Tudo começa em 1785, com a chegada da pequena infanta espanhola Dona Carlota Joaquina de Bourbon a Portugal para casar-se com D. João VI, que à época atendia por Infante Dom João de Bragança. Já em 1808, após muita indecisão, D. João VI resolve transferir a corte para o Brasil, para fugir dos ataques e do poderio bélico de Napoleão Bonaparte. Em paralelo à história dos monarcas, se desenvolve o romance da donzela Manoela com Francisco Gomes, o Chalaça - um dos melhores amigos de Dom Pedro de Bragança.
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DiversãoTranscrição
00:00No capítulo anterior, foi-se a família real portuguesa.
00:09Dá-me a honra de conduzir a rainha ao mar?
00:15Cuida dela, filhinha.
00:17Cuida, pai.
00:18Cuida da tua vida.
00:24Cuida do Brasil, né?
00:26Cuida, pai.
00:27Eu te amo, filhinho.
00:31Eu te amo também, pai.
00:34Podem ficar, porque desta terra não levo nem a poeira que gruda nos sapatos.
00:42Mas ficaram os problemas, tanto políticos como amorosos.
00:53Mas o caço é minha mão.
00:54Desculpe por ter mantido minha face no caminho dela.
00:57Quem é esse louca que bate no príncipe?
00:59Pergunte ao príncipe, ele pode vos responder.
01:01Eu posso?
01:02Eu posso.
01:03Então por que não faz?
01:05Não tem que ser agora.
01:06A moça está tão nervosa.
01:07É impressão tua.
01:08Estou perfeitamente calma.
01:09E se não ficar quieta, estarás perfeitamente morta?
01:11Já estiveste aqui o amigo de Francisco Gomes.
01:14Mas eu podia ir, o assunto é meu desde que cuida.
01:15Ninguém bate em uma príncipe.
01:17Por que não?
01:18É um posto de virtude, é o homem mais honesto do mundo.
01:20Com certeza, e é o príncipe, você deve respeitar.
01:22E ele, você dá o respeito.
01:24Não, não, não, brinca não, brinca não.
01:26Calma, calma.
01:26Eu posso ir lá, essa princesa.
01:28Tem que dar um exemplo, eu vou te dar uma dignidade.
01:31Por favor, eu vou te dar uma dignidade.
01:32Por favor, eu vou te dar uma dignidade.
01:33Não pare com isso.
01:35Eu vou te dar uma dignidade.
01:36Mas o que é isso?
01:37São duas mães de família.
01:39Achem como rameiras.
01:41Só que a Rosabella motivo para essa mulher te bater.
01:43E alguém lá sabe realmente o que era uma mulher?
01:45Vosso marido sabe.
01:47Perguntas que ele responde.
01:48Ele podia ir, o bebê está a chorar.
01:50Melhor ir ao quarto vê-lo.
01:52Mas você está aqui num cestinho, Pedro.
01:54Estamos aqui a gritar e o bebê aqui.
01:57Mas que saúde, parece muito novinho.
02:00Quanto tempo tem?
02:01Quatro dias.
02:02Oh, meu Deus, pensa, Deus.
02:04Mas esse é um truque muito sujo.
02:06O caso é o seguinte, princesa.
02:08Eu sou a última das criaturas a querer
02:09perturbar uma pessoa tão querida quanto a senhora.
02:12Mas acontece que eu não posso ficar calada
02:14se estou sendo maltratada.
02:15O príncipe fez-me uma promessa
02:17e está esquecendo de cumprir.
02:18E, louca, é a sua avó.
02:20É sempre foi mesmo.
02:21E tu vês comigo, senão acorda os neném.
02:23Com licença.
02:25Não adianta querer barrer-me
02:26para debaixo do tapete
02:27e tampouco sumir comigo.
02:29Pois não tenho medo de cara feia, ouviste?
02:31Cala!
02:36Você me mata?
02:37O que é isso?
02:38Miguel, foi meu anjo.
02:39da guarda que te pôs aqui.
02:41Finge que tens alguma coisa com ela.
02:42Finge!
02:45Finge, Miguel, tu sabes como!
03:02Não queres provar?
03:03Está uma delícia.
03:04É de dar água na boca mesmo.
03:07E quanto aquele seu amigo favorito do príncipe?
03:11Ele não apareceu mais.
03:13É, está com contas penduradas demais na trombeta.
03:16Ah, mas dinheiro não há de ser problema para ele.
03:19Inclusive, deve ser um homem muito bem de vida
03:21para estar em tal posto, não?
03:22E nada!
03:23Agora que veio a forra.
03:25Teve que passar anos trabalhando como boticário de escravos
03:27ou tentando dar o golpe do baú
03:29em umas viúvas ricas.
03:31É bem o tipo mesmo.
03:34E conseguiu?
03:34A última viúva morreu antes de abrir a bolsa.
03:37A coisa só deu certo porque o príncipe é uma pessoa
03:38que gosta de viver, se divertir.
03:41Gostou do xalaz.
03:42Ah!
03:42Então ele deu tudo do bom e do melhor para ele.
03:46O príncipe é um rapaz generoso.
03:48Tudo divide com quem gosta.
03:50Assim como divide as mulheres do reino com seus maridos.
03:53Ah!
03:54Então tudo o que ele tem é dádiva do príncipe.
03:57Não poderia acontecer um desentendimento entre eles, não é?
04:00Seria ruim.
04:01Impossível.
04:01Porque eles dois são como irmãos.
04:03Agora eu tenho que ir ao passo e entregar essas roupas
04:05que eu vim pegar para o xalaz.
04:06Não, deixa que eu mesmo entrego.
04:08Eu tenho que ir até lá mesmo.
04:09A nobreza também se diverte.
04:20Entrega para o senhor Francisco Gomes da Silva.
04:39As coisas estão para fora.
04:58Já devia ter se acostumado.
05:01Elas nasceram naturalmente para fora.
05:03Com a calça cascada vou fazer o quê?
05:05Como vou enfiá-las para dentro?
05:06E eu laçou o rei para pagar suas contas.
05:11Ou se paga ou morreremos de fome aqui.
05:16Fale com D. Pedro.
05:17É o regente agora.
05:20Tenho 50 anos a mais que o recomendável para atrair a sua atenção.
05:25Oh, modéstia vossa.
05:27É só ele encher o bucho de vinho que perde logo a compostura.
05:32Não és o secretário particular dele.
05:34Para assuntos de níveis, não de réis, servos.
05:38Ei, estava a brincar, ó italiana.
05:41Jogas o faraó?
05:56É só uma moça treslocada que se sentiu atingida
05:58porque fui contra o seu relacionamento com o Miguel.
06:01Veja.
06:01Veja só como estão juntos.
06:03Olha.
06:08Estou a ouvir, Maria da Glória.
06:09Vai vê-la, vai.
06:10Vai.
06:11Vai, isso, vai.
06:17Essa me paga, gente.
06:18Me paga, Pedro.
06:21Queres acabar com a minha vida?
06:23Por que não?
06:24Não acabaste com a minha?
06:25Estou mentindo.
06:26Sem alma.
06:27Estou mentindo.
06:28Estou mentindo.
06:28Para.
06:32Patece-me.
06:33Para que descontrolasse.
06:34Patece-me.
06:37Também não foi para tanto.
06:38Mal te toquei.
06:39Olha o tamanho da tua mão, Pedro.
06:41Olha o que tua unha fez no meu pescoço.
06:42O que foi?
06:43Estás a sangrar?
06:45Ai, meu Deus.
06:46Desculpa, meu.
06:54Não.
06:55Promete-me a corte e depois esquece-me.
06:57Venho até aqui para ouvir uma justificativa que fosse
07:00e só sabe esconder-te atrás da gorda.
07:02Pelo menos é um esconderijo razoável para um homem do meu tamanho.
07:08Não é justo.
07:10Venho até aqui querendo matarte
07:11só de ver esse teu sorriso entrego.
07:14e não é justo?
07:21Amém.
07:52As compras que necessitamos.
07:55Mas gaste todo o pergaminho.
07:57É mesmo uma atrapalhada com as coisas.
07:59Mas o que é isto?
08:00Necessitamos de comida para alimentar o reino,
08:02não toda a população.
08:03E as cortes?
08:04Feijão, batata, pastéis de Santa Clara.
08:08Com tantas cozinheiras,
08:09necessitamos comprar pastéis de Santa Clara prontos?
08:12As cozinheiras são esposas de ministro.
08:14Mal sabem partir a casca de um ovo.
08:17Nunca mais comi pastéis de Santa Clara feitos dela.
08:21Tinha mãos de fada para os doces e para o amor.
08:26Estou mesmo a chamar os mortos.
08:29Mesmo depois daquela rameira,
08:31não sei porque lembrou-me dela.
08:33Não vais dizer que xalaça é um romântico.
08:36Fui.
08:37Quando o cabelo em excesso,
08:39aqui na testa esquentava meus miolos.
08:41Mas com ela foi diferente.
08:43Deu-me vontade de filhos.
08:45Uma casinha no campo.
08:47Essas tolices que nos atingem como febres
08:49quando estamos apaixonados.
08:52E como febres,
08:54mesmo depois da cura,
08:55voltam em surtos.
08:57Pois não?
08:58Vamos curar-se a febre.
09:00Ora.
09:01O emissário veio correndo.
09:03O príncipe vos chama.
09:04Pobre Pedro.
09:07Mal consegue respirar sem mim.
09:09Ah, vai embora!
09:24Pedro!
09:26Me ajuda!
09:27Me ajuda que a pobrezinha desmaiou.
09:28Está com falta de ar.
09:30O que foi?
09:31Só tirei a camisa para banar a pobrezinha.
09:33Agradeço-te.
09:34Já estou bem melhor.
09:35Tem certeza que não devo chamar a guarda?
09:36Ah, bobagem, mulher.
09:37O que uma pobre moça poderia fazer
09:38que tivesse algum efeito sobre mim?
09:39Ah, eu diria que muito, hein, príncipe?
09:40Muito.
09:41Agredir a uma príncipe não é coisa que se faça.
09:43Vossa sorte é que Pedro tem uma coração muito mole.
09:45Quem não conhece poderia jurar que é de pedra.
09:47Ah, foi um mal entendido.
09:48Só fui contra o seu envolvimento com Miguel por excesso de zelo.
09:50Deram informações erradas ao príncipe.
09:52Disseram que era uma devassa, que estava relacionado com um homem casado e que seria capaz de trair a mulher em sua própria cama.
09:59D. Pedro ficou escandalizado.
10:01Um homem libado, que estava relacionado com um homem casado e que seria capaz de trair a mulher em sua própria cama.
10:13D. Pedro ficou escandalizado.
10:15Um homem libado, como ele é, não tem coragem nem de olhar para outra mulher, já que é casado com tão bela moça.
10:23Está tudo esclarecido, então?
10:25Uhum.
10:26Acreditas que está tudo sob controle?
10:28Uhum.
10:29E, e, meu enamorado que saiu assim tão perturbado?
10:33O nosso...
10:34O nosso...
10:35Miguel!
10:36Miguel, faz-nos uma gentileza.
10:39Avisa que Pedro e eu estamos a nos entender, por favor.
10:42Claro.
10:43Miguel é mesmo muito sensível.
10:46E veste de Pedro, que impressão a moça vai ter de vós?
10:50Uau!
10:58Tu para!
11:00Só consegue pensar nisso!
11:05Uai, e tu pensaste em quê?
11:07Recitava as delusidas?
11:08Você tá assim quê? Recitava as ilusidas?
11:10Venho até aqui pra resolver a minha vida e tu só consegues me arrastar para o teu leito.
11:13Esse teu estado me ofende, sabias?
11:15Ah, sim. Até gemias agora pouco de tão ofendida.
11:18Devia mandar ela ter um membro a São Paulo?
11:20Pois é ele que me ama. Assim não cansava tanto teu corpo viajando.
11:25Ai, quero-te aqui. Mas acabei de tornar-me regente. Essas coisas levam tempo.
11:29Pois será todo o tempo do mundo. Até morrer.
11:32Nunca mais me vedes, juro!
11:35Dois!
11:37Dois!
11:38Dois!
11:40E aí, que saudade da minha terrinha.
12:06Que foi? Vais ficar no meu caminho?
12:11Minha rainha deveis jurar a Constituição.
12:14A que diz que nada podemos fazer sem que as cortes nos mostrem o caminho?
12:19Sabes muito bem onde enfiá-la.
12:21Minha rainha, é imperioso que jureis a Constituição.
12:25É a única garantia que temos de que vais respeitá-la.
12:27Nunca!
12:28Sua rainha Carlota Roaquina.
12:31Então serás a rainha Carlota Roaquina, a encarcerada.
12:34Encarcerada por negar-se a jurar a Constituição.
12:38E o príncipe Dom Pedro, nada fez?
12:40Fazer o quê com o oceano todo entre eles?
12:43E o rapaz está mais interessado em governar.
12:45Está tão determinado em colocar o país de cabeça para baixo que não dá descanso a mais ninguém.
12:50Agora vê se pode.
12:51Demora a vida toda para encontrar um lugar junto a um príncipe e encontro logo um que adora trabalhar.
12:55Bom dia a todos.
13:00Desculpem a demora, mas estava a inspecionar os navios no porto.
13:03E sabem o que descobri?
13:06Isto, papel.
13:10Estes são os necessários para se importar vinho.
13:13Gasta-se menos tempo para bebê-lo que para autorizar a importação.
13:18Por isso pagamos o preço mais caro do mundo.
13:20Tem que acabar com essa papelada.
13:22E a mais.
13:23A verdade é que é um governante incansável, sabe?
13:29O melhor que já se teve por aqui.
13:31Mas com toda certeza deve estar a desgostar os portugueses.
13:37Tal postura é inaceitável.
13:41As decisões das cortes têm que ser respeitadas por todo o Brasil.
13:46Aqui se fazem as leis.
13:49Aí se cumprem.
13:50O príncipezinho vai ter que se curvar.
13:56Quem ele pensa que é o soberano de um reino independente?
14:01As exigências portuguesas são ridículas.
14:03Acabar com o livre comércio só através de intermediários de Lisboa vai ficar tudo mais caro.
14:07Não interessa.
14:09Ele é só o regente e não pode ficar a cantar de galo.
14:12Ou se curva Portugal.
14:14Ou rompe de uma vez.
14:15As últimas determinações de Dom João são inaceitáveis.
14:19Pedro precisa saber delas com urgência.
14:22Alcançai-o de qualquer maneira.
14:24Tudo como eu determinei, não há de virar.
14:27Aguentar o discurso de Bonifácio já dureça.
14:30Esta maldita leitora que nos impinge enfiar goela abaixo é de mandá-la masmorra.
14:35Pois horrível.
14:37Pois não é.
14:39Sétima maravilha.
14:40Os homens de todos os cantos do mundo vêm até aqui, a humildes santos de minha família.
14:52Só para provar esta leitor.
14:55Para se ver como a gente sem nada a fazer neste mundo.
14:58As exigências de Lisboa tornam-se a cada dia mais e mais inconcebíveis.
15:05Não devias dobrar-vos a elas.
15:10Estás a me ver curvado por acaso?
15:14Perdão.
15:16Necessitas ser mais duro, mais firme nas respostas.
15:22Já não basta recusar-me a obedecer as leis que me mandam?
15:25Queres que atravesse o oceano para esbofeteá-lo?
15:27É meu pai, Bonifácio.
15:29A leitora está por demais caprichada para ser servida como política.
15:33Devemos respeitar o sofrimento da coitada, pois não.
15:36Sem dúvida.
15:38Oh, mas o prato do príncipe está vazio, mas que falta minha.
15:44Obrigado, já estou satisfeito.
15:45De maneira alguma, mal pudeste apreciar.
15:52Faço questão.
15:53Deve ter visto alguma fêmea, já faz uma semana desde a última.
16:19Não, Plácido, não.
16:22A leitoa?
16:23A leitoa!
16:24A leitoa do Bonifácio é mortal.
16:27Não pode ter ele só em tranhas de ferro.
16:29É engraçado, não sinto nada.
16:30É o estômago dos pobres, meu caro.
16:32Fica tanto tempo vazio que segura qualquer coisa.
16:35Essa leitoa conseguiu o que nem todas as divisões da marinha portuguesa conseguiram.
16:40Enfim que vos encontro.
16:59Comunicação urgente da princesa Leopoldina.
17:01O que foi?
17:02Comunicação da princesa Leopoldina.
17:05Não está grávida de novo, está, Pedro?
17:07Está.
17:08Mas isso já sabia há tempos.
17:10Deve ser coisa de meu pai.
17:12O que foi?
17:12Ordens de Portugal?
17:14O rei Dom João capitulou.
17:16Anula a nomeação do Conselho de Procuradores do Brasil.
17:19E os governadores locais devem se reportar diretamente a Lisboa.
17:23Até os processos de justiça devem se resolver em Portugal.
17:25Dirigente transformam-me num bedel das cortes?
17:33Tiram-me qualquer poder?
17:35Me mandam uma divisão da marinha para garantir o cumprimento das ordens?
17:40Nem ministros posso mais escolher?
17:42Que o príncipe tem culhões todos sabem.
17:45Dom João mandou-vos uma calça de ferro para amassá-los.
17:47O que vais fazer agora, Pedro?
17:49Não sei.
17:55Ou melhor, já sei há algum tempo.
18:01Soldados, laços fora.
18:04Os do uniforme, com as armas portuguesas.
18:11Chega.
18:13O Brasil não se curva mais daqueles filhos da mãe.
18:18Independência!
18:20Ou morte!
18:22Está declarada a independência do Brasil.
18:24Ai, declaraste a independência.
18:27É.
18:28A independência.
18:31Não é isso que todos os brasileiros querem?
18:33Nunca dizer amém às cortes de Lisboa?
18:35Mas isso se faz assim?
18:37Isso se fez assim, Plácido.
18:40E nada me faz voltar atrás.
18:41Nenhuma armada portuguesa é disposta a pendurar-te na ponta de um canhão e levá-lo a Lisboa.
18:45Não és tu que vive a chamar-me de teimoso?
18:48Que tua teimosia tem o tamanho de tua loucura, menino.
18:54E independência?
19:01Ou morte!
19:03Criaste um país, menino
19:20Criaste um país
19:33Criaste um país
20:03Criaste um país
20:33Criaste um país
20:35Criaste um país
20:37Criaste um país
20:41Criaste um país
20:45Tanto que lhe deu mais um cargo?
20:47Provedor de compras do passo e da quinta.
20:49Imagina a quantidade de dinheiro que passa pelas mãos delas.
20:53Ah, eu imagino.
20:55Imagino, sim.
21:09Perdão, mas não és o ministro Linhares?
21:11Rodrigo Linhares, um falso criado.
21:13Mas de onde tenho a impressão de vos conhecer, senhora?
21:18Provavelmente de onde moro.
21:19Na trombeta.
21:21Meu Deus!
21:22Mas essa bebida deve estar forte demais.
21:25Este não é um lugar para procurar-me.
21:27Mas claro que é. É bem mais discreto que lá.
21:30E eu posso ser ainda mais discreta, nem terás que ausentar-vos do passo.
21:34Não é lá que habitas no mesmo piso que o gabinete do príncipe?
21:37Independência, Domitila.
21:38A independência, jura?
21:39Ela declarou. O povo está em festa nas ruas.
21:42Meu Deus, eu sabia que ele seria capaz.
21:44Vamos comemorar, vem.
21:45Vamos pra rua.
21:45Isso é uma ridícula.
21:47Não estávamos a dizer que era o último homem da terra desde que voltaste da corte?
21:50Era despeito, Benedita.
21:53E desse sentimento tu entendes, não é?
21:55Espera, Messico!
21:56Gostei quando disseste laços fora.
22:08Os estupes não entenderam.
22:10Mas é uma gratis pensão, hein?
22:11Não é digna nem mais de mim mesmo, depois que me regreste da sargenta.
22:14Não, mas tem fim.
22:15Não disseste que era limpo e discreto e estão todos os hotéis lotados.
22:18Não disposto a qualquer um para dar vaga a um príncipe.
22:20Não, é um rei.
22:21Esse agora é rei do Brasil.
22:23Viva o rei.
22:23Um brinde é o rei.
22:25Imperador.
22:26Não por vaidade, mas um território tão vasto.
22:28Um brinde é o imperador.
22:30Não é o império.
22:30Ah, viva o império.
22:31O império.
22:33O que me faz pensar que ainda rei é meu pai.
22:38Esta veradeira, cama.
22:40Não, não.
22:41Não quero começar o meu governo a enxotar pessoas de hotéis.
22:43Ah, não.
22:44Não, não.
22:44Mas a cama parece boa.
22:45Depois de dias em que não parastes para descansar, mereces relaxar.
22:49Sem falar que um lugar tão discreto posso receber sem medo uma visita, ou duas, ou três.
22:54Não, não.
22:54Estão todos a vigiar vossos passos.
22:56Dez dias, Gomes.
22:58Dez dias.
22:59Depois vão dizer que Pedro declarou independência de tanta dor no baixo ventre.
23:03Estão todos a comemorar.
23:04Posso comemorar eu a minha maneira.
23:06Se nem ao teatro quero vos permitir ir, onde vos querem aclamar para vos recuperar.
23:10Recupero-me fazendo.
23:13É um homem desesperado que lhe implora.
23:15Umazinha só, no máximo duas.
23:16Ou me arrumam outros aposentos, que servir ao príncipe neste estado é um perigo.
23:21Com jornalistas, embaixadores, todos a correrem à cidade para ouvir uma palavra do imperador.
23:25Vai-te expor a um escândalo, Pedro.
23:27Se a qualquer profissional que é que chega já é uma coisa por demais nesta cidade.
23:32Se bem que estou também cansado por demais para procurar-vos com a guia.
23:35Onde vamos encontrar a mulher nesta hora?
23:37Pedro!
23:38Mas o que é isso?
23:39Sai, eu daqui.
23:40Não come-se.
23:41Come-se, espera, come-se.
23:43Come-se, a lourinha, ao menos.
23:44Come-se, já vou que é uma armadilha.
23:47Querem vê-la em posição comprometedora, não entende?
23:49Mais comprometedor que levantar os lençóis sem as mãos, eu não conheço.
23:53Vou fazer contatos políticos.
23:55Se este homem for destroçado por um escândalo,
24:00tu és quem paga.
24:02Sim, senhor.
24:03Sim, senhor.
24:10Plácido.
24:11Melhor esperar lá fora.
24:17Queres que me arraste até aquela pensão sórdida
24:20para me oferecer naquele filho da mãe?
24:21Ai, que ele agora é um imperador.
24:24E tem peito, não tem?
24:26O desgraçado tem, sim.
24:28Mas não vou humilhar-me.
24:29Ele, por acaso, esqueceu o caminho de minha casa.
24:33Da última vez brigaram, pois não.
24:35Pois ficou esses últimos dois meses a lamentar,
24:38a lamentar tanto a tua falta que não aguentava mais ouvir teu nome.
24:41Arrependeu-se.
24:42Evidente que sim.
24:43Vai lá, é tua chance.
24:44Não, pois então que prove o arrependimento dele.
24:47E que venha ele até mim.
24:49Tanto a euforia nas ruas.
24:52E tanta morrisse numa mula.
24:54Mas o que é isso?
24:55É o imperador fazendo o que mais gosta, suporra.
24:57É o que mais gosta mesmo, arraga.
24:58Ela ausentei-me só para pegar um pão.
25:00Me deixa a vossa merced desta ameaça.
25:02Me parece que está resistindo muito bem a minha vida.
25:05Ela fica, ela fica.
25:07Terás para enfrentar-me com tua própria espada.
25:10É firma que está lá, junto com teu moleque.
25:12Só ajuda a minha vida.
25:13Sai, traga.
25:15Faz para mais morrer, meu mordeiro.
25:20És um rei ou um moleque?
25:21Eu não fiz nada lá para o nome porque quis.
25:23E tu a recebeste com uma vontade, não?
25:26Não percebeste o sotaque?
25:27Que o sotaque?
25:28Vou-vos lá, tem sotaque?
25:30Do sotaque português.
25:33Uma enviada das cortes para desmoralizar o novo rei.
25:36Quero desperdiçar todo o trabalho político que fazes por teu apêndice.
25:39Estás a falar sério?
25:40Como nunca falei em minha vida, meu príncipe.
25:43Sacrifico tudo por vosso bem-estar.
25:47Mandila.
25:48Ah, estás aí.
25:48Vem, vem, vem.
25:49Chega de criancices.
25:50Anda, vamos.
25:50Ele chama por mim?
25:51Urra, urra como fera recém-capturada selva.
25:55Chorou por mim?
25:56Não, Pedro, não é homem de chorar.
25:57Pois então é luxúria.
25:58Qualquer uma pode satisfazê-lo.
25:59Não, mas se és tu.
26:01Acabam-se os impensílios.
26:02Ele percebe que não consegue nem respirar sem ti.
26:05Vem pro bem, ouça.
26:06Não, não me force, chalaça.
26:09Não sabes se sou uma mulher romântica?
26:11Ora, pois.
26:13Ah, assim é melhor.
26:17Pedro.
26:17Ah, melhor assim.
26:21Mas desde quando o príncipe tem ombros tão frisos?
26:25Ele obrigou o bummer a isso ou a masmorra?
26:28Mas é uma criança que não tens vergonha.
26:31Eu tenho, tenho sim.
26:33Tenho é desespero.
26:35Tu queres acabar com o meu reino levando a minha loucura.
26:37Essa mulher não quer.
26:39Só tivesse que destruir essa peca aqui antes de deixar o tráculo.
26:41Mas tu parte até fora.
26:42Não sabe a quantos passos tivesse da morte.
26:44Isto é agora?
26:46O que custa um escandalozinho?
26:48Já assim, tantos?
26:49Se trata de escândalo.
26:51Armas.
26:52Veneno.
26:53Esta mulher tinha uma arma estrategicamente escondida para vos aniquilar.
26:57Uma determinada agente das cortes, Pedro.
26:59Impossível.
27:00Que lá nada cabia que vos constatar.
27:02Não estou a falar de punhais ou adagas.
27:06Trata-se de veneno.
27:07Nunca ouviu falar da história das índias que matavam os colonizadores que aqui chegavam
27:11com venenos estrategicamente colocados?
27:17Plácido!
27:18Sabão!
27:19Rápido, rápido!
27:20Vinho é bom.
27:22Vinho é bom.
27:24Vinho é bom.
27:25Mais aí.
27:26Mais em cima.
27:37Depressa.
27:51Entregue isto logo, mas só a princesa Neopoldina entende?
27:53Só ela.
27:56E quem mandou-me isto?
27:58O escravo nada disse.
28:00Eu não sei de nada, senhora.
28:07Já vi mulas mais razoáveis que domiti-la quando empaca.
28:10O pior é que ela o ama.
28:12E ele precisa de alguém como ela.
28:13Estava a brincar.
28:14Mas com certeza seus inimigos vão de usar sua dimensurável fome pelas fêmeas para
28:19obtecer armadilhas, pois não.
28:20Temos de encontrar uma maneira de fazer os dois se encontrarem sem ter que ficar a jogar
28:25água fria no coitado.
28:26Já estou acabado.
28:27Desculpa as tolas, Chico.
28:29Vossos documentos, senhor?
28:30Documentos?
28:31Ora, deixei-os na pensão.
28:32Sou secretário do Redão Pedro.
28:34Vossos documentos.
28:35Se quiseres acompanhar a minha pensão, o rei te diz...
28:38Guardas!
28:40Não há necessidade disto, senhor.
28:41Não há necessidade.
28:43Ora, Chico, faça alguma coisa.
28:44Estão amassando minhas roupas.
28:45Não pegue assim nesta casaca.
28:47Sabe quanto ela custou?
28:50E mande soltá-lo logo, em meia hora.
28:53Não, uma.
28:55Duas, por via das dúvidas.
28:57Isso.
28:57Agora peça para o moço entrar e faça a guarda na porta.
29:00Sim, sim, senhor.
29:01Mas não seria melhor revelar a surpresa real depois de iniciada a conversação?
29:06Assim ela foge de medo.
29:08Rápido, que não tenho tempo a perder.
29:09Vai, vai, vai, vai, vai.
29:09Sim, senhor, sim, senhor.
29:11Podes entrar, filha.
29:14Mas é que prazer abraçar nosso destemido herói.
29:25Ah, bonifácio.
29:30Isto é que é ânimo para construir um país desta pujança que o Brasil precisa.
29:39É, do jeito que vai a minha vida, esta pujança vai até sobrar.
29:45Bem, como é impossível descansar, por que não vamos ao diato?
29:50Viva Dom Pedro, imperador do Brasil!
30:10Não te preocupes.
30:12Não digo a ninguém que estás emocionado.
30:16Perdoe-me pelo atras, Valteza.
30:18Um mal entendido que com certeza nada teve a ver convosco.
30:21Acorda aí, nossa amiga Domitila, pois não?
30:23Quem aí seu rosto pode esquecer?
30:25Tantos homens, tantas vezes.
30:27Eles não esquecem.
30:29Podem no máximo se privar de tanta beleza,
30:32porque também não esquecem a mão pesada que acompanha esses olhos.
30:36O camarote ao lado está disponível para ti e teus convidados, Valteza.
30:40Mas é uma noite de júbilo para amigos ficarem juntos,
30:43problemas serem esquecidos.
30:46A música começou.
30:50Eu sei que tem ombros fortes,
31:07mas mesmo eles estão sentindo o peso de tanta responsabilidade.
31:12se foi inconveniente indo até a vosso lar,
31:17desculpa-me.
31:19Foi o desespero de julgar-me esquecida.
31:21És o homem que fez com que eu entendesse
31:26que a minha vida só começou
31:27depois que os seus olhos me fuzilaram.
31:32Depois que senti o seu rosto arroçar,
31:34o seu corpo arromperá-me.
31:41Estás a ouvir o que digo, não?
31:43Não.
31:52Música linda, não?
31:54Vais continuar a fingir que nada significo na tua vida.
31:59Foste clara quando me deixou lá sozinha.
32:02Disseste que o que sentia tinha acabado,
32:04que te esquecesse.
32:06Segui, teu sábio conselho.
32:08Não seja por isso.
32:11Se não me queres mais,
32:13volto para o meu canto e eu fico lá.
32:16Só e abandonado a fenecer.
32:17Mais nada me impedirá
32:21de, antes de ir,
32:24arrancar-te uma última lembrança.
32:26Música
32:47Música
32:49Música
32:51Música
32:53Música
32:55Música