- há 6 semanas
Dados da Polícia Civil mostram o perfil de atendimentos no Espaço Lilás.
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NotíciasTranscrição
00:00E ainda falando de violência doméstica, violência contra a mulher, um dos tipos de violência contra as mulheres é a violência sexual.
00:10A gente está sempre trazendo casos aqui, mulheres que são vítimas de abuso, crianças que são vítimas, às vezes até dentro de casa, né gente?
00:18E os números que a gente vai trazer aqui são alarmantes.
00:21Quase 70% das pessoas atendidas por suspeita de violência sexual são meninas menores de idade.
00:29Esses dados são da Polícia Civil que divulgou o perfil das mulheres atendidas no Espaço Lilás.
00:36O Espaço Lilás foi criado para dar acolhimento e atendimento especializado a mulheres, crianças, adolescentes, vítimas de violência sexual e doméstica.
00:48Fica dentro do IML de Vitória.
00:51Vocês sabiam que tinha essa estrutura lá dentro do IML?
00:53Muita gente não sabe, né?
00:55E é uma estrutura humanizada, viu pessoal?
00:57Tem consultório médico, tem atendimento psicossocial, tem brinquedoteca para as crianças que vão ser atendidas por lá.
01:06Vamos entender melhor esse cenário, falar sobre a subnotificação.
01:11Tem muitas vítimas que não buscam ajuda, entender qual o perfil dessas vítimas.
01:14Eu estou aqui com a Laís Coimbra, que é perita, médica legista, chefe do Departamento Psicossocial do IML de Vitória.
01:22Bom dia, bem-vinda.
01:23Bom dia, obrigada.
01:25Mas a gente traz dados importantes e que chamam muito a atenção.
01:30Vocês que estão na linha de frente ali, diariamente, no atendimento, essas meninas, essas mulheres,
01:37o que esses dados representam para vocês no dia a dia?
01:41É chocante, né?
01:42São muitas crianças e adolescentes.
01:44São dados que a gente traz, depois de compilados pela polícia científica, que estão numa crescente, infelizmente, ou felizmente, porque também sabemos que tem muitos casos de subnotificações por medo, por não entender que aquilo que eles estão sofrendo ali, às vezes é uma criança, não entende que é um abuso.
02:05Então, tem uma taxa, aproximadamente, de 61% de subnotificação.
02:10Então, assim, a tendência é realmente aumentar esse tanto de exames que nós fazemos dentro do IML de Vitória.
02:16Nossa, muita subnotificação.
02:18Quando a gente fala subnotificação, é como o doutor explicou, são vítimas que não vão lá fazer a denúncia e que, às vezes, assim como essa moça que a gente ouviu na entrevista de Cariacica, há 30 anos sofrendo dentro de casa, sendo agredida, vítima de abuso psicológico, físico, enfim, não procura ajuda.
02:37Agora, além da idade e do sexo, o que chama a atenção na hora desses atendimentos em relação a essas vítimas, doutora?
02:46Chama a atenção que, como você bem colocou, o nosso espaço foi criado, a princípio, para atendimento apenas de vítimas de violência sexual.
02:54Porém, quando a gente via que essa vítima de violência sexual chegava, com a família.
02:58Então, chegava a mãe, chegava os irmãos, chegava, por quê? Por falta mesmo de estrutura, por falta de não conseguir ficar com os outros irmãos em casa.
03:07Como que a mãe vai dividir?
03:09Então, a gente começou a prestar atenção que essas vítimas de violência, tanto sexual quanto doméstica,
03:15elas, existe um contexto familiar muito grande nele, sabe?
03:20Então, a gente percebeu que tinha que ser acolhido não só a vítima, como a família.
03:24Então, por isso que a gente atende não só vítimas de violência sexual, hoje no IML,
03:28como também vítimas de violência doméstica, que são encaminhadas pelas delegacias de polícia.
03:32Perfeito. Normalmente, como é que essa vítima chega, né?
03:34Você falou que, assim, algumas são mães, chegam acompanhadas dos próprios filhos,
03:39mas elas chegam, normalmente, muito machucadas, vocês percebem uma vulnerabilidade, não só física, né?
03:46A gente percebe que a mulher, às vezes, está sendo vítima de violência psicológica, ali, já por muito tempo, por muitos anos.
03:52O que vocês percebem? Como que essa vítima chega para o atendimento?
03:57É, existem vítimas de todos os jeitos, né?
04:00Mas a gente vê que, numa grande maioria, elas chegam com um abalo psicológico muito grande,
04:05tanto as crianças quanto as mães, e também chegam, às vezes, muito machucadas, né?
04:13Às vezes, a gente tem até que ir nos hospitais para fazer essa perícia,
04:16uma vez que a pessoa está internada, sabe? De tão machucada e lesionada que ela foi,
04:22e elas chegam com muitas dúvidas, tá?
04:24Elas não sabem o que esperam, o que vai acontecer, então é aquele medo de,
04:28ai, meu Deus, eu vou voltar para a minha casa.
04:30E o meu agressor vai estar dentro de casa.
04:31O meu agressor vai estar dentro de casa, sabe?
04:33Então é aquele medo, até o medo do exame, porque é um exame muito íntimo,
04:37é uma perícia íntima.
04:38Então elas chegam com dúvidas, sabe?
04:40Muitas dúvidas, muito vulneráveis, com muito medo.
04:42É assim que elas chegam.
04:44Você falou dessa questão do exame, como é importante essa mulher encontrar outra mulher
04:48na hora desse atendimento?
04:50Porque ela já foi vítima ali, grande parte, de um homem,
04:54e já está vulnerável, já está machucada, já está sofrendo,
04:58e como é importante ela ser acolhida por outra mulher, né?
05:01Tanto na parte médica, na hora de fazer o exame, na parte psicológica também, enfim.
05:07Ter esse suporte ali é extremamente importante, de outras mulheres também, né, doutora?
05:11Com certeza. Quando o Espaço Lilás foi criado, teve realmente essa prerrogativa
05:15de que as vítimas de violência sexual e doméstica, mulheres,
05:20que fossem atendidas por professorais do sexo feminino.
05:22Justamente por isso, ela já vem fragilizada, o abusador geralmente é do sexo masculino,
05:28é um exame muito íntimo, sabe?
05:30Que ela precisa ali de um acolhimento, de uma pessoa que entenda ali,
05:34que não está ali para julgá-la, sabe?
05:36Então isso faz uma grande diferença.
05:38É importante explicar também que no horário comercial que funciona o Espaço Lilás,
05:43são as médicas legistas do sexo feminino que atuam nele,
05:46e as profissionais psicólogas e assistentes sociais também do sexo feminino.
05:49Então ela chega num ambiente acolhedor, com uma escutativa para ela,
05:53a gente tira as dúvidas e faz o ambiente pericial ficar um pouco menos...
05:57Ambiente policial, sabe?
05:59Aquele ambiente mais acolhedor e menos tenso, sabe?
06:02Com certeza que ela já chega ali muito nervosa, muito tensa e com muito medo, como você colocou.
06:07Tem alguma história nesse tempo aí de atendimento do Espaço Lilás, ali no ML,
06:11que te chamou mais atenção, doutora Laís, que te marcou?
06:14São muitas histórias diárias que vocês vivem ali na linha de frente,
06:18acredito que todas elas tocam você de alguma maneira e chamam a atenção,
06:23mas teve alguma que te marcou que você pudesse compartilhar com a gente?
06:26Teve uma que me marcou pela questão do vestígio, né?
06:30Que quando a gente chega no ambiente pericial, a gente tá ali pra coleta de vestígio.
06:33Só que é importante explicar que a coleta de vestígio,
06:36ela é uma das provas que a Polícia Civil tem pra colocar no inquérito, tá?
06:41Contra o abusador.
06:43E aí uma vítima, ela chegou e na época o abusador era o próprio pai,
06:46ela chegou com a mãe, ela chegou muito nervosa,
06:49e ela ainda relatou, mas ele não tocou em mim, ele não tocou na minha genitália,
06:53mas ele fez atos obscenos e chegou a jogar algo na minha mão.
06:59Só que eu já lavei a mão, mas isso foi assim, ontem, à noite.
07:02E a gente conseguiu fazer uma coleta precisa e conseguimos pegar inclusive o DNA do agressor.
07:07Então assim, a importância de denunciar a tempo, a importância do tempo da coleta dos vestígios,
07:13e elas têm 72 horas quando elas sofrem a conjunção carnal de fato,
07:17pra tomar os profiláticos de infecções sexualmente transmissíveis, tá?
07:23E proflaxia de gravidez também.
07:26Então o prazo é muito importante pro exame pericial, tá?
07:29E quando a gente fala de adolescentes e crianças,
07:31como é importante que a família dentro de casa esteja atenta pra escutar essas meninas e meninos,
07:37porque meninos também são vítimas dentro de casa.
07:40Porque às vezes não dá atenção, acha que é coisa de criança e muitas vezes dentro de casa
07:47ou com pessoas próximas que essa violência acaba acontecendo, né doutora?
07:51Exatamente.
07:52Tem o perfil do abusador que já tá traçado no Fórum de Segurança Pública.
07:56Geralmente o abusador, ele é conhecido da família, da criança,
08:00e os abusos acontecem em sua maioria dentro da própria residência.
08:03Então é importante sim o familiar, o cuidador, o responsável,
08:06estar bem atento aos sinais, porque também não existe sinal e sintoma característico de abuso.
08:12Então é isso, é uma escutativa, é um acolhimento dessa vítima.
08:15Uma mudança de comportamento sutil aí, mas tem que estar atento.
08:19Tem que estar atento e denunciar, porque aí o inquérito policial vai fazer o trabalho da investigação.
08:23Com certeza. Agora vamos falar um pouco sobre esse espaço lilás que funciona no IML, né?
08:28Muita gente não conhecia, eu também não sabia que funcionava.
08:31A gente sabe da Sala das Marias, né?
08:33Alguns outros espaços lilás que estão espalhados, distribuídos ali.
08:38E agora no IML, como é que funciona?
08:40Que profissionais que esse espaço disponibiliza para essas vítimas?
08:44O espaço lilás, ele disponibiliza as médicas legistas,
08:47que atuam dentro do consultório, que é um consultório preparado ginecológico, tá?
08:51Para a violência sexual.
08:53Além disso, tem psicólogos e assistentes sociais,
08:56que fazem esse escutativo acolhimento da vítima,
08:59e também fazem os devidos encaminhamentos, tá?
09:01Para a rede de proteção, porque a gente sempre costuma dizer
09:03que não existe um órgão, né?
09:05De proteção à vítima de violência.
09:08É sempre uma rede de proteção.
09:09Então, a pessoa que chega à balada,
09:11ela não vai fazer o tratamento psicológico ali naquele espaço.
09:13Mas ela vai ser encaminhada, direcionada à rede de proteção municipal ou estadual.
09:18Perfeito.
09:18E é uma sala, né?
09:19É um espaço com várias salas, né?
09:21Isso.
09:21É um espaço que ele tem a recepção, que já é mais acolhedora,
09:25tem brinquedoteca, tem televisão para as crianças que precisam ver desenho,
09:29tem um banheiro privativo, acho isso muito importante de ser falado,
09:33porque as vítimas vão precisar trocar de roupa, é um exame ginecológico, né?
09:36Então, elas têm o banheiro próprio para elas,
09:38tem a sala de atendimento psicossocial e tem a sala da perícia médica,
09:43que é a marca ginecológica especializada com uma médica legista do sexo feminino para atender.
09:48Que incrível, que importante.
09:50Como é que está o atendimento das demandas hoje, doutora Laís?
09:54A demanda tem crescido?
09:56Vocês estão conseguindo dar conta dessa demanda?
09:59É, a demanda está crescendo a cada ano.
10:01São mais ou menos cerca de 1.100 atendimentos só de sexologia forense,
10:05que são das violências sexuais.
10:07Esse ano, final de julho, a gente já está com mais de 560 casos.
10:11Ou seja, se continuar nessa rota ascendente, a tendência é só aumentar.
10:17Gente, são muitos casos.
10:19São muitos casos, infelizmente.
10:21Meu Deus, e é como você falou, isso é sinal de que as vítimas estão também procurando mais,
10:26estão procurando a polícia para denunciar seus abusadores.
10:32Isso é um ponto positivo nessa história.
10:35Agora, quais são os maiores desafios?
10:37Acho que a subnotificação é um super desafio,
10:39que às vezes quando a vítima vai lá, ela já foi, já está sendo vítima há muito tempo.
10:44Mas quais são, o que vocês enfrentam de desafio para investigar
10:49e para comprovar que aquela mulher, que aquela menina ali está sendo vítima de fato?
10:54É, um dos maiores desafios, como você pontou muito bem, é a subnotificação,
10:58mas é também até a vítima entender que ela sofreu um abuso,
11:01porque um ato libidinoso é um abuso sexual.
11:03Então, às vezes, é uma passada de mão, às vezes é uma encostada na genitália.
11:08Então, até a vítima entender o abuso que ela sofreu e registrar a queixa e chegar no IML,
11:14a gente perde um pouco das possibilidades de coleta de vestígio.
11:18Como eu disse, não é a única prova, mas é uma prova muito interessante de se ter.
11:22Então, é importante que faça a notificação o mais rápido possível
11:26para que essa coleta de vestígio aconteça num prazo máximo de uma semana,
11:29que é até onde, mais ou menos, a coleta pode conseguir capturar ali a prova material.
11:36Perfeito, doutora.
11:37Que recado que você deixa para quem está assistindo a gente que sofre violência doméstica?
11:42Marcou muita entrevista que a gente ouviu antes da nossa conversa começar.
11:45Uma senhora que sofria violência dentro de casa há 30 anos,
11:49só depois desse tempo todo que ela buscou ajuda.
11:52Que recado que você dá?
11:54Como é que pode dar o primeiro passo, né?
11:56Você está falando desse atendimento,
11:58que já é um diferencial muito grande para as vítimas que têm esse receio de buscar ajuda.
12:03Como é que essa pessoa que está assistindo a gente pode dar o primeiro passo?
12:06É, o primeiro passo, com certeza, é você entender que você é uma vítima
12:11e procurar apoio com a polícia civil.
12:13Vai na delegacia, tem delegacias especializadas de atendimento à mulher,
12:17delegacia especializada de proteção a crianças e adolescentes,
12:20e presta o depoimento e vai fazer as coletas de vestígio
12:23para que o abusador tenha o fim que ele merece ter, sabe?
12:27Que a justiça possa ser feita.
12:29Com certeza.
12:30A gente conversou com a doutora Laís Coimbra,
12:32perita médica, legista, chefe do Departamento Psicossocial
12:36do Instituto Médico Legal de Vitória.
12:38O assunto deixa a gente muito angustiado.
12:41São dados extremamente chocantes.
12:44A gente fica angustiada pensando nessas meninas e mulheres sofrendo dentro de casa.
12:48Mas é preciso falar.
12:49E é preciso que essas vítimas saibam que existe um atendimento diferenciado
12:53e funcional, que funciona para você que está precisando buscar ajuda.
12:58Doutora Laís, obrigada pela entrevista.
13:00Obrigada a você.
13:01Até a próxima, valeu.
13:02Muito obrigada.
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