Em entrevista à Jovem Pan, o cientista político Paulo Niccoli Ramirez avalia que Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP) pode ser uma alternativa para conquistar o eleitorado mais moderado e não associado às disputas extremas entre PT e Bolsonaro. O especialista destaca que o desgaste dos polos tradicionais no espectro ideológico abre espaço para candidaturas como a dele.
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00:00Três governadores reforçaram o pacto da direita para 2026, de cada um lançar por um partido o seu próprio candidato à presidência da república e depois eles se unirem no segundo turno com quem conseguir chegar lá.
00:14E é justamente para falar sobre essas movimentações recentes aqui no Brasil, essas movimentações políticas, que nós conversamos agora com o cientista político Paulo Nicole Ramírez.
00:26Paulo, boa tarde, bem-vindo aqui a essa edição do Fast News.
00:31Boa tarde, eu agradeço o convite, sempre uma honra poder participar.
00:35Para nós também, obrigada.
00:37Paulo, eu queria começar repercutindo justamente a aparição mais uma vez conjunta de governadores alinhados à direita.
00:44Isso vem se repetindo nas últimas semanas, principalmente desde a prisão domiciliar do ex-presidente Jair Bolsonaro.
00:52E eles falam muito nesse pacto, então, para o segundo turno.
00:56Será que a gente pode dizer que, agora com o julgamento marcado, estamos nos aproximando de uma definição maior das eleições por parte da direita?
01:05Exatamente.
01:06Existem vários pretensos candidatos que têm o objetivo de resgatar o espólio político,
01:15ou seja, a grande quantidade de votos que Bolsonaro teve na última eleição, cerca de 59 milhões.
01:20Agora, me parece que, do ponto de vista do marketing político e das estratégias de campanha,
01:27não é muito saudável para o espectro de direita fragmentar com grandes quantidades de candidatos no primeiro turno.
01:37Isso talvez não seja muito positivo, porque esses políticos, evidentemente, vão buscar chegar ao segundo turno
01:44e vão concorrer entre si, o que pode favorecer o atual presidente, o presidente Lula, né?
01:49À medida que esses políticos, ao tentarem chegar no segundo turno, deverão fazer críticas recíprocas
01:55e até mesmo a opinião pública, ou parte considerável dela, muito motivada pela questão da possível prisão de Bolsonaro,
02:03pode ser que se afaste, inclusive, de políticos bolsonaristas, mesmo porque o governo, o presidente Lula,
02:10vai usar a virtual prisão de Lula como um instrumento de campanha.
02:16Então, uma das discussões que nós temos da ciência política é que seria mais interessante, né?
02:22Que já houvesse um consenso, né? Com um ou dois nomes, pelo menos, da direita,
02:28um candidato à presidência, outra vice, para que a campanha do espectro da direita possa ser mais competitiva, né?
02:35Então, isso aconteceu, por exemplo, em 2018, com a própria esquerda, quando o Lula estava preso.
02:42Havia, pelo menos, três nomes consideráveis, né? Da esquerda, que era o Ciro Gomes,
02:47o próprio Haddad e o Boulos, né? Eles fizeram críticas um contra o outro,
02:53isso prejudicou bastante a campanha eleitoral da esquerda e deu a vitória com uma certa tranquilidade
02:59do ex-presidente Bolsonaro, né? Então, esse debate, ele existe, né?
03:03Até que ponto é saudável para a direita vários candidatos, né?
03:08E são vários nomes, né? Temos o Tarcísio, o próprio Ratinho, o Eduardo Leite, o Zema, o Caiado, entre outros, né?
03:17Então, isso cria, de alguma forma, uma divisão maior dos eleitores conservadores e de direita.
03:25Dentre esses que o senhor citou, Paulo, o único que não falou efetivamente ainda
03:30que quer se candidatar à presidência da República é o governador Tarcísio de Freitas, né?
03:33Que, por outro lado, tem sido o principal cotado por esse espectro político.
03:38Mas ele começou a criticar mais o presidente Lula nesse momento.
03:42O senhor vê ainda uma indefinição por muito tempo.
03:44Qual que é a situação para o governador atualmente?
03:49É, o Tarcísio, ele balança bastante em relação a um discurso mais severo
03:55contra a eventual punição a Bolsonaro, como também tenta agradar um eleitorado mais moderado.
04:02E, ao mesmo tempo que a gente tem visto, é que filhos de Bolsonaro têm criticado, né?
04:07Vazaram alguns áudios.
04:08Até mesmo Carlos Bolsonaro, que não é investigado, chegou na semana passada a dizer que os supostos
04:17apoiadores de Bolsonaro seriam ratos também.
04:20Então, isso, de fato, vai gerando, digamos assim, incômodos na campanha, principalmente do Tarcísio.
04:27E a questão do tarifácio pesa também, né?
04:30Porque São Paulo é o estado que mais exporta para os Estados Unidos, né?
04:35E à medida que Tarcísio apoia Bolsonaro, isso cria um distanciamento de um setor que sempre foi muito fiel ao bolsonarismo, né?
04:44Que é o agronegócio, o interior de São Paulo, principalmente, que deu a vitória ao Tarcísio.
04:49E, claro que, nessas horas, o que pesa mais é uma visão mais pragmática, né?
04:53Ou seja, fazer dinheiro, vender para os Estados Unidos, independentemente da posição ideológica.
05:00Então, o Tarcísio, ele tem tido idas e vindas em relação à posição que os Estados Unidos têm mantido
05:09diante dos tarifácios aqui contra o Brasil, né?
05:12No primeiro momento, ele apoia o tarifácio, dá algumas entrevistas, inclusive, culpabilizando o STF e o presidente Lula.
05:21Na sequência, recua, dizendo que era o momento de negociar com todas as forças que o Brasil tem,
05:26se aproximando um pouco mais da visão crítica aos Estados Unidos.
05:32Depois, recua de novo, né?
05:34Fazendo uma ou outra crítica ao processo contra o Bolsonaro, enfim.
05:39Então, mas isso pode ter um peso na campanha eleitoral, né?
05:43Seja para presidente como também governador.
05:45Mas hoje, o que a gente pode ver, inclusive, observando as pesquisas,
05:49é que o Tarcísio tem muito mais chance de ser reeleito candidato governador de São Paulo
05:56do que necessariamente presidente.
05:58Isso tem um peso, né?
05:59Será que não seria mais interessante ele ganhar mais experiência,
06:02ganhar mais notoriedade sendo candidato aqui a São Paulo
06:06e depois buscar um salto maior à presidência,
06:09mesmo porque Lula não concorrerá em 2030?
06:11Seja pela idade, seja por impossibilidades constitucionais, né?
06:17Que não permitirão um quinto mandato.
06:19Então, o Tarcísio, acredito eu, vive esse dilema, né?
06:23Qual caminho seguir?
06:24E só as pesquisas eleitorais e o decorrer do julgamento de Bolsonaro
06:33e principalmente onde vai parar esse tarifácio
06:37é que poderão dar a resposta ao Tarcísio,
06:40se ele concorrerá à governadora ou à presidente.
06:43Paulo, e para a esquerda, né?
06:45A gente estava falando até agora da direita,
06:47mas o senhor comentou que Lula tem alguns discursos favoráveis nesse momento ali
06:52para ele, como o tarifácio e a possível ali condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro,
06:59mas apesar dele ter um nome ali para a presidência da República,
07:02o Partido dos Trabalhadores sofre com nomes em outros lugares do país,
07:06como por exemplo aqui em São Paulo, né?
07:08A gente viu uma reportagem há pouco que eles pretendem lançar Fernando Haddad,
07:12que diz que não quer, mas também já perdeu eleições recentes aqui.
07:16Como que a gente pode fazer um panorama da situação da esquerda para 2026?
07:21O PT vive uma situação muito curiosa, né?
07:23Embora tenha o nome de Lula forte enquanto candidato à presidência
07:27e o PT muito mais forte no nível nacional do que necessariamente estadual, né?
07:33São Paulo não é um território fértil, o Estado e a cidade, né?
07:36Para candidaturas do PT.
07:39Na última eleição, a Prefeitura, o PT abriu mão pela primeira vez
07:42de lançar candidato e apoio ao Bolos.
07:45E essa deve ser a tendência, né?
07:46Ou seja, o PT aumentar a quantidade de aliados,
07:49sobretudo vindos do Centrão,
07:51para a candidatura à presidência do Lula,
07:54em contrapartida oferecer apoio do próprio PT
07:57para candidaturas desses partidos de centro, né?
08:00É difícil o PT sair desse dilema, né?
08:03Mesmo porque o PT sofre com a renovação de lideranças, né?
08:09Vale dizer que o nome de Lula é muito superior ao próprio nome do PT.
08:15Existirá essa dependência mesmo quando o Lula não possa ser mais candidato.
08:20E, por enquanto, o PT não preparou nenhum nome,
08:23nenhuma figura carismática capaz, né?
08:26De ser um nome forte, né?
08:29Para 2030, por exemplo, né?
08:31Aliás, esse é o grande dilema que vive Adinho Silva,
08:34novo presidente do PT.
08:36Eu mesmo aí, na Jovem Pan, no início do ano,
08:39tive a oportunidade de entrevistá-lo num programa de vocês
08:42e ele revelava exatamente isso, né?
08:44O PT precisa se reestruturar, precisa de novos nomes
08:47e precisa também mudar o tipo de linguagem junto à população, né?
08:52Usar mais as redes virtuais, onde a direita, claro,
08:56obteve muito mais sucesso e eficiência, né?
08:58No tipo de discurso e na sensibilização que gera a população, né?
09:02Então, o PT vive esse dilema, né?
09:05O Haddad, embora seja visto como competente por muitos segmentos da esquerda,
09:11não tem a mesma capacidade do Lula de se comunicar, né?
09:14De atrair atenção e sensibilizar a população diante das pautas sociais.
09:18E essa dificuldade é central no PT como um todo, né?
09:23Em todos os estados, municípios também,
09:25certamente o PT viverá ainda algumas boas décadas
09:29em função da imagem do Lula,
09:31ainda que ele já não esteja mais presente com tanta força na política.
09:35Pra gente fechar a nossa entrevista, Paulo,
09:38a gente fala muito, né, de um candidato fora da polarização.
09:42Isso entrou muito em debate nas últimas eleições.
09:44Agora a gente tem esse debate acontecendo mais uma vez.
09:47Mas é possível? Há espaço pra um terceiro candidato?
09:51Uma terceira via, como a gente costuma dizer, ainda surgir?
09:54Ou o debate do ano que vem já está posto?
09:58Bom, as últimas três eleições, pelo menos desde 2014,
10:01falava-se muito da terceira via.
10:04E nas três últimas eleições, curiosamente, foram candidaturas fracassadas.
10:09Esse discurso não funciona dentro de uma sociedade extremamente polarizada, né?
10:14Entre petistas e hoje bolsonaristas.
10:18E esse discurso não cola mais, né?
10:21Mesmo porque a última eleição presidencial mostrou claramente,
10:25desde o primeiro turno,
10:26que a sociedade brasileira estava profundamente dividida
10:30entre PT e Bolsonaro.
10:31Então, não é um bom negócio, neste momento,
10:35pelo menos na eleição do próximo ano,
10:37a busca dessa terceira via, né?
10:39Por isso que os políticos hoje buscam alianças ou com o PT, né?
10:44Aproximarem-se do Lula, principalmente,
10:46ou então de Bolsonaro.
10:47Por isso que nós, no início dessa entrevista,
10:49estávamos discutindo pelo menos quatro, cinco nomes fortes,
10:52como pretensos candidatos à presidência,
10:56para capturar esse espólio de Jair Bolsonaro,
10:59que foi gigantesco.
11:00Foram 59 milhões de votos.
11:02Então, essa dinâmica, ela deve revelar para a gente
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