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Samuel Pessôa, economista e pesquisador associado do FGV Ibre, fala de abertura econômica e analisa os recuos do presidente norte-americano quanto às decisões de taxar a China.

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Transcrição
00:00Vamos tratar de dois temas que você tocou aqui também é importante.
00:03O primeiro é a questão da abertura econômica.
00:06Todos nós defendemos que o Brasil precisa abrir sua economia.
00:09O problema é que essa agenda tão importante para o país,
00:12ela parece impopular no momento de populismo e nacionalismo econômico.
00:18Então, como é que nós vamos fazer essa inserção do Brasil no mundo
00:22no momento que tem um sentido de refrear a abertura econômica
00:26e focar numa pauta mais protecionista e nacionalista?
00:29No resto do mundo.
00:30No resto do mundo.
00:30Exatamente.
00:31A gente ficou...
00:33Quando o mundo se abriu, nós continuamos fechados.
00:36E agora que a gente quer abrir, o mundo está fechado.
00:40Eu acho o seguinte, acho que o Trump perdeu.
00:45Ele fez uma guerra tarifária com a China, ele perdeu essa guerra.
00:49Ele achou que ele ia impor tarifas na China, tarifas muito altas.
00:53E como a China, nesse aspecto, depende mais dos Estados Unidos do que vice-versa,
00:57e tem boa literatura que mostra isso.
01:00Ou seja, numa guerra tarifária, a China perde muito mais do que os Estados Unidos,
01:04Trump achava que, dado isso, o Xi ia chamar para sentar com ele e negociar.
01:09Só que a China perde em termos de bem-estar.
01:15Perda de bem-estar é importante em democracia.
01:18Você tem uma eleição lá na frente, se o bem-estar estiver ruim, você perde a eleição.
01:23O Xi, a China, não é propriamente uma democracia.
01:25Então, o autocrata chinês, ele pode impor perdas grandes para a sua população.
01:31Ele tem muito mais poder de barganha.
01:33Ele simplesmente, mesmo sabendo que ele iria perder, ele não sentou para negociar com o Trump.
01:40E aí o Trump teve que ir para trás.
01:42Então, as alíquotas que vigorarão serão bem menores do que aquelas originais.
01:48As pessoas, tudo sugere que antes do...
01:53Foi 5 de abril, o dia da libertação.
01:56Antes daquele dia, as alíquotas médias americanas eram alguma coisa como 3%.
02:01A gente acha que o novo equilíbrio, depois de todo esse processo de negociação,
02:07as alíquotas médias americanas vão ser alguma coisa em torno de 12%, 13%.
02:12Então, é um aumento de alíquotas.
02:14Acho que isso veio para ficar, mesmo porque o Trump precisa de receita.
02:18E o imposto de importação é uma fonte de receita.
02:22Mas vai estabilizar aí.
02:23Então, eu acho que essa onda protecionista vai parar.
02:27E isso é tempo para a gente implementar a nossa reforma tributária.
02:35A minha avaliação é que, com a reforma tributária operando,
02:40o grande bloqueio que a gente tem para abrir a economia vai deixar de existir.
02:44Qual é o grande bloqueio que a gente tem para abrir a economia?
02:47É a indústria de transformação.
02:49A indústria de transformação tem muito medo da abertura.
02:53Por quê?
02:54Porque bens industriais são tradable.
02:56Eu posso comprar lá fora e produzir aqui dentro.
02:59Serviços estão mais protegidos naturalmente.
03:02Então, a indústria de transformação se esforça muito para impedir uma abertura maior da economia brasileira.
03:10Mas ela é a que mais sofre com a complexidade tributária.
03:14E, portanto, a indústria de transformação vai ser o setor que mais vai se favorecer com as novas regras tributárias.
03:21E eu imagino que, com as novas regras tributárias,
03:24a gente terá mais condição de convencer a indústria de transformação
03:28que chegou o momento dela se integrar no resto do mundo.
03:32Só para ver como a integração é importante, Luiz,
03:34o Brasil exporta avião e o Brasil não exporta carro.
03:40Por que a gente exporta avião e a gente não consegue exportar carro?
03:45Porque é o seguinte, avião, a gente produz alguns tipos de avião.
03:50A gente não produz todos os tipos de avião.
03:53E naqueles alguns tipos que nós produzimos, nós não produzimos tudo também.
03:59A gente não produz motor, a gente não produz uma série de equipamentos.
04:02A gente é responsável, em alguns modelos da aviação,
04:06em algumas das etapas produtivas de um avião.
04:10Por isso que o Embraer é top de linha.
04:12Ele é um avião tão bom quanto o melhor avião da categoria dele.
04:15E é por isso que a gente vende.
04:18Agora, o carro brasileiro não é tão bom quanto o melhor da categoria dele.
04:21Então, a gente... Por quê?
04:23Porque a Embraer está conectada com as cadeias globais de valor.
04:26Para cada R$ 100 de avião que a gente exporta,
04:30a gente compra de insumo R$ 50.
04:33Então, o que a gente adiciona para fazer um avião é metade.
04:38A gente não faz tudo.
04:39Ninguém faz tudo, né?
04:40A gente se especializa.
04:42E é por isso que a produtividade aumenta.
04:44Então, a gente tem que trazer a lógica Embraer
04:47para toda a indústria brasileira.
04:50E o jeito de fazer isso é ligando a nossa indústria com o resto do mundo.
04:54É com a abertura.
04:55E eu acho que talvez com a nova estrutura tributária
04:59a gente consiga convencer o setor
05:02a que ele entre nesse círculo virtuoso
05:04de integração com o resto do mundo e ganho de produtividade.
05:08Ou seja, o que você está dizendo é que
05:10esse freio de arrumação da reforma tributária
05:13vai preparar o Brasil para uma agenda de abertura
05:15e aí provavelmente vai encontrar um mundo
05:18que já esgotou a pauta nacionalista e protecionista
05:22e vai começar a ter alguma forma de acomodação
05:24num grau de abertura existente
05:27talvez não tão grande quanto no passado
05:29mas que ali abra uma janela de oportunidade
05:32para o Brasil se inserir nessas cadeiras populares.
05:34Exatamente, Luiz.
05:35Essa é uma leitura otimista
05:37de um momento de fato ruim que a gente passa nessa agenda.
05:41Bom, o segundo ponto
05:42você também tocou de extrema importância
05:45é rever programas sociais
05:47principalmente porque esse é hoje o maior
05:49sorvedor de dinheiro público como você bem colocou.
05:52Nós vamos ter que encarar uma próxima reforma da Previdência
05:54com certeza
05:56e além de tudo rever muitos desses benefícios.
06:01E uma coisa que sempre os especialistas
06:03na área de programas sociais
06:05inclusive como o Ricardo Peber mostra
06:07nós precisamos começar a criar as portas de saída
06:09dos programas.
06:10Como você vê a questão de uma futura reforma da Previdência
06:14rever benefícios e criar essa porta de saída
06:17para programas sociais?
06:19Então, vamos lá.
06:19Reforma da Previdência é demografia.
06:21Está nos jornais.
06:25Cada vez que sai uma pesquisa nova do IBGE
06:27a gente descobre que nós estamos envelhecendo
06:30mais rápido do que eles previam lá atrás.
06:34A gente está avançando rapidamente.
06:36Acho que a taxa de crescimento populacional brasileiro
06:39já é bem menor do que a americana.
06:41Ou seja, a gente está envelhecendo rapidamente.
06:45Mas não vai ter orçamento.
06:47E vai ter que fazer rápido essa reforma.
06:48Vai ter que fazer rápido.
06:49O próximo presidente terá que fazer
06:50independente de quem for.
06:52Então, isso é uma questão demográfica, quase aritmética.
06:55Quem quiser brigar com isso, que brigue.
06:57Tudo bem.
07:00A questão dos gastos sociais
07:04é exatamente aquilo que a gente começou a nossa conversa.
07:08Eu entendo que o Brasil é um país muito desigual
07:11e ainda relativamente pobre.
07:14E há uma demanda legítima
07:16de que a gente aumente a qualidade de vida
07:22das pessoas mais pobres
07:24e a política de valorização do salário mínimo
07:26é uma maneira de fazer isso.
07:27O problema é o seguinte.
07:29De 94 para cá,
07:30a gente mais do que dobrou o salário mínimo
07:33em termos reais.
07:35A gente já fez muito nessa direção.
07:37E o problema é que,
07:39simultaneamente, em todo esse período,
07:41a gente não conseguiu avançar
07:42na agenda de produtividade.
07:45A gente chegou no limite.
07:46Não tem mais espaço público.
07:49Se eu não mudar essa política,
07:51eu vou gerar uma crise fiscal
07:52que vai gerar um desemprego
07:54e vai ser pior para todo mundo.
07:57Então, a gente tem que dar uma pausa
07:59na política de valorização do salário mínimo
08:02e tentar melhorar também
08:05o orçamento público
08:07reduzindo os subsídios
08:10e todo o gasto tributário,
08:12que, como a gente discutiu,
08:13aumentou muito.
08:15Focalizar nos ganhos de produtividade
08:17para que nós possamos,
08:19em alguns anos,
08:20retomar a política de valorização do salário mínimo.
08:23Terceiro ponto
08:24é melhorar os programas sociais,
08:26principalmente Bolsa Família.
08:28Ora, o Bolsa Família,
08:29quando foi criado,
08:30era um programa muito eficiente.
08:33Eficiente quer dizer o seguinte,
08:34eu gastava um tanto
08:35e a pobreza caía muito.
08:38E o tanto era 0,5% do PIB.
08:43Ora, hoje o Bolsa Família
08:45gasta 1,6%.
08:47A gente mais do que triplicou, Luiz.
08:51Ora, eu vejo às vezes as pessoas
08:53muito felizes,
08:58porque os dados de pobreza caíram.
09:05Estão nas mínimas históricas.
09:07Eu confesso que eu não fico muito feliz.
09:09Por quê?
09:10Porque a queda foi muito pequena.
09:12Quando o Bolsa Família
09:14foi de 0 para 0,5%,
09:16houve uma queda expressiva da pobreza.
09:20E agora que eu mais do que tripliquei,
09:23a pobreza caiu pouco.
09:25Eu não vejo motivo para comemoração.
09:27Por causa disso.
09:29Há muitos sinais que o programa
09:31Bolsa Família tem muita ineficiência.
09:34A gente precisa melhorar.
09:36E aí, com esse orçamento muito ampliado,
09:39dá para a gente fazer um programa
09:41que cria a porta de saída.
09:43O que é um programa que cria a porta de saída?
09:45É um programa em que o benefício conviva bem
09:48com pessoas da família trabalhando.
09:52Porque hoje os critérios de elegibilidade,
09:55se o cara acha um emprego
09:58e a renda dele sobe um pouquinho,
10:00ele sai da faixa e o valor do benefício vai a zero.
10:05Essas descontinuidades em políticas públicas
10:08não são boas.
10:09Porque aí o cara acha um emprego
10:11e pede para assinarem a carteira
10:13para não perder o benefício.
10:15Agora, é importante o emprego formalizado,
10:19com carteira assinada.
10:20Esse é o emprego mais nobre.
10:22A pessoa fica mais tempo no trabalho.
10:24Ela adquire habilidades.
10:26Ela progride.
10:28Então, a gente tem que desenhar o Bolsa Família
10:31de forma a que a redução do benefício,
10:34conforme a pessoa vai ingressando no mercado de trabalho,
10:37ocorra de forma mais gradual.
10:39Se ele perdeu o emprego,
10:41há uma garantia em que o benefício é retomado mais rapidamente.
10:46E a gente precisa pensar em casar essa política
10:50com uma política de que,
10:52quando ele está empregado,
10:53mesmo no setor informal,
10:55você tem algum mecanismo de acumulação de poupança,
10:58tipo o fundo de garantia.
11:00E quando ele perde emprego,
11:01ele pode acessar aquela poupança.
11:03Tem boas propostas.
11:06Eu me lembro, há uns anos atrás,
11:07quando o senador Tasso Gereissat ainda estava na ativa da política,
11:11ele relatou um projeto de lei
11:13que se chamava Lei de Responsabilidade Social,
11:18que transformava o Bolsa Família
11:20num programa mais complexo como esse que eu estou discorrendo aqui,
11:24e que atendia a essas demandas.
11:26Como que eu faço um Bolsa Família
11:28que converse bem com o trabalhador informal
11:31e converse bem também com o início do trabalho formal.
11:37E não desestimule o trabalho.
11:39Pelo contrário, estimule o convívio da família
11:44com o benefício e o início do ingresso no mercado de trabalho formal
11:49das pessoas daquele domicílio.
11:52E tem saídas técnicas para isso.
11:55E agora que a gente, mais do que triplicou o orçamento,
11:57tem dinheiro.
11:58Agora, precisa ter...
12:00Aí falta um pouco de vontade política.
12:04Eu acho que o governo Lula 3 peca um pouquinho
12:08em não ter muito interesse
12:12pela qualidade técnica da política pública.
12:15Tem sempre um enfoque pela quantidade.
12:19Vão aumentar o orçamento, vão gastar mais.
12:22E pouca preocupação com o desenho,
12:24com os detalhes, com a eficácia.
12:26E aí o orçamento cresce e o desempenho não melhora.
12:30Então a gente triplica o programa
12:32e a taxa de pobreza caiu.
12:35Caiu muito menos do que seria razoável,
12:39dado que nós mais do que triplicamos o orçamento.

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