- anteontem
Talita Nascimento, pesquisadora do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, diz que um cadastro nacional de desaparecidos com mais detalhes ajudaria a encontrar pessoas
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NotíciasTranscrição
00:00Olá, você assinante da Cruzoé, bem-vindos a mais um Cruzoé Entrevistas.
00:12Eu sou Guim Mendes, repórter da casa, e continuando no esforço que a revista e o
00:16site Antagonista fazem para cobrir a grande epidemia de desaparecidos no Brasil, a gente
00:22vai conversar hoje com a pesquisadora do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, Thalita
00:27Sampaio. Thalita, obrigado por nos receber. Desculpa, Thalita Sampaio, não, desculpa,
00:32Thalita. Oi. Boa tarde, gente, tudo bem? Olá, Thalita. Thalita, para quem não conhece, é uma das
00:44pesquisadoras responsáveis pela área de desaparecimentos do Fórum de Segurança Pública, e foi uma das
00:50autoras do levantamento que a Cruzoé usa como base para suas matérias no Brasil, onde se revelou
01:01em maio desse ano que mais de 200 mil casos de desaparecimentos se mantêm ativos no Brasil.
01:07Isso significaria mais ou menos, acho que, três desaparecimentos por hora. Thalita, muito obrigado
01:14por receber, por no CCB. A primeira pergunta que a gente tem é, com base nesses 200 mil casos ativos
01:22que a gente tem no Brasil hoje, e com esse aumento no número que tem ocorrido nos últimos anos,
01:29que conclusões, em termos de segurança pública, que a gente pode ter sobre essa crise de desaparecimentos?
01:36Importante a gente destacar, quando a gente fala sobre desaparecimentos, é que o desaparecimento,
01:44ele não é um crime. Então, quando uma pessoa chega numa delegacia especializada em desaparecimento ou
01:50não, para fazer um registro de desaparecimento, não necessariamente aquilo vai dar início a uma
01:57investigação policial. É muito difícil você investigar alguma coisa que não constitui crime. Então,
02:03esse é o primeiro percalço que a gente encontra quando a gente está falando de desaparecimento.
02:08Inclusive, o desaparecimento forçado, que existem diversas resoluções internacionais,
02:14que inclusive pedem para o Brasil classificar o desaparecimento forçado enquanto um crime,
02:19mesmo nesse tipo de desaparecimento, ele não constitui o crime. A gente não tem os tipos de desaparecimento
02:25definidos na legislação. Então, até 2019, o desaparecimento na legislação brasileira,
02:32ele aparecia só no ECA. Então, o ECA tratava do desaparecimento de crianças e de adolescentes e,
02:38no máximo, ali, o desaparecimento dos responsáveis dessas crianças e desses adolescentes. Mas os outros
02:44desaparecimentos, eles não eram tratados. Em 2019, a gente tem a 13.812, né, que é a Política Nacional de
02:51Busca de Pessoas Aparecidas. Então, é a primeira vez que a gente vê o desaparecimento, a primeira vez que a gente
02:57vê o desaparecimento sendo definido, que até então a gente não tinha uma definição do que era uma pessoa
03:01desaparecida, e a gente tem aí algumas diretrizes sobre o desaparecimento, mas isso ainda continua muito
03:07incipiente. Então, além da gente não, né, do desaparecimento, ele não ser um crime, não necessariamente
03:13ele vai dar início a uma investigação. Ele vai dar início a uma investigação se ali no meio tiver algum
03:19indício, por exemplo, de outros crimes correlatos. Então, homicídio, um atrocínio, uma lesão seguida de morte.
03:26Então, se tiver algum outro crime relacionado à vida, ou se o desaparecimento for de criança, idoso, ou uma pessoa
03:34com questões de saúde mental, essa ocorrência, ela vai ser investigada. Se ela não tiver nenhum indício de
03:41crimes contra a vida, e se ela não tiver, e se ela não compuser um desses três grupos prioritários,
03:45dificilmente o desaparecimento, ele vai ser investigado, inclusive, nas delegacias especializadas em
03:51desaparecimento. Então, o desaparecimento, ele ainda continua sendo um tema muito nebuloso, tanto na
03:59legislação, quanto nas investigações policiais, a gente tem aí delegacias especializadas, mas isso não
04:04necessariamente significa que o desaparecimento ele vai ser investigado, porque só em São Paulo a gente tem um
04:09déficit aí de 30% de policiais civis, de acordo com o sindicato, a gente tem metade dos investigadores
04:15necessários, a demanda que o estado de São Paulo apresenta, então, e isso sem falar nos outros
04:22estados, né? Então, aqui tem uma delegacia especializada, mas em todos os estados tem
04:27delegacias especializadas, então, se a investigação já é difícil nessas delegacias, em outras, aí fica ainda
04:32mais, a questão fica ainda mais comprometida.
04:37A gente acabou de passar por dois longos anos de pandemia, né, que obviamente não foi o ano passado,
04:43mas ainda se havia um resquício ali, e mesmo durante esses anos de pandemia, que são anos
04:48onde, em tese, as pessoas circulavam menos nas ruas e deixavam menos as suas residências,
04:55ainda assim os números se mantiveram sólidos quando não cresceram o número de desaparecimentos.
05:02Há uma... essa crise de desaparecimentos, ela foi resistente a essa mudança de circulação
05:12causada pela pandemia?
05:14Então, 2020, 2021, aí a gente tem um período com isolamento social, né, então a gente tem
05:24lockdown em alguns meses, em outros meses a circulação voltava, depois a gente teve outros
05:29períodos de lockdown novamente, então o que a gente percebe é que os desaparecimentos,
05:33eles não necessariamente deixaram de ocorrer, mas as pessoas deixaram de ir à delegacia
05:37para comunicar o fato, embora em São Paulo, por exemplo, você consiga fazer o registro
05:44do desaparecimento via boletim de ocorrência online.
05:47A gente percebe que os números, eles abaixaram um pouco durante a pandemia, né, 2020, 2021,
05:53e agora em 2022 eles voltam à média que a gente observava antes desse período pandêmico.
06:00Mas isso não significa de forma alguma que as pessoas deixaram de desaparecer,
06:03que as coisas deixaram de acontecer, enfim, a gente percebe uma diminuição nesses números
06:08justamente porque as pessoas deixaram de ir às delegacias para fazer o registro.
06:13Mas quando a gente olha ali para a faixa etária dos 40, 49 anos, a gente vê que nesse período
06:17foi a única faixa etária em que os desaparecimentos aumentaram.
06:21Então, enquanto a gente tem uma redução aí em todas as faixas etárias no número de
06:24desaparecimentos, essa faixa etária em especial, ela aumentou.
06:27E uma das nossas hipóteses que a gente trabalha no mapa dos desaparecidos
06:32é justamente que foram pessoas afetadas economicamente pela pandemia.
06:36Então, pessoas que perderam seus empregos, perderam a sua única fonte de renda,
06:41não conseguiram mais pagar o aluguel e muito provavelmente viram nas ruas
06:44a sua única saída, tanto que a gente tem um recorde de desemprego, né,
06:48no período da pandemia.
06:49Quando a gente olha para essa questão, a gente tem um recorde de desemprego.
06:53Então, ao mesmo tempo que a gente vê esse movimento dos empregos aumentando,
06:57do número da população em situação de rua aumentando, a gente também vê essa
07:00faixa etária aumentar os registros de desaparecimento durante a pandemia.
07:05Mas a gente não trabalha de forma alguma com a hipótese de que os
07:08desaparecimentos diminuíram na pandemia.
07:11Os registros podem ter diminuído, porque as restrições de locomoção,
07:17elas estavam em vigor, mas as pessoas, enfim, continuaram desaparecendo,
07:20o que diminuiu foi o número de idas às delegacias.
07:24Mas agora, em 2022, que a gente vê um retorno à normalidade,
07:29a gente vê os números de desaparecidos, os números de registros de pessoas
07:33desaparecidas, voltando à média do que era antes de 2020, antes de 2021.
07:38Então, a gente volta aí com uma média de mais ou menos uns 200 desaparecimentos diários.
07:42Um caso que chamou muito a atenção quando da publicação do mapa dos desaparecidos de 2023
07:51foi o caso do Amapá, que houve aí um crescimento tão acima da média de desaparecimentos
08:00que vocês chegaram até a classificar como uma espécie de surto de desaparecimentos.
08:06Eu queria que você explicasse um pouco o que poderia ser esse surto,
08:10quais são as hipóteses que o mapa trabalha sobre o caso,
08:14e principalmente falasse um pouco por que é um caso tão específico,
08:19visto que, por exemplo, quando a gente pensa no Amapá,
08:22é um estado que não é ligado aos outros estados brasileiros,
08:25por exemplo, via terrestre, é um estado muito isolado, no caso.
08:29Eu queria que você explorasse um pouco desse caso,
08:32explicasse para a gente quais são as hipóteses que vocês trabalham.
08:37O Amapá chama a nossa atenção porque lá a variação 2020-2021
08:44de número de pessoas aparecidas foi de quase 80%.
08:48Então, quando a gente olha para essa variação,
08:51a gente fica um pouco estarecido porque é uma das maiores do país.
08:56O que chama a nossa atenção para essa variação do número de pessoas desaparecidas
09:03é as taxas de mortes decorrentes de intervenção policial
09:07e as mortes violentas e intencionais no Amapá.
09:10Então, a gente está falando aí de um estado com uma das maiores taxas
09:15de mortes violentas e intencionais,
09:16com taxas muito altas de mortes decorrentes de intervenção policial
09:19e taxas muito altas de desaparecidos.
09:23A gente tem que lembrar que o Amapá é uma região de fronteira
09:25e é uma região da Amazônia Legal.
09:28Então, ali você pode ter conflitos latifundiários,
09:34você pode ter conflitos em relação ao garimpo,
09:36você pode ter conflitos em relação ao desmatamento ilegal.
09:41Então, ali é uma região que, inclusive, nos desaparecimentos,
09:45pode ser que esses desaparecimentos não sejam só os voluntários.
09:48Então, a gente trabalha no mapa e também no anuário
09:54com três tipos de desaparecimento.
09:57Então, a gente trabalha com desaparecimento voluntário,
10:00que é onde a pessoa maior e capaz,
10:02ela rompe os laços familiares por livre e espontânea vontade,
10:05então ela decide desaparecer,
10:07ela decide romper os laços sem comunicar ninguém para onde ela vai.
10:10A gente tem um desaparecimento involuntário,
10:12onde uma pessoa, por exemplo, sofreu um acidente de carro,
10:15não consegue o contato com a família,
10:16e a família vai e faz um boletim de ocorrência de desaparecimento.
10:19Ou a pessoa foi vítima de um desastre natural,
10:23como aconteceu em Brumadinho, por exemplo.
10:25Ou uma criança na praia que se perdeu dos pais.
10:28Ou um idoso com questão de saúde mental que saiu de casa,
10:31não lembra o caminho de volta.
10:32Esses são os desaparecimentos involuntários.
10:34Onde a pessoa não necessariamente quis desaparecer,
10:37ela foi afetada por questões externas
10:39que culminaram no seu desaparecimento.
10:43E o desaparecimento forçado,
10:44que é aquele desaparecimento via sequestro,
10:48ou, por exemplo, uma vítima de feminicídio.
10:51O primeiro registro que se faz dela é o desaparecimento,
10:54e aí depois se descobre que ela foi vítima de feminicídio.
10:58Ou um feminicídio, um homicídio,
11:00ou desaparecimentos provocados por agentes estatais,
11:02também são desaparecimentos forçados.
11:04Então, é coerção, grave ameaça, enfim.
11:08Relaciona-se aí crimes atentados à vida.
11:12Então, quando a gente olha para a MAPA,
11:14a gente pode ter desaparecimentos voluntários,
11:17desaparecimentos involuntários, sim.
11:19Mas a nossa hipótese é que ali
11:22tenha um desaparecimento forçado
11:24de um jeito muito forte.
11:28Então, ali você pode ter grupos de extermínio,
11:29você pode ter chacinas,
11:31você pode ter desaparecimentos decorrentes
11:34de conflitos entre facções criminosas
11:36e também desaparecimentos decorrentes da ação estatal.
11:39Então, você pode ter, sim,
11:41esses dois tipos de desaparecimento,
11:43o involuntário e o voluntário.
11:44Mas a nossa hipótese é,
11:46olhando para todo o cenário,
11:47olhando para a questão da Amazônia Legal,
11:48olhando para as taxas de MVI,
11:50olhando para as taxas de MDIP,
11:51que ali tem alguma coisa muito esquisita acontecendo
11:54e que o Estado precisa dar,
11:56o governo precisa dar uma resposta
11:57sobre o que está rolando nos desaparecimentos ali.
11:59Porque se fosse uma questão isolada,
12:02longe das taxas de MVI,
12:04longe das taxas de MDIP,
12:06a gente podia até considerar outros fenômenos.
12:09Mas quando a gente olha para esse contexto em geral,
12:11a gente precisa levar em consideração
12:13que ali as taxas de letalidade policial são altas,
12:16as taxas de mortes violentas intencionais também são altas,
12:19essas coisas não são mera coincidência.
12:22Elas conversam entre si,
12:24até porque mortes a esclarecer na Amapá
12:26também têm um registro alto.
12:29Então, quando a gente junta todos esses fatores,
12:31a gente pode estar falando, sim,
12:32de grupos de extermínio, de chacinas
12:35e do envolvimento de agentes estatais
12:36nesses desaparecimentos.
12:39Certo.
12:40A gente tem falado já sobre,
12:42a gente falou um pouco sobre o alto número,
12:44como os números de desaparecimentos no Brasil todo,
12:47eles se mantiveram altos mesmo durante a pandemia.
12:49Mas eu queria tentar aqui agora fazer um aspecto histórico
12:53um pouco mais amplo.
12:54Eu queria entender se desde sempre,
12:57ou já há muitos, muitos anos,
12:59ou pelo menos há décadas,
13:00o Brasil sofre com o problema de crise de desaparecimentos.
13:03Como que esse número se comporta com o tempo?
13:07Ele teve algum momento de explosão,
13:08algum momento de crescimento?
13:09Ele sempre foi constante dentro da sociedade?
13:13O desaparecimento no Brasil começa a ser observado
13:18durante o período da ditadura.
13:20Então, aqui, os países da América Latina
13:22sofreram com um desaparecimento forçado,
13:24um desaparecimento político,
13:26enquanto política da segurança nacional.
13:31Então, a gente tem aí, durante o regime ditatorial,
13:33o desaparecimento sendo usado
13:34enquanto um instrumento político.
13:37Posteriormente, a gente tem,
13:39na década de 70, na década de 80,
13:41o movimento da sociedade civil,
13:43principalmente de mães com os filhos desaparecidos.
13:47Então, crianças desaparecidas.
13:49Ele ia até aos 12 anos, mais ou menos.
13:51Não se falava em adolescentes,
13:52se falava mais em crianças desaparecidas.
13:55Então, a gente tem um movimento da sociedade civil
13:57que lutava para que essa questão
13:59começasse a entrar em pauta na segurança pública,
14:03porque pouco se falava sobre o desaparecimento.
14:05Mas o desaparecimento de criança
14:07é uma coisa que gera mais comoção social,
14:11porque você está falando de tráfico de crianças,
14:13por exemplo.
14:14E crianças, enfim, elas não têm condições de se defender,
14:18é um público muito vulnerável.
14:20Então, você tem um movimento ali
14:23de mães da sociedade civil muito grande
14:25para que o Estado se responsabilizasse
14:29pelos seus filhos.
14:31Então, a gente tem uma novela da Glória Pérez,
14:33que ficou famosíssima,
14:35passou na Rede Globo, enfim,
14:38que isso até, ela foi atrás de mães
14:41que estavam atrás dos seus filhos,
14:43das suas crianças,
14:44e colocou isso na novela, enfim,
14:46isso gerou uma comoção nacional gigantesca.
14:48E aí você tem, com esse movimento
14:50da sociedade civil, no Paraná,
14:53o protocolo do CICRID,
14:54que é da Polícia Civil do Paraná,
14:55que é especializada na localização
14:57de crianças desaparecidas.
14:59Então, já ganharam prêmios internacionais.
15:02A investigação de crianças desaparecidas
15:04no Paraná com esse protocolo
15:05é muito bem feita.
15:07Então, você tem,
15:09em toda discussão sobre desaparecidos,
15:11você tem ali muitas informações
15:13e muitas estatísticas feitas
15:15sobre o desaparecimento de crianças.
15:18Embora, quando a gente olha
15:19para o perfil de pessoas desaparecidas,
15:22crianças não são tão atingidas.
15:24O que a gente viu,
15:26o que os dados mostraram para a gente,
15:28é que jovens de 12 a 17 anos
15:30são mais ou menos,
15:31são quase 30% dos desaparecidos totais.
15:34Então, quando a gente vê as estatísticas,
15:37a gente consegue perceber que,
15:39infelizmente, o desaparecimento de jovens
15:41ainda é muito negligenciado
15:43e as investigações são pouco efetivas
15:45em comparação às investigações de crianças.
15:48A investigação de desaparecimento de crianças
15:50gera uma maior comoção.
15:52As estatísticas produzidas,
15:54elas não são,
15:55a gente não tem uma série histórica
15:57muito longa sobre desaparecimento,
15:59porque, como eu disse,
16:00só em 2019 a gente tem uma definição
16:02sobre o que é desaparecimento.
16:04E desaparecimento não constitui crime,
16:05então é difícil para as delegacias
16:07mensurarem essa questão.
16:11A gente tem aí uma,
16:13nessa última edição do anuário,
16:14a gente faz uma linha do tempo 2017-2022
16:17sobre o desaparecimento de pessoas,
16:20e o que a gente percebe
16:20é que o número continua ali
16:22mais ou menos o mesmo.
16:23a gente tem uma média,
16:24quando a gente analisa 2017 até 2019,
16:27uma média de 200 pessoas desaparecidas,
16:29esse número cai em 2020-2021
16:31e ele volta à normalidade em 2022.
16:33Então, o número desaparecidos,
16:35fazer uma série histórica sobre desaparecidos,
16:37é difícil,
16:38porque era uma questão que não estava muito em pauta,
16:41continua ainda,
16:42não sendo muito destacada,
16:44embora ontem, no dia 30,
16:46o MJ tenha lançado alguns prospectos,
16:48justamente para o cumprimento da Lei nº 13.812,
16:52mas é difícil a gente fazer
16:53uma série histórica muito longa.
16:54A gente tem desaparecimentos políticos,
16:56desaparecimentos oriundos da ditadura,
16:59a gente tem desaparecimento de crianças e adolescentes,
17:01a gente tem o desaparecimento,
17:03enquanto um fenômeno,
17:04que ele é atingido por várias outras questões.
17:07O desaparecimento não é uma coisa isolada,
17:10não é uma questão só,
17:12é uma questão da segurança pública,
17:13mas não só da segurança pública.
17:15Você tem aí uma falta de diálogo
17:18entre os diferentes entes.
17:19Então, quando a gente está falando de desaparecimento,
17:21a gente não vê uma comunicação da segurança
17:24com a educação, com a saúde, por exemplo,
17:27mesmo que na 13.812 as escolas e os hospitais,
17:32eles sejam obrigados a reportar,
17:34quando, por exemplo,
17:35os hospitais sejam obrigados a reportar
17:37quando chega um corpo desconhecido,
17:39um corpo não identificado para as polícias,
17:41a gente ainda vê essa comunicação
17:43ainda muito difícil,
17:44porque é uma coisa muito recente na legislação,
17:47as polícias,
17:48mesmo em delegacias especializadas,
17:50cada uma trabalha de uma forma diferente,
17:52então, aqui em São Paulo trabalha de um jeito,
17:54no Rio de Janeiro trabalha em outro,
17:56em Manaus, no Amazonas,
17:58você trabalha de um jeito totalmente diferente,
17:59porque são questões geográficas,
18:03de mobilidade muito diferentes entre si,
18:05você não tem um protocolo operacional padrão
18:07para a investigação de desaparecimentos.
18:10Então, para o homicídio, por exemplo,
18:11você tem ali de onde começar,
18:14você tem o ABC de onde começar,
18:16o que você precisa fazer,
18:17o que você precisa observar,
18:19que é o protocolo operacional padrão,
18:21que a gente chama mais para o desaparecimento,
18:22a gente não tem isso.
18:23Então, fica muito aquém das delegacias
18:25reproduzirem comportamentos de investigação
18:29que já vem ali de muitos anos,
18:31porque a gente não tem justamente
18:32uma padronização a nível federal,
18:35a gente não tem uma padronização
18:37que dite como as delegacias precisam investigar
18:40o desaparecimento de pessoas,
18:41independente da sua espécie.
18:44Thalita, inclusive, você tocou nesse tema,
18:47já que a gente está falando sobre aspectos legais,
18:49você já defendeu publicamente
18:51a adoção de um banco nacional unificado,
18:55de cadastros,
18:56que é uma coisa que nós aqui também defendemos,
18:59uma vez que,
19:00na medida que a gente conta o caso
19:02de uma pessoa desaparecida por dia,
19:04às vezes é muito difícil encontrar casos
19:07em alguns estados
19:08onde não há essa padronização,
19:12como, por exemplo,
19:13há no caso do Paraná,
19:14há em alguns estados.
19:16Eu queria que você falasse um pouco,
19:18você já tocou em algumas questões legais,
19:20mas eu queria entender
19:21qual que, na sua visão,
19:23é o principal obstáculo legal
19:25para a adoção de um banco nacional unificado,
19:29ou se a questão não é de obstáculo legal,
19:32mas de pura falta de vontade política.
19:40A gente tem, na 13.812,
19:43a previsão do cadastro único de pessoas,
19:46a gente tem a previsão de que o MJ
19:48vai fazer esse grande banco de dados
19:52passível de cruzamentos.
19:54Hoje, o que a gente tem
19:56em questão de bancos de dados
19:58é o do CNMP,
20:00que é o Conselho Nacional do Ministério Público,
20:03a gente tem o Sinalide,
20:04a gente tem o PID,
20:05mas ele não é da União,
20:07é uma coisa dos Ministérios Públicos.
20:10Tem toda a capacidade
20:12para fazer esse cadastro,
20:15não é uma coisa impossível de ser feita,
20:17não é uma coisa extremamente complexa,
20:19mas ele vai ser alimentado
20:22a partir dos registros de ocorrência dos estados.
20:26Então, as polícias vão fazer o registro
20:28e esse banco vai ser alimentado
20:30a partir desses registros.
20:32O que a gente precisa
20:33é que os registros sejam bem detalhados,
20:36eles sejam passíveis de cruzamento.
20:38Atualmente, o único estado
20:40que vincula o boletim de localização
20:45ao boletim de desaparecimento
20:46é o Distrito Federal.
20:48Então, lá a gente consegue saber exatamente
20:49quem são as pessoas que estão desaparecidas
20:51e quem são as pessoas que estão localizadas.
20:53Porque nos estados,
20:54dentro das pessoas desaparecidas,
20:56pode ser que ali naquele número
20:57tenha pessoas localizadas,
20:59mas eles não deram baixo no sistema,
21:01justamente porque não tem essa comunicação.
21:03Você não sabe se quem foi localizado
21:05já saiu das estatísticas,
21:08você não sabe quando essa pessoa foi localizada.
21:10Então, uma pessoa que foi localizada,
21:12por exemplo, hoje,
21:13ela pode ter desaparecido no passado
21:15ou ela pode ter desaparecido há 10 anos atrás.
21:17Com exceção do DF,
21:19não tem como a gente saber disso.
21:20Então, um primeiro passo seria
21:23padronizar os boletins de ocorrência dos estados.
21:25Eles precisam ser detalhados,
21:27principalmente nas informações
21:28que individualizam a pessoa,
21:31como marca de nascença, cicatriz,
21:33tatuagem, pissem, enfim.
21:37Características que individualizem a pessoa
21:38e esses boletins precisam ser bem preenchidos.
21:41Então, não adianta você ter
21:42uma grande planilha do Excel, por exemplo,
21:45com vários campos em aberto.
21:47Então, quando a gente olhou
21:48para os microdados para fazer o mapa,
21:50a gente olhou quase 300 mil registros,
21:53o campo raça-cor é um dos menos preenchidos,
21:56tanto de pessoas aparecidas
21:57quanto de pessoas localizadas.
21:58Então, a gente precisa dessas informações
22:00para desse subsídio,
22:02para fazer políticas públicas
22:03que sejam direcionadas à parcela
22:05das pessoas que mais estão desaparecendo.
22:07Então, a gente precisa saber
22:08quem são as pessoas que estão desaparecendo
22:10para que a gente consiga agir em cima disso.
22:12Então, a gente precisa, antes de tudo,
22:13que os boletins de ocorrência
22:14sejam padronizados.
22:16Não adianta você criar uma grande plataforma
22:19se os dados não forem passíveis de cruzamento.
22:23Então, antes de tudo,
22:24o boletim precisa ser padronizado,
22:26ele precisa ser bem preenchido
22:28para que ele alimente esse banco de dados
22:30que consiga ser cruzado.
22:32Então, não adianta você,
22:34em um estado,
22:34você preencher o boletim de ocorrência muito bem
22:37e em outro estado você preenche muito mal.
22:39Porque aí, por exemplo,
22:40uma pessoa que desapareceu aqui em São Paulo
22:42foi localizada lá em Manaus,
22:44se os boletins de ocorrência
22:45não forem bem preenchidos
22:46e que a gente consiga ter aí pontos
22:48para cruzar essas informações,
22:50de nada adianta.
22:51Então, antes de tudo,
22:52antes de você pensar em um cadastro nacional
22:54com várias informações,
22:56você precisa de padronização
22:57dos boletins de ocorrência,
22:58senão não adianta nada.
22:58O Brasil é um país
23:03com capacidade de encontrar
23:05os seus desaparecidos?
23:07Eu queria que você analisasse
23:08os processos que a gente tem,
23:10a gente está falando aqui
23:11sobre o que pode ser feito no futuro,
23:13mas hoje,
23:14o Brasil é um bom país
23:15para encontrar as pessoas desaparecidas?
23:18O Distrito Federal é um bom estado
23:20para encontrar as pessoas desaparecidas,
23:21muito em crédito
23:23à polícia científica de lá.
23:25Então, lá, por exemplo,
23:27quando uma pessoa vai fazer
23:28um registro de desaparecimento,
23:29eles já incentivam
23:31que ela vá colher
23:32o seu material genético.
23:34Então, o pai de uma criança desaparecida,
23:37ele vai colher o material genético
23:39para que esse material
23:41seja cruzado no banco de DNA
23:44para que eles vejam
23:45se algum corpo não identificado
23:48que foi encontrado
23:50e que está lá no IML,
23:51ele é compatível ou não
23:52para a pessoa que fez
23:53o registro de desaparecimento.
23:57Lá funciona muito bem,
23:59a polícia científica de lá
24:01é muito bem equipada nessa questão,
24:03o banco genético deles é muito bom
24:05e isso pode ser, sim,
24:06estendido para os outros estados.
24:07Então, se a polícia do Distrito Federal
24:08consegue fazer um trabalho bom,
24:10as outras polícias também conseguem.
24:12Então, a política que existe
24:14no Distrito Federal,
24:15que é muito particularizada
24:16e que a gente fala sempre no mapa,
24:18elogiando o trabalho que eles fazem,
24:20não é uma coisa super difícil de ser feita,
24:23não é como se o Brasil
24:24não tivesse os recursos necessários,
24:26não é como se a polícia científica
24:28não tivesse os recursos necessários
24:29para que isso fosse estendido
24:31no resto do país.
24:32Então, é uma prática,
24:34é uma boa prática
24:35que pode, sim,
24:35ser estendida para o resto do país.
24:38Aí a gente está falando
24:39de uma questão de...
24:42não é uma coisa muito onerosa,
24:45não é um processo muito oneroso,
24:47e mais do que isso,
24:49é uma prática que pode ser replicada
24:50no restante das polícias.
24:52Então, se a polícia do Distrito Federal
24:54consegue fazer,
24:55as outras também conseguem,
24:56as outras também são capazes
24:57de fazer isso.
24:58Então, é uma boa prática
25:00que a gente identifica
25:01que ela pode ser replicada
25:02nos outros estados,
25:03ela pode ser replicada
25:04pelas outras polícias
25:05e é um case de sucesso.
25:08Mesmo que o Distrito Federal
25:09não tenha uma delegacia especializada
25:11na investigação de pessoas desaparecidas,
25:13eles têm um banco genético,
25:15eles conseguem fazer esse cruzamento
25:16de uma forma muito positiva
25:18e muito frutífera.
25:20Então, essa é uma boa prática
25:21que pode, sim, ser replicada
25:22e observada nos outros estados.
25:26E já encaminhando para o final, Thalita,
25:28eu queria que você explicasse um pouco
25:31para os leitores da Cruzaé
25:33e quem nos assiste nesse vídeo,
25:35qual seria um protocolo básico
25:37caso a pessoa venha a se deparar
25:39com uma situação de desaparecimento,
25:42seja na sua família,
25:44seja num círculo de amizade,
25:46ou mesmo num círculo social de trabalho?
25:49Qual que seria uma ideia de protocolo básico
25:52para a ação, nesse caso?
25:55A primeira coisa a se fazer
25:58quando a gente se depara
25:59com uma questão de desaparecimento
26:00é não esperar 24 ou 48 horas
26:02para fazer o registro de ocorrência.
26:04A gente tem ainda essa inverdade difundida,
26:08inclusive em delegacias especializadas,
26:10que orientam que a pessoa que vai lá
26:12fazer o boletim espere um período de tempo,
26:15porque a pessoa só pode ser considerada
26:17desaparecida após 24 ou 48 horas.
26:20Isso é mentira.
26:21Se a pessoa não cumpriu com a rotina padrão dela,
26:23se você identifica alguma questão de anormalidade,
26:27não chegou na hora certa,
26:29não cumpriu com o seu expediente,
26:30com a sua rotina normal,
26:32é direito que a pessoa faça um registro
26:34um boletim de ocorrência
26:36indicando o desaparecimento de alguém.
26:39Então, o primeiro passo
26:40é desmistificar essa história
26:43de que a gente tem que esperar
26:44um período determinado de horas
26:46para fazer o boletim de ocorrência.
26:47Isso não existe.
26:48Se a pessoa não cumpriu com a rotina normal dela,
26:50o boletim de ocorrência pode ser feito.
26:53Divulgar nas redes sociais também
26:56é uma boa alternativa,
26:58divulgar que a pessoa está desaparecida.
27:01Algumas delegacias especializadas em desaparecimento
27:03fazem esse trabalho, outras não.
27:06O indicado é que,
27:07se uma pessoa desapareceu,
27:08você vai fazer o registro
27:10em uma delegacia especializada.
27:12Nem todos os estados
27:13têm delegacias especializadas.
27:14Às vezes, você vai ter que fazer
27:15esse registro numa delegacia comum.
27:18Se a gente estiver falando de um estado
27:19onde, por exemplo,
27:20a pessoa tem que viajar horas
27:21para uma delegacia especializada,
27:23como é o caso do Amazonas,
27:24que a delegacia especializada
27:25está na capital, que é Manaus,
27:28e tem alguns estados
27:28que você demora seis, oito horas
27:30para chegar na capital,
27:31ela vai fazer o registro
27:33na delegacia normal
27:34e, se provocada,
27:36a delegacia especializada
27:38vai tomar conta do caso.
27:40O problema da delegacia especializada
27:42é que ela só vai agir ali
27:43na sua própria circunscrição.
27:46Mas o indicado é
27:46que, se a pessoa não cumpriu
27:47com a sua rotina normal,
27:49você faz um registro de desaparecimento
27:51e um registro de desaparecimento
27:52na delegacia especializada
27:53e que você deixe
27:55os seus dados atualizados.
27:57Uma questão que a gente
27:58identificou bastante
27:59quando a gente conversou
28:00com policiais da ponta
28:01sobre desaparecimento
28:02é que a pessoa vai fazer o registro,
28:04mas ela não deixa
28:05os números atualizados.
28:06Então, por exemplo,
28:06ela passa um telefone
28:07que ela já não usa mais,
28:09ela passa um endereço
28:10que ela já não usa mais.
28:11Então, durante as investigações
28:12do desaparecimento,
28:13é comum que as polícias
28:14liguem para o denunciante
28:16para perguntar,
28:16olha, a pessoa voltou,
28:18você tem algum...
28:19Porque, às vezes,
28:20as pessoas acabam retornando
28:22para suas casas.
28:23O adolescente que saiu de casa
28:24passou o final de semana fora,
28:26mas depois retornou.
28:27Um idoso que se perdeu,
28:28mas depois encontrou
28:29o caminho de casa.
28:30As polícias,
28:30elas entram em contato
28:31com as famílias
28:32para perguntar,
28:33com os denunciantes,
28:34para perguntar
28:35se a pessoa retornou.
28:36Então, é importante
28:37que você deixe sempre
28:38os seus dados atualizados.
28:40Mas, mais do que isso,
28:42a gente precisa de protocolos
28:44da Polícia Civil
28:46para além dos protocolos
28:47que existem
28:48no desaparecimento
28:48de crianças.
28:49Então, o desaparecimento
28:51de uma criança
28:52é prontamente investigado.
28:55Não se espera nada.
28:56As investigações já começam
28:58a acontecer
28:58e é isso que a gente precisa ver
29:00no desaparecimento
29:01de outras faixas etárias.
29:02Então, se um adolescente
29:03desapareceu,
29:04se um adulto desapareceu,
29:06se um idoso desapareceu,
29:07a investigação precisa acontecer
29:09com o mesmo grau
29:10de importância
29:11de uma criança.
29:12Todos os desaparecimentos
29:13devem ser levados
29:14em consideração.
29:15eles devem ter
29:17o mesmo grau
29:18de importância, né?
29:20Então, quando a gente vê
29:21que crianças
29:21são ali
29:23a faixa etária
29:26acometida por mais ou menos
29:275%,
29:28de 3% a 5%
29:29dos desaparecimentos totais
29:31dos adolescentes,
29:32eles concentram
29:33essa maior parte
29:33dos desaparecidos,
29:34a gente precisa ter protocolos
29:36que hajam
29:36na investigação
29:37do desaparecimento
29:38de adolescentes também.
29:40Então, fazer o registro
29:42de uma delegacia especializada,
29:44manter os dados atualizados,
29:45divulgar nas redes sociais,
29:47infelizmente ainda
29:49o desaparecimento
29:49é muito uma questão familiar,
29:51então, se uma criança
29:53desapareceu,
29:54por que a criança
29:54estava desassistida?
29:56Se um idoso desapareceu,
29:58por que o idoso
29:59estava sozinho?
29:59Se um adolescente desapareceu,
30:01é porque ele tem
30:01conflitos familiares,
30:02então o desaparecimento
30:03ainda é muito
30:03circunscrito à família.
30:05Ainda fica muita
30:06responsabilidade da família
30:07e pouca responsabilidade
30:08do sistema de justiça
30:09e das polícias.
30:10Então, ainda parte
30:12muito das famílias
30:13buscar no IML,
30:15buscar nos hospitais,
30:16buscar nos albergues
30:17para ver se o desaparecido
30:19acabou caindo
30:20em algum serviço
30:20de assistência,
30:21mas em geral
30:22é desmistificar
30:23essa ideia
30:24de que você precisa
30:24esperar um período
30:25de tempo determinado
30:26para fazer o registro,
30:28você não precisa,
30:29deixar os seus dados
30:30sempre atualizados
30:31e divulgar
30:31nas redes sociais.
30:34Excelente,
30:35eu queria agradecer
30:37muito a atenção
30:38da Teletra Nascimento,
30:39pesquisadora do
30:40Fórum Brasileiro
30:41de Segurança Pública
30:42e uma das autoras
30:43do Mapa dos Desaparecidos
30:45de 2023.
30:47Nós, da Cruz White,
30:49da Antagonia,
30:50agradecemos muito
30:51a sua atenção.
30:52Obrigada, gente,
30:53foi um prazer.
30:55E nós convidamos também
30:56a todos os leitores
30:57e espectadores
30:58que acompanhem
30:59as matérias
31:00sobre desaparecidos
31:01e nos ajudem
31:02compartilhando
31:03e repercutindo
31:05as histórias
31:06de pessoas desaparecidas
31:07em todo o Brasil
31:08publicadas diariamente
31:09no site do Antagonista.
31:11Esse foi o Curso White
31:12Entrevistas,
31:13nós agradecemos muito
31:14a sua atenção
31:14e voltamos na próxima semana.
31:16Até lá.
31:16Tchau.
31:17Tchau.
31:18Tchau.
31:19Tchau.
31:20Tchau.
31:21Tchau.
31:22Tchau.
31:23Tchau.
31:24Tchau.
31:25Tchau.
31:26Tchau.
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