o Algarve não estava a ser abastecido
06:49por qualquer origem de água subterrânea e as alpefeiras secaram e foi preciso abastecer
06:55a partir do aquífero de Crença Silves que abasteceu o Algarve durante o verão sem problema
06:59nenhum.
07:00Atualmente existem ferramentas que nos permitem pegar nas características do aquífero e dos
07:06seus utilizadores e simular num computador.
07:08Três dimensões, duas dimensões, podemos pôr mais chuva, cenários de alterações
07:14climáticas, pôr pessoas a tirar mais água, pessoas a tirar menos e vamos saber o que
07:20é que acontece nesse aquífero, vamos simular.
07:22Mas ainda não o estamos a fazer.
07:24O modelo que aplicamos não permite conhecer profundamente a realidade de cada aquífero.
07:29Há uma espécie de gestão às cegas.
07:31Em Portugal damos mais prioridade à gestão por indicadores, que tornam a gestão um bocadinho
07:39mais cega, porque os aquíferos tendem a ser geridos de mais ou menos a mesma forma.
07:44Quando sabemos que quando o nível atinge uma certa porcentagem, dizemos que está em mau
07:47estado e este valor é o mesmo para todas as massas d'água.
07:51Há ainda muita margem para aconselharmos uma verdadeira gestão integrada, superficial e
07:57subterrânea.
07:58Temos de medir melhor, mas também proteger mais.
08:02O tipo de construção tem impacto na recarga dos aquíferos e a agricultura muitas vezes
08:07contribui para os poluir, comprometendo a sua qualidade.
08:10Sempre que há seca, há uma pressão sobre a qualidade.
08:13Menos água nos rios, menos água nos subterrâneos, aumenta as questões de qualidade.
08:17E aqui a agricultura tem um papel fundamental.
08:20Aquilo que é o uso, que deve ser sustentável e muito racional, do uso dos fertilizantes e dos
08:25fitofarma.
08:26É um caminho que temos de fazer e, acima de tudo, temos de capacitar com instrumentos
08:30para poder agir melhor.
08:31Se as conhecermos melhor, poderemos fazer delas fortes aliadas no combate às alterações
08:36climáticas e aos períodos de seca.
08:39Dependeremos mais delas no futuro?
08:41Se tivermos vários anos de seca, quanto é que o aquífero aguenta?
08:45Nós temos a períodos de seca, como o atual, que não há rebaixamentos significativos,
08:50mas nós sabemos que se houver 3, 4, 5 anos de seca, sabemos que o aquífero tem muita capacidade
08:55de fornecer água, mas não sabemos quanta.
08:58E é esse trabalho que falta, que é conhecer a resiliência dos nossos sistemas acusos.
09:04Estamos a falar do invisível, do recurso que não se vê e, por vezes, não é fácil
09:09saber quanta água podemos tirar dali, quais são os impactos de pôrmos aqui uma captação
09:13e o meu fascínio sempre foi esse, foi da incerteza associada às águas subterrâneas
09:19e de que forma é que nós podemos lidar com essa incerteza.
09:22Estará já Portugal a olhar seriamente para este tesouro líquido debaixo dos nossos pés?
09:27Estará Portugal?
09:27Estará Portugal?
09:27Estará Portugal?
09:28Estará Portugal?
09:34Estará Portugal?
09:36FICHER
09:39ождena
09:41Segunda
09:42Oste seit
09:43Resolver
09:44pandemia
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09:45PODISTRO
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