Jurema, uma coruja murucutu, com as duas asas amputadas, Cleiton, um tamanduá-bandeira manco, Kiara, uma lobo-guará de apenas três patas, Chefinha, uma macaca cuxiú-de-nariz-branco que passou a vida no cativeiro, Pitica, uma filhotinha de anta que perdeu a mãe contaminada por agrotóxicos são alguns dos animais que vivem às margens do rio Cipó, na zona rural de Presidente Juscelino, em pleno Cerrado mineiro, em um criatório conservacionista batizado de Santuário da Onça Pintada.
Com 287 hectares, o local abriga animais expulsos de seus biomas pelo avanço da monocultura e da urbanização, e também vítimas de atropelamento, maus tratos e , principalmente, do comércio ilegal que retira anualmente milhares de exemplares da fauna brasileira.
São 146 animais de 54 espécies, a maioria nativa, muitas delas ameaçadas de extinção, vivendo no santuário mantido há cinco anos pelo casal Gil Vale, 49, e Karine Pantusa, 40, ele perito judicial, ela arquiteta.
Entre 2015 e 2021, foram apreendidas cerca de 13 milhões de espécimes de fauna e flora silvestres em 162 países, de acordo com dados do Relatório Global sobre Crimes contra Espécies Silvestres. Cerca de 90% desses animais traficados morrem antes de chegar ao destino final.
Reportagem: Alessandra Mello Imagens: Jorge Lopes/EM/D.A Press Coordenação: Rafael Alves
Acesse o site: https://em.com.br / https://uai.com.br
SE INSCREVA EM NOSSO CANAL NO YOUTUBE: https://www.youtube.com/@PortalUai
Siga o Portal UAI nas redes sociais: Instagram - https://instagram.com/estadodeminas/ Twitter - https://twitter.com/em_com/ Facebook - https://www.facebook.com/EstadodeMinas /
00:00O Santuário Nossa Pintada é um criadouro conservacionista, essa é a nossa licença no IEF.
00:05Temos uma segunda licença que foi feita depois de mantenedor de fauna, para animais que não são da nossa fauna.
00:10O nosso foco hoje é o criadouro conservacionista para espécies ameaçadas nacionais.
00:16Essa ideia veio desde pequeno, é uma paixão que eu tenho de pequeno,
00:19aonde eu sempre cresci nesse meio de fauna, o meu avô tinha propriedade dentro de reserva,
00:25e eu sempre viajei nessa área de proteção ambiental, meu pai gosta muito também,
00:31então eu sempre respirei isso e essa paixão vem de pequeno.
00:35E aí no decorrer da minha vida eu comecei a participar de projetos voluntários,
00:39tanto aqui no Brasil como pelo mundo, de conservação de animais.
00:43Então eu fui conhecendo como que funciona esses projetos de conservação, rodei o mundo todo,
00:49e aí chegou um momento que eu sentei com minha esposa e falei,
00:52vamos tentar fazer um projeto aqui, para a gente contribuir de alguma forma com os animais nacionais que estão precisando.
00:59E a gente amadureceu essa ideia e a gente resolveu criar o Santuário Ansa Pintada,
01:03que na verdade chama Santuário, é apenas um nome, né, que podia ser refúgio, podia ser qualquer outro nome,
01:10a gente pôs o nome de Santuário, que a gente entende que o lugar aqui é um santuário para animais.
01:14A gente buscou fazer uma área gostosa para os animais viverem, com bem-estar, com qualidade de vida,
01:19então surgiu essa ideia de Santuário e Ansa Pintada, porque no começo era o meu foco do projeto,
01:26era fazer a preservação da Ansa Pintada, e eu não sabia que ia tomar essa dimensão que tomou hoje
01:30de tantas outras espécies que a gente abraçou, mas ficou o nome, né, Ansa Pintada,
01:34mas é um Santuário Ansa Pintada que também protege diversas outras espécies.
01:38Não é só executar um trabalho, né, Ansa Pintada, mas é um Santuário Ansa Pintada,
02:08um recinto, né, para um animal. A gente tem que entender os hábitos daquele animal,
02:14o que ele precisa, né, às vezes o animal precisa de água, precisa de subir em algum local,
02:23como que é o estilo de vida daquele animal. É como se fosse um cliente, né, um humano,
02:28que você vai estudar, né, qual que é a melhor forma que você vai executar aquele projeto
02:32para os animais assimilar. Então, a gente tem uma equipe multidisciplinar, né,
02:38que aí a gente tem que conversar com veterinárias, biólogos,
02:44para a gente entender qual que é o melhor formato que vai caber naquele recinto.
03:02O público, às vezes, não entende que o animal está dentro de um recinto
03:16e acha que a gente está, de alguma forma, tirando esse animal da natureza e trazendo para cá.
03:22A gente não recebe nenhum animal que é tirado da natureza.
03:25Os animais que a gente recebe, na grande parte, já são de outros projetos de preservação em cativeiro,
03:30cativeiro, que tem nascimentos e tem um excedente.
03:33Então, a gente entra nesse projeto e participa.
03:36Ou animais que já foi feita uma triagem pelo órgão,
03:40onde os centros de triagem fazem esse filtro e falam,
03:45olha, chegou aqui cinco loboguarazes, esses quatro conseguem voltar.
03:49Esse não, esse teve uma amputação de perna, esse ficou cego, esse se voltar vai morrer.
03:54Então, tem que ir para uma instituição que receba.
03:57Então, a gente só recebe esses animais que não podem voltar à natureza.
04:01É o destino final, né?
04:02É, então, em momento algum eu vou na natureza e pego um lobo-guará que está bem.
04:05Isso não, essa hipótese não existe.
04:08A gente só recebe animais através do órgão.
04:10A gente recebe animais que já estão com alguma deficiência.
04:14Por exemplo, eu tenho uma loba-guará com três pernas, que agora virou mãe.
04:17Eu tenho um tamanduá-bandeira que foi atropelado e tem um problema de artrose, que virou pai.
04:21Eu tenho um tamanduá-mirim cego, que não enxerga por causa das queimadas na mata, então ele não enxerga.
04:26Eu tenho vários animais, coruja, que não tem as araras com asas mutiladas, papagaios cegos.
04:32Então, grande parte dos animais tem uma limitação que impede eles de voltar à natureza.
04:37Então, eles precisam de cuidados.
04:39Esses animais a gente recebe com o maior carinho e tenta tirar deles o melhor.
04:45O que é?
04:46Reprodução para que consiga contribuir nos projetos de conservação, que é o caso do lobo-guará.
04:53O fato da lobo ter três pernas não impediu dela ter um filhote e ajudar no projeto de conservação de um animal tão ameaçado.
05:00Então, um tamanduá-bandeira, ele estava com problema de artrose, mancando, a gente fez um tratamento com ele aqui e ele ficou tão bem que ele virou pai.
05:08Então, a gente consegue tirar deles ainda o melhor deles para eles poderem ter uma vida até de família e poder reproduzir.
05:16Então, isso a gente recebe, sim, muitos animais com problemas aqui que a gente trata.
05:21Então, esse é um dos focos nossos também, receber esse tipo de animal.
05:23É tudo bancado por mim, pelo meu trabalho, né?
05:45Eu tenho um escritório onde a gente está já começando a enfrentar um pouco de dificuldade.
05:49Porque a gente quer melhorar, quer fazer melhorias, quer receber mais animais.
05:53Novos recintos.
05:54E, por exemplo, nasceu um casal de onça, então eles vão exigir um novo recinto.
05:58Eu tenho que construir um novo recinto, né?
06:00Então, todo animal que tem um nascimento, você, às vezes, tem que fazer um outro recinto.
06:04Porque eles não vão viver em família, né? A onça pintada é muito solitária.
06:07Então, todas essas expansões, a gente hoje já tem uma verba limitada, né?
06:11E manter também, porque fruta hoje a gente compra na boca do caixa, no supermercado.
06:17Esses alimentos que... Ração, remédio, né?
06:21Então, a gente tem um tigre de terceira idade que tem que tomar polivitamínico.
06:25A gente tem vermífoco que tem que dar para os animais regulamente.
06:30A gente tem que dar bravecto para as onças, bravecto para felinos, né?
06:36A própria manutenção também dos recintos, né? As telas, pintura...
06:41Sim, tinta para poder...
06:42Piso...
06:43A onça urina na tela vai desgastando.
06:46Então, você tem que estar sempre pintando, né?
06:48Para evitar que você tenha qualquer tipo de defeito no recinto.
06:52Então, toda essa parte de manutenção e ainda essa parte de investimento para melhorar
06:58é tudo pela parte da gente. A gente começa a ficar limitado, né?
07:02Então, o que a gente busca é parceiros que queiram ajudar.
07:04A gente tem um projeto de amadrinhar o animal.
07:06Então, a gente, a empresa que quer amadrinhar o animal, vai patrocinar esse animal.
07:10Nós vamos colocar uma placa que vai dar o selo verde para essa empresa.
07:14Vários incentivos para ela.
07:16A própria supermercados da região que queiram ajudar.
07:21Açougues, né?
07:22Dá para a gente excedentes de frutas, de carne.
07:25A gente vai buscar.
07:27Então, é isso, né?
07:28Empresas que queiram ajudar a gente, a gente precisa dessa ajuda.
07:32Porque a gente está fazendo aqui um projeto, é para todo mundo.
07:35As onças não são minhas.
07:36As onças são suas, é da União.
07:38Eu agora vou fornecer onças para o plano para absorver outras instituições.
07:43Então, a gente está aqui fazendo um trabalho em prol do animal, né?
07:47Então, esse trabalho que a gente está fazendo aqui é para a sociedade, não é para mim.
07:52A gente está aqui é para ajudar para a conservação da espécie.
07:55Senão, a gente não está aqui é para se unir com as instituições, né?
08:00Nós somos parceiros de zoológicos, somos parceiros de criadores, somos parceiros de planos nacionais.
08:05Temos um excelente relacionamento com o órgão.
08:08O IEF é nosso parceiro.
08:09Todo licenciado, a gente está todo licenciado.
08:12É, a gente tem todas as licenças, todos os animais passam pelo órgão, todos têm um registro,
08:20entra no sistema.
08:21Um documentário.
08:22A gente tem projetos extras também, que é o de soltura de arara do asas, que a gente tem pelo órgão IEF.
08:28A gente está dentro do corredor do lobo, nós estamos com o projeto com o ICMBio de fazer o projeto de soltura de lobo arara.
08:33Então, além desse projeto exito de preservação em cativeiro, a gente também tem projetos de soltura de animais que podem ser soltos.
08:41Ah, eles pegaram um caminhão de arara do tráfico.
08:43Chegou lá e falou, elas têm condição de voltar, são animais adultos, que às vezes estão com a asa cortada.
08:48Eles vão mandar para a gente, nós vamos manter num recinto especial que tem dentro da mata.
08:52Eles vão ficar recuperando.
08:53Com dois meses, nós vamos abrir o alçapão para elas voarem, voltarem, voarem até elas irem embora.
08:58Então, a gente tem esse projeto também.
09:03Isso aqui é a minha razão da minha vida.
09:27Então, isso aqui para mim preenche minha alma.
09:29É, vê-los bem, né?
09:31Isso aqui preenche minha alma.
09:32Então, isso aqui é energia.
09:36Me dá uma energia fazer isso aqui, contribuir, que eu gosto.
09:39Me satisfaço.
09:41É, vê-los, né?
09:43Muito tranquilos aqui.
09:48Vivendo como animais, né?
09:50Eu falo uma coisa, depois que você está inserido em uma coisa dessa, você não sai nunca mais.
Seja a primeira pessoa a comentar