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ELE DISSE QUE NOS MATARIA A TODOS - DUBLADO EM PORTUGUÊS
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TVTranscrição
00:00:00A minha era um acidente. Ninguém sabia o que tinha acontecido naquele quarto, só que de repente, todo mundo tinha certeza que o Frank era culpado e eu fui contra conclusões precipitadas.
00:00:15Ninguém sabia o que tinha ocorrido. Eu queria achar ele inocente e minha filha culpada, não? Mas...
00:00:22Por que tá defendendo ele?
00:00:24Calma, eu vou concluir.
00:00:25Quero entender o motivo.
00:00:26Espera, eu vou concluir o raciocínio. Não estou defendendo ele.
00:00:30Essa questão me irrita, porque...
00:00:33Desculpa se eu não chego ao ponto de ficar pé da vida dele ser o culpado.
00:00:38O meu cérebro não faz isso com ninguém.
00:00:40Pra mim, ninguém é 100% culpado.
00:00:43Talvez eu seja inocente demais.
00:00:45Burra, vai que eu olho pra ele e bloqueio tudo.
00:00:48Sei lá.
00:00:50Eu quero trazer provas pra mostrar pro mundo que ele é culpado.
00:00:55Eu fico frustrada e nervosa comigo, porque eu sei que ele é culpado.
00:01:01Mas o meu cérebro não me dá certeza.
00:01:04Me desculpe, mas que merda.
00:01:07Porque se ele não for culpado, aí a minha filha é que é, caralho.
00:01:11A filha de Sherry Altimus, Elizabeth, foi encharcada de fluido inflamável e queimada.
00:01:18O namorado de Elizabeth, Frank Brett, foi condenado pelo homicídio.
00:01:23Neste episódio, vamos à prisão confrontar um assassino para obter respostas.
00:01:27Bom, atualmente eu tô preso na penitenciária Greenhaven, cumprindo de 25 anos a perpétuo.
00:01:36Até hoje, eu nunca falei publicamente sobre o assunto.
00:01:40Se algum dia eu for ver ele, é bom ter um vidro ali entre nós dois.
00:01:44Sinto raiva pra caralho, por minha filha ter morrido.
00:01:53Ele é que devia ter morrido.
00:01:55Nessa foto aqui, tem a minha neta e a minha filha exercendo o papel de mãe.
00:02:11Eu acho que é uma das minhas fotos preferidas.
00:02:16Aqui tem tanta paz.
00:02:20Eu amo essa foto.
00:02:21Olho pra ela todos os dias.
00:02:27Essa é uma das lembranças felizes que eu tenho da minha filha.
00:02:36Ela vivia rodeada de gente.
00:02:38Tinha um grupo de amigos próximos.
00:02:40Era um monte de meninas e meninos.
00:02:44O Frank Brett estava no grupo de amigos da Elizabeth.
00:02:47E ele era bem bonito e muito, muito carismático.
00:02:53Ele sabia cativar as pessoas.
00:02:57Nossa.
00:02:59Que coisa.
00:03:01Que é essa foto do Frank.
00:03:04Esse é o Frank que eu me lembro.
00:03:06Ele tinha belos olhos.
00:03:08Era daí que vinha o charme dele, desse olhar penetrante.
00:03:11Ele ouvia tudo o que a gente falava.
00:03:14E depois usava isso pra jogar o charme nas mães das moças e cair nas graças delas.
00:03:25E é difícil pra mim imaginar como ele foi daquele Frank pra esse que ele é hoje.
00:03:30Ele me tirou a minha filha de mim.
00:03:38Ela se foi para sempre da vida de todos.
00:03:44E eu...
00:03:47Perdi uma parte enorme de mim.
00:03:51Que nada vai substituir nada.
00:03:53Sherry não imaginava que Frank Brett fosse capaz de matar a filha dela.
00:04:02Mas havia sinais.
00:04:03Eu acho que a Elizabeth só ficou com o marido por uns dois anos e acabaram se divorciando.
00:04:19E aí ela se reaproximou do Frank em 2016.
00:04:24Eu não tive contato nenhum com o Frank por cerca de...
00:04:31Uns bons oito, dez anos.
00:04:33Eu nunca mais vi ele.
00:04:38Mas...
00:04:38Quando ele entrou em casa não era mais aquela...
00:04:42Pessoa que eu conhecia.
00:04:43O namoro começou e Frank logo foi morar com Elizabeth e a família dela.
00:04:55Eu adorava o Frank.
00:04:56Conheci ele há muito tempo.
00:04:58E era outra pessoa que podia...
00:05:00Ajudar com as coisas da casa.
00:05:03Eu tinha um jardim incrível.
00:05:06E que eu amava demais.
00:05:07Feito um filho.
00:05:09Eu adorava ver ele crescer.
00:05:10Um dia o Frank me ajudou a instalar uma cerca ao redor do jardim para evitar que os cachorros entrassem.
00:05:19Aquelas plantas eram os meus bebês e eu queria proteger elas.
00:05:24Eu me dediquei muito ali.
00:05:31No dia seguinte eu me lembro que cheguei no jardim e a cerca estava caída.
00:05:36Parecia que um gigante tinha arrancado todas as plantas pela raiz e espalhado tudo pela grama.
00:05:49Na hora eu achei que algum vizinho tinha feito aquilo.
00:05:54Eu falei para minha filha e ela disse que o Frank tinha ouvido eu falar uma coisa e não gostou.
00:05:59Ele achava que tinha feito muito por mim.
00:06:00Eu era uma ingrata que tinha falado alguma merda.
00:06:03Daí ele destruiu o meu jardim.
00:06:09Ela disse, você fala muito alto com seu irmão.
00:06:12Todo mundo te escuta.
00:06:14É no que dá falar das pessoas pelas costas.
00:06:17O meu irmão é a pessoa com quem eu sempre vou desabafar.
00:06:22Eu tinha deixado o Frank bravo.
00:06:24Mas de que forma o que eu fiz, o que eu disse para ele reagir daquele jeito?
00:06:33Ele ficou bravo e descontou em mim.
00:06:37Ele sabia que aquilo ia me magoar.
00:06:40A gente estava com um problema para manter o equilíbrio do aquecimento nos andares de cima e de baixo.
00:06:53E aí eu lembro que um técnico foi em casa para dar uma olhada naquilo e não saía ar das aberturas.
00:06:59Então o técnico falou que o problema era na tubulação lá em cima.
00:07:04E tinha um buraco ali que ficava exatamente em cima da minha poltrona lá na sala.
00:07:13E como já havia acontecido outras coisas estranhas, eu já achei que alguém tinha feito aquilo de propósito.
00:07:20Parecia que alguém tinha ido fazer um buraco no cano para poder ficar ouvindo o que eu falava.
00:07:29Eu não sei se foi o Frank, mas o técnico não estava conseguindo entender porque não era, sabe?
00:07:41O tipo de buraco que apareceria do nada tinha a cara de ser proposital.
00:07:47E eu logo pensei no Frank.
00:07:48Você me perguntou se eu tive medo do Frank.
00:07:51Medo? Medo eu não tive, mas...
00:07:54Eu tinha a impressão de que eu estava ficando cada vez mais cercada.
00:08:02Sherry logo notou que a relação entre Frank e Elizabeth estava ficando instável.
00:08:07O que você quer que eu faça?
00:08:09Eu sei lá, qualquer coisa.
00:08:11Parecia que eles viviam em outro mundo.
00:08:13Vou repetir.
00:08:14Eu escutava eles discutindo no quarto e era uma gritaria.
00:08:17Você tem que pensar melhor.
00:08:19Ah, tá. E é culpa em mim.
00:08:20A minha neta sempre escutava os gritos e as brigas.
00:08:24Eu perguntei se dava medo e ela disse que sim.
00:08:28Acordavam ela e chegou num ponto que eu falei pra minha neta,
00:08:31se for muito barulho e der medo, vem pra cá comigo.
00:08:33Cadê o Frank?
00:08:34A minha filha não era um anjo.
00:08:37Ela sabia muito bem como te ferir com as palavras.
00:08:42Eu tentava não me intrometer nas discussões porque eu não queria ficar interferindo na vida da minha filha.
00:08:48Aquilo lá não era da minha conta, sabe?
00:08:51Eu faço de tudo pra cuidar de você.
00:08:54Uma noite, numa briga, ela mandou ele embora.
00:08:57Vai embora!
00:08:58Sai daqui!
00:09:00Pra qualquer coisa que ela dizia, sei que a reação dele era sempre bater em alguma coisa ou até mesmo quebrar.
00:09:07Aí ele socou uma janela antes de ir.
00:09:16E uma janela que podia machucar ele.
00:09:19E pra que fazer aquilo?
00:09:23Deu pra ver claramente o tanto de raiva.
00:09:26Eu via o ódio que eles sentiam em tudo o que faziam.
00:09:31E o relacionamento precisava acabar.
00:09:34Era muito tóxico.
00:09:35E mais uma vez, eu não interferi.
00:09:40Pra acabar com aquele problema.
00:09:42Porque eu tinha muito medo de ficar mal com a minha filha.
00:09:45Agora ela tá morta.
00:09:47Porque eu não fui lá e disse...
00:09:50E disse pra ela.
00:09:52Eu não sou sua colega de quarto.
00:09:54Eu sou sua mãe.
00:09:56Chega disso.
00:09:58Manda o cara embora.
00:10:00Vamos tirar ele da nossa casa.
00:10:01É meu maior arrependimento.
00:10:05Eu devia ter exercido o meu papel de mãe.
00:10:11E provavelmente ela não estaria morta.
00:10:13Eu vou ser muito franca e pode cortar.
00:10:26Eu queria aquele merda pra fora da minha casa.
00:10:29Ele tinha que ir embora.
00:10:30Porque...
00:10:31A situação tava muito tóxica.
00:10:33A minha filha tá morta.
00:10:37Porque não conseguiu tomar a decisão de mandar...
00:10:42E pode cortar isso também.
00:10:44De mandar ele pra...
00:10:45Isso é o mais importante dessa nossa entrevista.
00:10:51A gente não precisa ter outra pessoa pra gente poder ser completo.
00:10:57Não mesmo.
00:11:00Não precisa.
00:11:02Joga o lixo fora.
00:11:04Se livra.
00:11:05Você não precisa.
00:11:06Dá pra encontrar outra pessoa.
00:11:09Ou ficar sozinha.
00:11:11Sem acabar sendo morta e queimada.
00:11:18Sinto raiva pra c...
00:11:20Por minha filha ter morrido.
00:11:27Ele que devia ter morrido.
00:11:35Em 10 de janeiro de 2018...
00:11:38O relacionamento de Frank e Elizabeth sofreu uma ruptura.
00:11:41Eu lembro que o meu filho falou pra mim...
00:11:46Mãe...
00:11:47A Elizabeth tá tirando as coisas dele.
00:11:53Ela pôs a bicicleta dele na rua.
00:11:55E eu sei que ela tava agindo feito uma adolescente.
00:12:00Ela tirou uma foto da bicicleta jogada na rua.
00:12:03Eu não sabia no que história ia dar, mas...
00:12:06Eu fui dormir...
00:12:07Achando...
00:12:09Que estavam seguros.
00:12:11Na manhã seguinte...
00:12:17Sherry foi acordada com um susto.
00:12:21Eu acordei com um barulho alto lá em cima...
00:12:25E também com cheiro de fios...
00:12:27Queimando.
00:12:29Eu lembro que aquele barulho foi uma das...
00:12:32Piores coisas que eu já ouvi.
00:12:35Queima!
00:12:36Queima com o desejo!
00:12:37O meu filho foi me falar...
00:12:40Que a casa tava pegando fogo.
00:12:42Eu logo entrei no modo de alerta contra incêndio...
00:12:46E corri pra cozinha.
00:12:50A minha neta tava com o cobertor de segura.
00:12:53E eu saí olhando a casa...
00:12:55Procurando chamas em todo o canto.
00:12:59E aí...
00:13:00Eu...
00:13:01Vi o Frank pegando fogo.
00:13:04Tava coberto em chamas.
00:13:08Eu vi o casaco de couro dele...
00:13:12Se desfazendo com as chamas.
00:13:17E eu lembro que pensei em salvar a minha filha.
00:13:20Eu tentei subir...
00:13:21Pra ver o que tava acontecendo.
00:13:23Eu tenho...
00:13:23Não, você não pode subir!
00:13:25Mãe, vamos sair daqui, pelo amor de Deus!
00:13:27Meu filho não me deixou subir.
00:13:28Disse que tinha muita fumaça.
00:13:30Falou, não, se você subir vai morrer.
00:13:31E ele não me soltou.
00:13:35Não me deixou ir.
00:13:36E me tirou da casa.
00:13:43Os bombeiros chegaram num momento...
00:13:45Em que a família sofria pelo destino de Elizabeth.
00:13:52Pareceu que eles...
00:13:54Demoraram um século e falaram...
00:13:56Que tinham achado o corpo de mulher.
00:14:01Ela tava tão queimada que...
00:14:03Não tinha como identificar...
00:14:05A não ser por um braço que não tinha queimado.
00:14:16Perdi minha filha.
00:14:18Deus, o que eu fiz em outro mundo?
00:14:21Em algum outro universo paralelo?
00:14:24Pra ser punida, só me diz, Deus.
00:14:27O que o Senhor quer de mim?
00:14:28Porque levou a minha filha.
00:14:31Só tinha 28 anos.
00:14:35Horas após o incêndio, os investigadores ainda tentavam determinar a causa.
00:14:45Neste momento, Frank Brett foi encontrado em uma casa próxima.
00:14:48Pelo que eu ouvi, o Frank invadiu uma casa lá na rua.
00:14:56E por isso que ele ia ser preso.
00:15:01Mas aí a polícia notou aquele monte de queimaduras e viu que ele era a pessoa que ela procurava.
00:15:10Uma porcentagem grande do corpo dele tinha queimado.
00:15:15Por que ele se escondeu?
00:15:17Por que invadiu aquela casa?
00:15:18Por que ele não foi atrás de ajuda?
00:15:22Por que ele fugiu da minha casa?
00:15:23Por que ele não ficou no jardim e ia correr para o hospital que ficava lá perto?
00:15:28Ou ia fugir de vez?
00:15:29E a polícia disse que ele malbuciava, desculpa, desculpa, desculpa.
00:15:37E aí ele disse, motivo e oportunidade.
00:15:41Que pra mim são palavras bem estranhas.
00:15:46Ele entrou num coma induzido.
00:15:48E pelo que eu entendi, ele não pode ser interrogado.
00:15:51Após uma longa investigação, a polícia definiu que Frank havia causado um incêndio.
00:16:01Sherry ficou surpresa com a notícia.
00:16:04A gente vai entrevistar o Frank.
00:16:08Você quer fazer alguma pergunta pra ele?
00:16:10Ou tem algum recado que queira que a gente transmita?
00:16:14Mas que perguntas vocês vão fazer?
00:16:16Você fez aquilo?
00:16:17Se ele falar que não, então prove pra mim que ele é inocente.
00:16:24O que ele pode te falar que vai explicar o fluido de isqueiro que estava na minha filha?
00:16:32E...
00:16:33Depois veio fogo, sendo que ela não tinha isqueiros.
00:16:37Olha...
00:16:38Eu não sei como ele vai explicar isso.
00:16:40Atenção, este episódio tem imagens de queimaduras severas.
00:16:49Recomenda-se cuidado.
00:16:50Atualmente, eu estou preso na penitenciária Greenhaven, cumprindo de 25 anos a perpétuo.
00:17:12Foram duas condenações por homicídio em segundo grau.
00:17:17Ou seja, por causar intencionalmente a morte de outra pessoa.
00:17:22Eu não fui interrogado pelos investigadores da polícia e não depus no julgamento.
00:17:31Até hoje, nunca falei publicamente sobre o assunto.
00:17:34Eu não iniciei um incêndio.
00:17:42Eu te digo isso com uma certeza que é mais do que absoluta.
00:17:47Pode explicar.
00:17:48Uma coisa que eu sempre mostro pras pessoas é...
00:17:53É essa queimadura, que deve ser a pior.
00:17:57Ela pega toda a minha nuca e vem até aqui em cima.
00:18:00Meu corpo foi 90% queimado.
00:18:04A mão esquerda queimou bem mais que a direita.
00:18:08Meu rosto queimou bem mais desse lado que do outro.
00:18:12E eu...
00:18:13Simplesmente...
00:18:14Eu não sei...
00:18:15Eu não sei como alguém...
00:18:19É outro trauma que eu ainda não resolvi.
00:18:25Apesar de condenado, Frank diz que não iniciou o incêndio.
00:18:32Eu senti que o melhor que eu faria seria contar tudo o que é possível.
00:18:42Contar a verdade...
00:18:46Até onde eu sei dela.
00:18:48Eu vou relatar o máximo que eu lembrar.
00:18:52Eu não sei se devem acreditar em mim.
00:18:54Eu sei lá...
00:18:56Não é fácil.
00:18:58A minha família não acredita que eu fiz aquilo e a dela não acredita que ela fez.
00:19:02E isso é instintivo.
00:19:05Em 10 de janeiro de 2018, após quase dois anos de namoro e brigas...
00:19:09Elizabeth expulsou Frank de casa.
00:19:11E foi colocando as coisas dele na rua.
00:19:16As coisas estavam bem complicadas na época.
00:19:21Eu e ela não estávamos mais falando a mesma língua e...
00:19:24Eu ignorei o celular no dia e eu sabia que a Elizabeth...
00:19:31Odiava isso profundamente.
00:19:34Eu não queria conversar porque eu sabia que ela queria vir me provocar ou me fazer...
00:19:40Me fazer discutir com ela.
00:19:41Ela começou a me mandar mensagens nervosa falando que ia jogar minhas coisas na rua.
00:19:50Ela postou aquilo em um monte de redes sociais.
00:19:54Ela tinha botado caixas de coisas minhas na rua.
00:19:56A Elizabeth disse alguma coisa...
00:20:01Nas mensagens sobre como ela ia queimar todas as minhas mer...
00:20:05Eu lembro que aquilo me deixou bem chateado.
00:20:14Logo depois, Frank pegou o celular e ligou para um amigo.
00:20:18Esse amigo disse no julgamento que Frank havia feito uma ameaça suspeita.
00:20:22Ele disse isto.
00:20:33Nós falamos por telefone no dia.
00:20:35E o Frank disse...
00:20:36Ela, a Elizabeth, jogou as minhas mer... na rua.
00:20:40Todas as coisas que eu tenho estão na casa dela lá.
00:20:43Minha bicicleta e as ferramentas que meu pai me deu estão lá.
00:20:46Se estiver faltando alguma coisa, eu vou queimar a família gordaça dela inteira.
00:20:55E, claro, esse aqui foi um dos principais pontos do caso.
00:20:59Eu nunca falei nada assim para a Elizabeth.
00:21:02E, mais ainda, o que ele falou não foram as palavras que eu disse.
00:21:09O que eu falei foi mais ou menos algo como...
00:21:14Eu juro por Deus, se ela queimar qualquer coisa minha...
00:21:19Eu vou pegar tudo o que ela tem e...
00:21:23Ah, sim.
00:21:25Eu peço desculpas porque é degradante e é ofensivo e eu estava bravo.
00:21:30Mas o que eu disse foi...
00:21:32Eu tiro tudo o que ela e aquela família gordaça tem daquela casa...
00:21:36E queimo até não sobrar nada.
00:21:39Eu juro, se ela queimar as minhas coisas, vão ficar sem nada.
00:21:43Foi basicamente o que eu disse para aquele sujeito.
00:21:50E como a Elizabeth soube o que você disse?
00:21:55Esse homem ligou para ela e ele deve ter falado...
00:21:59Sei lá de que jeito...
00:22:01O que eu disse para ele.
00:22:02E foi depois dessa conversa que ela me mandou mensagem sobre...
00:22:07Incêndio e sobre queimar a casa.
00:22:21A gente obteve a conversa inteira por mensagem entre vocês...
00:22:26Por meio da polícia.
00:22:28Pode ler, por favor?
00:22:29Uhum.
00:22:29Porra, já vieram dizer que a sua bicicleta é um lixo.
00:22:38Eu levo tudo para dentro, mas não queima essa família gordaça.
00:22:44Bom que eu comprei a bicicleta.
00:22:46Poupo dinheiro.
00:22:47Não é piada.
00:22:48Tá?
00:22:49Fica à vontade.
00:22:50Queima tudo.
00:22:51Tá.
00:22:53E não tem...
00:22:54Mais...
00:22:54Nenhuma mensagem aqui.
00:22:55E a mensagem não é piada que você enviou para ela.
00:23:00Hã?
00:23:01Eu não sei o que eu disse antes.
00:23:03Você não disse nada.
00:23:05Foi sua única resposta.
00:23:10Enviada.
00:23:11Não é piada.
00:23:11Sinceramente, isso é tudo que eu li desde o ocorrido.
00:23:19Então, eu...
00:23:20Eu não sei, mas...
00:23:22Eu diria que eu me referia a ela não ser uma piada, ou eu não ser uma.
00:23:26Não que a frase sobre a família gordaça não era piada?
00:23:30Eu...
00:23:31Eu...
00:23:31De novo, eu nunca falei isso diretamente para ela.
00:23:41Frank enviou mensagem para a mãe dele antes de ir até Elizabeth.
00:23:45Foi uma das últimas mensagens enviadas por ele antes do incêndio.
00:23:52A última coisa que eu escrevi foi...
00:23:54Te amo, mãe.
00:23:55Sempre.
00:23:57Foi para a sua mãe.
00:23:58Para a minha mãe.
00:23:59Uhum.
00:23:59Por favor, não faz uma besteira.
00:24:03Ah, enfim.
00:24:07Parece suspeito essa ser a última mensagem que enviou.
00:24:12Eu escrevi que eu amo a minha mãe...
00:24:13Sempre.
00:24:14Bom, como você estava indo para a casa da Elizabeth.
00:24:18É...
00:24:18Tá bom, eu entendo a interpretação.
00:24:23Aham.
00:24:24Tem como a gente não interpretar assim?
00:24:27Tem.
00:24:27Eu só estava querendo dar conforto para a minha mãe.
00:24:32Isso não foi nenhum tipo de despedida.
00:24:36Nenhum tipo...
00:24:37Não foi um anexo.
00:24:38É.
00:24:39Assim.
00:24:40Eu te digo...
00:24:41De novo.
00:24:42Eu entendo...
00:24:44A interpretação.
00:24:45Mas isso é...
00:24:47Isso é dar um sentido amplo para uma coisa que é pequena.
00:24:51Eu penso assim.
00:24:52Após entrevistarem Frank Bratt, os produtores retornam a Sherry com as respostas.
00:24:59Tá pronta para ver isso?
00:25:02Tô pronta.
00:25:05Por acaso tem...
00:25:07Calmante por aqui?
00:25:09Hã?
00:25:10Tem.
00:25:11Eu preciso de alguma coisa.
00:25:13Eu tô tensa...
00:25:16Com todas as merda que ele vai falar.
00:25:18Ou Deus me proteja da verdade.
00:25:20Mas tudo bem.
00:25:25Se Deus quer que eu ouça a verdade...
00:25:27Então tá bom.
00:25:29E o meu rosto queimou bem mais desse lado que do outro.
00:25:33Nossa.
00:25:34Nem parece com ele.
00:25:36E eu tô pensando em como minha filha ficou.
00:25:38Ela tava mais queimada.
00:25:41Ele tá vivo.
00:25:44Mas sem o nariz, perdeu os cílios, as sobrancelhas, as orelhas, não tem boca.
00:25:50Mas a minha filha quase virou cinzas.
00:25:54Mas o que eu disse foi...
00:25:55Eu tiro tudo que ela e aquela família gordaça tem daquela casa e queimo até não sobrar nada.
00:26:05Isso que ele disse.
00:26:08Foi o mesmo que mostraram no julgamento.
00:26:13Que ele falou pra Elizabeth.
00:26:15Tinha uma frase enorme.
00:26:17Que ele tinha falado que foi resumida pra...
00:26:20Vou queimar sua família gordaça.
00:26:23É a mesma coisa.
00:26:24E ele falou o mesmo.
00:26:27Essas mensagens aqui vieram do celular dele.
00:26:31Olha.
00:26:33Aqui a minha filha disse...
00:26:35Por favor, não queima essa família gordaça.
00:26:37E ele respondeu...
00:26:39Não é piada.
00:26:41Ele não se referiu a ela e também não foi sobre ele.
00:26:45Não é piada.
00:26:45É sério mesmo.
00:26:46Tô te ameaçando.
00:26:47Quando eu vi isso no tribunal, eu chorei.
00:26:51Foi um choro tipo...
00:26:54Ai meu Deus.
00:26:56É mais um prego no caixão.
00:26:59Uma das últimas coisas que ele ouviu do juiz foi...
00:27:02Você ameaçou queimar a casa dessa família gordaça...
00:27:05E queimou mesmo.
00:27:14Me faz um favor.
00:27:15Leia essa troca de mensagens do Frank com a mãe dele.
00:27:21Eu te amo mãe sempre.
00:27:24Mãe, cadê você?
00:27:25Eu te amo filho.
00:27:27Não faz uma besteira.
00:27:30Nossa.
00:27:30Parece que ela sabia que ele era suspeito.
00:27:37E a impressão é que...
00:27:39Ele sabe que aquilo é suspeito.
00:27:41Parece que até a mãe sabe que aquela mensagem é suspeita.
00:27:46Não faz uma besteira.
00:27:50Isso não é suspeito de a mãe falar para o filho...
00:27:53Não fazer besteira.
00:27:55Eu te amo.
00:27:56Cadê você?
00:27:58Essa é a última mensagem deixada...
00:28:01Numa carta suicida.
00:28:11Agora eu quero que você me conte o seu lado da história...
00:28:14Desde a hora que você chegou na casa dela.
00:28:18Ela tinha deixado claro antes de eu chegar...
00:28:20Que ela ia jogar minhas coisas na rua.
00:28:21Ela tinha certeza que eu ia embora.
00:28:23Eu tô curioso.
00:28:25Você fez juízo.
00:28:25Mas quando eu cheguei...
00:28:26Tava tudo lá dentro da casa.
00:28:28Você sabe o que é a minha filha.
00:28:30A gente foi pro quarto...
00:28:31E a situação ficou feia muito rápido.
00:28:34Ela tava falando coisas pra me magoar.
00:28:37Vocês me acham pra caramba.
00:28:38Olha só.
00:28:39Olha só.
00:28:39Olha só.
00:28:39Olha só.
00:28:39Olha só.
00:28:39Olha só.
00:28:39Olha só.
00:28:44E...
00:28:44Aí...
00:28:47A última coisa...
00:28:49O que eu falei pra ela foi...
00:28:52Foi bem pessoal.
00:28:56Eu nem...
00:28:58Eu nem sei se eu quero compartilhar.
00:29:02Você disse alguma coisa pra ela e não quer compartilhar?
00:29:06Assim vai ser muito difícil pras pessoas...
00:29:09É.
00:29:10Entenderem a história toda.
00:29:12Eu mencionei que...
00:29:14Ela tinha sofrido um abuso quando eu era mais nova.
00:29:19Acontece que...
00:29:20Eu insinuei que...
00:29:25Tinha sido por culpa dela.
00:29:28E que ela tinha merecido o que tinha acontecido.
00:29:31Claro que isso ser...
00:29:40A...
00:29:40A última coisa que eu disse pra alguém que eu amava...
00:29:44É...
00:29:46É...
00:29:47Realmente terrível.
00:29:49É...
00:29:50E eu me arrependo, claro, disso que eu falei.
00:29:54E...
00:29:56É...
00:30:00Complicado.
00:30:10A minha filha foi abusada por um amigo...
00:30:13Quando ela tinha oito anos.
00:30:16Só oito anos.
00:30:18Ninguém dessa idade merece sofrer uma violência como essa.
00:30:21Foi a última coisa que ele disse e agora se arrepende?
00:30:25Ele teve muito tempo pra pensar nisso.
00:30:30Imagina trazer esse horror pra ferir uma pessoa.
00:30:34Não dá pra ter um relacionamento nesses termos.
00:30:39Para.
00:30:40As ofensas só vão ficando piores.
00:30:43Só pioram.
00:30:46Eu odeio ele.
00:30:48Odeio ele.
00:30:49Do fundo do meu coração.
00:30:51A polícia achou provas de que Frank Bratt iniciou o incêndio.
00:30:58Mas ele conta outra história.
00:31:02Eu disse uma coisa bem nojenta.
00:31:05Achando que eu tava na vantagem.
00:31:06E que...
00:31:07Tinha ganhado aquela discussão.
00:31:10Aí eu me virei...
00:31:12Pra sair do quarto.
00:31:15Mas...
00:31:16Algo me acertou na nuca.
00:31:18E o meu ouvido os uniu.
00:31:20E depois do primeiro golpe.
00:31:22Ela me bateu mais vezes.
00:31:28Aí eu lembro que eu acordei no chão.
00:31:31Aí eu abri os olhos e...
00:31:33Eu lembro que eu pisquei algumas vezes.
00:31:36Porque o quarto tava muito claro.
00:31:39Nem dava pra ver a cama.
00:31:40De tão forte que...
00:31:42Que tava o fogo.
00:31:43E tava com o fogo.
00:31:44E naquela hora...
00:31:46Eu me levantei.
00:31:48E percebi que eu tava quase...
00:31:51Todo coberto de chão.
00:31:54Aí eu vi nosso quarto...
00:31:56Naquela situação.
00:31:57E a porta da Isabela fechada.
00:32:00Na hora eu fiquei angustiado.
00:32:03Eu...
00:32:04Corri até lá.
00:32:06Abri a porta com tudo.
00:32:08Enrolei ela num cobertor.
00:32:10E falei pra ela...
00:32:11Que a gente tinha que ir lá pra baixo bem rápido.
00:32:14Chegando ao pé da escada...
00:32:16Eu mandei ela...
00:32:17Ir com a avó.
00:32:18E de jeito nenhum.
00:32:19Sair do lado dela.
00:32:20Eu tava com muito fogo no corpo e...
00:32:25Eu...
00:32:26Comecei a gritar por ajuda.
00:32:29Meu cunhado Nicolas pegou uma panela da pia...
00:32:32Encheu de água e jogou em mim.
00:32:34Aí eu comecei a rolar no chão da cozinha...
00:32:37E apaguei o fogo.
00:32:41Eu não acredito nessa história que criaram de que...
00:32:46Ah, o Frank tirou a Isabela.
00:32:47Não foi nada disso.
00:32:50A Isabela contou em depoimento...
00:32:53Que ela saiu...
00:32:55Da cama sozinha.
00:32:57E foi lá pra baixo...
00:32:58Sozinha.
00:33:01Olha, o meu filho me disse...
00:33:02Que veio o Frank pegando fogo.
00:33:05E depois disso a Isabela desceu.
00:33:07Ela não lembra dele em chamas.
00:33:09Mas lembra da discussão.
00:33:11Então, por isso que ela saiu da cama.
00:33:13Pra descer pro meu quarto.
00:33:15Como eu tinha dito pra ela fazer.
00:33:16E o Frank desceu a escada...
00:33:19Parecendo quase que uma tocha humana.
00:33:22Como ele poderia estar?
00:33:25Levando uma menina que tinha sete anos.
00:33:29Diga a verdade ou então se calme.
00:33:32A polícia falou com o filho de Sherry, Nick, sobre uma prova importante.
00:33:40Você sabe onde ficava o fluido de isqueiro na cozinha?
00:33:45Na cozinha?
00:33:46É.
00:33:48Por quê?
00:33:49Os investigadores falaram que acharam uma lata desses fluidos de isqueiro.
00:33:56Na cozinha?
00:33:57É.
00:33:58Mas em que parte?
00:34:00Bom, imagina que você tá ali, a pia, lavando a louça.
00:34:04Tá.
00:34:05Tava bem do lado.
00:34:06Bem onde o Frank caiu.
00:34:07E a lata de fluido de isqueiro?
00:34:15A polícia perguntou pro irmão da Elizabeth se eles tinham aquilo em casa e ele disse que nunca tiveram.
00:34:20Aí a polícia mostrou que tava ali do lado da pia e ele disse...
00:34:24Bem onde eu apaguei o fogo do Frank.
00:34:28Como você explica isso?
00:34:29Inclusive um pedaço do seu casaco do lado.
00:34:32Como você explica?
00:34:33Eu digo, com certeza que não tava no meu casaco.
00:34:37E como que foi parar lá?
00:34:40Quando eu desci, eu tava coberto de fogo.
00:34:43Eu tava parecendo uma tocha humana.
00:34:47Quando eu fui pra aquela área, eu fiquei me debatendo antes dele me jogar água.
00:34:52Se a lata estivesse por ali, no balcão, na mesa, na cadeira, no chão, era...
00:34:58Tudo no caminho de quem ia subir.
00:35:01Ou seja...
00:35:03Se alguém fosse levar a lata da garagem para dentro, ia colocar por ali antes de subir.
00:35:14E por que a gente deve acreditar em você?
00:35:17Porque as provas são muito fortes, né?
00:35:21Então...
00:35:22Sabe...
00:35:23É...
00:35:24Que nem eu disse, eu sofri muito com tudo.
00:35:26E...
00:35:26Pela narrativa do julgamento...
00:35:29Se eu estivesse observando de fora...
00:35:32E não soubesse de mais nada além do que me falaram...
00:35:35Eu...
00:35:35Eu ia me achar culpado.
00:35:37Eu ia achar...
00:35:38Nossa...
00:35:39Mas que cara terrível.
00:35:41Eu não acredito.
00:35:42Como que ele fez aquilo?
00:35:45Mas...
00:35:46É bem diferente quando você...
00:35:49Enfim...
00:35:50Esteve lá...
00:35:52E...
00:35:53Não tem nada que prove isso que ele fala, tirando a ferida na nuca.
00:36:02Que ele diz que veio de um ataque.
00:36:05Mas não se falou nada no tribunal sobre ele ter sido atingido na cabeça.
00:36:10Essa informação teria sido ótima para ele, sabe?
00:36:13Me atingiram na cabeça e por isso eu desmaiei.
00:36:17Aí acordei em chamas.
00:36:19Sério?
00:36:20A defesa não usaria isso no julgamento?
00:36:23O isqueiro na escada só tinha as impressões dele.
00:36:26Ele é sim culpado.
00:36:30Ele decidiu...
00:36:31Sair do quarto, pegar o fluido, voltar para cima e fazer o que ele fez.
00:36:36Aí ele despejou...
00:36:38Na minha filha...
00:36:39E tomou a decisão final de atear fogo nela.
00:36:43É isso que eu acho crueldade.
00:36:49Pois no momento em que ele decidiu fazer todas aquelas coisas...
00:36:54Ele se colocou num caminho totalmente demoníaco.
00:36:58E por que você fugiu e se escondeu em vez de voltar para ajudar?
00:37:08É, eu já ouvi isso de muita gente e várias vezes que, para elas, isso passa uma...
00:37:17Impressão de culpa ou de que eu fugi por saber que eu tinha feito a coisa errada.
00:37:23Eu não sei dizer o que eu estava pensando na hora.
00:37:26Era mais abstrato do que uma coisa concreta.
00:37:31Eu estava extremamente queimado e era normal eu estar desorientado.
00:37:36Eu lembro que eu cambalhei até a rua.
00:37:43E eu não estava conseguindo raciocinar direito na hora.
00:37:46Eu lembro de ouvir os rádios da polícia.
00:37:53E...
00:37:53Uns gritos...
00:37:54Aqui!
00:37:55Aqui!
00:37:56E lembro que eu estava tentando pedir ajuda.
00:37:59A última lembrança mais concreta foi de quando eles me colocaram na maca.
00:38:11E...
00:38:12Aí eu acordei três meses depois.
00:38:15E...
00:38:16Eu estava num estado bem crítico.
00:38:19As queimaduras que eu sofri aqui atrás...
00:38:23Foram bem piores das que eu sofri aqui na frente.
00:38:29Frank negava.
00:38:32Mas as provas mostravam que ele havia jogado líquido inflamável e ateado fogo em Elizabeth.
00:38:39O fluido foi despejado nela.
00:38:42Pelo Frank, porque só tinha os dois ali.
00:38:46Pelo que eu ouvi no julgamento.
00:38:47Aí ele ateou fogo.
00:38:49Também foi atingido pelos vapores.
00:38:53E por isso ficou em chamas.
00:38:56Que ser cruel ateia fogo em outra pessoa.
00:38:59Se eu acho que ele faria isso, não.
00:39:05Mas tem as provas.
00:39:09Doze pessoas condenaram ele.
00:39:11Como você acha que pegou fogo?
00:39:16Eu não sei...
00:39:18Se o ato de atear fogo foi proposital ou não.
00:39:23Mas depois de tudo aquilo...
00:39:27Eu fico pensando nas coisas que ela disse lá nas mensagens sobre fogo.
00:39:34E eu me questiono se elas seriam essas pessoas que levam tudo ao pé da letra.
00:39:43Aquela coisa de não apontar a arma se você não for dar o tiro.
00:39:47Só a hora de pensar que pode ter sido de propósito me dá medo.
00:39:52E mesmo se ela foi responsável, eu ainda amo ela.
00:39:58Eu sempre vou amar.
00:40:00Eu sinto muita falta dela e...
00:40:04Mesmo não me sentindo...
00:40:08Responsável pelo incêndio em si...
00:40:10Eu com certeza...
00:40:13Sou responsável pelo caminho até lá.
00:40:17Eu sempre vou me achar culpado em parte.
00:40:20Sabe?
00:40:23E como é isso?
00:40:24Toda noite antes de dormir...
00:40:28Eu me despeço da Elizabeth.
00:40:30E peço desculpas pra ela.
00:40:41Espero muito que tenha sido um acidente.
00:40:50Calma aí.
00:40:51Tá de brincadeira, porra?
00:40:54Ele não devia estar todo o pé da vida por ser inocente.
00:40:59E...
00:40:59Porque a namorada com quem ele ia terminar...
00:41:03Ateou fogo nele.
00:41:04Bateu na cabeça, sei lá.
00:41:06Ele devia estar inconformado.
00:41:09E não tentando se redimir.
00:41:10Eu penso na Elizabeth todo dia e ainda amo ela.
00:41:14Olha...
00:41:15Isso é frustrante.
00:41:17Isso é frustrante por quê?
00:41:19É que me dá uma agonia de ficar ouvindo ele querendo contar essa história.
00:41:24De que ele é um coitadinho.
00:41:27Essas peças não encaixam.
00:41:32Esse papinho não cola.
00:41:35Frank Bratt cumpre pena de 25 anos a perpétua.
00:41:38Pode tentar a condicional em 2043.
00:41:41Sherry ainda sofre com a dura realidade de que Frank matou a filha dela.
00:41:44Ele levou minha filha.
00:41:49Foi isso que eu disse para o juiz.
00:41:51Ele matou minha filha.
00:41:55Ela se foi.
00:41:56Ele nunca mais pode sair.
00:42:00Eu quero...
00:42:02Que ele morra na cadeia.
00:42:05Ele se olha no espelho.
00:42:07Vê como o rosto dele está.
00:42:08E vê como as mãos dele estão.
00:42:11Isso me faz pensar no tanto a mais que ela sofreu enquanto queimava.
00:42:14De dentro para fora.
00:42:15Todo dia eu sofro esse tormento e nunca vou esquecer.
00:42:23Eu tinha que ter agido como mãe.
00:42:26Não podia ter tido medo.
00:42:28Eu preferia ter ela viva.
00:42:31E sem falar comigo.
00:42:32Estar com laços cortados do que morta.
00:42:35Ela devia estar aqui cuidando da filha.
00:42:40E a gente ia se entender.
00:42:43Não tem conserto.
00:42:46Ele tirou a vida dela.
00:42:49Ela se foi.
00:42:50E ele está vivo.
00:42:53Versão Brasileira.
00:42:54Vox Mundi.
00:42:56A casa estava silenciosa demais para uma manhã de terça-feira.
00:43:00As cortinas pesadas ainda bloqueavam a luz.
00:43:02Como se quisessem adiar a chegada de um dia que não prometia nada além de rotina.
00:43:07Mas naquela cozinha.
00:43:08O cheiro familiar do café recém passado.
00:43:11Misturava-se ao de pão quente.
00:43:13Era um lar comum.
00:43:15De uma família comum.
00:43:16Ou pelo menos parecia.
00:43:18A mesa.
00:43:19Apenas duas cadeiras ocupadas.
00:43:21A de Helena.
00:43:22A mãe.
00:43:23E a de Daniel.
00:43:24O filho de 23 anos.
00:43:26Ele bocejava.
00:43:28Esfregando os olhos inchados de sono.
00:43:29Com o cabelo desgrenhado caindo sobre a testa.
00:43:32Quer café?
00:43:33Perguntou Helena.
00:43:34Já sabendo a resposta.
00:43:36Não.
00:43:36Respondeu ele.
00:43:37Arrastando as palavras.
00:43:38Acho que vou só tomar um copo de leite.
00:43:41Helena sorriu.
00:43:42Achando graça da simplicidade do pedido.
00:43:44Pegou um copo alto.
00:43:45Encheu com o leite frio da geladeira.
00:43:48E colocou diante dele.
00:43:49Daniel bebeu devagar.
00:43:51Como se saboreasse cada gole.
00:43:53Não foi rápido.
00:43:54Não foi automático.
00:43:56Foi como se aquela bebida tivesse algum significado.
00:43:59E talvez tivesse.
00:44:00O relógio na parede marcava 8h17.
00:44:03Quando o copo pousou de volta sobre a mesa.
00:44:06Meio cheio.
00:44:07Um pequeno aro de condensação se formando na madeira.
00:44:10Daniel não disse mais nada.
00:44:12A cabeça dele tombou para a frente.
00:44:14E por um instante.
00:44:15Helena pensou que ele estava brincando.
00:44:17Fingindo dormir para evitar a conversa sobre procurar emprego que ela vinha adiando havia dias.
00:44:22Mas quando o chamou e tocou seu ombro.
00:44:24Percebeu que algo estava errado.
00:44:26Muito errado.
00:44:27Daniel repetiu agora com a voz mais aguda.
00:44:30Mais trêmula.
00:44:31Os olhos dele estavam abertos.
00:44:33Mas não viam nada.
00:44:34Um reflexo opaco tomava conta da íris.
00:44:37E a respiração.
00:44:38Se existia.
00:44:39Era imperceptível.
00:44:41Helena sentiu o coração disparar.
00:44:43O corpo inteiro tremendo.
00:44:45O copo de leite ainda estava ali.
00:44:47Imaculado.
00:44:48Como se não tivesse sido tocado por nada além dos lábios dele segundos antes.
00:44:53Ela gritou.
00:44:54Gritou com uma força que jamais imaginou ter.
00:44:57O som ecoou pela casa.
00:44:59Atravessou paredes.
00:45:00Invadiu o quintal.
00:45:01O vizinho da frente.
00:45:03Um homem idoso que passava as manhãs regando plantas.
00:45:05Deixou cair a mangueira ao ouvir.
00:45:08Em menos de um minuto estava batendo a porta.
00:45:11E encontrou Helena ajoelhada ao lado do filho.
00:45:13Tentando erguer-lhe a cabeça.
00:45:15Sacudindo-o.
00:45:16Implorando que respirasse.
00:45:17A ambulância chegou rápido.
00:45:19Mas parecia lenta demais.
00:45:21Os paramédicos trabalharam ali mesmo na cozinha.
00:45:23Sob o olhar desesperado de Helena.
00:45:25Máscara de oxigênio.
00:45:27Compressões no peito.
00:45:28Gritos de instruções técnicas que ela não entendia.
00:45:31Um deles perguntou se ele tinha alguma condição médica.
00:45:34Outro perguntou o que ele tinha comido ou bebido.
00:45:36Ela respondeu.
00:45:38Leite.
00:45:38Só leite.
00:45:39As sirenes levaram Daniel.
00:45:41Mas deixaram para trás uma cozinha gelada.
00:45:43Um copo pela metade.
00:45:45E uma mãe com as mãos ainda úmidas de lágrimas.
00:45:48No hospital.
00:45:49As respostas não vieram.
00:45:51Nenhum histórico de doenças cardíacas.
00:45:53Nenhum sinal de overdose.
00:45:55Nada no sangue que justificasse aquela parada abrupta.
00:45:57O médico disse que o coração dele simplesmente parou.
00:46:02Mas Helena não acreditava em simplesmente.
00:46:05Nenhuma mãe aceita uma explicação tão fria para uma ausência tão devastadora.
00:46:10Naquela noite.
00:46:10Sentada sozinha no corredor do hospital.
00:46:13Ela revisitou cada detalhe da manhã.
00:46:15O jeito como Daniel tinha segurado o copo com as duas mãos.
00:46:18A forma lenta como bebia.
00:46:20Olhando para o nada.
00:46:22E sobretudo.
00:46:23Um instante antes de cair.
00:46:24Um leve estremecimento nos lábios.
00:46:27Como se quisesse dizer algo.
00:46:28Mas não tivesse tempo.
00:46:30O corpo de Daniel foi levado para o exame pericial.
00:46:33Helena voltou para casa.
00:46:35E ao entrar na cozinha.
00:46:36Sentiu um calafrio.
00:46:38O copo ainda estava sobre a mesa.
00:46:40Com uma marca clara de onde seus dedos haviam segurado.
00:46:43Ela se aproximou.
00:46:44E percebeu algo.
00:46:46No fundo do leite.
00:46:47Uma fina película amarelada.
00:46:48Quase invisível sob a luz fraca.
00:46:51Não era normal.
00:46:52A lembrança do médico dizendo nada encontrado.
00:46:54Parecia ainda mais absurda agora.
00:46:57Helena não sabia explicar.
00:46:58Mas algo lhe dizia que aquele copo guardava a chave para entender o que aconteceu.
00:47:03E se havia alguém responsável?
00:47:05Essa pessoa ainda estava por perto.
00:47:07Os dias seguintes foram um borrão.
00:47:09O velório aconteceu rápido.
00:47:11E as pessoas sussurravam atrás dela.
00:47:13Falando sobre como era triste perder um filho tão jovem.
00:47:16Tão saudável.
00:47:18Alguns especulavam que poderia ser doença súbita.
00:47:21Outros murmuravam sobre acidente.
00:47:23Ninguém ousava mencionar a palavra que martelava na cabeça de Helena desde aquela manhã.
00:47:28Envenenamento.
00:47:29Dois dias depois, ela decidiu voltar ao hospital para pegar o relatório preliminar da autópsia.
00:47:34O documento era técnico.
00:47:36Frio.
00:47:37Cheio de termos médicos.
00:47:38Nenhuma conclusão definitiva.
00:47:40Mas uma linha chamou sua atenção.
00:47:42Traços não identificados de substância lipossolúvel no conteúdo gástrico.
00:47:48Não identificados.
00:47:49Isso queria dizer que havia algo ali.
00:47:51E que não era comum.
00:47:52A polícia foi avisada.
00:47:54Um detetive chamado Marcos assumiu o caso.
00:47:57Ele ouviu o relato de Helena com atenção.
00:47:59Mas parecia cético.
00:48:00Disse que acidentes acontecem.
00:48:02Que talvez fosse um problema alérgico súbito.
00:48:05Mas quando Helena entregou o copo guardado na geladeira com o resto do leite ainda lá.
00:48:09Ele mudou de expressão.
00:48:10Levou-o imediatamente para a análise.
00:48:13Na semana seguinte, Helena foi chamada à delegacia.
00:48:15O resultado estava pronto.
00:48:17No leite havia vestígios de uma toxina rara.
00:48:20Usada originalmente como pesticida agrícola.
00:48:23Proibida no país há mais de 15 anos.
00:48:25Uma substância tão potente que em poucas horas causava falência múltipla dos órgãos.
00:48:31Marcos olhou para Helena e disse.
00:48:33Alguém queria seu filho morto.
00:48:35E sabia exatamente o que estava fazendo.
00:48:37A pergunta que queimava agora não era mais o que aconteceu.
00:48:41Mas quem fez isso?
00:48:43Daniel não tinha inimigos conhecidos.
00:48:46Não devia dinheiro.
00:48:47Não se metia em confusões.
00:48:49Trabalhava em uma oficina mecânica.
00:48:51Tinha poucos amigos.
00:48:53E passava mais tempo em casa do que na rua.
00:48:56O assassinato parecia tão sem sentido.
00:48:58Que de certa forma se tornava ainda mais ameaçador.
00:49:02Helena começou a se lembrar de coisas que antes pareciam banais.
00:49:05Uma ligação estranha que ele recebeu três dias antes.
00:49:08Que atendeu no quarto e não quis comentar.
00:49:11Um carro preto estacionado na rua.
00:49:13Duas noites seguidas com faróis apagados.
00:49:16Do qual ela só conseguia ver o contorno.
00:49:18Um envelope sem remetente que chegou pelo correio.
00:49:21E que Daniel disse não ser importante.
00:49:23Mas que jogou fora sem abrir na frente dela.
00:49:25A polícia começou a investigar a vida dele a fundo.
00:49:28Descobriram que duas semanas antes da morte.
00:49:31Daniel havia ajudado um amigo a consertar um carro abandonado.
00:49:34Numa estrada de terra.
00:49:36O carro tinha marcas de bala.
00:49:39O dono desapareceu dias depois.
00:49:41Coincidência?
00:49:42Talvez.
00:49:44Mas para Marcos.
00:49:45Coincidências raramente eram inocentes.
00:49:48Helena passou a viver em alerta.
00:49:50Portas trancadas.
00:49:51Janelas fechadas.
00:49:52Telefone sempre por perto.
00:49:54Mas isso não a impediu de notar que estava sendo seguida.
00:49:57Uma noite ao sair do mercado.
00:49:58Viu pelo reflexo da vitrine.
00:50:00Um homem de boné.
00:50:01Parado ao lado de um carro escuro.
00:50:02Não comprava nada.
00:50:04Não entrava.
00:50:05Não saía.
00:50:06Apenas a observava.
00:50:07Quando ela se virou.
00:50:09Ele entrou no carro.
00:50:10E partiu sem olhar para trás.
00:50:12O medo começou a se transformar em outra coisa.
00:50:14Determinação.
00:50:15Helena queria respostas.
00:50:17E se a polícia não conseguisse rápido.
00:50:19Ela mesma iria atrás.
00:50:21O copo de leite não era apenas uma prova.
00:50:23Era um símbolo.
00:50:25O último ato do filho.
00:50:26Antes de desaparecer.
00:50:27Para sempre.
00:50:28E no fundo.
00:50:29Ela sabia que encontrar a verdade.
00:50:32Significava também.
00:50:33Enfrentar a possibilidade.
00:50:35De que Daniel estivesse envolvido.
00:50:36Em algo muito mais sombrio.
00:50:38Do que ela imaginava.
00:50:39A cada detalhe descoberto.
00:50:41O caso parecia mais profundo.
00:50:43Mais emaranhado.
00:50:44Mais perigoso.
00:50:45E o que Helena ainda não sabia.
00:50:47Era que.
00:50:48No momento em que Daniel pediu aquele copo de leite.
00:50:51Ele já estava condenado.
00:50:52A chuva caía fina naquela quinta-feira.
00:50:55Como se o céu tivesse decidido chorar.
00:50:57Junto com Helena.
00:50:58As ruas refletiam as luzes amareladas dos postes.
00:51:01Criando poças que pareciam espelhos distorcidos de uma cidade cansada.
00:51:06Ela caminhava rápido.
00:51:07Segurando a sacola de compras contra o peito.
00:51:10Quando o som de pneus sobre o asfalto molhado.
00:51:12Chamou sua atenção.
00:51:14Não era alto.
00:51:15Mas tinha um ritmo estranho.
00:51:17Como se o carro estivesse andando na mesma velocidade que ela.
00:51:20Virou discretamente o rosto.
00:51:22E lá estava ele de novo.
00:51:23O carro preto.
00:51:24O mesmo modelo que vira dias antes.
00:51:26Estacionado na rua de casa.
00:51:28Com faróis apagados.
00:51:29Agora os faróis estavam acesos.
00:51:32Mas a luz interna permanecia apagada.
00:51:35Ocultando o rosto do motorista.
00:51:37O vidro estava levemente aberto.
00:51:39E o vapor quente que escapava.
00:51:40Denunciava que havia alguém ali.
00:51:42Fumando.
00:51:43O coração de Helena acelerou.
00:51:45Não adiantava correr.
00:51:47Ela sabia que correr chamaria ainda mais atenção.
00:51:49Então manteve o passo.
00:51:51Tentando parecer indiferente.
00:51:53Mas cada músculo do corpo gritava em alerta.
00:51:56O carro a seguiu por mais três quarteirões.
00:51:58Até que de repente acelerou e desapareceu na esquina.
00:52:02O silêncio que se seguiu não trouxe alívio.
00:52:04Apenas a certeza de que estava sendo observada de perto.
00:52:08Naquela noite.
00:52:09Ela mal dormiu.
00:52:10Sentava-se na cama a cada ruído.
00:52:13Como se o simples ranger de um móvel.
00:52:15Fosse o prenúncio de algo pior.
00:52:16Pela primeira vez desde a morte de Daniel.
00:52:20Considerou seriamente deixar a cidade.
00:52:22Mas havia algo que a impedia.
00:52:24A sensação de que estava muito perto de descobrir algo importante.
00:52:28E fugir.
00:52:29Significaria perder essa chance para sempre.
00:52:32Na manhã seguinte foi a delegacia.
00:52:34Marcos.
00:52:35O detetive.
00:52:36Estava inclinado sobre a mesa.
00:52:38Analisando fotos do que parecia ser um carro carbonizado.
00:52:42Helena contou sobre o carro preto.
00:52:44E o homem de boné.
00:52:45Ele anotou cada detalhe.
00:52:47Mas o olhar dele dizia que já tinha mais peças desse quebra-cabeça do que estava disposto a compartilhar.
00:52:52Eu preciso que a senhora tenha muito cuidado.
00:52:54Disse ele finalmente levantando os olhos.
00:52:57Esse tipo de gente não deixa rastros à toa.
00:52:59Se alguém está se mostrando.
00:53:01É porque quer que saiba que está sendo vigiada.
00:53:03Helena sentiu um frio na espinha.
00:53:05Está dizendo que é um aviso?
00:53:08Estou dizendo que é possível.
00:53:09No caminho de volta.
00:53:10Passou pela oficina onde Daniel trabalhava.
00:53:12O dono, seu Jorge, a recebeu com um olhar misto de tristeza e cautela.
00:53:18Ela perguntou se Daniel estava estranho nos últimos dias antes da morte.
00:53:22Seu Jorge hesitou antes de responder.
00:53:25Ele recebeu um cliente novo.
00:53:26Um cara que ninguém conhecia.
00:53:28Mandou consertar um carro velho.
00:53:30Mas parecia nervoso.
00:53:32Pagou tudo em dinheiro vivo.
00:53:34Daniel comentou que o carro tinha um compartimento escondido no porta-malas.
00:53:38Não me disse o que tinha lá dentro.
00:53:40A informação queimou na mente de Helena.
00:53:43Compartimento escondido.
00:53:44Carro velho.
00:53:45Cliente nervoso.
00:53:47E agora, um carro preto que a seguia.
00:53:50As peças começavam a se encaixar num desenho perigoso.
00:53:53À noite, o telefone tocou.
00:53:55Número desconhecido.
00:53:57Helena atendeu com a voz hesitante.
00:53:59É a mãe do Daniel?
00:54:01Perguntou uma voz masculina.
00:54:03Baixa.
00:54:03Quase um sussurro.
00:54:04Quem quer saber?
00:54:06Não importa quem sou.
00:54:08Só precisa saber que seu filho não morreu por acaso.
00:54:11E que você está na lista.
00:54:13Antes que ela pudesse responder, a ligação caiu.
00:54:15O som do bip vazio no ouvido parecia um eco do próprio medo.
00:54:19Foi nessa noite que Helena decidiu instalar uma câmera na porta de casa.
00:54:23Não era sofisticada.
00:54:25Apenas um modelo simples.
00:54:26Comprado às pressas numa loja de eletrônicos.
00:54:28Mas servia para registrar quem se aproximava.
00:54:32Dois dias depois, teve a primeira gravação estranha.
00:54:36Às três e vinte e quatro da madrugada, um homem parou diante da porta.
00:54:40Olhou diretamente para a lente da câmera.
00:54:42E ficou imóvel por alguns segundos.
00:54:45O rosto dele estava parcialmente coberto pelo boné.
00:54:48Mas a boca formava um sorriso que não tinha nada de humano.
00:54:52Em seguida, ele colocou algo no chão diante da porta e foi embora.
00:54:56Quando Helena abriu a porta pela manhã,
00:54:58Encontrou um envelope pardo.
00:55:01Dentro, havia apenas uma fotografia.
00:55:03Daniel, sentado num banco de praça,
00:55:06Conversando com um homem que ela nunca tinha visto.
00:55:09Ao fundo, um carro preto estacionado.
00:55:12Marcos ficou tenso ao ver a foto.
00:55:14Disse que tentaria identificar o homem desconhecido,
00:55:17Mas não garantiu resultados rápidos.
00:55:19Helena, no entanto, não estava disposta a esperar.
00:55:22Passou a frequentar a praça que aparecia na imagem.
00:55:25Observando os rostos, as rotinas.
00:55:27Tentando reconhecer alguém.
00:55:28Foi numa dessas vigílias que ela percebeu algo.
00:55:32Uma mulher, sempre com um casaco vermelho,
00:55:35Sentada no mesmo banco todos os dias.
00:55:37Como se estivesse à espera de alguém.
00:55:40Helena criou coragem e se aproximou.
00:55:43A mulher parecia mais velha,
00:55:44Mas o olhar era afiado.
00:55:46Quando Helena mencionou o nome de Daniel,
00:55:48Ela congelou.
00:55:50Você não devia falar dele aqui.
00:55:52Disse, olhando em volta.
00:55:53Eles podem estar ouvindo.
00:55:55Quem?
00:55:56Insistiu Helena.
00:55:57As mesmas pessoas que puseram veneno no leite.
00:56:00O mundo pareceu girar.
00:56:02Helena se segurou no encosto do banco.
00:56:05Você sabe quem fez isso?
00:56:07Sei, mas saber não significa que possa provar.
00:56:11A mulher contou que Daniel tinha se envolvido,
00:56:13Sem perceber,
00:56:14Com um grupo que transportava algo ilegal,
00:56:17Escondido em carros velhos.
00:56:18Disse que o tal carro que ele consertou,
00:56:21Fazia parte de uma entrega importante,
00:56:24E que de alguma forma,
00:56:25Daniel descobriu mais do que deveria.
00:56:27Quando você sabe demais,
00:56:29Eles cortam o elo mais fraco.
00:56:31Disse a mulher,
00:56:32Sem olhar nos olhos de Helena.
00:56:33E depois cortam qualquer um que possa falar.
00:56:36Antes que Helena pudesse fazer mais perguntas,
00:56:38A mulher se levantou e foi embora.
00:56:40Misturando-se à multidão.
00:56:42Helena tentou segui-la,
00:56:43Mas perdeu-a de vista em segundos.
00:56:45Naquela noite,
00:56:47Ao rever as imagens da câmera de casa,
00:56:49Percebeu algo que a fez tremer.
00:56:51O carro preto estava de novo estacionado na esquina.
00:56:54Mas dessa vez,
00:56:55Não estava sozinho.
00:56:56Um segundo carro,
00:56:57Cinza,
00:56:58Havia se aproximado.
00:56:59E os dois motoristas conversaram brevemente,
00:57:01Antes de partirem.
00:57:03Marcos recebeu a gravação e confirmou.
00:57:05O carro preto estava registrado em nome de uma empresa fantasma,
00:57:08Criada há menos de seis meses.
00:57:10O carro cinza, porém,
00:57:12Pertencia a um homem com ficha criminal por tráfico,
00:57:15E agressão.
00:57:16Para Helena,
00:57:17Isso não era coincidência.
00:57:19Na madrugada seguinte,
00:57:20O telefone tocou novamente.
00:57:22A mesma voz masculina,
00:57:23Calma demais para a parca ameaça que trazia.
00:57:26Parabéns, senhora.
00:57:27Está chegando perto.
00:57:28Mas cuidado.
00:57:29O leite não foi o único presente que podemos deixar para você.
00:57:32Helena sentiu o estômago revirar.
00:57:35Agora não era apenas sobre justiça.
00:57:37Era sobre sobreviver tempo suficiente
00:57:39Para conseguir essa justiça.
00:57:41E no fundo,
00:57:42Ela sabia que o próximo passo que desse
00:57:44Poderia ser o último.
00:57:46O amanhecer chegou sem trazer descanso para Helena.
00:57:50Passara a noite acordada.
00:57:52Sentada na poltrona da sala.
00:57:54Com a televisão ligada num volume baixo.
00:57:56Apenas para disfarçar o silêncio pesado que a sufocava.
00:57:59O telefone estava sobre a mesa.
00:58:01Ao alcance da mão.
00:58:03Como se a qualquer momento pudesse tocar.
00:58:05Trazendo a resposta que precisava.
00:58:07Ou mais uma ameaça.
00:58:09Quando o primeiro raio de luz atravessou a cortina.
00:58:11Ela percebeu que ainda segurava a fotografia.
00:58:14Encontrada no envelope deixado a sua porta.
00:58:16Aquele pedaço de papel já estava amassado nas bordas.
00:58:19De tanto que ela o manuseara.
00:58:21Tentando encontrar algo que tivesse escapado.
00:58:23Aos olhos da polícia.
00:58:24E foi nesse olhar obsessivo.
00:58:26Que percebeu um detalhe que ninguém comentara.
00:58:29No reflexo da janela de uma loja.
00:58:31Atrás de Daniel.
00:58:31E do homem desconhecido.
00:58:34Havia uma terceira pessoa.
00:58:36Parcialmente encoberta.
00:58:38O rosto não estava nítido.
00:58:39Mas a silhueta.
00:58:41A silhueta lembrava o homem de boneca e a seguia.
00:58:44O coração de Helena bateu mais rápido.
00:58:46Se aquele reflexo fosse mesmo dele.
00:58:48Significava que não era um observador recente.
00:58:51Ele já estava na órbita de Daniel.
00:58:53Antes de sua morte.
00:58:54Sem avisar a polícia.
00:58:55Helena decidiu ampliar a foto por conta própria.
00:58:58Levou a uma pequena gráfica do bairro.
00:59:00Fingindo que era para um projeto pessoal.
00:59:02O funcionário.
00:59:03Um rapaz magro.
00:59:04E de fala rápida.
00:59:05Ajustou a imagem no computador.
00:59:07E aplicou filtros.
00:59:08Para melhorar a nitidez.
00:59:10O rosto não ficou totalmente claro.
00:59:12Mas o contorno da barba rala.
00:59:14E a inclinação da cabeça.
00:59:16Eram idênticos ao que aparecera no vídeo.
00:59:18Da câmera de segurança.
00:59:19Agora ela tinha mais certeza.
00:59:22Esse homem não era apenas um mensageiro de ameaças.
00:59:25Ele estava presente no dia em que tudo começou.
00:59:28À tarde Helena voltou à praça.
00:59:31Mas dessa vez não se sentou.
00:59:32Circulou devagar.
00:59:34Observando cada rosto.
00:59:35E foi perto do coreto.
00:59:37Que viu algo que a fez parar no lugar.
00:59:40Um fotógrafo de rua.
00:59:41Idoso.
00:59:42Vendendo retratos antigos da cidade.
00:59:45Entre as fotos expostas.
00:59:46Havia uma que fez o sangue gelar nas veias dela.
00:59:49Era a mesma praça.
00:59:51Mas alguns meses antes.
00:59:52E ali.
00:59:53Num canto da imagem.
00:59:55O mesmo homem de boné.
00:59:56Parado.
00:59:57De braços cruzados.
00:59:59Como quem espera algo.
01:00:00Ou alguém.
01:00:02Helena comprou a foto.
01:00:03Tentando disfarçar a pressa.
01:00:05E perguntou ao fotógrafo.
01:00:06Se ele se lembrava do dia em que ela fora tirada.
01:00:09O homem franziu a testa.
01:00:10Puxando da memória.
01:00:12Foi no dia do festival de carros antigos.
01:00:14Respondeu.
01:00:15Muita gente por aqui.
01:00:17Mas esse aí.
01:00:17Esse eu já vi outras vezes.
01:00:19Fica sempre nas sombras.
01:00:20Nunca participa.
01:00:22A palavra sombras.
01:00:23Ficou martelando na mente dela.
01:00:24Enquanto caminhava de volta pra casa.
01:00:27No caminho.
01:00:27Notou outro detalhe perturbador.
01:00:30O carro preto estava novamente estacionado.
01:00:33Mas dessa vez.
01:00:34Com a porta do motorista entreaberta.
01:00:37Nenhum sinal de movimento dentro.
01:00:39Helena passou rápido.
01:00:40Sem olhar diretamente.
01:00:42Mas sentiu o peso de um olhar invisível.
01:00:45Quando chegou em casa.
01:00:45Encontrou a porta dos fundos destrancada.
01:00:49Não havia sinais de arrombamento.
01:00:51Mas ela sabia que a tinha fechado na noite anterior.
01:00:54Entrou devagar.
01:00:55Cada passo ecoando na cozinha vazia.
01:00:57Sobre a mesa.
01:00:58Um novo envelope.
01:01:00Dentro.
01:01:01Apenas uma frase escrita em letras maiúsculas.
01:01:03Você está olhando para o lugar errado.
01:01:06O bilhete não tinha assinatura.
01:01:07Mas o cheiro de tabaco impregnado no papel.
01:01:09Bastava para indicar de quem vinha.
01:01:11No fim daquela semana.
01:01:13Marcos ligou.
01:01:14Disse que tinha novidades.
01:01:16Recebeu Helena na delegacia.
01:01:18E mostrou um dossiê com informações sobre o homem de boné.
01:01:21O nome dele era Augusto Naves.
01:01:23Mas raramente usava o próprio nome.
01:01:26Ex-militar.
01:01:27Expulso por envolvimento em contrabando de armas.
01:01:30Sem residência fixa.
01:01:31Sempre vinculado a empresas de fachada.
01:01:33Que fechavam antes mesmo de completar um ano.
01:01:36O que ele teria contra o meu filho?
01:01:38Perguntou Helena com a voz trêmula.
01:01:40Não sei se é pessoal.
01:01:42Respondeu Marcos.
01:01:43Mas sei que ele trabalha para gente que não perdoa erros.
01:01:47E se Daniel cruzou o caminho deles.
01:01:49Talvez não tenha sido por escolha.
01:01:51Helena queria perguntar mais.
01:01:53Mas o detetive parecia medindo as palavras.
01:01:55Como se temesse dizer algo que não deveria.
01:01:58Ainda assim.
01:01:59Antes que ela saísse.
01:02:00Ele acrescentou.
01:02:01Só tome cuidado.
01:02:02Esse tipo de homem não ameaça duas vezes.
01:02:05A próxima vez ele age.
01:02:06No dia seguinte.
01:02:07Helena recebeu uma ligação inesperada.
01:02:09Era a mulher do casaco vermelho.
01:02:12A voz dela parecia mais urgente do que antes.
01:02:15Precisamos nos encontrar.
01:02:16Hoje.
01:02:17Antes que seja tarde demais.
01:02:19Marcaram de se ver num café afastado do centro.
01:02:22Quando Helena chegou.
01:02:23A mulher já estava sentada num canto.
01:02:25De costas para a parede.
01:02:27Como se quisesse vigiar todo o movimento à sua frente.
01:02:30Ela não perdeu tempo.
01:02:32O carro que seu filho consertou.
01:02:34Não era qualquer carro.
01:02:35Havia documentos escondidos dentro.
01:02:38Documentos que podiam destruir pessoas muito poderosas.
01:02:41Helena sentiu um frio percorrer-lhe a espinha.
01:02:44E ele descobriu isso?
01:02:45Descobriu o suficiente para assinar a própria sentença.
01:02:49A mulher olhou em volta antes de continuar.
01:02:51Há uma fotografia.
01:02:53Uma que ninguém quer que você veja.
01:02:56Ela mostra quem realmente estava no banco do passageiro naquele carro.
01:02:59Se conseguir essa foto.
01:03:01Saberá porque seu filho morreu.
01:03:02Helena perguntou onde encontrá-la.
01:03:05Mas a mulher apenas entregou um pedaço de papel com um endereço.
01:03:08E saiu.
01:03:09Deixando o café quase sem ser notada.
01:03:11O endereço levava a um galpão abandonado na periferia.
01:03:14Helena sabia que era imprudente ir sozinha.
01:03:17Mas a necessidade de respostas falava mais alto.
01:03:20Ao chegar.
01:03:21O lugar estava silencioso demais.
01:03:23Entrou devagar.
01:03:24E o eco dos passos parecia gritar nas paredes nuas.
01:03:28No canto.
01:03:28Sobre uma mesa empoeirada.
01:03:30Havia uma caixa de papelão.
01:03:32Dentro.
01:03:33Fotografias espalhadas.
01:03:35Algumas de pessoas que ela nunca tinha visto.
01:03:37Outras.
01:03:38De Daniel.
01:03:39E ali.
01:03:40Estava ela.
01:03:41A fotografia que faltava.
01:03:44Mostrava o carro velho.
01:03:45Estacionado numa estrada de terra.
01:03:47Com o porta-malas aberto.
01:03:49No banco do passageiro.
01:03:51Um homem com o rosto parcialmente virado para a câmera.
01:03:55Mesmo desfocado.
01:03:57Helena reconheceu de imediato.
01:03:59Era Augusto Naves.
01:04:01Um estalo no canto do galpão fez Helena congelar.
01:04:04Antes que pudesse reagir.
01:04:06Uma sombra se moveu rápido.
01:04:08O som metálico de uma porta batendo ecoou.
01:04:10E ela percebeu que não estava sozinha.
01:04:13Uma voz baixa.
01:04:14Quase um sussurro.
01:04:15Quebrou o silêncio.
01:04:16Eu disse que estava olhando para o lugar errado.
01:04:19O eco da voz dele parecia vibrar nas paredes do galpão.
01:04:22Como se o concreto absorvesse e devolvesse a ameaça em ondas invisíveis.
01:04:28Helena sentiu a respiração acelerar.
01:04:30Cada batimento de seu coração ecoando nos ouvidos como um tambor apressado.
01:04:35O ar estava pesado.
01:04:37E o cheiro de ferrugem misturado a pó fazia arder sua garganta.
01:04:40Augusto, ela disse, a voz falhando levemente, mas mantendo o olhar firme na direção da sombra.
01:04:48Dos cantos mais escuros, ele surgiu.
01:04:51O boné escondia parte do rosto.
01:04:53Mas a luz fraca que entrava pelas frestas do telhado revelava um sorriso enviesado.
01:04:58Frio.
01:04:59Como se estivesse diante de um jogo que já sabia que ia vencer.
01:05:03Ele não carregava a arma visível.
01:05:05Mas a postura dizia que não precisava.
01:05:07Você é mais teimosa do que pensei, murmurou caminhando devagar,
01:05:12como um predador que saboreia cada passo antes de alcançar a presa.
01:05:16Podia ter ficado em casa, podia ter esquecido, mas veio até aqui.
01:05:20Helena segurava a fotografia com força, como se aquele pedaço de papel fosse ao mesmo tempo escudo e arma.
01:05:27Por que meu filho morreu?
01:05:28Perguntou com um fio de voz que misturava desespero e raiva.
01:05:32Augusto inclinou a cabeça, observando-a como quem avalia um objeto curioso.
01:05:37Porque ele viu o que não devia.
01:05:39Ou viu o que não devia.
01:05:42E fez perguntas.
01:05:44Gente como eu não gosta de perguntas.
01:05:46Você envenenou o leite dele?
01:05:48A pergunta cortou o ar carregada de dor.
01:05:51Um leve sorriso passou pelo rosto dele.
01:05:53E o silêncio que se seguiu foi mais perturbador do que qualquer resposta direta.
01:05:58Finalmente, ele falou.
01:05:59Digamos que...
01:06:02Eu garanto que as mensagens certas cheguem a quem precisa.
01:06:06Helena entendeu.
01:06:07Talvez ele não tivesse colocado a toxina no copo com as próprias mãos.
01:06:11Mas era a ponte entre a ordem e a execução.
01:06:15Ela deu um passo para trás, sentindo o calcanhar encostar em algo duro.
01:06:19A caixa de fotografias.
01:06:21Augusto percebeu o movimento e estreitou os olhos.
01:06:23Vai me entregar o que pegou.
01:06:26Agora.
01:06:27Isso nunca vai acontecer.
01:06:28A firmeza inesperada na voz dela pareceu surpreendê-lo por um instante.
01:06:32Os dois ficaram imóveis, encarando-se.
01:06:35O som distante de um trem passando fez vibrar a estrutura metálica do galpão.
01:06:39Quebrando por um momento a tensão sufocante.
01:06:42Então Augusto deu um passo à frente.
01:06:45Helena.
01:06:46Disse o nome dela como se saboreasse cada sílaba.
01:06:49Você não faz ideia do tamanho disso.
01:06:51Não é sobre o seu filho apenas.
01:06:53É sobre gente grande.
01:06:55Gente que não vai pensar duas vezes antes de apagar qualquer rastro.
01:06:59Então me apaguem.
01:07:01Ela respondeu.
01:07:02E o próprio tom de voz a assustou.
01:07:04Tão carregado de uma coragem que talvez fosse só desespero travestido.
01:07:08Mas antes eu vou expor cada um de vocês.
01:07:11O olhar dele endureceu.
01:07:12A tensão no ar estava prestes a se romper.
01:07:15Quando um ruído metálico ecoou do lado de fora.
01:07:18Passos rápidos.
01:07:19Augusto virou o rosto.
01:07:21Como se tivesse ouvido algo que o preocupasse.
01:07:24Sem dizer mais nada.
01:07:25Recuou para as sombras.
01:07:26Isso não acabou.
01:07:28Disse desaparecendo pela porta lateral.
01:07:30Helena ficou sozinha no galpão.
01:07:32O coração batendo como se quisesse rasgar-lhe o peito.
01:07:36Guardou a fotografia no bolso interno do casaco.
01:07:39Pegou algumas outras imagens da caixa.
01:07:41E saiu.
01:07:41O sol do lado de fora parecia mais fraco.
01:07:44E ela não sabia se era por causa do dia nublado.
01:07:47Ou pelo peso do que acabara de acontecer.
01:07:49De volta a casa.
01:07:50Trancou portas e janelas.
01:07:52E ligou para Marcos.
01:07:53Contou tudo.
01:07:55Mas ele não parecia surpreso.
01:07:57Eu já imaginava que ele iria se aproximar.
01:07:59Disse o detetive com a voz tensa.
01:08:02Mas o fato de você ainda estar viva.
01:08:05Isso significa que ou ele está jogando com você.
01:08:08Ou está tentando te usar.
01:08:09Usar para quê?
01:08:12Perguntou ela.
01:08:13Para chegar em alguém.
01:08:15Ou algo que só você pode alcançar.
01:08:17Naquela noite.
01:08:18Helena espalhou as fotografias sobre a mesa.
01:08:21Algumas mostravam carros antigos em locais desertos.
01:08:24Outras capturavam reuniões discretas em estacionamentos.
01:08:27E em pelo menos três delas.
01:08:29O mesmo homem aparecia.
01:08:31Sempre à margem.
01:08:32Sempre observando.
01:08:33Mas não era Augusto.
01:08:35Era um rosto novo.
01:08:35Um homem alto.
01:08:37Cabelos grisalhos.
01:08:38Óculos escuros.
01:08:40Postura de quem estava acostumado a mandar.
01:08:42Quando mostrou as imagens a Marcos no dia seguinte.
01:08:45Ele empalideceu.
01:08:46Esse é Cláudio Ferraz.
01:08:48Disse em voz baixa.
01:08:50Empresário.
01:08:51Oficialmente dono de meia dúzia de transportadoras.
01:08:54Extraoficialmente.
01:08:55Ninguém encosta nele.
01:08:57E o que ele tem a ver com meu filho?
01:08:59Ele é quem Augusto serve.
01:09:01Helena sentiu a garganta secar.
01:09:03De repente.
01:09:04A morte de Daniel não parecia mais uma tragédia isolada.
01:09:08Mas o resultado de um mecanismo muito maior.
01:09:10Movido por gente que jamais seria tocada pela justiça comum.
01:09:14No final da tarde.
01:09:15Ao voltar para casa.
01:09:16Encontrou outro envelope sob a porta.
01:09:19Desta vez.
01:09:19Dentro havia apenas um cartão de visitas.
01:09:22CF Logística.
01:09:23Cláudio Ferraz.
01:09:24Diretor executivo.
01:09:25E no verso escrito à mão.
01:09:27Escolha o lado certo.
01:09:28O recado era claro.
01:09:30E venenoso.
01:09:31Na madrugada.
01:09:32O som de vidro quebrando a despertou.
01:09:34Levantou-se de um salto.
01:09:36E correu até a cozinha.
01:09:37A janela estava estilhaçada.
01:09:39E no chão.
01:09:40Havia uma garrafa com um pano chamuscado.
01:09:42Ainda soltando fumaça.
01:09:44Não havia fogo.
01:09:45Mas o cheiro de combustível era forte.
01:09:48Helena percebeu que a paciência deles estava acabando.
01:09:51E que se não agisse logo.
01:09:53Não teria tempo de agir.
01:09:55Nunca mais.
01:09:56O cheiro de combustível.
01:09:58Ainda impregnava o ar quando o dia amanheceu.
01:10:02Helena passou horas sentada na cozinha.
01:10:04Encarando a garrafa quebrada no chão.
01:10:07Como se ela fosse um corpo estranho.
01:10:08Deixado ali para lembrá-la de que cada segundo que passava.
01:10:12Era contado.
01:10:13A polícia veio.
01:10:15Fez perguntas protocolares.
01:10:16Mas Helena percebeu.
01:10:17Pelo tom burocrático.
01:10:19Que aquilo seria mais um registro em um papel.
01:10:21Não uma proteção real.
01:10:23Marcos.
01:10:24Quando soube.
01:10:25Apareceu pessoalmente.
01:10:26Não vestia o habitual blazer amarrotado.
01:10:29Estava com uma jaqueta escura.
01:10:31E expressão mais fechada que o normal.
01:10:34Helena.
01:10:34Eles cruzaram a linha.
01:10:36Disse.
01:10:37A voz grave.
01:10:38Isso não é mais aviso.
01:10:39É tentativa de intimidação física.
01:10:41O próximo passo pode ser pior.
01:10:43De.
01:10:44Ela sabia.
01:10:45Sentia nos ossos que o próximo passo não viria com fumaça.
01:10:48E vidro quebrado.
01:10:49Viria com sangue.
01:10:50Eu não vou fugir.
01:10:52Respondeu ela.
01:10:53Com a firmeza de quem não tinha mais para onde recuar.
01:10:56Se eles querem me calar.
01:10:57Vão ter que olhar nos meus olhos antes.
01:10:59Marcos a olhou por um momento.
01:11:01Como se pesasse as palavras que diria em seguida.
01:11:04Então é hora de você saber exatamente com quem está lidando.
01:11:07Sentaram-se na sala.
01:11:09E ele abriu uma pasta que parecia ter sido guardada a sete chaves.
01:11:13Dentro.
01:11:14Havia fotografias.
01:11:15Recortes de jornal.
01:11:16E relatórios internos.
01:11:17Cada imagem de Cláudio Ferraz parecia mais ameaçadora que a anterior.
01:11:23Reuniões discretas com políticos.
01:11:25Viagens para países sem acordos de extradição.
01:11:28Navios e caminhões que desapareciam no mapa.
01:11:31Ei.
01:11:31Ele é um fantasma no papel.
01:11:33Mas na prática controla rotas inteiras de transporte de drogas e armas.
01:11:37O carro que o Daniel consertou estava levando documentos que provavam ligações diretas dele com operações internacionais.
01:11:43Marcos respirou fundo.
01:11:45O problema é que ninguém consegue manter essas provas vivas por muito tempo.
01:11:50Helena entendeu.
01:11:51O que estava escondido no porta-malas não era apenas uma mercadoria ilegal.
01:11:55Era um elo direto entre Ferraz e crimes que o colocariam atrás das grades.
01:12:00Daniel tinha tropeçado nesse segredo.
01:12:02E isso o tornara um alvo.
01:12:04E as fotos que eu tenho?
01:12:05Perguntou.
01:12:06Servem de prova?
01:12:08Servem para você morrer mais rápido.
01:12:10Respondeu Marcos seco.
01:12:11Mas para condená-lo, não são suficientes.
01:12:14O silêncio que se seguiu foi cortado por uma lembrança súbita.
01:12:18O endereço escrito pela mulher do casaco vermelho.
01:12:22Helena nunca o devolverá à memória.
01:12:24Ele levava para um galpão, sim.
01:12:26Mas o bilhete tinha um detalhe no verso que ela não comentara com Marcos.
01:12:30Três números escritos à mão.
01:12:3212, 47, 09.
01:12:35Naquela noite, sozinha, ela pegou as fotografias novamente.
01:12:39Em uma delas, tirada de dentro do carro velho, o painel mostrava o velocímetro.
01:12:45E acima dele, um pequeno adesivo com a inscrição.
01:12:48Depósito 12, Armazém 47, lote 09.
01:12:53Helena sentiu a pulsação acelerar.
01:12:55Os números coincidiam.
01:12:57Era um código de localização.
01:12:59Sem contar a Marcos, não porque não confiasse nele,
01:13:02mas porque sabia que quanto menos gente soubesse,
01:13:05menos risco de vazamento, ela decidiu ir até lá.
01:13:08O depósito ficava na zona industrial,
01:13:10uma área quase deserta depois das seis da tarde.
01:13:13As ruas largas e silenciosas criavam a sensação
01:13:15de que cada passo ecoava mais do que deveria.
01:13:19Helena estacionou o carro a uma quadra de distância
01:13:21e seguiu a pé, com a fotografia dobrada no bolso.
01:13:25O Armazém 47 era um prédio baixo,
01:13:27com paredes de metal enferrujado
01:13:29e uma única porta lateral iluminada por uma lâmpada vacilante.
01:13:33A fechadura parecia velha,
01:13:35mas ao tocar, Helena percebeu que estava destrancada.
01:13:38Entrou devagar, a respiração curta
01:13:41e foi recebida por um cheiro forte de óleo e mofo.
01:13:44No interior, fileiras de caixas de madeira se estendiam até o fundo.
01:13:49Algumas tinham etiquetas com números
01:13:50que coincidiam com os do bilhete.
01:13:53No lote 09, encontrou uma caixa aberta.
01:13:56Dentro, pastas com documentos carimbados,
01:13:58contratos falsos, planilhas de rotas e nomes.
01:14:01Muitos nomes.
01:14:02No topo, uma fotografia recente.
01:14:04Augusto Naves e Cláudio Ferraz apertando as mãos.
01:14:07Helena sabia que tinha nas mãos algo letal,
01:14:10e não apenas para eles.
01:14:11Aquela prova, se revelada,
01:14:13poderia desencadear uma reação em cadeia,
01:14:16derrubar gente poderosa,
01:14:17mas também colocá-la como o próximo alvo prioritário.
01:14:20Foi então que ouviu o som.
01:14:22Lento, arrastado, vindo do fundo do armazém.
01:14:25Passos.
01:14:26Helena apagou a lanterna do celular
01:14:28e se escondeu atrás de uma pilha de caixas.
01:14:31O som se aproximava,
01:14:32acompanhado pelo tilintar metálico,
01:14:35de algo batendo contra um cinto.
01:14:37Uma voz masculina assobiava uma melodia curta, repetitiva,
01:14:41e ela reconheceu o som antes mesmo de ver o rosto.
01:14:45Augusto.
01:14:46Ele parou a poucos metros de onde ela estava,
01:14:48como se soubesse que não estava sozinho.
01:14:51Eu disse que não era para você brincar de detetive,
01:14:54falou no escuro.
01:14:55Agora vamos ver quanto tempo você aguenta no meu mundo.
01:14:58Antes que ela pudesse reagir,
01:15:00a luz principal do armazém se acendeu com força,
01:15:03cegando-a por um segundo.
01:15:05Quando seus olhos se ajustaram,
01:15:06Augusto estava parado,
01:15:07um passo à frente,
01:15:08segurando algo que parecia um cabo de aço enrolado.
01:15:11Vai devolver o que pegou,
01:15:13disse ele aproximando-se.
01:15:14Helena recuou,
01:15:16mas sentiu que a parede de caixas atrás dela
01:15:18não permitia mais fuga.
01:15:21O som de um motor lá fora
01:15:22fez Augusto desviar o olhar por um instante.
01:15:25E foi esse instante que ela aproveitou.
01:15:28Com um movimento brusco,
01:15:30agarrou uma das pastas da caixa
01:15:31e correu em direção à porta lateral.
01:15:34Augusto gritou algo,
01:15:35mas ela já estava na rua.
01:15:37A corrida até o carro pareceu infinita.
01:15:40Ligou o motor com as mãos trêmulas
01:15:42e arrancou,
01:15:43ouvindo no retrovisor as luzes do carro preto
01:15:46surgirem na esquina.
01:15:47A perseguição foi curta e intensa.
01:15:50Helena fez curvas fechadas,
01:15:51entrou em ruas estreitas
01:15:52e finalmente conseguiu despistá-lo
01:15:54ao entrar em um estacionamento subterrâneo.
01:15:57Ficou lá,
01:15:58imóvel,
01:15:59com o motor desligado
01:16:00até ter certeza de que ele se foi.
01:16:03Quando finalmente chegou em casa,
01:16:05trancou tudo
01:16:06e escondeu a pasta
01:16:07num compartimento falso no armário.
01:16:09Sentou-se no chão da sala,
01:16:11tentando recuperar o fôlego,
01:16:13enquanto o eco da voz de Augusto
01:16:15martelava na mente.
01:16:17Agora vamos ver quanto tempo
01:16:18você aguenta no meu mundo.
01:16:19e ela sabia que,
01:16:21a partir daquele momento,
01:16:23já não havia mais retorno.
01:16:25A madrugada passou como um véu pesado
01:16:27sobre Helena.
01:16:28O relógio da cozinha
01:16:29marcava 3h42
01:16:30quando ela percebeu
01:16:32que não conseguiria dormir.
01:16:33O silêncio dentro da casa
01:16:35contrastava com o barulho
01:16:36que vinha de dentro da própria mente.
01:16:39Vozes imaginárias,
01:16:40o som do carro preto,
01:16:42a lembrança de Augusto
01:16:43surgindo das sombras no galpão.
01:16:45Sentada no chão,
01:16:46ao lado do armário
01:16:47onde esconderá a pasta,
01:16:48ela passava os dedos pela madeira fria
01:16:50como se o contato físico
01:16:51com aquele esconderijo
01:16:52pudesse lhe dar segurança.
01:16:54Mas segurança
01:16:55era uma palavra
01:16:56que já não existia para ela.
01:16:58Ao amanhecer,
01:16:59fez café,
01:17:00mas não conseguiu beber.
01:17:02As mãos tremiam
01:17:03e o gosto parecia metálico
01:17:04como se cada gole
01:17:05fosse contaminado pela ansiedade.
01:17:08Decidiu ligar para Marcos,
01:17:09mas antes mesmo de digitar o número,
01:17:11uma batida forte na porta
01:17:12a fez congelar.
01:17:14Quem é?
01:17:14A voz saiu baixa,
01:17:15quase um sussurro.
01:17:16Sou eu,
01:17:17respondeu Marcos
01:17:18do lado de fora.
01:17:19Abre rápido.
01:17:20Helena destrancou a porta
01:17:21e ele entrou apressado,
01:17:22fechando atrás de si.
01:17:24Temos um problema,
01:17:25disse sem rodeios.
01:17:27Augusto não está sozinho
01:17:28nessa caçada.
01:17:29Ferraz mobilizou mais gente,
01:17:31você virou prioridade.
01:17:32Ela respirou fundo,
01:17:33tentando manter a calma.
01:17:35Eu encontrei mais do que fotos,
01:17:36tenho documentos,
01:17:37planilhas,
01:17:38nomes
01:17:39e contou sobre o código
01:17:40no bilhete,
01:17:41o armazém 47,
01:17:43a pasta que trouxeram.
01:17:43Marcos olhou para ela
01:17:45por um momento
01:17:46e seu rosto endureceu.
01:17:48Isso muda tudo,
01:17:49mas também nos coloca
01:17:50em um jogo
01:17:50que não tem regras.
01:17:52Foram até o armário.
01:17:53Helena mostrou
01:17:54o compartimento falso
01:17:55e retirou a pasta.
01:17:57Marcos folheou rapidamente.
01:17:59Seus olhos pararam
01:18:00numa folha com assinatura.
01:18:02Meu Deus,
01:18:03murmurou.
01:18:04Isso é um contrato
01:18:05assinado pelo próprio Ferraz,
01:18:07autorizando o transporte
01:18:08de carga
01:18:09que oficialmente
01:18:10nunca existiu.
01:18:11Se isso for autenticado,
01:18:12é o fim dele.
01:18:14Então vamos levar
01:18:14para a polícia,
01:18:15Helena disse
01:18:16com um fio de esperança
01:18:17na voz.
01:18:18Mas Marcos fechou
01:18:19a pasta devagar
01:18:20e balançou a cabeça.
01:18:21A polícia?
01:18:22Helena, você acha
01:18:23que não tem gente
01:18:23dele lá dentro?
01:18:24Esses papéis sumiriam
01:18:25antes mesmo
01:18:26de você sair
01:18:27da delegacia.
01:18:28O silêncio que se seguiu
01:18:29foi sufocante.
01:18:30O único som
01:18:31era o tic-tac
01:18:31do relógio na parede.
01:18:33Então o que fazemos?
01:18:34Ela perguntou.
01:18:35Precisamos de alguém
01:18:36que possa vazar isso
01:18:37sem ser rastreado.
01:18:38Jornalistas independentes,
01:18:40talvez,
01:18:40ou um contato meu
01:18:41no Ministério Público,
01:18:42mas é arriscado.
01:18:44Helena percebeu
01:18:45que mesmo com a prova
01:18:46nas mãos,
01:18:46a estrada para a justiça
01:18:47era um campo minado
01:18:48e cada passo errado
01:18:50poderia ser o último.
01:18:52Naquela tarde,
01:18:53enquanto Marcos
01:18:54analisava os documentos
01:18:55na sala,
01:18:56Helena foi até
01:18:56a cozinha beber água.
01:18:58Ao voltar,
01:18:59notou pela janela
01:19:00algo que fez
01:19:01o estômago se revirar.
01:19:03O carro preto
01:19:03estava estacionado
01:19:04a poucos metros
01:19:05da casa.
01:19:07Só que dessa vez,
01:19:07não havia apenas
01:19:08um homem dentro.
01:19:09Eram dois.
01:19:11Marcos
01:19:11chamou com urgência.
01:19:13Ele veio até a janela,
01:19:14olhou e disse,
01:19:15é hora de sair daqui.
01:19:17Agora.
01:19:17Pegaram a pasta
01:19:18e saíram pelos fundos.
01:19:20O quintal dava
01:19:21para uma rua lateral
01:19:22e ali Marcos
01:19:23tinha deixado
01:19:24o próprio carro.
01:19:25Entraram apressados,
01:19:26mas antes de dar partida,
01:19:28ele olhou para Helena.
01:19:29Eles não estão aqui
01:19:30para ameaçar.
01:19:31Hoje eles vieram
01:19:32para levar.
01:19:33O carro arrancou,
01:19:35mas o reflexo
01:19:36no retrovisor
01:19:36mostrava dois faróis
01:19:38surgindo na esquina.
01:19:40O carro preto
01:19:41havia percebido
01:19:42a fuga.
01:19:43A perseguição
01:19:44pelas ruas vazias
01:19:45da periferia
01:19:45foi sufocante.
01:19:47Curvas fechadas,
01:19:48pneus cantando,
01:19:50faróis iluminando
01:19:51retrovisores
01:19:51como olhos predatórios.
01:19:54Segura!
01:19:55gritou Marcos,
01:19:56virando bruscamente
01:19:57para entrar
01:19:57numa estrada de terra.
01:19:58O carro chacoalhava,
01:20:00levantando poeira,
01:20:01mas o som do motor
01:20:02atrás deles
01:20:02permanecia firme.
01:20:04No fim da estrada,
01:20:05um portão de ferro
01:20:06apareceu.
01:20:07Marcos buzinou duas vezes
01:20:08e o portão
01:20:09se abriu lentamente.
01:20:11Entraram
01:20:11e ele fechou
01:20:12rapidamente
01:20:12atrás deles.
01:20:13Onde estamos?
01:20:15Helena perguntou
01:20:15tentando recuperar
01:20:16o fôlego.
01:20:18Em um lugar seguro,
01:20:20por enquanto.
01:20:21Era uma oficina
01:20:21desativada,
01:20:22escondida atrás
01:20:23de galpões abandonados.
01:20:25Lá dentro,
01:20:25Marcos tirou o celular
01:20:26e fez uma chamada rápida.
01:20:27É o Marcos,
01:20:29tenho algo grande,
01:20:30precisamos falar
01:20:30cara a cara.
01:20:31Hoje.
01:20:32Helena percebeu
01:20:33que pela primeira vez
01:20:34o detetive
01:20:34parecia nervoso
01:20:35de verdade.
01:20:36Ele guardou a pasta
01:20:37numa maleta
01:20:38e trancou-a
01:20:39com um cadeado.
01:20:40Vamos encontrar
01:20:41meu contato,
01:20:42mas antes
01:20:42você precisa saber.
01:20:43Se ele for quem eu penso,
01:20:45ele pode nos ajudar
01:20:45a derrubar Ferraz.
01:20:47Mas se for um traidor,
01:20:48acabou.
01:20:49Saíram novamente,
01:20:50desta vez num carro diferente,
01:20:52que estava escondido
01:20:53no fundo da oficina.
01:20:54Dirigiram até
01:20:55um bairro afastado,
01:20:56onde prédios antigos
01:20:57se misturavam
01:20:57com terrenos baldios.
01:20:59Pararam diante
01:21:00de um bar discreto
01:21:01com fachada descascada.
01:21:02Lá dentro,
01:21:03um homem de meia idade,
01:21:04com olhar atento
01:21:05e expressão séria,
01:21:07os esperava num canto.
01:21:09Marcos apresentou.
01:21:10Este é Álvaro,
01:21:11ex-investigador.
01:21:13Ele deve saber
01:21:13para onde levar isso.
01:21:15Álvaro folheou
01:21:15rapidamente a pasta,
01:21:17franziu o senho
01:21:18e disse,
01:21:19vocês não têm ideia
01:21:20do que tem aqui.
01:21:21Isso não é só
01:21:22sobre contrabando.
01:21:23Tem lavagem de dinheiro,
01:21:25compra de políticos,
01:21:25até assassinatos contratados.
01:21:28Ferraz não é um peixe grande,
01:21:30é o tubarão.
01:21:31O ar ficou mais pesado.
01:21:33Helena percebeu
01:21:33que cada revelação
01:21:34não trazia alívio,
01:21:36mas ampliava a gravidade
01:21:37do que enfrentavam.
01:21:39Álvaro fechou a pasta
01:21:40e olhou diretamente
01:21:41para ela.
01:21:42Se essa prova vazar,
01:21:44você vai ter meia hora de vida.
01:21:46Marcos o interrompeu.
01:21:47Então precisamos
01:21:48de um plano
01:21:49para que ela viva
01:21:49mais do que isso.
01:21:50Foi nesse momento
01:21:51que Helena sentiu
01:21:52o celular vibrar no bolso.
01:21:54Número desconhecido.
01:21:56Atendeu com a mão trêmula.
01:21:57A voz era baixa,
01:21:58quase um sussurro,
01:21:59mas inconfundível.
01:22:00Escolha o lado certo, Helena.
01:22:02Último aviso.
01:22:03Antes que pudesse responder,
01:22:04a ligação caiu.
01:22:06E o silêncio que ficou
01:22:07parecia mais ameaçador
01:22:08que qualquer grito.
01:22:10O bar parecia
01:22:10menor do que antes.
01:22:12As paredes impregnadas
01:22:13de fumaça,
01:22:14a luz amarelada
01:22:15que vacilava,
01:22:16e o silêncio cúmplice
01:22:17entre Helena,
01:22:19Marcos e Álvaro,
01:22:20formavam um cenário
01:22:21de tensão
01:22:22quase palpável.
01:22:23O telefone ainda
01:22:24estava quente
01:22:25na mão dela,
01:22:26como se a ameaça
01:22:27tivesse deixado
01:22:27uma marca física
01:22:28na pele.
01:22:29Álvaro quebrou
01:22:30o silêncio.
01:22:31Eles sabem
01:22:32onde você está.
01:22:33A essa altura
01:22:33já devem estar a caminho.
01:22:36Então não temos tempo,
01:22:37disse Marcos
01:22:38puxando a maleta
01:22:39com a pasta.
01:22:40Álvaro,
01:22:40você tem como enviar
01:22:41isso para um lugar seguro?
01:22:43O ex-investigador
01:22:44assentiu.
01:22:45Conheço gente
01:22:45fora do país
01:22:46que pode receber
01:22:47e publicar.
01:22:48Mas a questão
01:22:48não é só mandar,
01:22:49é garantir que
01:22:50quando for publicado
01:22:51você esteja viva
01:22:52para ver.
01:22:53Helena olhou
01:22:53para os dois homens,
01:22:54sentiu o peso
01:22:55da escolha
01:22:56esmagando-a.
01:22:57Não era apenas
01:22:58sobre Daniel,
01:22:59não era apenas
01:23:00sobre justiça,
01:23:01era sobre romper
01:23:02um ciclo
01:23:03que provavelmente
01:23:04engoliria
01:23:04outras famílias.
01:23:06Eu não vou fugir antes,
01:23:07disse ela com a voz firme,
01:23:09quero olhar para Ferraz,
01:23:10quero que ele saiba
01:23:11que eu não me escondi.
01:23:12Marcos a encarou
01:23:13como quem avalia
01:23:14o limite entre coragem
01:23:15e suicídio,
01:23:16mas não contestou.
01:23:17O plano foi decidido
01:23:19em poucos minutos.
01:23:20Álvaro ficaria responsável
01:23:21por duplicar os arquivos
01:23:23e enviá-los
01:23:24para o contato
01:23:24fora do país.
01:23:26Marcos levaria Helena
01:23:27para um local
01:23:27onde ela poderia
01:23:28confrontar Ferraz
01:23:29sem que fosse
01:23:30um alvo fácil.
01:23:32Saíram pela porta
01:23:32dos fundos do bar.
01:23:34A noite estava fria
01:23:35e a rua vazia
01:23:36ecoava os passos
01:23:37apressados.
01:23:38Entraram no carro
01:23:39e seguiram
01:23:40pelas avenidas escuras
01:23:41da cidade,
01:23:42até chegarem
01:23:42a um edifício comercial
01:23:43quase vazio
01:23:45aquela hora.
01:23:46Subiram até
01:23:47o último andar.
01:23:48O local tinha janelas amplas
01:23:49que davam para a cidade.
01:23:51Lá,
01:23:52Marcos colocou a pasta
01:23:53sobre a mesa
01:23:53e se virou para ela.
01:23:55Quando isso acabar,
01:23:56sua vida vai mudar
01:23:57para sempre.
01:23:58Não vai haver volta.
01:23:59Minha vida já mudou
01:24:00no dia em que colocaram
01:24:01veneno no copo
01:24:02do meu filho,
01:24:03respondeu.
01:24:04O telefone de Marcos
01:24:05tocou.
01:24:05Ele atendeu,
01:24:06ouviu em silêncio
01:24:07e desligou.
01:24:08Ferraz aceitou o encontro.
01:24:10Está vindo.
01:24:10O tempo se esticou.
01:24:12Cada minuto parecia
01:24:12mais longo
01:24:13que o anterior.
01:24:14Helena caminhava
01:24:15de um lado
01:24:15para o outro,
01:24:16sentindo o frio
01:24:17subir pelas mãos.
01:24:18Quando finalmente
01:24:19o som do elevador
01:24:20soou,
01:24:21ela parou
01:24:21no centro da sala.
01:24:22As portas se abriram
01:24:24e Cláudio Ferraz
01:24:24entrou.
01:24:25Trajava um terno
01:24:26impecável,
01:24:28o cabelo grisalho
01:24:28penteado para trás
01:24:30e o olhar
01:24:30de quem sabia
01:24:31exatamente
01:24:32o peso que carregava
01:24:33e o medo
01:24:34que inspirava.
01:24:35Atrás dele,
01:24:36dois homens
01:24:37altos e armados.
01:24:38Então você é a mãe
01:24:39do garoto.
01:24:40disse Ferraz
01:24:41com um tom
01:24:41quase cortês,
01:24:42como se estivesse
01:24:43iniciando uma reunião
01:24:44de negócios.
01:24:45Foi corajosa
01:24:46ou tola
01:24:48em chegar até aqui.
01:24:50Fui mãe,
01:24:51respondeu Helena
01:24:51encarando-o.
01:24:53E mães não param
01:24:53quando tiram
01:24:54um filho delas.
01:24:55Ferraz sorriu de leve,
01:24:57mas os olhos
01:24:57permaneceram frios.
01:24:59O que você acha
01:25:00que vai conseguir?
01:25:01Justiça?
01:25:02Não existe justiça
01:25:03no mundo
01:25:03que eu controlo.
01:25:05Helena deu um passo
01:25:05à frente.
01:25:06Talvez não,
01:25:07mas existe verdade
01:25:08e a sua já está a caminho.
01:25:09Por um instante,
01:25:10o sorriso dele vacilou.
01:25:12Você acha que consegue
01:25:13me destruir com papéis?
01:25:15A voz ganhou um tom
01:25:16mais áspero.
01:25:18Eu compro papéis.
01:25:19Eu compro pessoas.
01:25:20Não todas,
01:25:21disse uma nova voz.
01:25:23Foi quando Álvaro
01:25:23surgiu da porta lateral,
01:25:25seguido por dois homens
01:25:26que Helena não conhecia.
01:25:28Um deles carregava
01:25:29um tablet,
01:25:29mostrando uma tela
01:25:30com documentos,
01:25:31fotos e vídeos.
01:25:32Tudo já foi enviado.
01:25:34Se alguma coisa acontecer
01:25:35com ela
01:25:36ou com qualquer um
01:25:37de nós,
01:25:38será publicado
01:25:39em todos os canais
01:25:40possíveis,
01:25:41anunciou Álvaro.
01:25:42Ferraz se manteve
01:25:43em silêncio
01:25:44por alguns segundos,
01:25:45mas o olhar dele
01:25:46dizia que entendia
01:25:47perfeitamente
01:25:48a gravidade da situação.
01:25:50Ele gesticulou
01:25:50para os seguranças
01:25:51recuarem.
01:25:52Você não sabe
01:25:53o que está fazendo,
01:25:54mulher,
01:25:54disse por fim,
01:25:55voltando o olhar
01:25:56para Helena.
01:25:57Quando mexe com um tubarão,
01:25:58mesmo que arranque um dente,
01:26:00ele ainda pode morder.
01:26:01Então morde,
01:26:02respondeu ela.
01:26:03Eu já vivi
01:26:04o pior que podia viver.
01:26:06Ferraz deu meia volta
01:26:07e saiu,
01:26:07seguido pelos homens.
01:26:09O som do elevador
01:26:10descendo
01:26:10foi como um alívio parcial,
01:26:12mas ninguém na sala
01:26:13acreditou que aquilo
01:26:14significava segurança.
01:26:15Nos dias seguintes,
01:26:16a história explodiu.
01:26:18Documentos,
01:26:19fotos e contratos falsos
01:26:21apareceram em jornais
01:26:22internacionais,
01:26:23redes sociais
01:26:24e canais de investigação.
01:26:26Ferraz negou tudo,
01:26:27mas a pressão
01:26:28foi imediata.
01:26:30Contas bloqueadas,
01:26:31aliados investigados,
01:26:32empresas fechadas.
01:26:35Augusto Naves
01:26:35desapareceu.
01:26:37Ninguém sabia
01:26:37se estava se escondendo
01:26:38ou se havia sido
01:26:39eliminado pelo próprio chefe.
01:26:41Helena, entretanto,
01:26:42sabia que não havia
01:26:43final feliz.
01:26:44Na noite em que
01:26:45tudo foi publicado,
01:26:47recebeu em casa
01:26:47uma pequena caixa
01:26:48sem remetente.
01:26:50Dentro,
01:26:50um copo de vidro,
01:26:52igual ao que Daniel
01:26:53usara na última manhã,
01:26:54e um bilhete
01:26:55com uma única frase.
01:26:57Para nunca esquecer
01:26:57que o leite
01:26:58ainda está fresco.
01:26:59O aviso era claro,
01:27:00a ameaça permanecia.
01:27:02Mas ao segurar
01:27:03aquele copo,
01:27:04Helena percebeu
01:27:05que algo dentro dela
01:27:06tinha mudado.
01:27:08Não sentia apenas medo,
01:27:10sentia uma força
01:27:11que não conhecia antes.
01:27:13Ela sabia
01:27:13que continuaria
01:27:14olhando por cima
01:27:15do ombro,
01:27:16mas também sabia
01:27:17que não viveria
01:27:17mais calada.
01:27:19Sentou-se à mesa
01:27:19da cozinha,
01:27:20colocou o copo
01:27:21diante de si
01:27:22e olhou pela janela.
01:27:24A rua estava vazia,
01:27:26silenciosa,
01:27:27como na manhã
01:27:28em que tudo começou.
01:27:30Só que agora,
01:27:30no reflexo do vidro,
01:27:32não via mais
01:27:33uma mulher encurralada.
01:27:34Via alguém
01:27:35que, mesmo sem querer,
01:27:36tinha se tornado
01:27:37a única testemunha viva
01:27:38de um império
01:27:39desmoronando.
01:27:40E, no fundo,
01:27:41sabia que a guerra
01:27:42estava apenas
01:27:43no primeiro capítulo.
01:27:44décima.
01:27:45par invece,
01:27:45Peter
01:27:46todo buz
01:27:47da cultivated
01:27:48em que muita
01:27:48chegava
01:27:48em que tem
01:27:49atendido.
01:27:50Então,
01:27:52vamos para a
01:27:52viajar kindness
01:27:53ao glass
01:27:56terceiro,
01:27:57eu vou
01:27:57compartilhar
01:27:58os
01:28:02guys
01:28:03e
01:28:03amigos
01:28:04vocês
01:28:05e
01:28:08o
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