Estranho tempo o tempo de espera Nas ruas que ninguém vê, as lágrimas rolam nos passeios nas caixas... há côdeas, há pobres, muitos pobres... e fome que se esquece e dizem os poetas o texto calado mudo surdo vindimado Estranho tempo o tempo de espera É no despontar da noite ao alvorecer dos rios que adormecem as aves sonham os olhos serenos por entre os flancos pálidos dos vales... as árvores permanecem eternas e a povoar o cântico das palavras encontro o texto branco dos pássaros estranho tempo o tempo de espera as pedras os passos os livros o olhar ínvio dos gatos Escrevem-se os dias sem espaço de cor pardacenta e dizem os poetas o texto calado mudo surdo vindimado nas ruas que ninguém vê, as lágrimas rolam nos passeios nas caixas... há côdeas, há pobres, muitos pobres... e fome que se esquece e dizem os poetas o texto calado mudo surdo vindimado solstício de mel, de aromas de vinho, de canela, de lembranças e de bolinho, sobre a toalha de renda um farnel recheado na terra húmida sente-se vibrar o trepidar forte da natureza mãe Eis aqui os teus Filhos! Ainda há abraços fraternos esquecidos. No recinto sagrado das almas fizeram-se silêncios e as chuvas caíram durante três dias e três noites na terra das palavras plantaram-se folhas de seda sete abraços enfeitaram pedaços da terra do céu sete liras cantaram melodias junto dos esquecidos renasce o odor da terra estranho tempo o tempo de espera.