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  • há 2 meses
‘50% desastre, 50% oportunidade’: especialistas dizem qual é o atual momento da tecnologia no mundo

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00:00Queria começar, e aí eu vou começar aqui pela Nina
00:03para a gente fazer a primeira rodada nessa ordem.
00:06Quando a gente fala em evolução tecnológica,
00:08a gente se acostumou a pensar numa coisa quase que amorfa, assim, né?
00:12Tudo muito rápido, muda todo dia, muda a cada minuto.
00:16E eu tenho a sensação que se a gente não para para olhar e falar assim,
00:19tá, mas que evolução tecnológica é essa?
00:22Onde é que a gente está hoje?
00:23Talvez a gente perca um pouco esse protagonismo
00:25de ter um olhar estratégico e falar, como eu ajo diante desse contexto?
00:28Fica parecendo que você é só levado ali por um rebuliço, por uma onda.
00:31Então, vocês como especialistas em tecnologia,
00:33cada um com seu foco aí, eu queria ouvir.
00:36Se vocês fossem de uma forma muito didática,
00:38contar para alguém, falar assim,
00:39esse é o momento que a gente está no mundo hoje em relação à tecnologia.
00:43Que palavras vocês usariam? Como vocês descreveriam isso?
00:46Nina.
00:47Bom, boa tarde, gente. Obrigada pelo convite.
00:52Nossa, eu acho péssimo você começar por mim,
00:54porque eu vou começar trazendo uma palavra horrível.
00:58para falar sobre o momento tecnológico.
01:01Eu diria 50% desastre, 50% oportunidade.
01:06E acho que quem conhece o meu trabalho não é novidade nenhuma
01:09que eu não consigo utilizar uma nova tecnologia
01:13só porque 100 pessoas, ou porque tem um texto no LinkedIn,
01:17ou porque saiu no ranking da Forbes.
01:18Aí, também, como cientista da computação,
01:22eu tenho acompanhado o debate de mais inteligência artificial.
01:26Mas, como você trouxe a evolução tecnológica,
01:28que a gente tem uma gama de outras tecnologias
01:30que não estão sendo faladas e compartilhadas.
01:33Então, é importante trazer uma contextualização
01:36de que o que nós estamos vivenciando agora,
01:39pelo menos no Brasil,
01:40é resultado de uma articulação,
01:44seja de política, seja de pesquisa, seja de ciência,
01:47seja de produção de evidências,
01:49de outros países que a maioria está no Norte Global.
01:54Então, quando eu falo do desastre,
01:56é porque nós estamos acompanhando
01:57a implementação de tecnologias no Brasil,
01:59que já foram implementadas em outros países
02:02há pelo menos 10, 15 anos atrás.
02:04Quando eu digo, quando eu trago a oportunidade,
02:09e não no sentido mercadológico da palavra,
02:13mas no sentido de que, beleza,
02:15chegou aqui atrasado,
02:1715 anos após diversos debates,
02:19diversos acontecimentos no Norte Global,
02:22o que nós vamos fazer com isso?
02:25E aí tem uma oportunidade
02:26de que é justamente você olhar a tecnologia
02:29do ponto de vista decolonial.
02:30Eu sei que essa palavra está na moda,
02:32mas talvez poucos sabem
02:34que o conceito de decolonialidade
02:35vem da América Latina e não do Norte Global.
02:37E é por isso que ela está em evidência no Brasil.
02:40A América Latina constrói o conhecimento
02:43não a partir de uma disputa
02:45de quem é melhor,
02:46Brasil ou Estados Unidos ou Brasil ou Reino Unido.
02:51Constrói justamente a partir da valorização
02:54do conhecimento local,
02:56seja o conhecimento da região norte,
02:59que está em evidência agora por causa da COP30,
03:02seja do Rio de Janeiro por meio da música.
03:04Então, quando a gente traz o conceito de decolonialidade,
03:07nós começamos a olhar algumas atividades do dia a dia
03:11como parte dessa tecnologia.
03:13Então, existe uma proposta de você olhar a evolução tecnológica
03:16sem colocar em evidência a tecnologia digital.
03:21E existe a perspectiva de você olhar para a tecnologia digital.
03:24E aí, quando você olha para a tecnologia digital,
03:26nós temos a evidência de inteligência artificial.
03:29E aí, eu gosto de explicar inteligência artificial
03:30por dois caminhos,
03:32ou explicando para a minha avó,
03:33ou explicando para uma criança de oito anos.
03:35Aqui, eu vou colocar vocês na categoria de criança de oito anos
03:38para ninguém ficar chateado, etc.,
03:40questão de idade e tudo mais.
03:42Então, quando você vai em uma feira de domingo,
03:45final de semana,
03:46se você costuma comprar no mesmo feirante,
03:49na mesma barraquinha,
03:51ele vai te chamar a atenção.
03:52Ele vai falar,
03:52olha, hoje você vai querer a banana
03:54que você comprou semana passada,
03:55vai querer a acerola, vai querer a maçã.
03:58Isso nós chamamos de IA preditiva.
04:01É a inteligência artificial que precisa de um histórico,
04:04e ela tem esse histórico.
04:06Então, ela vai te retornar respostas
04:08com base nesse histórico.
04:09Ela já te conhece de alguma forma,
04:11ela já coletou informações de você.
04:14Agora, se você costuma tentar sempre renovar um pouco
04:18em feiras diferentes,
04:20em feirantes e barracas diferentes,
04:22ele vai precisar te conhecer, certo?
04:25Então, ele não vai falar seu nome
04:27e não vai perguntar
04:29se você quer a mesma fruta da semana passada.
04:32Ele vai te oferecer opções.
04:34Nossa, você já tomou um suco de hortelã
04:36com maracujá e gengibre?
04:38Eu já tomei, não é bom.
04:40Mas ele vai te dar,
04:41ele vai tentar te conquistar.
04:44Isso aí é a generativa.
04:46Por quê?
04:46Ela tem uma base de dados
04:48da informação do que é maracujá ou hortelã,
04:50que você é uma pessoa,
04:51que você está ali na feira,
04:52e ela precisa fazer correlações novas
04:55para saber se ela arranca um sorriso seu
04:57ou se arranca o seu dinheiro.
05:00Então, a diferença de A preditiva para A generativa
05:02já coloca um ponto
05:03que poucas pessoas estão tendo a oportunidade de estudar
05:06e, de fato, se aprofundar sobre isso,
05:08de que os resultados vão ser diferenciados.
05:11E aí existe uma propaganda
05:12de que você coloca A generativa como algo novo,
05:15quando, na verdade,
05:16ela está fazendo correlações novas.
05:18e aí eu vou precisar ser bem estatística,
05:20porque está no meu diploma
05:21e eu não posso deixar meus professores assistirem isso depois
05:24e falar que eu coloquei um conceito do nada.
05:28Aí a generativa não te apresenta novidades,
05:30ela te apresenta novas correlações.
05:33Então, eu queria parar por aí,
05:34porque a evolução que nós estamos fazendo
05:36e caminhando é para novas combinações
05:39e não necessariamente de substituição
05:42do que se tem hoje.
05:43É você estar pegando o que se tem hoje
05:44e você estar fazendo novas combinações.
05:46Então, assim, acho que a gente colocar isso no debate
05:51nos ajuda a ficar um pouco mais tranquilos
05:53e imersos nas conversas.
05:55Nesse mundo nada se cria, tudo se combina.
05:58Dani.
06:00Bom, vou começar falando que eu não sou especialista
06:02em digital e tecnologia.
06:05Eu acho que eu sou bem mais analógica do que não.
06:09E que, no final das contas,
06:12quando a gente falou sobre o painel,
06:14eu fiquei pensando, o que é tecnologia?
06:17Porque depende muito, né?
06:18Quem está por trás da tecnologia?
06:19A tecnologia vai salvar, a gente escuta isso, né?
06:21E a tecnologia, na área de clima,
06:23a gente vem falando,
06:24a gente tem que trazer a inteligência artificial,
06:25a gente tem que trazer a tecnologia.
06:27Mas tem muitos passos que faltam
06:30para onde a gente está
06:31e o que a gente vai trazer
06:32e o que a tecnologia vai fazer para salvar.
06:34Então, tem, acho que esse fantasma
06:37do que a tecnologia vai salvar.
06:39Tem uma realidade que a gente vê,
06:41é quem está por trás dessa tecnologia,
06:42o que ela significa.
06:44E aí eu trago para a minha experiência pessoal
06:46com tecnologia.
06:47Então, eu sou uma pessoa que
06:49sempre fui mais conectada com a natureza,
06:53muito do esporte de fora.
06:54Hoje eu moro ilhada, literalmente,
06:56eu moro numa ilha,
06:58estou desconectada.
07:00E o que a tecnologia me permite?
07:02Conectar.
07:03Então, eu consigo trabalhar de onde eu estou
07:05porque a tecnologia me permite.
07:08E, ao mesmo tempo, eu tenho aí a...
07:11O Christian trouxe essa questão
07:12do temor dos pais
07:14ou a armadilha dos pais.
07:16Meu filho mais velho tem 11 anos
07:18e ele pichou nas paredes da casa
07:20que ele quer um celular.
07:22Então, assim, eu fico...
07:24Me apavora.
07:25Tipo, eu venho de um lugar de medo
07:27tão profundo da tecnologia,
07:29profundo,
07:30assim, eu tenho medo da tecnologia.
07:31Eu acho que a gente vai,
07:32por todo esse medo,
07:33essa falta de capacidade
07:35de encarar o que é,
07:36a gente vai fechando a porta,
07:38fechando a porta.
07:38Então, acho que, Nina,
07:40quando você traz esse lugar
07:41de existe algo que pode ser bom,
07:44a gente se tranquiliza
07:45porque a gente está num mundo
07:46que falta tanta confiança.
07:48Falta confiança, né?
07:49A gente não está conseguindo
07:50construir confiança um com o outro.
07:52Quem está por trás dessa tecnologia,
07:54eu também não confio.
07:56Então, acho que é esse o lugar
07:57que me coloca,
07:57um lugar que, enquanto você não confia
07:59com quem está por trás,
08:00eu não entendo quem é que está por trás
08:02ou o que significa essa tecnologia,
08:04você vai partir de um lugar do medo.
08:06Então, acho que, para mim,
08:07assim, essa é uma ambivalência.
08:09Se a gente olha para a ótica de clima,
08:12revolução industrial,
08:13toda a tecnologia,
08:15os combustíveis fósseis,
08:16são o que causam,
08:17de certa forma,
08:18a crise climática.
08:19Por outro lado,
08:20a gente tem aí
08:21Johan Rochson mostrando
08:22como a América Latina
08:23e o Caribe
08:23lideram energias renováveis hoje,
08:26então, eólica e solar,
08:27como a gente está
08:28no topo da curva.
08:29Então, tem uma ambivalência
08:31muito grande, né?
08:32É uma possibilidade,
08:33acho que é esse 50% aí, né?
08:35Acho que todo mundo transita
08:36um pouco da sua forma pessoal
08:38por esse 50%,
08:40esse paradoxo
08:41que a gente está trazendo.
08:43Sim.
08:44Caio, deixa você fazer
08:45a sua primeira fala
08:46e a gente pega embalo
08:47na conversa.
08:47Legal.
08:48Então, primeiro,
08:49obrigado pelo convite,
08:51Vivo, Vitor, Lourenço,
08:53e obrigado a vocês também,
08:54que faltou um título
08:55bem importante,
08:56que é meu segundo doutorado
08:57na USP.
08:58Foi a USP que me colocou
09:00nessas universidades,
09:01então, obrigado a vocês,
09:02o imposto que vocês pagam
09:03me deram essa oportunidade.
09:06Indo, é sério,
09:07eu tenho muito orgulho da USP
09:08e das universidades públicas
09:10em geral.
09:11Indo, obrigado.
09:15Indo, indo para a gente
09:17outra pergunta,
09:18o paradoxo da tecnologia.
09:19Primeiro, queria pontuar
09:21que não há nada mais humano
09:22que a tecnologia,
09:23e por isso que ela é paradoxal.
09:25A tecnologia é a arte
09:26de reconhecer um problema
09:27e pensar em uma solução.
09:29E isso é muito importante,
09:30porque a gente está
09:31no momento de discutir a solução.
09:33O problema é frio?
09:34Põe roupa, põe meia.
09:35O problema é estar apresentável
09:37para um evento profissional?
09:38Põe aqui um blazer.
09:40É ver melhor?
09:40É o óculos?
09:41É se comunicar?
09:42É o celular, por exemplo?
09:45Tem um pensador,
09:47Thoreau,
09:47um pensador americano,
09:48que lá em 1800 e bolinha,
09:50ele se retirou,
09:51viveu do lado de um lago
09:53chamado Walden,
09:54por três anos,
09:55e ele escreveu um livro
09:56chamado Walden.
09:57E ele,
09:58numa passagem,
09:59que é uma das minhas favoritas,
10:00ele fala assim,
10:00olha,
10:01a gente está colocando
10:02um esforço imenso
10:03em construir linhas de trem
10:04que vão do Texas ao Maine,
10:06do sul ao norte,
10:09telégrafo para chegar
10:10do novo mundo
10:11ao velho mundo,
10:12e a primeira mensagem
10:13que vai chegar é
10:14a rainha está com uma tosse.
10:16E daí?
10:17A gente está criando
10:18meios melhorados
10:19para uma finalidade
10:21que a gente ainda não melhorou.
10:23Então,
10:23vindo para a nossa pergunta,
10:24onde que a gente está
10:25nessa evolução?
10:26É de definir qual é o problema.
10:29Cada problema
10:30tem uma visão de mundo,
10:32uma ideologia,
10:32você vai construir uma ponte
10:34para ligar comunidades,
10:35você vai construir
10:36uma bomba nuclear
10:37para que ninguém
10:38mexa com você.
10:39E, dentro dos Estados Unidos,
10:41agora,
10:42na administração presente,
10:43mas, na verdade,
10:43no país inteiro,
10:45tem uma disputa ideológica.
10:47E aí,
10:47não estou nem falando
10:48de republicanos
10:49e democratas,
10:50qual que é o serviço,
10:51qual que é o propósito
10:52da tecnologia?
10:53Tem um lado
10:54que fala assim,
10:55é ganhar da China,
10:56a gente vai ganhar
10:56dessa corrida,
10:57que não tem final.
10:59Tem outros que falam assim,
11:00a gente precisa acelerar
11:01porque a tecnologia
11:01vai ficar superinteressante,
11:02inteligente,
11:03a gente precisa desenvolver
11:03tecnologia que vai
11:05prevenir que a tecnologia
11:06nos mate,
11:07entendeu?
11:07E que fica nesse
11:08tecnocentrismo.
11:10E aí,
11:10quando a gente olha
11:10para o Brasil,
11:12quais são os problemas
11:13que a gente identifica?
11:14Porque não é só
11:15na camada ali
11:16de conteúdo,
11:17na nossa interface
11:18com o chat GPT.
11:19Essas empresas
11:20estão descendo
11:21até a mineração.
11:24Compram a Cobalt,
11:25que vai lá minerar
11:26na Zâmbia,
11:28conectam os continentes,
11:31projeto Monet,
11:31enfim.
11:33E aqui a gente olha
11:33para o Brasil
11:34pensando em soberania
11:36e aqui soberania,
11:37eu sei que está no jornal,
11:38mas eu estou usando
11:39no sentido de
11:40decidir quais são
11:42os problemas,
11:43quais são as soluções,
11:45quais as regras
11:45que vão valer aqui,
11:46para onde a gente vai.
11:48E eu acho que
11:48é essa situação
11:49onde a gente está.
11:50O que é o problema
11:50para nós aqui
11:52e qual solução
11:53nós queremos imprimir?
11:54Excelente, Caio.
11:56é o problema.
11:57E aí
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