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Transcrição
00:00A história da Torre de Babel é um dos episódios mais estranhos do Antigo Testamento.
00:04Muitas pessoas imaginam que Deus destruiu a torre.
00:07Mas será que foi isso mesmo que aconteceu?
00:10Às vezes nossa compreensão desse evento pode ser influenciada por suposições ou leituras superficiais.
00:15Mas quando analisamos os detalhes do texto bíblico, percebemos que há algo muito maior por trás dessa história.
00:21A confusão das línguas e a dispersão dos povos não foram apenas um castigo divino, mas um marco na história da humanidade.
00:27Por isso, neste vídeo, vamos analisar melhor a história da Torre de Babel à luz do que está revelado na Palavra de Deus.
00:34Após o dilúvio registrado em Gênesis capítulo 6 a 9, Deus abençoou Noé e seus filhos com a missão de repovoar a terra.
00:42A ordem divina era clara, sede fecundos, multiplicai-vos e enchei a terra.
00:47O plano do Criador era que a humanidade se espalhasse e dominasse todas as regiões da terra como seus representantes.
00:54Essa orientação repetia a mesma ordem dada a Adão e Eva, mas agora em um novo recomeço da civilização humana.
01:01O relato bíblico diz que toda a terra tinha uma só linguagem e um só modo de falar.
01:06À medida que os povos migraram do Oriente, encontraram uma planície na terra de Sinar e ali decidiram se estabelecer.
01:12Essa escolha de permanecer unidos em um só lugar já era uma transgressão direta à ordem de Deus.
01:17Mas além disso, os habitantes disseram uns aos outros, vamos edificar para nós uma cidade e uma torre cujo topo alcance os céus.
01:26Assim faremos um nome para nós e não seremos espalhados pela face da terra.
01:31Esse versículo é a chave para entender o pecado de Babel.
01:34Ali estão presentes quatro objetivos claros.
01:37Construir uma cidade, que representa segurança e centralização.
01:41Erigir uma torre que alcançasse os céus, símbolo máximo da altivez humana.
01:45Tornar célebre o próprio nome, desejo pela glória e reconhecimento.
01:50E evitar a dispersão, uma desobediência direta ao mandamento de Deus.
01:55Esses objetivos se agrupam em pares.
01:57A cidade era para evitar a dispersão.
02:00A torre para alcançar a glória.
02:02A cidade e a torre são, na verdade, expressões externas de um coração orgulhoso e rebelde.
02:08O primeiro pecado aqui é o amor ao louvor humano, o desejo de fazer um nome para si.
02:13Esse impulso está ainda hoje em todos nós, ainda que se manifeste de maneiras diferentes.
02:19Queremos ser aprovados, reconhecidos, celebrados.
02:22Queremos que as pessoas pensem bem de nós.
02:24A cidade de Babel nada mais era do que um reflexo disso.
02:28O segundo pecado é a busca por autonomia e segurança fora de Deus.
02:32Eles queriam murar sua cidade e permanecer ali, seguros e fortes, sem precisar confiar nas promessas de Deus.
02:39Ou seja, mesmo após o dilúvio, com toda a sua gravidade e julgamento, o coração humano continuou corrompido.
02:46A história de Babel mostra que o ser humano, deixado por si mesmo, retorna aos mesmos caminhos de arrogância e rebelião.
02:53Então a figura central nesse projeto parece ser Nimrod, descrito em Gênesis como o primeiro guerreiro valente da Terra
02:59e poderoso caçador diante do Senhor.
03:02Ele foi responsável pela fundação de várias cidades, incluindo Babel, Ereque, Acade, Calné, além de Nínive e outras cidades na Síria.
03:11A genealogia em Gênesis 10 dá destaque a ele por ser o primeiro homem a constituir um império após o dilúvio.
03:17A expressão poderoso caçador diante do Senhor pode ser entendida negativamente, como alguém que se impôs contra a vontade de Deus.
03:25Ele foi o primeiro a construir reinos e cidades após o dilúvio, retomando o padrão iniciado por Caim antes do dilúvio, que fundou Enoque.
03:32Assim, Babel se apresenta como herdeira da cidade de Caim, um centro urbano de autossuficiência que ignorava a orientação do Senhor e exaltava a força humana.
03:42Para o projeto de Nimrod, os construtores usaram tijolos cozidos em verde pedra e betume, uma substância pegajosa semelhante ao asfalto, no lugar da argamassa.
03:52Essa técnica era comum nas edificações mesopotâmicas, especialmente nos chamados zigurates, que eram enormes torres-templo, construídas em degraus com rampas e escadarias que levavam até um santuário no topo.
04:05Embora não se possa afirmar com certeza, é possível que a torre de Babel seguisse esse modelo arquitetônico.
04:11Falando em nomes, o nome Babel é carregado de significado.
04:15Etimologicamente, deriva do acádio Bab e Lu, que significa portão de Deus.
04:20Porém, o texto bíblico faz um trocadilho com o verbo hebraico Balau, confundir, dizendo,
04:24Por isso foi chamada Babel, porque ali o Senhor confundiu a língua de toda a terra.
04:29Essa ambiguidade no nome é intencional e poderosa.
04:33Aquilo que os homens queriam que fosse o portão para o céu, Deus iria transformar em confusão.
04:38A Bíblia diz que o Senhor desceu para ver a cidade e a torre que os homens estavam construindo.
04:43Perceba que essa expressão é carregada de ironia.
04:46Deus é onisciente, ele não precisa literalmente descer para enxergar algo.
04:50A linguagem aqui é figurativa e busca transmitir o desprezo divino.
04:55A torre que os homens imaginavam tocar os céus era tão insignificante que Deus precisou descer para enxergar.
05:01Essa ironia bíblica mostra que, diante do Criador, todo esforço humano para se exaltar é minúsculo.
05:07Deus zomba do orgulho dos homens e deixa claro que a tentativa de alcançar a glória e a autonomia sem ele está fadada ao fracasso.
05:14E diz o Senhor, vejam, todos se uniram e falam a mesma língua.
05:18Se isto é o começo do que fazem, nada do que se propuserem a fazer daqui em diante lhe será impossível.
05:24Esse trecho é riquíssimo em significados.
05:27A declaração divina mostra uma preocupação com os rumos da humanidade.
05:31A união em si não era o problema, mas sim a união para desafiar os desígnios divinos, centralizar poder e se exaltar.
05:38Ao dizer nada lhe será impossível, Deus está destacando o potencial humano desgovernado, ou seja,
05:43a humanidade unida contra Deus pode se tornar perigosa para si mesma.
05:47Diante da rebelião, Deus intervém de forma estratégica e eficaz.
05:52Ele não destrói fisicamente a torre, como muitos imaginam, mas age na base do projeto, a linguagem.
05:58Venham, vamos descer e confundi-los com línguas diferentes, para que não consigam mais entender uns aos outros.
06:04Ao confundir as línguas, ele quebra a comunicação e inviabiliza a continuidade da construção.
06:11Mas o ponto mais fascinante está na forma plural usada por Deus.
06:14Venham, vamos descer e confundi-los.
06:17Esse uso do plural ecoa diretamente o que já vimos em Gênesis capítulo 1 e verso 26.
06:22Façamos o homem a nossa imagem.
06:24É mais um vislumbre da trindade agindo em unidade mesmo no Antigo Testamento.
06:29Embora o conceito de trindade, pai, filho e Espírito Santo seja mais claramente revelado no Novo Testamento,
06:35há diversos momentos no Antigo Testamento em que a pluralidade interna de Deus se manifesta.
06:40Esse é um deles.
06:41Aqui vemos o próprio Deus se referindo a si mesmo de forma plural, apontando para a comunhão entre as pessoas da trindade,
06:48agindo de forma conjunta em juízo, da mesma forma que agiram juntas na criação.
06:52Sua ação não foi impulsiva, mas corretiva.
06:55Ao confundir as línguas, Deus frustrou o projeto e forçou os homens a se dispessarem pela terra,
07:00cumprindo assim, ainda que por outro caminho, o seu propósito original.
07:05Talvez aqui você esteja se perguntando, se em Gênesis 10 os povos já estão dispersos,
07:09por que em Gênesis 11 eles ainda estão todos juntos construindo a Torre de Babel?
07:14Essa dúvida é super comum e a resposta está na maneira como o livro de Gênesis é organizado.
07:19O capítulo 10 apresenta um panorama geral da dispersão dos povos após o dilúvio.
07:24É como se fosse uma grande fotografia do resultado final, mostrando várias nações, línguas e territórios diferentes.
07:31Mas aí, no capítulo 11, o autor dá um passo atrás e nos conta como isso tudo aconteceu.
07:36Ele nos leva até o momento exato em que a humanidade, unida por uma só língua,
07:41decidiu construir uma torre para alcançar os céus.
07:44Ou seja, Gênesis 11 não vem depois de Gênesis 10 em termos cronológicos,
07:48mas sim como explicação teológica para aquilo que já foi mostrado no capítulo anterior.
07:52Essa sequência nos ajuda a entender que a diversidade de povos e línguas não foi um acidente,
07:58nem um castigo qualquer.
07:59Foi uma ação direta de Deus.
08:01Ele interveio para frear o orgulho humano e redirecionar a humanidade segundo seus planos.
08:06Mesmo dispersando as pessoas, Deus não as abandonou.
08:09Ele estava ainda conduzindo a história para um propósito maior.
08:13Falando em dispersão dos povos pela terra, tem um detalhe curioso que muita gente não percebe.
08:17A Bíblia não revela exatamente onde ficava a Torre de Babel.
08:21Ela apenas menciona que sua construção aconteceu na terra de Siná,
08:25uma região que corresponde à antiga Mesopotâmia,
08:28entre os rios Tigre e Eufrates, no que hoje é o Iraque.
08:31Agora, quando a gente olha para fora da Bíblia, surgem algumas teorias bem interessantes.
08:35Algumas tradições judaicas e até muçulmanas associam a torre ao Templo de Nabu,
08:40que ficava cerca de 16 quilômetros ao sul da antiga Babilônia.
08:43Já outros estudiosos defendem que a verdadeira Torre de Babel foi o Etemenanque,
08:48um zigurate colossal construído em homenagem ao deus Marduk.
08:52Esse zigurate, inclusive, foi restaurado e ampliado pelo famoso rei Nabucodonosor II,
08:57aquele mesmo da história de Daniel.
08:59E o mais interessante, do ponto de vista arqueológico,
09:02essas torres, os zigurates, não eram simples construções.
09:06Eles tinham um significado profundamente religioso.
09:08Eram vistas como verdadeiras conexões entre o céu e a terra.
09:12Ou seja, exatamente o tipo de coisa que os construtores de Babel estavam tentando fazer.
09:18Mas além de não sabermos exatamente onde ficava a Torre de Babel,
09:21o texto bíblico também não revela qual era a língua original da humanidade.
09:26Essa informação simplesmente não é mencionada.
09:28Alguns estudiosos já sugeriram que poderia ter sido o hebraico antigo
09:32ou até mesmo uma forma de protossemítico,
09:35um idioma ancestral das línguas do Oriente Médio.
09:37Mas essa é uma questão em aberto.
09:39Porque quando a gente olha para os registros arqueológicos e linguísticos,
09:43fica claro que o hebraico não foi a primeira língua do mundo.
09:46Ele é, na verdade, uma ramificação mais recente dentro da família das línguas semíticas.
09:51O hebraico, como conhecemos, evoluiu de idiomas mais antigos,
09:55como cananeu e outras variantes semíticas que já eram faladas
09:58muito antes de Israel existir como nação.
10:01Ou seja, a ideia de que o hebraico seria a língua do Éden,
10:04ou idioma original da humanidade, não encontra apoio nem na Bíblia, nem na história.
10:09A história de Babel é uma alerta atemporal contra a autossuficiência humana
10:13e a tentativa de alcançar glória e segurança fora da vontade de Deus.
10:17Babel simboliza o esforço de construir uma civilização sem um Criador,
10:21um mundo onde o nome dos homens é exaltado em vez do nome de Deus.
10:26É interessante perceber que o Novo Testamento apresenta um evento
10:29que reverte os efeitos de Babel, o Pentecostes.
10:32Ali o Espírito Santo capacita os discípulos a falarem em diferentes línguas,
10:36não para confundir, mas para unificar em Cristo.
10:39O que era de inspeção em Gênesis, torna-se missão e unidade no Evangelho.
10:43Sofonias capítulo 3 e verso 9 antecipa essa restauração.
10:47Naquele tempo, mudaria a linguagem dos povos para uma linguagem pura,
10:50para que todos invoquem o nome do Senhor.
10:53Portanto, a pergunta que a narrativa da Torre de Babel nos deixa é
10:56Estamos construindo nossa vida segundo os nossos próprios planos
11:00ou segundo o projeto de Deus?
11:02A resposta revela não apenas nosso presente,
11:04mas também o nosso destino eterno.