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Em entrevista à Jovem Pan, a desembargadora do Tribunal de Justiça de São Paulo (TJSP), Ivana David, comentou o fato do crime organizado usar motéis e perfumarias para lavar dinheiro. A magistrada disse que o crime está “sempre um passo à nossa frente”, salientando que brechas na lei facilitam a ação de criminosos.

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Transcrição
00:00Porque essa nova operação contra o PCC indica que a lavagem de dinheiro passou por uma rede de motéis, perfumaria e imóveis.
00:09O esquema envolvia a venda de combustível adulterado e a exploração de jogos também.
00:14E a nossa entrevistada agora é a desembargadora Ivana Davi, do Tribunal de Justiça aqui de São Paulo.
00:19Desembargadora, boa noite. É sempre bom te receber aqui na Jovem Pan e importante para os esclarecimentos. Bem-vinda.
00:25Eu é que agradeço. Boa noite, Tiago. Boa noite a todos que nos acompanham aqui pela Jovem Pan News.
00:32Desembargadora, essa segunda fase da operação surpreende de que maneira?
00:36Porque a gente sempre sabe, sempre diz que em qualquer investigação, quando há envolvimento de dinheiro,
00:43os investigadores falam, siga o dinheiro que é possível encontrar mais informações e mais evidências.
00:50Até o caso Watergate nos Estados Unidos, nos anos 70, tinha essa premissa.
00:54Siga o dinheiro. De que forma os investigadores estão indo no caminho certo para tentar,
01:01não de uma certa maneira, acabar com o crime organizado, mas tentar arranhar a superfície
01:05do que isso se tornou no Brasil, não é?
01:08Pois é, Tiago. Esse seguir o dinheiro é praticamente um mantra, mas hoje, como você bem já colocou,
01:15é um desafio. Porque a tecnologia e o crime organizado procura exatamente as brechas da lei
01:23tem feito e tem mostrado com essas investigações que o crime está sempre um passo à nossa frente.
01:31É surreal imaginar que se permita uma fintech ou que se permita que alguém trabalhe movimentando dinheiro
01:38e que não tenha controle do Banco Central.
01:41Era assim a vida da fintech até duas semanas atrás.
01:46O crime, ele exatamente está à frente do Estado porque ele vai se infiltrando nessas brechas
01:54que a própria lei e o sistema de economia do país permite.
01:59É muito difícil fechar todos os pontos, todas as arestas.
02:03E o crime, ele vai se aproveitando disso e movimentando o dinheiro produto do crime, via de regra.
02:11Porque a gente tem que lembrar que todo esse dinheiro, ele vem de organizações criminosas,
02:15via de regra, afetas a tráfico de entorpecente, a tráfico de armas.
02:22Esse dinheiro vem de facção criminosa, é introduzido no mercado dessa forma como a lavagem de dinheiro,
02:30utilizando de empresas fantasmas, utilizando de codinomes, o que a gente chama de laranja.
02:37E mais uma vez esse dinheiro acaba voltando para aquele, aspas, criminoso,
02:42mas aí dentro da formalidade do mercado.
02:46Essa luta, essa guerra contra o crime organizado impõe essa força-tarefa como nós assistimos outros.
02:53Hoje, vários olhares, vários segmentos de controle de justiça e de controle, inclusive, de economia,
03:01para que se chegue a um denominador e o sucesso que foi essa operação.
03:06Desembargador, eu vou passar a palavra para os nossos comentaristas.
03:09Começo aqui pela pergunta de Dora Kramer. Dora?
03:11Boa noite, Dora Ivana.
03:15Olha só, a minha pergunta é ao mesmo tempo simples e talvez complicada, eu não sei,
03:22porque aqui a gente vive uma situação de dominação de território,
03:27que o crescimento disso, grosso modo, se deveu à conivência do poder público e da sociedade,
03:34mas grossíssimo modo.
03:36Eu lhe pergunto, o crime organizado não foi desse tamanho, ele nasceu em algum momento,
03:43ele cresceu por algum motivo e ele, tomando um tamanho hoje, uma contaminação impressionante,
03:51daria para a gente fazer assim, uma arrasante, um resumo de por que foi mesmo que isso aconteceu
03:58nas barbas do Estado?
04:00Pois é, Dora, a pergunta é desafiadora, mas a gente tem uma resposta.
04:06Pelo menos as facções criminosas, e eu falo pelo Estado de São Paulo,
04:11que tem a maior facção criminosa, juntamente com o Comando Vermelho,
04:15e que hoje está em 25 estados e é um grande player internacional do tráfico de droga,
04:22que nasceu dentro dos presídios e foi literalmente desprezada pelo Estado.
04:30Há 25 anos atrás, quando eu já trabalhava com o tema e já enfrentava o Capê,
04:35está aí como promotor de justiça, vivenciava comigo isso lá nos idos de 90, 92,
04:42o crime organizado dentro do nosso sistema, nós colocavamos no papel, nós avisávamos,
04:49mas a escolha política foi de não acreditar.
04:53Dizia-se que era um monte de moleque e que isso não ia dar em lugar nenhum.
04:58Está aí a resposta, depois de 25 anos, uma das oitavas, considerada a oitava maior facção criminosa do mundo,
05:08que movimenta bilhões de dólares e que, de alguma forma, fez com que esse dinheiro,
05:13produto de crime, girasse em torno do mercado, hoje, nacional e internacional,
05:21fazendo todas essas operações que nós estamos assistindo.
05:25Foi o Estado não acreditar, ou talvez tenha sido arrogante,
05:30que permitiu que o crime organizado tomasse todo esse espaço.
05:34Espaço vazio, o crime toma.
05:36A senhora citou o Fernando Capês e ele faz a próxima questão. Capês.
05:39Boa noite, Ivana. Um prazer enorme falar com você.
05:44Eu lembro que nos anos 80 já tinha aquela organização Serpentes Negras na penitenciária de São Paulo.
05:51Lá é o embrião do que veio a ser o PCC.
05:54Eu queria te perguntar o seguinte.
05:56Não está na hora de tentar estabelecer uma espécie de um direito penal de terceira velocidade,
06:03sobretudo com relação a sequestro generalizado de bens dessas empresas de fachada,
06:09e Leilo Aicis vem colocando dinheiro numa conta à disposição da justiça,
06:15já que tem que se seguir o dinheiro.
06:16O que pode ser feito, na sua visão, com a sua experiência,
06:20em termos de legislação a mais e em termos de postura do Estado
06:24para ter um direito penal mais eficiente no combate a essas organizações?
06:28Pois é, Capês.
06:31No sistema legislativo e no nosso sistema jurídico onde trabalhamos,
06:37a situação melhorou muito da época que a gente estava lá na nossa fase do DIPO e você no Ministério Público.
06:46Hoje você tem leis com a 12.850, você tem uma mudança na lei de lavagem de dinheiro,
06:52e você tem uma mudança no próprio artigo do Código de Processo Penal
06:57que autoriza duas ferramentas muito importantes.
07:01Primeiro, a alinação antecipada.
07:04O Ministério da Justiça tem, o Recupera, o Estado de São Paulo também tem.
07:09Então, todo esse dinheiro apreendido, sequestrado pela Justiça,
07:13porque tudo isso que foi dito no começo da nossa matéria,
07:17foram determinações, ordens judiciais de sequestro de bens e valores, bloqueio de valores.
07:22Todo esse dinheiro já está apreendido e é possível, principalmente quando se apreende
07:27bens, imóveis, veículos, lanchas, aeronaves, porque é tudo ovo no crime organizado.
07:34Já é leiloado e esse dinheiro fica garantido nos cofres públicos,
07:39sempre para investimento na segurança pública.
07:42São Paulo tem um decreto do governador que já autoriza essa utilização desse dinheiro,
07:48inclusive 30% vai para o Ministério Público,
07:50o restante vai para as polícias, também no investimento de combate ao crime.
07:56Então, nós temos, de alguma forma, acelerado um pouco essa situação.
08:01E mais, o pacote anticrime autorizou, lá no seu artigo 144,
08:06que o juiz disponibilize, por exemplo, a utilização de veículos, de bens,
08:11de aeronaves, por exemplo, para que a polícia se utiliza.
08:15A arma, o juiz também autoriza, que as próprias polícias é seu tipo.
08:19É uma forma de tirar, exatamente como você bem colocou, o dinheiro,
08:24a parte mais sensível do crime organizado, que é o patrimônio dele,
08:29e entregar para o Estado, ainda que cautelarmente para uso,
08:33e depois da sentença, se for condenatória, transitada e julgada,
08:38que todo esse dinheiro volte para a sociedade, para a utilização no combate ao crime.
08:44Procuradora, agora, desde seu cara, e faz mais uma questão?
08:48Desembargadora, a gente tem um cenário,
08:51a gente tem um cenário que é extremamente preocupante,
08:54porque o crime organizado, em muitos momentos,
08:57ele consegue se infiltrar em sistemas que são legais,
09:00como juntas comerciais e até cartórios, como a gente tem visto.
09:04A senhora acredita que é possível que o sistema de justiça
09:08enfrente o crime organizado, mas que promova uma desarticulação definitiva
09:14e não pontuais, como a gente tem visto?
09:17A senhora explicou isso um pouco na resposta da Dora,
09:20mas a senhora acredita que é possível desarticular o crime organizado em definitivo?
09:25Existe uma maneira de se chegar lá?
09:28Olha, Deise, se existe, nós não sabemos a receita.
09:32É desafiador, é uma guerra assimétrica,
09:35e a gente enfrenta crime organizado no mundo inteiro.
09:38Se a gente amplia a nossa discussão e passa para as marchas,
09:42e passa para os cartéis, principalmente aqui na América,
09:46a gente percebe que por mais que se tenha combatido,
09:49por mais que a legislação tenha sido modernizada,
09:54não se consegue acabar, terminar, extinguir as organizações criminosas.
10:01E de a máfia japonesa, a Yakuza,
10:04e de as máfias italianas que historicamente servem muito de exemplo para nós.
10:08Mas eu acho que pela primeira vez, Deise,
10:11o Brasil acordou para o combate a esse crime
10:14que tomou literalmente todo o nosso território.
10:18Para a gente imaginar, Deise, nós temos 88 facções criminosas no nosso país.
10:23Tudo bem, temos um país gigantesco de 8 milhões e meio de quilômetros quadrados,
10:27mas é um número que supera qualquer lugar do mundo.
10:29Já temos duas organizações criminosas internacionais,
10:33porque nós temos esse desafio de fronteira, de fronteira seca,
10:3717 mil quilômetros, onde dividimos com 10 países,
10:41três deles os maiores fabricantes, produtores efetivamente de cocaína e maconha do mundo.
10:48Então o Brasil tem avançado, mas eu concordo com você
10:51que é uma guerra que precisa de muito fôlego, precisamos de mais.
10:55O poder judiciário, todas as medidas de investigação,
10:59elas passam pelo poder judiciário, porque temos uma Constituição muito estreita
11:04nessas garantias constitucionais, então uma busca e apreensão,
11:08todas as buscas e apreensões, as quebras de sigilo telemático, telefone,
11:12tiveram antes uma autorização judicial.
11:16Mas acabar com isso, e você sabe que meu copo está sempre cheio,
11:21eu acho que a médio prazo a gente não consegue.
11:25O que nós temos é esse enfrentamento,
11:29identificando principalmente o patrimônio, os valores,
11:32identificando as pessoas para que elas sejam afastadas da sociedade,
11:38para que você tire o dinheiro dessas pessoas,
11:41dessas organizações, literalmente dessas organizações criminosas,
11:46e de alguma forma a gente enfraqueça.
11:48Outro ponto que você chama, é o que a gente chama essa simbiose com o Estado,
11:53que nada mais é do que a corrupção.
11:55E esse é um outro ponto que tem que ser enfrentado.
11:58Embargador, para a gente fechar a nossa conversa,
12:00a senhora é uma estudiosa há muitos anos, claro, da segurança pública,
12:03eu pergunto para a senhora o seguinte,
12:04alguns especialistas se dividem sobre um termo chamado de narco-Estado,
12:11e isso já é possível se aplicar ao Brasil?
12:14E o que seria isso para que o nosso público entenda?
12:17Pois é.
12:19Tiago, há quem resista a essa nomenclatura de um narco-Estado.
12:25Tipificar o Brasil como um narco-Estado é uma situação desafiadora,
12:30porque o Brasil, em que pede ser o segundo maior consumidor de cocaína do mundo,
12:35não produz uma grama de cocaína.
12:37Então toda droga que vem para o Brasil e é consumida aqui,
12:41vem de fora.
12:42E o restante da droga ainda passa pelo país e é mandado para a Europa,
12:47para a África, para outros continentes.
12:50A definição, o MJ, por exemplo, entende que não é um narco-Estado.
12:55Mas quando você fala com promotores, com as polícias,
12:59principalmente a Polícia Federal, as polícias civis,
13:02elas já classificam o país como um narco-Estado.
13:06Nós temos uma estrutura de crime organizado,
13:09nós temos essa quantidade de droga que fica no país,
13:14outras tantas que saem do país,
13:16e saem do país de avião, de navio, de submarino,
13:20saem de todas as formas que você pode imaginar.
13:23E temos alguns sinais, como a gente percebe principalmente no norte do país,
13:27da violência.
13:28Porque o narco-Estado tem essa violência,
13:32como é, por exemplo, a Colômbia,
13:34que a gente já assistiu isso, inclusive, historicamente.
13:37Então a resistência de tipificar o Brasil como um narco-Estado
13:41é de forma conceitual.
13:44Mas eu digo para você que se não somos um narco-Estado,
13:47estamos bem próximos disso.
13:49Embargadora Ivana Davi, como sempre,
13:51muito obrigado pela gentileza por atender a Jovem Pan.
13:53Volte sempre, até a próxima, bom descanso.
13:56Eu é que agradeço, Thiago, até a próxima.
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