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  • há 6 semanas

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Esportes
Transcrição
00:00Fala pessoal do Lance, tudo bom? A gente está estreando o quadro aqui, o Fala Professor,
00:04que a gente vai ouvir vários treinadores de futebol brasileiro.
00:07E nosso primeiro convidado é o Maurício Barbieri, seja bem-vindo.
00:10Vamos começar esse papo, o Márcio Dousan está aqui comigo também.
00:14Sejam bem-vindos a esse papo, espero que vocês gostem.
00:16Vi várias entrevistas suas, como você vai fazer sempre uma entrevista dela?
00:22Se você dá uma pesquisada geral, já te conhecia muita coisa,
00:26mas tem coisas que me chamaram a atenção e achei muito legal.
00:30Você não é aquele treinador que foi jogador, você é o cara acadêmico, estudou muito,
00:35sempre buscou esse estudo.
00:38E nessas entrevistas eu vi que a sua formação, você fez faculdade de esporte, se eu não me engano,
00:44e depois você concluiu a sua formação em Portugal, no Porto.
00:48Fala um pouquinho desse teu início e de como foi essa trajetória acadêmica,
00:53porque é bem legal e acho que pouca gente se aprofundou nisso.
00:56Eu fiz um curso de bacharel esporte, seria um curso similar à Educação Física,
01:04mas ele é mais voltado para quem quer trabalhar com esporte mesmo, de alto rendimento e tal,
01:10a carga horária com matérias específicas de esporte, de alto rendimento, fisiologia, biomecânica e tal,
01:18um pouquinho maior.
01:19Eu fiz isso, era um curso, não sei como está hoje, mas na época tinha na USP e tinha na UEL em Londrina,
01:26eram as duas universidades que tinham o curso.
01:29Então, entrei em 2000 e aí fiz um período de intercâmbio na Faculdade do Porto.
01:37Não sei se eu fui o primeiro, mas acho que fui um dos primeiros a ter essa experiência lá,
01:43quando estava começando essa coisa da periodização tática e tal, lá ainda estava no início,
01:47e aqui ninguém falava muito disso.
01:50Depois virou um boom e tal, agora deu até uma acalmada,
01:53mas durante uns anos aí era a coqueluche do momento, era a questão da periodização.
01:59Então foi isso, fiquei um ano lá em Portugal, fiz estágio no Porto,
02:02e fazia as matérias durante o período da manhã na faculdade,
02:07cursava, à tarde ia fazer estágio no Porto.
02:10Foi o ano em que estava tendo a Euro em Portugal,
02:13então foi também bacana nesse sentido poder acompanhar de perto.
02:18E para mim foi muito legal, porque aqui a gente não tem uma tradição de documentar, né,
02:24a nossa experiência, o nosso legado.
02:26Eu acho que a gente tem muito conhecimento,
02:28a gente tem uma gama de treinadores muito vitoriosos no Brasil aí,
02:33se começar a falar, né,
02:34Parreira, Filipão, o próprio Zagallo que acabou deixando a gente,
02:37Vintelê Santana, e por aí vai.
02:40Depois você tem a Belbraga, Rondelê Luxemburgo, enfim, né,
02:43uma série de treinadores muito vitoriosos,
02:46mas a gente não tem o hábito de botar isso no papel, né.
02:49E aí foi muito legal no Porto, porque lá tinha uma literatura vasta, extensa,
02:53tinha muito estudo sobre o jogo.
02:55Então, para mim, foi bacana conseguir casar as duas coisas, né,
03:02conseguir estudar bastante como eles pensavam,
03:04como eles entendiam a questão da metodologia,
03:06e aliar isso ao que eu vivia aqui de prática,
03:10de estar acompanhando nos clubes e tal,
03:11acho que isso me enriqueceu bastante.
03:13Quando tu começou o bacharelado, já era focado em ser treinador?
03:17Já era, já te imaginava sendo treinador,
03:19ou a ideia era mais ampla?
03:20Não, não tinha isso na cabeça, eu tentei ser jogador, futebol de base,
03:27tudo, sabe, com 18 anos, ainda estava nessa de ir,
03:30e prestei o vestibular meio que sem compromisso e passei, né.
03:34A minha mãe agora aposentou, mas sempre foi professora universitária da USP mesmo e tal,
03:40e aí, enfim, conversando em casa, falei,
03:42não, então vou fazer faculdade, vou ver o que vai dar,
03:45mas não tinha essa ideia de ser treinador.
03:47Quando eu entrei, aí comecei a estudar,
03:50comecei a ser treinador de outras equipes de faculdade e tal,
03:53tomei gosto e falei, pô, acho que é um caminho.
03:56Mas não tinha isso na cabeça, vou ser treinador,
03:59tanto que meu início, trabalhando com futebol meu,
04:01eu comecei como preparador físico em 2005,
04:05no projeto Quero Pão de Açúcar, que virou Aldax,
04:08mas eu entrei como preparador físico.
04:10Eu imaginava na minha cabeça que ia ter que ficar alguns anos como preparador
04:14para ver se depois ia virar treinador, né.
04:17Mas já em 2007, eu estava como preparador físico,
04:21e me convidaram para ser treinador no sub-15,
04:24já com dois anos ali.
04:26Enfim, era o Thiago Escuro, o Bruno Noro, na época,
04:29que estavam à frente do projeto,
04:31eles acho que identificaram quem tinha perfil, imaginaram,
04:34e aí eu aceitei, e aí começou a trajetória.
04:38O Thiago está no mundo, né.
04:39Está no mundo com isso.
04:40E essa tua experiência aí em Portugal,
04:44seu número é 2004, né, onde tem a Euro,
04:46e você pega o Porto, que foi campeão com o Mourinho,
04:49então você fez um estádio perto do Mourinho ali,
04:53daquele time, como é que foi?
04:55Isso, estava próximo, o estádio não era com a equipe profissional,
04:58treinava em outro horário.
04:59Eu fiz o estádio na base, na época que era o José Guilherme,
05:04até ele veio muitas vezes, deu curso aqui no Brasil nas licenças da Serie F,
05:08mas o estádio era com ele.
05:10Mas foi bacana, porque a metodologia era muito parecida, né,
05:13de todas as categorias,
05:15e foi um ano realmente que o Porto se destacou,
05:18foi campeão da Champions,
05:21e eu acho que isso reforçou muito também essa questão da periodização tática,
05:26e fez com que tomasse força, né.
05:27Eu não sei se foi nesse mesmo ano, ou se foi logo depois,
05:31que lançaram aquele livro, Mourinho,
05:32porque tantas vitórias, né,
05:35que aí estavam vinculando a metodologia dele de trabalho,
05:38a questão da periodização tática, enfim,
05:39tudo que ele aplicava no dia a dia.
05:42Então, um período, como eu disse, de muito aprendizado, assim,
05:45muito enriquecedor.
05:46E a gente fala de periodização tática, né,
05:49talvez as pessoas não saibam exatamente o termo.
05:52O que é periodização tática?
05:55Na verdade, assim, vou tentar explicar de uma forma mais acessível, né.
05:59Vamos lá.
06:00Existe um conceito dentro do esporte, de uma maneira geral,
06:03não só do futebol, que é o conceito de periodização.
06:07O que é isso?
06:07É você dividir os ciclos de treino,
06:10visando atingir uma performance máxima ou ideal,
06:13qualquer esporte, tá.
06:15Mas surgiu prioritariamente mais vinculado ao atletismo, né.
06:19Porque o atletismo, você tem competições-alvo,
06:22em determinado momento do calendário,
06:24que é onde você precisa estar no seu pico.
06:26Então, no Mundial, numa Olimpíada,
06:28porque nenhum atleta consegue sustentar um pico de performance
06:34constantemente, né.
06:36Isso aí já tá documentado e tudo mais.
06:39Então, você trabalha pra ir progressivamente
06:41tentar atingir o pico naquela competição-alvo.
06:44Mas isso funciona pra modalidades, como eu te disse,
06:46que conseguem ter esse calendário,
06:48o atletismo, o natação e por aí vai.
06:51E aí, esse conceito de periodização,
06:54ele também começou a ser usado em outros esportes,
06:57esportes coletivos e tudo mais,
06:58também no futebol, né.
07:00Só que ele, esse conceito de periodização,
07:02ele tá muito mais atrelado a questões físicas,
07:05a dimensão física,
07:06que é o quatletismo, o uso, a natação e tudo mais.
07:10Não que não tenham estratégias,
07:12mas é menor, né, vamos dizer assim,
07:13as gamas de possibilidades.
07:15E aí, surgiu um questionamento,
07:19isso já tem muito tempo,
07:20de que esse conceito de periodização
07:22não se aplicava pro futebol
07:24ou pra essas modalidades coletivas,
07:27porque, por mais que o objetivo maior seja
07:30você estar no seu melhor momento na final,
07:33se você não classifica, né,
07:35não tinha muito como você.
07:37Então, muita gente tentou aplicar isso
07:39durante muito tempo,
07:40mas aí surgiu uma corrente que dizia
07:41que não fazia sentido.
07:43E dentre elas,
07:44o que depois eles denominaram periodização tática, né?
07:47E aí o que eles falavam
07:48que em vez de você buscar um pico de performance,
07:51atingir um máximo
07:52que você não vai conseguir sustentar,
07:54porque quando você atinge esse máximo,
07:55depois você tem uma queda,
07:56não tem jeito, né?
07:58Então, vamos supor que você tá se programando
08:00pra atingir esse máximo
08:01e você chegou antes,
08:03em umas costas de final.
08:04E aí você começa a cair
08:05quando você tá na final,
08:06não faz sentido, né?
08:07E aí surgiu a questão da periodização tática,
08:10foi esse o nome que deram,
08:11que era você buscar
08:13essa divisão do tempo
08:16muito mais em questões
08:17relacionadas à tática
08:19ou desenvolvimento técnico
08:21e tudo mais, né?
08:22Mas, na verdade,
08:23isso foi o uso de um nome,
08:24periodização,
08:25na verdade,
08:25não tem tanto a ver com isso.
08:27É mais uma progressão
08:29pedagógica e metodológica,
08:31vamos dizer assim,
08:31simplificando, né?
08:33É uma metodologia de trabalho.
08:34Então, cada lugar tem
08:35o seu método de trabalho
08:37e esse foi um método
08:38que foi desenvolvido
08:39por eles lá em Portugal
08:42ou foi aprimorado,
08:43porque é baseado
08:44em vários outros estudos
08:45e tudo mais,
08:47que de uma maneira geral
08:48preconiza que você
08:50tem que desenvolver
08:51todas essas variáveis,
08:52seja técnica,
08:54física,
08:55psicológica e tática,
08:56em conjunto,
08:57que não faz sentido
08:58você trabalhar elas
08:59de forma isolada
09:00ou você fazer um treino
09:01só físico,
09:03ou um treino só tático,
09:04ou um treino só técnico.
09:05Dentro dessa maneira de pensar,
09:07tudo tem que caminhar junto,
09:10uma coisa auxiliando a outra
09:11para você manter
09:13esse nível de performance,
09:14vamos dizer,
09:15ótimo, né?
09:16Durante o maior tempo possível.
09:17É.
09:18Esse conceito se aplica
09:19no futebol como brasileiro
09:21que troca de treinador
09:22de tempos em tempos?
09:24Se aplica, né?
09:25Claro que essa troca
09:26de treinador dificulta,
09:29mas se aplica
09:30porque, na verdade,
09:31o conceito incide
09:35sobre a equipe,
09:36na verdade.
09:36Então, vamos supor
09:37que se você fosse
09:38treinador de uma equipe,
09:39você foi desligado
09:40e eu assumo o trabalho
09:42na sequência,
09:43eu, teoricamente,
09:44o clube está indo
09:45tudo documentado,
09:46eu vou saber
09:46de onde eu estou saindo,
09:49o que foi que você desenvolveu
09:50e posso tentar
09:51dar continuidade, né?
09:53Então,
09:53é possível aplicar, né?
09:56Mas eu disse,
09:57é uma maneira de trabalhar.
09:58Existem várias outras,
10:00não quer dizer que seja melhor
10:01nem pior
10:01e cada um tem a sua
10:04e vai desenvolvendo,
10:05eu também acredito muito nisso, né?
10:06Eu acho que,
10:07apesar de,
10:08como vocês já vão citar,
10:09eu vir da academia,
10:12eu acho que mais importante
10:14é a questão prática, né?
10:15Aquilo que eu vou aplicando,
10:17aquilo que eu vou aprendendo,
10:18aquilo que eu vejo
10:18que funciona,
10:20para mim,
10:20a maneira de trabalhar,
10:21o que eu vejo
10:21que não funciona.
10:23Tem uma frase
10:24que é de um treinador cubano
10:26que eu gosto muito,
10:27sempre procurei aplicar,
10:28que ele diz o seguinte,
10:30teoria sem prática
10:33é utopia.
10:35Só fica no campo das ideias, né?
10:37Ao mesmo tempo,
10:39prática sem teoria
10:40é rotina,
10:41porque você só reproduz
10:42a mesma coisa, né?
10:43Então, se você não pensa
10:44sobre o que você está fazendo,
10:46se você não procura melhorar
10:47e modificar,
10:48você só está reproduzindo,
10:51enfim,
10:51fazendo a mesma coisa,
10:52sempre buscando resultados diferentes, né?
10:55Então, a ideia é tentar sempre
10:56unir as duas coisas.
10:58E aí,
10:59sua primeira experiência
11:00é no Pão de Açúcar, né?
11:02Que posteriormente
11:03vira Aldax.
11:05E no Pão de Açúcar,
11:06você começa na base ali,
11:08e eu sei que você enfrentou,
11:10assim,
11:10vários jogadores
11:11que já estão aí
11:12hoje sem eleição.
11:14Conta um pouquinho
11:14dessa tua trajetória
11:15de início,
11:16e se não me engano,
11:17você fez duas finais ali,
11:18consecutivas,
11:19sub-15,
11:19sub-17.
11:20Isso.
11:21Eu assumo
11:24a primeira categoria,
11:26que era o sub-14,
11:27no finalzinho de 2016,
11:29já para fazer essa transição
11:30para o sub-15, né?
11:31Que foi a categoria
11:31que eu ia dirigir.
11:34E aí,
11:34em 2007,
11:36a gente faz um campeonato
11:38paulista muito bom,
11:39a gente chega na final
11:40contra o São Paulo,
11:42que era um São Paulo
11:43de Lucas e Casimiro, né?
11:45Vamos dizer,
11:45outros jogadores, né?
11:46E foi uma final bacana,
11:50a gente, enfim,
11:50perdeu 1x0 o primeiro jogo,
11:52a gente não pôde jogar
11:54no nosso campo
11:55por conta de capacidade,
11:57porque como era
11:57contra um time de camisa,
11:58tinha torcida,
11:59a gente teve que jogar
12:00no estádio do São Caetano,
12:02que agora está um pouco
12:03mais sumido,
12:04no Anacleta.
12:05Perdemos de 1x0
12:06o primeiro jogo,
12:07jogamos o segundo jogo
12:08no Morumbi,
12:09mas foi 0x0,
12:10a gente foi vice-campeão,
12:12foi uma surpresa,
12:13ninguém esperava.
12:14E aí,
12:15junto com esse elenco,
12:16no ano seguinte,
12:18mais alguns outros jogadores
12:19que eram no sub-17,
12:21a gente foi campeão paulista,
12:23nesse ano de 2008,
12:26tinha uma última fase
12:28antes da semifinal e final,
12:29que eram grupos de quatro
12:31e saía uma equipe, né?
12:34E no nosso grupo
12:35tinha o Desportivo Brasil,
12:36que sempre foi um time
12:37muito forte na base,
12:38Corinthians e São Paulo,
12:39e a gente saiu primeiro,
12:40conseguiu eliminar
12:41todos os outros.
12:42E aí fizemos a semifinal
12:44e fizemos a final
12:45contra o Barueri
12:46do William José,
12:47que hoje está no Bahia,
12:48e aí a gente foi
12:49campeão paulista
12:50naquele ano.
12:52Dos jogadores
12:53que saíram,
12:54o que tem mais projeção
12:55é o Tietê,
12:56que hoje está no Vasco,
12:57o Tietê jogava
12:58nessa equipe
12:59aí nesses dois anos,
13:01vou dar um abraço
13:02para o Tietê,
13:03dava muito trabalho,
13:04porque ele era muito,
13:06ele era franzino,
13:07até hoje é mais magrinho,
13:08né?
13:09E aí,
13:09às vezes,
13:09por questão de força,
13:11não jogava,
13:12enfim,
13:12mas era um jogador
13:12muito técnico e tal,
13:14e pedia para ir embora,
13:15não,
13:15eu quero ir embora,
13:16quero jogar,
13:16não sei o quê,
13:17quero pular o muro do CT,
13:18e dava trabalho,
13:20mas fico muito feliz
13:21de ver onde ele está hoje,
13:23tudo o que ele conquistou,
13:24foi campeão brasileiro
13:25várias vezes,
13:26então,
13:26assim,
13:27muito bacana.
13:28a partir disso,
13:29é fácil manejar
13:31a vontade do jogador da base,
13:34fazer ele entender
13:35que, pô,
13:36não é teu momento agora,
13:37calma,
13:37que vai chegar,
13:38como é que é esse trato
13:39com o jogador da base?
13:42Olha,
13:42não é fácil,
13:46eu até diria que com o jogador
13:49é mais tranquilo
13:52do que,
13:53de repente,
13:53ter que gerenciar
13:54os próprios pais,
13:56os agentes,
13:57expectativas diversas
13:59que tem,
14:00que acabam recaindo
14:01sobre o jogador,
14:02muitas vezes,
14:03eu acho que o jogador
14:04consegue entender,
14:06na base de muita conversa,
14:07que ele precisa se aprimorar,
14:09que ele precisa desenvolver,
14:10mas ele acaba sofrendo
14:12uma pressão,
14:13muitas vezes,
14:14da família,
14:15muitas vezes,
14:15do agente,
14:16muitas vezes,
14:17de outros fatores,
14:18que fazem com que
14:20ele, muitas vezes,
14:22tome decisões equivocadas,
14:23tanto é que a gente tem
14:24uma perda de talento,
14:27gigantesca,
14:28no futebol de base,
14:30eu mesmo,
14:32acho que a gente vai falar
14:33mais para frente,
14:34mas eu lembro que depois
14:34do meu primeiro trabalho
14:35profissional foi no
14:36Aldax Rio,
14:37aqui,
14:38na segunda,
14:39e eu lembro que
14:40naquele time eu tinha
14:41mais ou menos
14:42quatro ou cinco jogadores
14:44que tinham sido
14:45seleção brasileira de base
14:47e que estavam jogando
14:48a segunda do estadual
14:49e que depois sumiam,
14:51não vi mais,
14:52e você vê,
14:53tinham sido seleção
14:54brasileira de base,
14:55então a gente perde
14:56muito talento
14:57por conta disso,
14:58decisões erradas,
14:59às vezes,
15:00quer sair do clube
15:00porque não tem espaço,
15:02vai para o outro clube
15:02e acaba não tendo espaço
15:03e acaba entrando
15:04nessa bola de neve,
15:06tomando muitas decisões
15:07equivocadas
15:08e acabam se perdendo
15:10no caminho,
15:11então é difícil,
15:12mas é um trabalho
15:13que é fundamental,
15:14que eu acho que os treinadores
15:15desenvolvem bem
15:17no Brasil,
15:18tentam desenvolver,
15:20que acaba sendo
15:20pouco valorizado,
15:21porque o holofote
15:22está sempre muito
15:23no futebol profissional,
15:24a gente acaba falando
15:25pouco do futebol de base,
15:26de como é,
15:27como deveria ser
15:28e tudo mais.
15:29A gente falou muito
15:30o nome da geração
15:31de 92,
15:32Casemiro,
15:33Lucas,
15:33falando do Tietê,
15:37você enfrentou o Neymar
15:38nesse período também,
15:39que ele é dessa geração.
15:40Enfrentei,
15:41enfrentei o Neymar,
15:42estava começando,
15:43o Neymar,
15:44ele era sub-15,
15:45jogava no 17 já,
15:48enfrentei algumas vezes,
15:50mas quem me deu
15:52mais trabalho
15:53nesse time do Santos
15:54foi o Alan Patrick,
15:56porque o Alan é 9-1,
15:57é um ano mais velho só
15:58e o Alan me complicou
16:01em muitos jogos,
16:02o Neymar já estava
16:05despontando e tudo mais,
16:06mas quem me deu
16:06mais trabalho
16:07foi o Alan,
16:08enfrentei o Alan
16:09depois no Inter,
16:10continuou me dando trabalho,
16:12é um jogador
16:13que eu tenho
16:13uma admiração muito grande,
16:14muito bom jogador,
16:15mas enfrentei o Neymar,
16:17o Neymar
16:17teve uma passagem rápida,
16:20porque no 15 já jogava
16:21no 17,
16:21no 17 já jogava no 20,
16:23depois já estrenou
16:23no profissional,
16:25um outro jogador
16:27que até a gente falando
16:28disso de talentos
16:29e tudo mais,
16:30que é um pouquinho
16:31mais velho,
16:32mas que era um fenômeno
16:33na base,
16:34no profissional
16:34não conseguiu atingir
16:35o nível que se esperava
16:36era o Lulinha,
16:37o Lulinha,
16:39nessa época o Lulinha
16:40jogava o Sub-15
16:41às 9 da manhã,
16:43eram dois tempos de 30,
16:45às 10 e 15 ele jogava
16:46o do 17,
16:47fazia dois jogos seguidos,
16:49e não sei se eu estou
16:51lembrando,
16:51mas ele conseguia ser
16:52artilheiro do 15
16:53e talvez artilheiro do 17,
16:55e criou uma expectativa
16:56muito grande,
16:57quando ele subiu
16:58profissional,
16:59mas eu acho que é o ano
17:00que o Corinthians cai,
17:01e aí depois não sei
17:03se por conta disso,
17:04porque a gente fala
17:05das decisões,
17:06momentos e tudo,
17:07acabou não atingindo
17:08o nível que se esperava.
17:10Quando você fala
17:11de base,
17:11eu converso muito
17:12com um amigo
17:13e ele me conta
17:13uma história
17:14que tem um jogador
17:15da base do Flamengo,
17:17não vem aqui o nome,
17:18ele era terceiro
17:19reserva,
17:21e aí o time
17:22titular viaja
17:23para uma excursão,
17:24leva o titular
17:25e o reserva imediato,
17:27e ele fica
17:28e joga de titular,
17:28e aí o time
17:30chega a final,
17:31quando chega a final,
17:33o time titular
17:33voltou da viagem,
17:35ele achava
17:36que ia ser titular,
17:37mas não foi,
17:38ele voltou
17:38para o time original,
17:39e aí o menino
17:40pede para sair do clube,
17:42vai embora
17:42e não consegue
17:43se firmar
17:44mais em lugar nenhum,
17:45aí falam que
17:45quatro, cinco meses
17:46depois,
17:47o titular sai vendido,
17:50o reserva se machuca
17:51e ele ia jogar,
17:52por causa
17:52de uma decisão
17:53errada,
17:54o menino hoje
17:54não está em lugar nenhum.
17:56Então é basicamente
17:57essa história
17:58que a gente vê acontecer,
17:59você deve ter visto
18:00acontecer muito
18:01na sua carreira.
18:03E aí falando
18:04do Aldax Rio,
18:05quando a gente
18:05vem para o Aldax Rio,
18:07você deve ter tido
18:08uma trajetória
18:08com o Bruno Guimarães,
18:09com esses nomes,
18:10como é que foi
18:11essa sua passagem
18:12também por lá?
18:13Foi bacana,
18:14era meu primeiro
18:15trabalho profissional,
18:16vindo para uma cidade
18:17que eu não conhecia,
18:18eu sou de São Paulo,
18:19apesar de muita gente
18:21acha que eu sou do Rio,
18:22porque eu acabei pegando,
18:23morei muitos anos aqui,
18:23fiquei com sotaque,
18:25todo mundo me pergunta,
18:26mas foi assim,
18:29uma experiência
18:29muito bacana,
18:30eu peguei,
18:32o Bruno estava na base
18:33na verdade ainda,
18:34o Bruno era mais novo,
18:35acho que estava no 17,
18:37e acho que logo depois
18:38ele acaba saindo,
18:38o Vitinho também
18:39estava na base,
18:41e logo depois
18:42ele acaba saindo.
18:43dessa equipe
18:45que a gente jogou
18:46a segunda e subiu,
18:48tem alguns nomes conhecidos,
18:49um que estava
18:51era o Elton Rato,
18:52que já estava no São Paulo,
18:53foi para o Vitória,
18:54agora foi para o Goiás,
18:55jogava nessa equipe
18:56já com um pouquinho
18:57de idade o Léo Inácio,
18:59o Léo Inácio
18:59era o capitão
19:00e o Dez,
19:01o Dez e Paz,
19:02era o Nélio,
19:05estava nessa equipe,
19:06o Nélio foi destaque
19:07do Flamengo
19:08e tudo mais,
19:10o Yuri,
19:10que passou pelo Botafogo,
19:12então assim,
19:13tinham esses jogadores,
19:16e a gente,
19:17não sei como que está agora,
19:18mas nessa época,
19:19a segunda divisão,
19:21era muito jogo,
19:22acho que em seis meses
19:24a gente jogou
19:24uns 40 jogos,
19:26porque era ida e volta
19:27na primeira fase,
19:28depois grupo
19:28na segunda fase,
19:29ida e volta,
19:30e era a montinha final,
19:33subia pontos corridos,
19:34a gente subiu junto
19:35com o Kissamã
19:35em 2012,
19:38e foi assim,
19:39um aprendizado enorme,
19:41joguei praticamente
19:43em todos os campos
19:44do Rio aí
19:44que vocês falaram
19:45e eu joguei,
19:46todas as cidades,
19:48foi muito bacana,
19:49depois no ano seguinte
19:50a gente jogou a primeira,
19:53fizemos um bom campeonato,
19:55a gente terminou
19:56em quinto ou sexto lugar,
19:58ganhamos do Flamengo
20:00Moça Bonita,
20:022x1,
20:03se eu não me engano,
20:05um gol do André Castro,
20:07a gente está jogando
20:08no Bangu hoje,
20:09mas passou por muitos times aí,
20:12não lembro quem foi
20:13o segundo gol,
20:14mas a gente fez
20:15uma campanha muito boa,
20:16e no final desse ano,
20:18os dois clubes
20:19que pertenciam
20:20ao grupo Pão de Açúcar
20:21foram vendidos,
20:22por uma questão
20:24que não tinha nada a ver
20:25com os clubes,
20:26o Abílio,
20:26que era
20:27o dono,
20:29acabou passando
20:30o comando
20:31do Pão de Açúcar
20:32para o Casino,
20:33que era um grupo
20:33francês e tudo mais,
20:35e aí na negociação
20:36os clubes
20:37acabaram sendo vendidos,
20:39tanto é que
20:39era um projeto
20:40que revelou
20:41muitos jogadores,
20:41acabei de falar,
20:42vários,
20:43Bruno Guimarães,
20:43Vitinho,
20:44mas a gente não falou
20:45do Paulinho,
20:46jogou no Tottenham,
20:47Barcelona,
20:48o Paulinho saiu
20:48desse projeto também,
20:50assim como muitos outros,
20:51era um projeto
20:52super estruturado,
20:53super vitorioso,
20:55e depois acabou
20:56caindo no ostracismo,
20:58enfim,
20:58acabou,
20:59ainda os clubes
21:00existem até hoje,
21:01mas não tem nada a ver
21:02mais com esse projeto
21:03inicial,
21:04então os clubes
21:05foram vendidos,
21:07e aí eu saio,
21:08o Thiago Escuro,
21:09que era que estava
21:09na frente,
21:10foi para o Red Bull Brasil,
21:12que não era o Bragantino,
21:13era outro projeto
21:14da Red Bull,
21:15e aí me fez o convite,
21:16aí eu fui
21:16para o Red Bull Brasil,
21:18então estava morando
21:18no Rio,
21:19mas voltei a trabalhar
21:19em São Paulo,
21:21e com um objetivo
21:22parecido,
21:23era um clube que estava
21:24na Série A2,
21:25que é a segunda divisão
21:26lá já há alguns anos,
21:27e a ideia era
21:28a gente subir,
21:29então em 2014,
21:32a gente joga
21:33a segunda de São Paulo
21:34e sobe,
21:36e aí eu joguei
21:37três,
21:38acho que foram
21:39três campeonatos
21:40paulistas da primeira,
21:41junto com o Red Bull Brasil,
21:43levei alguns jogadores
21:45que estavam aqui
21:46no Audace,
21:47tinham jogado a primeira
21:47o Andrade,
21:48jogou no Vasco,
21:49Fabiano Heller,
21:50estava aqui,
21:51eles foram para lá,
21:53enfim,
21:53foi também um período
21:55muito bacana,
21:55de muito aprendizado.
21:57E aí,
21:58você acha que foi
21:59a virada ali
22:00de chave
22:01da tua carreira,
22:02essa aí,
22:02do Esportivo Brasil,
22:03você acha que ali
22:04começou,
22:05aí você não parou mais?
22:07para o Red Bull Brasil,
22:10né?
22:10Isso,
22:10Red Bull Brasil,
22:11desculpa.
22:12Eu acho que ali
22:13foi uma,
22:14vamos dizer assim,
22:14uma consolidação
22:16como um treinador
22:17profissional,
22:17porque a primeira
22:19experiência tinha sido
22:20no Aldac,
22:20só como treinador
22:21profissional,
22:22ali quase dois anos,
22:24e aí quando eu vou
22:24para o Red Bull Brasil,
22:25que passo três anos
22:26ali como treinador
22:27profissional,
22:28ali eu acho que
22:29consolidou,
22:30olha,
22:30treinador profissional,
22:32então assim,
22:33não volta mais
22:33para a base,
22:34não que não tivesse
22:34desejo ou que tivesse
22:36qualquer bloqueio meu
22:37em relação a isso,
22:38mas acho que acabou
22:39consolidando ali,
22:41e aí foi isso,
22:42a gente,
22:43para mim,
22:44como treinador,
22:44foi uma experiência
22:45incrível,
22:45porque jogar o Campeonato
22:46Paulista estava todo
22:47ano jogando contra
22:48Santos,
22:48Palmeiras,
22:49Corinthians,
22:50enfim,
22:51São Paulo,
22:52então acabou me
22:53consolidando como
22:55treinador profissional.
22:56E aí tem um convite
22:57para o Flamengo,
22:58é nesse período?
22:59É um pouco depois,
23:01eu saio do Red Bull Brasil
23:03em 2000,
23:04final de 2016,
23:06ali novembro,
23:07dezembro,
23:09aí eu tive uma passagem
23:10rápida pelo Guarani,
23:11acho que deu uns
23:12dois meses,
23:13e aí eu vou
23:14para o Desportivo Brasil,
23:16que aí o Bruno Oro
23:17estava à frente
23:17do Desportivo Brasil,
23:19o Desportivo
23:20é um clube
23:21que começou
23:22como um projeto
23:23da Trafic,
23:24antiga,
23:25era um clube
23:26muito focado
23:27em revelar jogadores,
23:29ainda é,
23:29tem diversos jogadores
23:31aí de seleção brasileira
23:32que passaram
23:33pelo Desportivo Brasil,
23:34revela muito
23:36o jogador sempre,
23:38o próprio Matheus Sávio
23:40que estava no Flamengo
23:40que saiu do Desportivo Brasil,
23:41o Ederson que estava
23:43na Itália agora,
23:44aí de seleção brasileira
23:44que saiu do Desportivo Brasil,
23:45o Gustavo Scarpa
23:46que saiu do Desportivo Brasil,
23:48o Léo Duarte,
23:49que depois eu coloquei
23:50para jogar no Flamengo,
23:51tinha saído do Desportivo Brasil,
23:52vários jogadores,
23:53então era um clube
23:54muito focado
23:54em revelar a Taínto,
23:55mas quando eu chego,
23:56era um clube que já tinha
23:57sido comprado
23:58pelo Xandão da China,
24:00nessa época de expansão,
24:01do futebol na China
24:02e tudo mais,
24:03então aí eu chego
24:06para o Desportivo
24:07para tentar fazer um trabalho
24:08de médio e longo prazo,
24:09mas eu fico seis meses,
24:11e aí no final do ano
24:12eu tenho o convite
24:13do Flamengo
24:14para ser auxiliar da casa,
24:16então final de 2017,
24:17início de 2018,
24:19tenho uma conversa
24:20com o Rodrigo Caetano,
24:21e aí o Rodrigo,
24:24não só ele,
24:24claro,
24:25mas ele principalmente
24:26me faz o convite
24:27para vir como auxiliar
24:29da casa
24:29no início de 2018,
24:32e aí, enfim,
24:33a história já é um pouco
24:33mais conhecida,
24:35e aí sim,
24:36eu acho que o trabalho
24:36no Flamengo
24:37é o trabalho
24:38definitivo,
24:40eu começo como auxiliar,
24:43depois treinador interino,
24:44depois sou efetivado,
24:45ali eu acho que realmente
24:46foi o trabalho
24:47que marcou a minha carreira
24:48e falou,
24:49daqui,
24:49agora você é treinador
24:52de times grandes
24:54e tudo mais.
24:55Tu teve esse período
24:56como auxiliar interino,
24:58mas como é que é
24:59um cara como tu,
25:01uma carreira ainda iniciante,
25:03sair de um clube pequeno
25:05para virar treinador
25:06do clube de maior torcida
25:08e de maior exigência
25:09dos torcedores do país,
25:11como é que é essa transição?
25:14Olha,
25:15é uma transição grande,
25:17uma transição grande,
25:18eu acho que
25:19a ideia inicial
25:21não era que isso
25:22acontecesse tão rápido,
25:23até quando eu fui
25:26vir para o clube,
25:27a conversa que a gente teve
25:28é de que era um trabalho
25:30de médio e longo prazo,
25:31a ideia era que eu fosse
25:32auxiliar do clube
25:33durante um bom tempo,
25:34justamente
25:35para eu conseguir
25:36entender tudo,
25:37essa dimensão
25:38e me adaptando
25:39e tudo mais,
25:40o Flamengo sempre
25:40tem essa cobrança
25:43que é proporcional
25:44ao tamanho do clube,
25:45normal, natural,
25:46então essa era a ideia,
25:48quando eu chego
25:49era o Rueda
25:49indo treinador,
25:50na verdade,
25:52só que eu tenho,
25:53sei lá,
25:53uma semana de clube
25:54e o Rueda
25:55não volta,
25:56e aí o Carpegiani
25:57que tinha sido contratado
25:58como coordenador técnico,
25:59que era um líder
26:00do clube e tudo mais,
26:01assume como treinador,
26:02e aí nessa época
26:06tinha eu,
26:07era auxiliar,
26:08mais o Jaime,
26:09era o eu e o Jaime,
26:10os dois da casa,
26:11mais o Rodrigo,
26:12filho do Carpegiani,
26:13que estava junto
26:14com o Carpegiani,
26:15e aí começa o campeonato
26:16carioca,
26:17começa bem,
26:18vai campeão
26:19da Taça Guanabara,
26:21só que na Taça Rio
26:22o clube é eliminado
26:24pelo Botafogo,
26:26e aí não faz as finais,
26:30o clube desliga
26:30o Carpegiani,
26:32e aí tem uma reformulação
26:33grande,
26:34até com a própria saída
26:35do Rodrigo,
26:36o Rodrigo e o Caetano
26:37acabam saindo,
26:38sai o Jaime também,
26:40sai o Carpegiani,
26:40sai o Rodrigo,
26:42e o clube me procura,
26:44me pede para ir treinando
26:45a equipe,
26:46tinha um hiato
26:47de duas semanas
26:48até começar
26:48o campeonato brasileiro,
26:50e falou,
26:51olha,
26:51a gente vai buscar
26:52um treinador,
26:53a gente quer que você
26:53vá treinando e tal,
26:55e aí foi aproveitar
26:57a oportunidade,
26:58eu lembro que
26:59já estava dentro
27:00do clube,
27:01eu lembro que
27:01eu reuni os jogadores
27:03numa sala de reuniões
27:05que a gente tinha ali,
27:07peguei alguns jogos
27:08do Campeonato Carioca,
27:11e sentei com eles
27:12e falei,
27:12olha,
27:13o que eu estou vendo
27:14é isso aqui,
27:15isso aqui,
27:15nós estamos pecando
27:16nisso aqui,
27:17isso aqui a gente
27:18está deixando de fazer bem,
27:19a gente tem que
27:20atacar esses problemas aqui,
27:22e a recepção
27:23foi super positiva,
27:24não só por conta
27:28do que eu acho
27:28que acertei no conteúdo,
27:29mas porque tinha,
27:31além de grandes jogadores
27:32e seres humanos
27:32fantásticos,
27:33então o Juan
27:34estava,
27:35Diego Ribas,
27:37entendeu,
27:38que são líderes natos,
27:40Diego Alves,
27:41Hever,
27:41então acho que
27:42os líderes do elenco
27:43ajudaram muito
27:44nesse processo,
27:45a gente começou
27:46a focar naquelas coisas
27:47que a gente tinha
27:48que ajustar
27:48durante os treinamentos,
27:50o Campeonato Brasileiro
27:51a gente começa
27:52dando uma oscilada ali,
27:53empata, ganha e tal,
27:55tanto é que tem
27:56aquela fatídica
27:57invasão do aeroporto
27:58e tal,
27:59aquela confusão toda
28:00antes da gente
28:00ir para o jogo do Ceará,
28:02e aí eu já falei
28:03isso em outras oportunidades
28:04também ali,
28:05foi um jogo de virada
28:06de chave,
28:08porque foi o jogo
28:09que eu acabo mudando
28:11um pouquinho
28:11o Paquetá
28:12e o Everton Ribeiro,
28:13né,
28:14o Everton tinha
28:15chego da Arábia,
28:16um pouco antes
28:17até da minha chegada,
28:18e o Everton ainda
28:19não tinha encontrado
28:20aquele futebol,
28:21que tinha marcado
28:23ele no Cruzeiro,
28:24né,
28:24eu acho que talvez
28:25por conta do ritmo,
28:27no mundo árabe ser outro
28:28e tudo mais,
28:29e estava usando ele
28:30um pouquinho mais
28:30por dentro,
28:31no meio,
28:32às vezes jogava ele,
28:33às vezes jogava o Diego,
28:34enfim,
28:35estava nessa adaptação,
28:37e o Paquetá,
28:38no ano anterior,
28:39tinha entrado muitas vezes
28:39como atacante,
28:41até como centroavante,
28:43estavam colocando ele,
28:44né,
28:45e a gente,
28:46tanto é que nos primeiros jogos
28:47ele estava,
28:48eu estava botando ele
28:49ainda de ponta,
28:50estava ainda ajustando,
28:51e aí nesse jogo do Ceará,
28:53a gente faz essa mudança,
28:54eu trago o Paquetá
28:55para jogar no que é a posição
28:57dele mesmo,
28:57de meia,
28:58segundo volante ali,
28:59e coloco o Everton
29:00para fazer um meia extremo,
29:03que já era um pouquinho
29:03que ele fazia no Cruzeiro,
29:05e super encaixou no jogo,
29:07tanto é que a gente ganha
29:083x0 do Ceará,
29:10o Diego faz o gol,
29:11vai abraçar a torcida,
29:12essa imagem está aí
29:13até hoje,
29:13e ali,
29:15a partir dali,
29:17a gente faz
29:18um primeiro turno
29:19fantástico,
29:20classifica na Libertadores,
29:22fazia 12 anos
29:23que não passava de fase,
29:24e tal,
29:24todas as coisas.
29:25Fecha em primeiro,
29:26não é?
29:27O segundo,
29:28o Flamengo.
29:28O primeiro turno?
29:29Não,
29:29fecha bem primeiro,
29:31naquele momento
29:32tinha sido
29:33o melhor primeiro turno
29:35da história do clube
29:36nos pontos corridos,
29:38naquele momento,
29:38é que depois do ano seguinte,
29:40veio o Jorge Jesus,
29:41e tudo mais,
29:41mas naquele ano
29:44tinha sido o melhor
29:44primeiro turno,
29:45a gente termina líder,
29:477 pontos na frente,
29:49e aí eu sou efetivado,
29:50estava tudo tudo certo,
29:52aí eu sou efetivado
29:53como treinador,
29:54e tenho a parada,
29:55para a Copa América,
29:58se não me engano.
29:58E você ainda perde,
30:00você ainda perde
30:02o jogador
30:02que jogava na ponta direita ali,
30:04que você ainda não falou,
30:04que você perdeu ali.
30:08Que você perdeu o jogador
30:09nesse período de parada,
30:11é que ele vai embora.
30:12Exato,
30:12que aí foi o outro ponto
30:14de mudança ali,
30:14que foi a entrada
30:15do Vinícius na equipe,
30:16o Vinícius
30:17entrava,
30:19saía,
30:19até com o próprio Carpegiano,
30:21começava no banco,
30:21mas já tinha decidido
30:22alguns jogos,
30:23tem um jogo muito emblemático
30:24contra o Emelec,
30:25no Equador,
30:26da Libertadores,
30:27que a equipe está perdendo
30:28de 1 a 0,
30:29o Vinícius entra,
30:31ou ele faz dois gols,
30:32ou ele faz um gol
30:32e uma assistência,
30:34e aí o que acontece,
30:35nessa mudança que eu falei
30:36que teve da saída do Rodrigo,
30:38tudo o Everton Cardoso,
30:39que era o titular,
30:41vamos dizer assim,
30:41sai,
30:42vai para o São Paulo,
30:44e aí precisava de alguém
30:44para jogar daquele lado esquerdo,
30:46e aí põe o Vinícius
30:49e encaixa,
30:50ele está arrebentando
30:50nesse primeiro turno,
30:52só que ele já estava vendido
30:53ao Real Madrid,
30:55e aí na verdade
30:56o que o clube tentou
30:57era ver se podia estender
30:58a permanência dele,
30:59porque não tinha muita
31:00expectativa dele chegar
31:02e já ir para o profissional,
31:03para a equipe principal
31:04do Real Madrid,
31:05então o clube ainda tentou
31:07manter ele aqui
31:07mais seis meses,
31:09mas não foi possível,
31:11e fez muita falta,
31:12não porque a gente
31:15não tivesse outros
31:16grandes jogadores,
31:17mas é que o Vinícius
31:17estava num momento
31:18especial,
31:20é um jogador especial,
31:21já demonstrou isso
31:22nos últimos anos,
31:23e encaixou muito,
31:25falando do ponto de vista
31:26tático,
31:26com o que era
31:27aquela equipe,
31:28porque o que aconteceu,
31:29o Vinícius era um jogador
31:30nesse momento,
31:32jogador muito de banda,
31:34de campo,
31:35de jogar bem extremo,
31:36bem aberto na linha,
31:39e jogava o René,
31:40que hoje está no Fluminense,
31:41e o René é um lateral
31:42que não é um lateral
31:43tão ofensivo de passar,
31:46então isso dava liberdade
31:47para o Diego aproximar muito
31:49e o René vir mais por dentro,
31:51então aquele encaixe
31:52estava muito redondinho,
31:54e depois,
31:55com os outros jogadores
31:56que a gente tinha,
31:57eram jogadores que
31:58entraram na equipe,
32:00mas que tinham o hábito
32:00de vir um pouco mais
32:01para dentro,
32:02que era o caso do Vitinho,
32:04do Marlos Moreno,
32:05eram jogadores que não
32:06seguravam tanto a posição,
32:08e quando eles faziam
32:10esse movimento de vir
32:11mais para dentro do campo,
32:12já não tinha passagem
32:13do lateral,
32:14porque não era
32:14a característica do René,
32:16o Diego já era um jogador
32:17que também o gol,
32:18então a equipe acabou
32:19ficando um pouquinho
32:20desajustada,
32:23vamos dizer assim.
32:25Em relação a isso,
32:26e até eu tinha visto
32:27no roteiro do meu colega aqui,
32:29como é que é
32:30para o treinador
32:31quando ele chega,
32:31tem um time montado,
32:34já tem uma ideia,
32:34tem o Vinícius
32:36que joga de extremo,
32:37vou montar o time
32:39dessa maneira,
32:40aí do nada
32:40o jogador é vendido,
32:42ou então
32:42sofre uma lesão,
32:44fica muito tempo
32:45sem poder jogar,
32:46como é que é
32:46para o treinador
32:46se adaptar a isso?
32:48Tem uma ideia de jogo,
32:49está dando tudo certinho,
32:50aí não consegue,
32:51aí chama lá o diretor,
32:53precisamos repor,
32:54mas a gente sabe
32:54que não é assim
32:55para repor,
32:56e muito mais
32:57quando o jogador
32:58é um extra clássico,
32:59como é que fica
32:59o trabalho do treinador
33:00nesse meio?
33:02Olha,
33:03é um desafio,
33:04porque muitas vezes
33:08a mudança,
33:09como eu te falei,
33:10é um sistema,
33:11acabei de dar um exemplo
33:12para vocês
33:12de que aquele lado esquerdo
33:13estava encaixado,
33:15e aí muitas vezes
33:15para você achar
33:16um ajuste
33:17com outra peça,
33:18você tem que mexer
33:19em coisas
33:19que estavam funcionando,
33:21e aí em determinado momento
33:23algum jogador
33:24vai ter que passar
33:25a não fazer uma função
33:27que ele não faça,
33:28mas vai se exigir
33:28dele algumas coisas
33:29que ele não está
33:30habituado a se entregar,
33:31então isso mexe
33:32com o funcionamento
33:33da equipe,
33:33em alguns momentos
33:35você tem jogadores
33:36parecidos no elenco
33:37com características
33:38parecidas,
33:39você troca uma peça
33:39por outra,
33:41nunca é a mesma coisa,
33:42mas o ajuste
33:42é mais tranquilo,
33:44vamos dizer assim,
33:45agora em muitos momentos
33:46são características
33:47diferentes,
33:49e aí isso envolve
33:50uma mudança
33:50de funcionamento
33:51da equipe,
33:53pô,
33:53não dá para fazer?
33:54Dá para fazer,
33:55mas aí você precisa
33:56de tempo,
33:57você precisa
33:57que o outro jogador
33:59entenda que agora
34:00também você vai pedir
34:00outras coisas para ele,
34:02precisa ver o quanto
34:02ele está disposto
34:03a fazer,
34:04porque cada jogador
34:05também está preocupado
34:06com o seu rendimento,
34:08não só com a equipe,
34:09mas o que ele está
34:10apresentando,
34:11ele tem o contrato,
34:12ele tem uma série
34:13de coisas,
34:15pode acontecer
34:16que você tem que,
34:17por conta da saída
34:17de um jogador,
34:18ter que trocar mais
34:19dois ou três,
34:20porque o funcionamento
34:20da equipe agora mudou,
34:22então se jogava mais
34:22por fora,
34:23tem que jogar um pouquinho
34:24mais por dentro,
34:25então se você tinha
34:26um lateral que não passava,
34:27agora você já precisa
34:28de um outro que passa mais,
34:29se o clube tem condição
34:31de contratar,
34:33ok,
34:33precisa ver se você consegue
34:35ir no mercado,
34:36achar a peça
34:37com a característica
34:37que você precisa,
34:39se não tem condição,
34:40como é que você vai mudar,
34:41se você vai mudar o sistema,
34:43eu costumo dizer,
34:44solução tem,
34:46e tem mais de uma solução
34:47para cada problema,
34:48eu acho que a sabedoria
34:50está justamente
34:51em encontrar a solução
34:52que melhor se adequa
34:53àquele problema,
34:55dentro do contexto
34:57ou da realidade
34:57que você tem,
34:58então é uma série
34:59de fatores
35:00que influenciam nisso,
35:02e que a gente tem que
35:03buscar a solução,
35:05procurar ajustar,
35:06eu acho que o maior desafio
35:08é a falta de paciência
35:10e de tempo,
35:11que a gente tem,
35:12a gente está sempre buscando
35:13o resultado para ontem,
35:15acho que todo treinador
35:16sabe que futebol é resultado,
35:18a gente sabe disso,
35:19tem que entregar,
35:20mas muitas vezes
35:21não dá para você
35:22desconectar isso
35:23da realidade,
35:24do contexto
35:24que você está vivendo.
35:26Você já teve algum dirigente
35:27que entendeu isso?
35:29Essa tua perda,
35:31às vezes,
35:31ou de chegar
35:32com o elenco em formação,
35:34já teve algum dirigente
35:35que sentou com você
35:36e falou,
35:37cara, eu entendo
35:37o que está acontecendo,
35:38porque você perdeu
35:39essa peça,
35:39estava encaixado,
35:40você já encontrou
35:41algum dirigente desse
35:42na tua carreira?
35:43Mas publicamente
35:44sempre só vai para o treinador.
35:46É, eu acho
35:47vou até dizer assim,
35:50trabalhei com muitos
35:51dirigentes bons,
35:54de excelente nível,
35:56eu acho que a maioria
35:57entende,
35:58mas eu acho que
35:58no final do dia
36:00a maioria
36:00é refém do resultado
36:02como somos nós.
36:03Eles vão,
36:04a pressão na verdade
36:05vai sobre eles primeiro
36:06e depois vem descendo.
36:08Então,
36:09eu acho que
36:10no final das contas
36:12o maior desafio
36:13está em conseguir
36:13encontrar
36:14algum dirigente
36:16que ou suporte
36:17essa pressão
36:17para conseguir sustentar
36:19o trabalho do treinador
36:20ou que tenha autonomia,
36:22porque muitas vezes
36:23não tem autonomia,
36:24quando eu estou dizendo
36:24de dirigente,
36:25estou falando de diretor esportivo,
36:26por exemplo.
36:27Então,
36:27tem muito diretor esportivo
36:28que não tem autonomia
36:30para segurar o treinador.
36:31O presidente vai e fala,
36:32manda embora,
36:33ele tem que mandar embora,
36:34ele é funcionário,
36:35é um desafio
36:36que eles também
36:37como diretor esportivo
36:38tem também.
36:39e é complicado.
36:40Eu acho que
36:41eu tenho sentido falta
36:44em alguns trabalhos recentes
36:48de conseguir ter
36:49essa comunicação franca
36:51com o presidente do clube,
36:53porque eu acho
36:53que isso seria fundamental.
36:55Eu acho que
36:56se o treinador consegue
36:57sentar com o presidente
36:58e mostrar para o presidente,
37:00que é no final
37:01quem toma a decisão,
37:02que eu sei também
37:03que tem pressão política,
37:04eleição e tudo mais,
37:05talvez a coisa
37:06flua melhor.
37:08E não é passar por cima
37:09do diretor,
37:10mas o diretor
37:11tem a sua maneira
37:12de conversar com o presidente,
37:13tem a sua maneira
37:14de levar.
37:14Eu acho que
37:15não quero de maneira
37:16nenhuma excluir
37:17essa função,
37:18mas são muitas raras
37:20as oportunidades
37:22em que a gente tem
37:22de sentar na mesa todos.
37:24E aí o presidente
37:25poder falar para você,
37:26o que está me incomodando
37:27é isso.
37:28E eu poder explicar,
37:29tudo bem,
37:29está te incomodando
37:30isso por conta disso,
37:31disso, disso,
37:31estou trabalhando
37:31nessa direção,
37:33estou pensando nessa solução,
37:34preciso dessas condições,
37:36se você não vai me oferecer,
37:37preciso buscar
37:38outra solução.
37:39Eu acho que
37:39esse diálogo aberto
37:41acaba faltando
37:43e aí a pressão
37:45do resultado
37:46vem de cima
37:47para baixo
37:48e acontece
37:50o que acontece.
37:50você tem uma...
37:53vai para o...
37:54não sei se é diretamente
37:55do Flamengo
37:55para o Bragantino,
37:56mas eu acho que
37:57é um processo
37:58em que você tem
38:00essa possibilidade
38:01de troca
38:01para montar ali
38:02a ideia do projeto
38:04do Red Bull Bragantino.
38:06E aí,
38:07para a gente
38:08tocar essa passagem
38:09Red Bull Bragantino,
38:11depois vem o Vasco Saf,
38:13como é que foi
38:14até chegar ao Vasco?
38:16É,
38:17só assim,
38:18retomando
38:18essa meada aí,
38:19eu saio do Flamengo
38:21e depois
38:22o trabalho seguinte
38:23é no Goiás
38:23e é um trabalho
38:26que eu consigo
38:26participar da montagem
38:28do elenco,
38:28a gente
38:29fez um estadual
38:31muito bom,
38:3270 e tantos por cento
38:33de aproveitamento.
38:34do Beto Aula?
38:35Não,
38:36não,
38:36era o time anterior,
38:38mas a gente
38:39perdeu a final
38:39do estadual,
38:40enfim,
38:41aí foi desligado,
38:42depois eu tenho
38:42uma passagem rápida
38:43pelo América
38:44e pelo CSA.
38:48E aí,
38:48depois vem o convite
38:49do Red Bull Bragantino,
38:51isso em 2020,
38:53né?
38:54Em 2019
38:54é quando
38:56o Red Bull
38:57compra o Bragantino,
38:58faz a compra
38:58do Bragantino,
38:59disputa a Série B,
39:00campeão,
39:01absoluto,
39:01tudo,
39:02era o Zago,
39:03o treinador,
39:04e aí na virada
39:05do ano,
39:06não sei qual razão
39:07o Zago sai,
39:08tá?
39:08Eles desligam,
39:09e aí entra outro
39:10treinador,
39:11lá no Bragantino,
39:12faz o Campeonato
39:12Paulista,
39:14mas começa mal
39:14o brasileiro,
39:16daí acho que
39:16por questões
39:17internas deles lá,
39:18o time não estava
39:19indo bem,
39:19estava na zona
39:20do rebaixamento,
39:21resolveram trocar,
39:22e aí de novo
39:23era o Thiago Escuro,
39:24essa parceria
39:25que a gente teve
39:26de muito tempo,
39:27e ele me faz
39:28o convite
39:29para ir para o Red Bull
39:30Bragantino,
39:31e é isso,
39:33eu chego,
39:34já era o ano
39:35de pandemia,
39:36foi quando estourou
39:36a pandemia,
39:38mas eu chego,
39:38o time estava
39:39na zona
39:39do rebaixamento,
39:40acho que eu chego
39:41na oitava
39:41ou na décima rodada,
39:44e era um elenco
39:45que tinha sido
39:46campeão da Série B,
39:47mas que estava
39:48nesse processo
39:48de transição,
39:49entre o que é
39:50uma realidade
39:51Série B
39:51e o que é
39:51uma realidade
39:52Série A,
39:53com algumas mudanças
39:55acontecendo ali,
39:56algumas chegadas
39:57de jogadores,
39:57mas aquela base
39:58de Série B ainda,
39:59mas um clube
40:01super organizado,
40:03e aí tudo isso
40:04que a gente falou
40:05de tempo para trabalhar,
40:06de consciência,
40:07de proximidade
40:08com direção esportiva,
40:10foi o clube onde
40:11eu encontrei mais,
40:12de a gente poder sentar,
40:13de poder entender
40:14o momento,
40:15de poder ser claro
40:16sobre a expectativa,
40:17então assim,
40:18olha,
40:19aquela equipe
40:20demorou para engrenar,
40:21terminou esse campeonato
40:22muito bem,
40:24terminou em décimo,
40:25mas no segundo turno
40:26com aproveitamento
40:27de G4,
40:27ganhando praticamente todos,
40:31mas em muitos momentos
40:33difíceis,
40:34porque demorou
40:34para engrenar,
40:35para ajustar,
40:36sempre conseguiu existir
40:38um diálogo muito franco
40:39com a direção
40:39de chegar assim,
40:40olha,
40:40o que nós esperamos
40:41de você é isso aqui,
40:42a equipe tem que
40:43apresentar isso aqui,
40:45nós queremos que seja
40:46uma equipe agressiva,
40:47que seja uma equipe intensa,
40:48que seja uma equipe
40:49pressionante,
40:49é isso que nós queremos,
40:50o resultado a gente sabe
40:51que vai vir com o tempo,
40:54então isso para o treinador,
40:55é fenomenal,
40:56porque você consegue
40:57focar no trabalho,
40:59entender que o resultado
41:00vai chegar,
41:01mas que vai demorar um tempo,
41:02não sabe quando vai chegar,
41:04fácil não é,
41:05porque toda vez
41:07que o resultado não vem,
41:10isso gera uma quebra
41:12de confiança entre todos
41:13dentro do vestiário,
41:15entre os jogadores,
41:16entre o treinador,
41:17entre a própria direção,
41:18será que nós estamos
41:19no caminho certo?
41:20De novo,
41:21o resultado não veio,
41:22será que nós não temos
41:22que mudar?
41:23Então esse é um pensamento
41:24que percorre sempre o vestiário
41:26numa sequência ruim
41:28de resultados,
41:29de qualquer equipe,
41:30né,
41:31o próprio treinador
41:32começa a ter muitas,
41:34sempre tem muitas dúvidas,
41:35né,
41:35mas consegue,
41:36começa a questionar muito
41:37o caminho,
41:39a certeza,
41:39que é um processo natural,
41:40tem que ser feito,
41:41os jogadores,
41:42a direção e todo mundo,
41:44então quando você tem claro
41:45o que é que se espera de você,
41:46isso ajuda muito,
41:48e aí eu consegui encontrar
41:49isso no Red Bull,
41:51tanto é que depois,
41:51quando vira o turno,
41:53a gente já está
41:53numa situação de melhora
41:54e começa,
41:55e vai embora,
41:56e ganha,
41:56ganha,
41:57ganha,
41:57ganha,
41:57ganha,
41:58tem o aproveitamento de 4,
41:59termina em décimo,
42:01o Claudinho,
42:02que estava no banco
42:03quando eu chego,
42:04vira um dos melhores
42:05jogadores do campeonato,
42:06o artilheiro,
42:0718 gols,
42:08voando,
42:09o Arthur bem,
42:10enfim,
42:11Léo Ortiz estava,
42:13o Fabrício Bruno,
42:15que hoje está no Cruzeiro,
42:16mas esteve muito bem
42:17no Flamengo,
42:18quando eu chego
42:18no Red Bull,
42:19o Fabrício não jogava,
42:21a opinião de muita gente
42:24era de que ele não ia mais conseguir,
42:26porque logo que eu cheguei,
42:27fazia 2, 3 jogos,
42:28ele tinha cometido alguns erros
42:29que eles consideravam graves
42:31e tudo mais,
42:32então existia uma desconfiança
42:33muito grande sobre o jogador,
42:35e aos pouquinhos
42:36o Fabrício foi entrando,
42:37foi crescendo,
42:38foi dando conta do recado,
42:39virou um jogador,
42:40pô,
42:41que é aí,
42:42até chegou a ser cotado
42:43para a seleção,
42:44tempo atrás,
42:44tudo mais,
42:45então assim,
42:47foi um crescimento grande,
42:48de todos os jogadores,
42:49por conta disso,
42:50de ter clareza do que quer,
42:51de ter tempo para trabalhar,
42:52de ter condição,
42:54e aí depois,
42:56seguimos.
42:57A gente passa muito
42:58pelo que a gente
42:59via falando,
43:00que você pegou um time
43:01que tinha uma base,
43:03você pegou um time
43:05que você pôde trabalhar
43:06com o tempo,
43:07mas aí você chega
43:08numa safra
43:08que estava contratando
43:09um time inteiro,
43:10na verdade,
43:11um elenco inteiro,
43:13só que aí a realidade
43:14e a projeção
43:16eram bem diferentes,
43:17fala um pouquinho
43:18dessa passagem
43:18pelo Vasco,
43:19essa SAF chegando,
43:21que acho que as pessoas
43:22esperavam muito,
43:23porque foi prometido muito,
43:24agora a gente vai
43:25fretar o Flamengo
43:26de igual para igual,
43:27e não era isso
43:28na realidade,
43:29né?
43:30Não era,
43:30é,
43:31eu acho assim,
43:32era um projeto
43:34de saída
43:35muito ambicioso,
43:37né?
43:37Assim,
43:38eu acho que tinha tudo
43:38para ser um projeto
43:39grandioso,
43:41eu acho que,
43:42como você citou bem,
43:43se prometeu muita coisa,
43:46mas não foi a realidade
43:48do que foi entregue
43:49ao clube,
43:49do que foi apresentado,
43:51e isso gerou
43:52uma expectativa
43:53que era muito
43:54desconectada
43:56da realidade,
43:57né?
43:57E quando você enfrenta
43:59um cenário desse
43:59em que a expectativa
44:00e a realidade
44:01não casam,
44:02é frustração,
44:02não tem jeito,
44:04vai ter frustração,
44:06e aí a frustração
44:07é aquilo,
44:08cobrança desproporcional,
44:09o resultado para ontem
44:10vai ganhando
44:11uma bola de neve,
44:12né?
44:12O clima fica insustentável,
44:14não é só para o treinador,
44:15para o clube todo
44:16do dia a dia,
44:17né?
44:18Porque o torcedor,
44:19a imprensa,
44:20que cobre,
44:20está todo mundo esperando
44:21algo que você não vai
44:22ser capaz de entregar,
44:24e você começa também
44:25a se cobrar nesse nível
44:27e vira uma tensão
44:27muito grande.
44:29Então,
44:30eu acho que
44:30era um projeto
44:32de reformulação
44:33muito grande,
44:34porque o Vasco
44:35tinha conseguido
44:36o acesso da Série B
44:37com muita dificuldade,
44:39tem que se dar crédito
44:39a quem conseguiu
44:40o Jorginho,
44:40o treinador,
44:42acho que fez um grande trabalho
44:42para conseguir aquele acesso,
44:45mas foi com muita dificuldade,
44:47eu lembro que
44:47quando eu cheguei
44:47no clube,
44:48uma das coisas
44:49que me contaram
44:49foi que o Vasco
44:51jogou o fatídico
44:52contra o Etoano,
44:53os dois brigando,
44:54para ver quem subia,
44:55ganhou o jogo,
44:56subiu,
44:57e todo mundo
44:58sendo vaiado,
44:59quer dizer,
45:00tinha conquistado o objetivo,
45:01mas sendo vaiado,
45:02para ver o tamanho
45:03da pressão que já era,
45:04né?
45:05Então,
45:06assim,
45:06e você vê,
45:07como subiu no limite,
45:09você imagina,
45:09a gente acabou de falar
45:10do Bragantino,
45:11que subiu,
45:13vamos dizer assim,
45:13com o pé nas costas
45:14da Série B
45:14e teve dificuldade
45:15na Série A,
45:16imagina o clube,
45:17com todo esse contexto,
45:18já tem muito mais dificuldade,
45:21e aí o tamanho
45:22da reformulação
45:23que era necessária
45:24não foi o tamanho
45:25da reformulação
45:25que foi feita,
45:26foi feita uma reformulação
45:27sim grande,
45:29de uma janela
45:30que contratou bastante,
45:31gastou dinheiro
45:32e tudo mais,
45:33mas não foi necessária,
45:35e na verdade,
45:36eu não conheço
45:37nenhum exemplo,
45:39se vocês souberem,
45:40podem,
45:40de um clube que resolve
45:41sem nome nenhuma janela,
45:43você não resolve
45:44uma questão
45:45de montar um elenco
45:46em nenhuma janela,
45:48você precisa de três,
45:49quatro janelas,
45:50cinco janelas,
45:51porque por mais que você
45:52seja assertivo,
45:54sempre tem,
45:55vamos dizer assim,
45:55uma porcentagem
45:56que você não acerta,
45:58e às vezes não é porque
45:59você não pesquisou,
46:00porque você não se informou,
46:01que tem jogador
46:01que não se adapta,
46:02tem jogador que não consegue
46:05render naquele clube
46:06que estava rendendo
46:06no clube anterior,
46:07e você tem que corrigir
46:08na segunda janela,
46:09corrigir na outra,
46:10corrigir,
46:11então olha,
46:12desde a minha saída
46:12do Vasco de 23 para cá,
46:14nós já estamos em 25,
46:15quantas janelas já passaram,
46:17né?
46:17E não acertou,
46:18ainda não acertou,
46:19em função da expectativa,
46:22da grandeza do clube
46:23que se espera do clube,
46:23então passaram muitas janelas,
46:25então acho que isso foi
46:26um pouquinho o que pesou
46:29e o que aconteceu,
46:30lógico,
46:30tem decisões que talvez
46:31eu pudesse tomar diferente
46:33como em qualquer área da vida,
46:34né?
46:36Mas eu acho que isso
46:37foi um fator,
46:38vamos dizer assim,
46:38principal,
46:40né?
46:41Isso que tu está falando,
46:42só fazer um parênteses,
46:43o Edu Gaspar,
46:44na época que ele era
46:44coordenador da seleção brasileira,
46:47um dia ele deu
46:48uma palestra na CBF
46:49e ele comentou que,
46:51pô,
46:51se eu vejo um planejamento
46:52de um clube que saiu
46:54da Série B
46:55e diz que o plano
46:56no ano seguinte
46:57ia ser campeão,
46:58está errado,
46:58ele falou,
46:59está errado,
47:00não tem gol,
47:01isso que tu está falando,
47:02nunca vi numa janela
47:03resolver os problemas,
47:05ele citou,
47:05pô,
47:05se o planejamento é
47:06vou subir esse ano
47:07e ser campeão
47:08para ver o ano que vem,
47:08está errado,
47:09alguma coisa não está
47:10casando bem aí.
47:11Sim,
47:11exatamente,
47:12é,
47:14o futebol
47:15tem essa particularidade,
47:17assim,
47:17é de que,
47:18acho que as zebras existem
47:20em todos os esportes,
47:21né?
47:21Mas no futebol
47:21tem uma frequência
47:22muito maior, né?
47:24Tem um livro
47:24que chama Sóquerem Nomes,
47:26que é mais ou menos,
47:27aquele livro
47:29que fizeram
47:30em relação ao beisebol,
47:31do moneyball,
47:32das estatísticas
47:33e tudo mais,
47:33fizeram o Soccer Nome,
47:34né?
47:35Que seria
47:36um similar
47:36com o futebol,
47:37né?
47:38Mas, enfim,
47:38independente do livro,
47:39uma das coisas
47:40que ele fala lá,
47:41num estudo muito longo,
47:42ele fala assim,
47:43olha,
47:44é,
47:45o favorito,
47:46o favorito
47:47no futebol
47:48tem 56%
47:50de chance
47:51de ganhar um júnior,
47:52ou seja,
47:53ele tem um pouquinho
47:53mais
47:54do que a metade,
47:55é um pouquinho mais
47:56do que o cara coroa,
47:57é um estudo
47:58com diversas lisas
47:59e diversos clubes,
48:00então,
48:01se você jogar o cara coroa
48:02entendendo que ao longo
48:03do tempo vai dar metade
48:04dos resultados,
48:05né?
48:05Que estatisticamente
48:06é o que se diz,
48:07no futebol,
48:08o favorito
48:09tem um pouquinho mais
48:10de chance
48:11do que um cara coroa,
48:12ou seja,
48:13é um esporte
48:13aonde,
48:15vamos dizer assim,
48:15não vou dizer sorte
48:16ou azar,
48:16mas onde o acaso
48:17tem uma prevalência
48:18muito grande, né?
48:20Então,
48:20você imagina
48:21nesse cenário,
48:22é,
48:23por isso que
48:24o processo,
48:25ou estabelecer
48:27processos de médio
48:28e longo prazo
48:28é fundamental,
48:29você só consiga,
48:31só consegue minimizar
48:32essa incidência
48:34do acaso
48:34com um planejamento
48:35bem feito
48:36de longo prazo,
48:37então,
48:37o que você falou,
48:38pô,
48:38se eu subir esse ano,
48:39ano que vem,
48:40primeira meta,
48:41não cair,
48:42não tá um elenco
48:42competitivo,
48:43tentar me estabelecer
48:45ali no meio
48:46da tabela,
48:47na outra janela
48:48eu consigo ver
48:48o que deu certo,
48:49o que não funcionou,
48:50o que eu preciso ajustar,
48:51e aí vou de novo,
48:53né,
48:53eu acho que estabelecendo
48:55um pará,
48:55é igual pegar aquele aluno
48:56que reprovou,
48:58sei lá,
48:59num ano,
48:59e no ano seguinte,
49:01pô,
49:01agora eu vou passar
49:01só tirando 10,
49:02pô,
49:03no primeiro,
49:03atinge a média,
49:04né,
49:05se você conseguir mais,
49:06ótimo,
49:07vamos ver quais são
49:07as suas dificuldades,
49:08vamos ver onde você tá
49:09errando no estudo,
49:10vamos ver o que você tá
49:10fazendo,
49:11e vai,
49:12porque não tem,
49:13não tem milagre,
49:14e aí,
49:15isso é algo que
49:16eu acho que
49:18falta,
49:19acho que não só no Brasil,
49:20mas de uma maneira geral,
49:22é,
49:23você encontrar clubes
49:24que tenham essa clareza,
49:26né,
49:26de um processo,
49:27de um plano
49:28de desenvolvimento
49:29do clube no médio e longo prazo,
49:31que consigam sustentar isso,
49:33a gente consegue ver isso
49:34mais lá fora,
49:35e aí tem exemplos
49:36de treinadores
49:37super vitoriosos,
49:38um exemplo é o Klopp,
49:39quanto tempo demorou
49:40pra ganhar o livro,
49:42e depois saiu
49:43como talvez o maior
49:44treinador da história do livro,
49:45mas quantos anos
49:46demorou,
49:47o próprio Fergusson
49:48no Master,
49:49o próprio Guardiola
49:50no Master City,
49:52que já não é
49:52um trabalho do zero,
49:54já era um trabalho
49:54de muitas janelas,
49:56mas no primeiro ano
49:57não venceu.
49:58Obrigado,
49:59excelente.
50:00Eu que agradeço.
50:00Obrigado demais.
50:01Obrigadão.
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