Latitude #02 - Paulo Roberto de Almeida: Os 7 erros diplomáticos de Lula - Vídeo Dailymotion

O Antagonista

Em conversa com Duda Teixeira, o embaixador Paulo Roberto de Almeida comenta os enganos da política externa petista, revelados nos discursos do presidente eleito -- Cadastre-se para receber nossa newsletter: https://bit.ly/2Gl9AdL​  Confira mais notícias em nosso site: https://www.oantagonista.com​  Acompanhe nossas redes sociais: https://www.fb.com/oantagonista​ https://www.twitter.com/o_antagonista​ https://www.instagram.com/o_antagonista https://www.tiktok.com/@oantagonista_oficial

Transcript

00:00:00Olá, eu sou o Duda Teixeira e esse é mais um podcast Latitude. Toda semana, sempre às terças-feiras,

00:00:24nós vamos comentar e fazer análise dos principais fatos que acontecem no mundo e também da nossa

00:00:30diplomacia brasileira. Para esse número do Latitude, nós convidamos o embaixador Paulo

00:00:37Roberto de Almeida, que está na casa dele em Brasília. Paulo, está ouvindo a gente aí, tudo bem?

00:00:44Perfeitamente, muito boa tarde, meu caro Duda, é um prazer estar com você novamente.

00:00:48Eu que agradeço. Bom, hoje nós vamos conversar sobre a diplomacia do PT. Eu fiz aqui a minha lição de casa

00:01:00e eu selecionei sete momentos do discurso do Lula em Sharm el Sheikh, na semana passada, no Egito,

00:01:10onde o Lula resvala em vários temas da diplomacia e relações internacionais.

00:01:16Então, o Paulo, que está lá em Brasília, passo aqui um leve perfil dele, se ele quiser depois complementar.

00:01:26O Paulo já passou pelas embaixadas do Brasil em Washington, em Paris e em Genebra, certo?

00:01:36Ele tem o blog Diplomatizando, é um blog que já teve, desde a fundação, em 2006,

00:01:4210 milhões de acessos. Tem vários livros, publica quase que um por ano.

00:01:50Um que eu estava relendo recentemente é o Nunca Antes, na diplomacia,

00:01:55que é exatamente sobre esse período do governo do PT.

00:01:59E faz todo sentido a gente olhar os discursos do Lula,

00:02:03porque, enfim, essa área de Itamaraty e relações internacionais

00:02:06é a pasta em que o PT mais reinou nos dois primeiros mandatos do Lula.

00:02:13Então, a gente está prestando atenção no que o Lula fala nessa área,

00:02:17realmente ajuda a gente a prever o que vai acontecer.

00:02:21Paulo, com a sua caneca aí do Barão do Rio Branco, certo?

00:02:27Correto.

00:02:27Tá, então, bom, eu selecionei sete trechos do discurso do Lula

00:02:31e chamei isso, então, de sete erros, tá?

00:02:35Os sete erros do futuro da diplomacia petista.

00:02:40Vamos ver no final do nosso programa se realmente eu tenho razão

00:02:45em chamar isso de erro ou não.

00:02:48Joelto, você pode, então, passar o primeiro trecho aí

00:02:51para a gente comentar com o embaixador, por favor?

00:02:53Quero dizer para vocês que o Brasil está de volta.

00:03:00Está de volta...

00:03:02O Brasil está de volta para reatar os laços com o mundo

00:03:14e ajudar novamente a combater a fome no mundo.

00:03:18Para cooperar outra vez com os países mais pobres,

00:03:21sobretudo da África,

00:03:24com o investimento em transferência de tecnologia.

00:03:29Bom, embaixador, então,

00:03:31lendo o seu livro Nunca Antes na Diplomacia,

00:03:35eu vi ali que realmente o Lula, já em 2002,

00:03:38tinha essa ideia, 2003, do fome zero internacional.

00:03:44Então, eu te pergunto, o Lula e o Brasil

00:03:46vão ajudar a combater a fome no mundo?

00:03:49Essa é uma pretensão do Lula.

00:03:54Pode-se dizer que o fome zero brasileiro foi um fracasso completo,

00:03:57tanto que foi abandonado com menos de um ano.

00:04:00O Frei Beto, que trabalhava lá,

00:04:02o Odé de Grageu,

00:04:03saíram do Palácio do Planalto porque o fome zero,

00:04:06no formato adotado pelo Lula,

00:04:08pelos economistas do PT em 2002,

00:04:11não funcionou.

00:04:12Mas o Lula tentou.

00:04:13Eu, inclusive, estava em Washington nessa época,

00:04:15em 2003, quando ele tomou,

00:04:17e ele fez todos os esforços para lançar um fome zero universal.

00:04:21E o nosso embaixador em Nova Iorque, na época,

00:04:24Ronaldo Sardenberg, não é?

00:04:26Falou com o pessoal da ONU,

00:04:28que dissuadiu, ou tentou dissuadir o Lula

00:04:31de fazer um fome zero universal,

00:04:33porque isso duplicaria programa já existente.

00:04:35Programa Mundial de Alimentos,

00:04:37administrado pela FAO,

00:04:40que é o órgão da ONU sobre alimentação e agricultura,

00:04:43e o PNUD.

00:04:45Então, sugeriu que o Lula associasse

00:04:47essa sua iniciativa,

00:04:49essa sua disposição,

00:04:50essa sua vontade de combater a fome no mundo,

00:04:52a programas pré-existentes.

00:04:53O Lula insistiu em ter um programa próprio,

00:04:56e o assunto não foi para frente.

00:04:58O fome zero universal morreu antes do nascedor,

00:05:00e no seu lugar ficou um programa de ajuda para a África,

00:05:03no combate à AIDS,

00:05:05que naquela época ainda era um problema muito sério, não é?

00:05:09Então, os petistas são especialistas

00:05:11em conceber grandes programas,

00:05:14grandes iniciativas,

00:05:15que depois redundam em quase nada.

00:05:18E eu acho que é legítimo combater a fome no mundo,

00:05:21tanto naquela época quanto agora,

00:05:23e é uma aspiração, digamos,

00:05:26meritória do Lula,

00:05:28da sua diplomacia,

00:05:30da diplomacia brasileira, não é?

00:05:32Diga-se de passagem que o Brasil colabora

00:05:35com o Programa Mundial de Alimentos,

00:05:36é um fornecedor,

00:05:38tanto quanto os países ricos,

00:05:40que são protecionistas agrícolas

00:05:42para o seu mercado interno,

00:05:43mas que justamente eles fazem o dumping,

00:05:46eles descarregam os seus excedentes alimentares,

00:05:49que são construídos à base de subsídios,

00:05:52os tesouros da União Europeia,

00:05:54dos Estados Unidos,

00:05:55patrocinam um grande volume de produção agrícola,

00:05:58que depois é despejada no terceiro mundo,

00:06:00seja, digamos, estrangulando os africanos,

00:06:05que não têm esses subsídios, não é?

00:06:07Seja desativando programas nacionais

00:06:11de vários países que realmente sofrem com secas,

00:06:15com catástrofes naturais,

00:06:17com baixa produtividade agrícola.

00:06:19Eu acho que não é uma prioridade,

00:06:21inclusive porque no Brasil tem gente passando fome,

00:06:23mas é meritório, é legítimo,

00:06:25fica politicamente correto,

00:06:27acredito que o Lula pode ajudar a combater a fome,

00:06:30não só na África, como no próprio Brasil,

00:06:33empenhando recursos brasileiros,

00:06:36do Tesouro, das agências públicas brasileiras,

00:06:40temos a ABC,

00:06:41Agência Brasileira de Cooperação,

00:06:43vinculada ao Itamaraty,

00:06:45que pode desempenhar isso,

00:06:47como fez pela assistência técnica da Embrapa,

00:06:50inclusive em diversos países africanos.

00:06:52É um programa meritório,

00:06:53mas tem que ser bem administrado

00:06:54no canais já muito testados pela ONU.

00:06:57Não vale a pena insistir em algo novo

00:06:59para dar um prêmio Nobel da Paz ao Lula.

00:07:03Agora, essa questão da ajuda humanitária internacional,

00:07:08muitas vezes ela não tem um resultado pretendido.

00:07:11Eu entendo que é meritório,

00:07:12que seja bom fazer,

00:07:14mas que muitas vezes o resultado não acontece.

00:07:17o Brasil, nisso que o Lula fala, por exemplo,

00:07:20de ajudar a África com investimento

00:07:22e transferência de tecnologia,

00:07:25você acha que a gente pode ter resultado com isso?

00:07:28Já tivemos no passado?

00:07:29Olha, desde a descolonização, nos anos 60,

00:07:34as agências, tanto multilaterais, não é?

00:07:37Eu falo do PNUD, da FAO,

00:07:40do Programa Mundial de Alimentos,

00:07:42todas as agências humanitárias,

00:07:43Unesco, OMS, etc.,

00:07:46como as agências nacionais, não é?

00:07:48Isso é administrado na OCDE pelo CADE,

00:07:51que é o Comitê de Assistência ao Desenvolvimento.

00:07:53Toda essa ajuda multilateral ou bilateral

00:07:56e de ONGs humanitárias,

00:07:58descarregou, despejou,

00:08:00dezenas de bilhões de dólares na África,

00:08:03na América Latina, em parte,

00:08:05na Ásia do Sul,

00:08:07ou seja, países pobres,

00:08:08países que estão classificados como

00:08:11os países menos desenvolvidos.

00:08:12não se teve muito reflexo

00:08:15desses bilhões de dólares

00:08:18carreados para a África,

00:08:19a não ser que eles deformaram

00:08:20orçamentos nacionais,

00:08:22muitas vezes foram parar em contas na Suíça,

00:08:24foram desviados pela corrupção.

00:08:27O melhor sistema talvez seja

00:08:28aquelas ONGs humanitárias,

00:08:29como a do Bill Gates,

00:08:30que se propõe vacinar crianças, não é?

00:08:33E o Brasil deveria seguir esse exemplo

00:08:35modesto de saneamento básico,

00:08:37que, aliás, deve ser feito aqui no Brasil,

00:08:40infraestrutura e, sobretudo,

00:08:42capacitação educacional e profissional.

00:08:44São os elementos básicos

00:08:46para capacitar a população

00:08:49para se empregar produtivamente

00:08:51no campo, na cidade, nos serviços, não é?

00:08:55A melhor maneira de ajudar um povo

00:08:57a se desenvolver é capacitando-o

00:08:59educacionalmente.

00:09:00Muitas vezes, bilhões de dólares

00:09:02são desviados.

00:09:04Tem um economista que trabalhou

00:09:05mais de 10 anos pelo Banco Mundial

00:09:07nesses programas de ajuda à África,

00:09:08William Esterly,

00:09:10que escreveu um livro,

00:09:12já há 10 anos atrás,

00:09:13chamado

00:09:14Fardo do Homem Branco, não é?

00:09:16E como a ajuda pode

00:09:17não favorecer o desenvolvimento.

00:09:21William Esterly, talvez,

00:09:22o seu livro esteja já traduzido no Brasil,

00:09:25White Man's Burden,

00:09:26ele mostra que os países

00:09:27que receberam mais ajuda

00:09:28foram os que cresceram menos,

00:09:30paradoxalmente, não é?

00:09:32E que os países que se viabilizaram

00:09:34pelo esforço próprio

00:09:35conseguiram se desenvolver,

00:09:38Botsuana e alguns outros, não é?

00:09:41Então, a ajuda,

00:09:43ela nem sempre é

00:09:44bem calculada,

00:09:46bem planejada,

00:09:47e ela pode viciar

00:09:48tanto as elites dominantes

00:09:50em países altamente corruptos, não é?

00:09:53Como a própria população assistida, não é?

00:09:55Então, é preciso medir muito bem

00:09:57de que forma essa ajuda vai ser prestada.

00:09:59E acho que tem um ponto

00:10:01que o senhor passou aí, rapidamente,

00:10:03mas essa questão de que,

00:10:04quando você falou do saneamento no Brasil,

00:10:06a gente também precisa,

00:10:08a gente tem muito pobre no Brasil

00:10:10que também precisa de assistência,

00:10:11então, enquanto também não é contraditório,

00:10:15enfim, também eu acho que

00:10:17é um pouco um exercício de princípios,

00:10:19de ajudar quem precisa,

00:10:22mas acho que isso sempre vai ter

00:10:24um pouco essa crítica,

00:10:25puxa, mas está mandando dinheiro para onde

00:10:27e em vez de ajudar aqui no Brasil, né?

00:10:31Bom, esse foi o primeiro trecho,

00:10:33vamos, Joel, você pode passar o segundo para a gente, por favor?

00:10:38Para estreitar novamente relações

00:10:40com nossos irmãos latino-americanos e caribenhos

00:10:43e construir junto com eles

00:10:45um futuro melhor para nossos povos.

00:10:50Então, é isso.

00:10:52O Lula, nesse discurso, ele fala dos Estados Unidos,

00:10:54mas só um lugar ali que está tendo inundação, ciclone,

00:10:57ele fala muito pouco,

00:10:58e vem de novo com essa questão

00:11:00dos irmãos latino-americanos e caribenhos,

00:11:04isso é uma marca também da diplomacia petista, certo?

00:11:08Correto.

00:11:09Veja, mas vamos fazer uma distinção

00:11:11entre Lula I e Lula II,

00:11:12os dois mandatos nos anos 2000, não é?

00:11:16E a sua majestade Lula III, agora,

00:11:18que volta com esse imenso prestígio,

00:11:19em condições muito diferentes.

00:11:21E vamos dizer que,

00:11:23mesmo para a diplomacia,

00:11:25será diferente, não se trata mais de um governo do PT,

00:11:27pelo menos isso que o próprio Lula afirmou.

00:11:30Inclusive, na área econômica,

00:11:33ele se desdisse em Portugal

00:11:34o que ele havia dito em Charme El Sheik,

00:11:37desdenhando a responsabilidade fiscal, etc.

00:11:41Mas, na área da política externa,

00:11:43o que nós tivemos nos dois primeiros mandatos

00:11:45foi um comando do partido

00:11:47sobre grande parte da política externa.

00:11:49Você tinha o Marco Aleiro Garcia,

00:11:51que foi secretário de Assuntos Internacionais do PT

00:11:53durante mais de duas décadas,

00:11:55e que sentava no Palácio do Planalto,

00:11:57era o assessor internacional,

00:11:59mas era chamado também pelos itamaratecas,

00:12:01meus colegas,

00:12:02de chanceler para a América do Sul,

00:12:04porque ele tinha sido exilado durante a ditadura,

00:12:07tinha se relacionado muito com os cubanos,

00:12:08montou o Fórum de São Paulo para os cubanos,

00:12:11tinha muitos amigos na esquerda latino-americana,

00:12:15e ele era chamado de chanceler para a América do Sul,

00:12:17inclusive porque ele falava mais espanhol

00:12:18do que outras línguas,

00:12:19e não tinha nenhum domínio

00:12:20sobre outras esferas da política externa,

00:12:22fase de segurança internacional,

00:12:23negociações comerciais,

00:12:25questões multilaterais em geral.

00:12:29Ele era o chanceler para a América do Sul,

00:12:30e ele comandou, sim,

00:12:32grande parte da diplomacia brasileira

00:12:33para os países latino-americanos.

00:12:35Isso não mais ocorrerá.

00:12:36Mas o PT tem esses vieses,

00:12:38tem esses cacuetes,

00:12:39tem essas manias

00:12:40de se achar uma espécie de líder

00:12:43da América Latina,

00:12:45e ele foi uma espécie de líder

00:12:47no Fórum de São Paulo,

00:12:49que foi organizado em São Paulo,

00:12:52em 1980,

00:12:53e depois continuou,

00:12:54perdão, em 1990,

00:12:56e depois continuou até a atualidade.

00:12:59Mas isso não mais continuará,

00:13:02porque será um governo de coalizão,

00:13:03se supõe que nós teremos

00:13:05outros valores e princípios

00:13:07para a diplomacia brasileira,

00:13:08que não apenas

00:13:09aquela política externa,

00:13:12anti-americana,

00:13:13anti-imperialista,

00:13:14anti-hegemônica do PT,

00:13:15que carregava claramente

00:13:17um viés anti-americano.

00:13:20Nós desprezamos,

00:13:23eles desprezaram a OEA,

00:13:25criaram a UNASUL,

00:13:26criaram vários mecanismos

00:13:27exclusivamente sul-americanos

00:13:29ou latino-americanos.

00:13:31E isso é um cacuete,

00:13:33porque o PT é um típico

00:13:34partido esquerdista latino-americano,

00:13:36vinculado ao socialismo cubano,

00:13:39da Nicarágua, da Venezuela,

00:13:42com muita vergonha

00:13:44para a diplomacia brasileira,

00:13:45porque se tratam de ditaduras

00:13:46confirmadas, não é?

00:13:48O PT tem uma, digamos,

00:13:50leniência com ditaduras de esquerda

00:13:52e uma certa arrogância

00:13:55em relação aos direitistas

00:13:56ou aos neoliberais,

00:13:58como eles chamavam, não é?

00:13:59Isso, aliás, foi exacerbado

00:14:01no governo atual,

00:14:03que desprezou as ditaduras de esquerda,

00:14:06os governos progressistas,

00:14:07mesmo esquerdistas,

00:14:08o que é errado,

00:14:09você, quando faz comércio,

00:14:10você não olha a cor,

00:14:12a religião,

00:14:13a orientação política

00:14:14e, sim, o comércio,

00:14:16as vantagens

00:14:17de um bom relacionamento.

00:14:18O governo atual,

00:14:19ele se relacionou apenas

00:14:20com direitistas

00:14:21e o Brasil ficou isolado.

00:14:23Espera-se que o PT

00:14:24ou o governo de coalizão,

00:14:26com uma diplomacia

00:14:27mais esclarecida,

00:14:28não cometa os mesmos erros

00:14:29que durante os mandatos

00:14:31de Lula 1 e Lula 2.

00:14:32Só abrindo um parêntese aí,

00:14:35que no grupo de transição

00:14:37de relações exteriores,

00:14:39nós temos a secretária-geral

00:14:42do Fórum de São Paulo,

00:14:43a Mônica Valente,

00:14:44e o Romênio Pereira,

00:14:45que é o secretário

00:14:46de Relações Internacionais do PT.

00:14:49Então, realmente, assim,

00:14:50vamos observar para ver

00:14:52se a gente vai ter

00:14:53uma relação internacional

00:14:54mais comandada pelo PT

00:14:56e pelo Fórum de São Paulo

00:14:58ou por essa coalizão,

00:15:00por essa frente mais ampla aí, né?

00:15:03Ao mesmo tempo,

00:15:04temos o Aloysio Nunes,

00:15:06que foi chanceler,

00:15:07foi o segundo chanceler

00:15:09do governo Temer

00:15:09e que conduziu

00:15:10uma política externa

00:15:11bastante equilibrada

00:15:12segundo os valores

00:15:14e princípios do Itamaraty.

00:15:15Então, ele recentrou

00:15:17a política externa brasileira

00:15:19na segunda fase

00:15:21do governo Temer

00:15:22por uma diplomacia

00:15:23basicamente idêntica

00:15:24à que foi a do Itamaraty

00:15:25sobre o Fernando Henrique Cardoso

00:15:27e outros presidentes.

00:15:28Vamos torcer

00:15:29para que eles se entendam ali, né?

00:15:31Bom,

00:15:32Jota, você toca

00:15:34o terceiro trecho, por favor.

00:15:36Para lutar

00:15:37por um comércio justo

00:15:39entre as nações

00:15:40e pela paz

00:15:41entre os povos.

00:15:43Voltamos

00:15:43para ajudar

00:15:44a construir

00:15:45uma ordem mundial

00:15:46pacífica,

00:15:48assentada no diálogo,

00:15:50no multilateralismo

00:15:51e na multipolaridade.

00:15:53ele fala do comércio justo, né?

00:15:59O Brasil, então,

00:16:01deveria lutar

00:16:02por um comércio justo

00:16:03no mundo?

00:16:05Olha,

00:16:05nenhum economista sensato,

00:16:08pelo menos

00:16:08fora

00:16:09daqueles

00:16:10petistas

00:16:12encarnados,

00:16:13não é?

00:16:13falaria em comércio justo.

00:16:17O comércio

00:16:17é uma oferta

00:16:19de um lado

00:16:19e uma demanda

00:16:20de outro.

00:16:21As pessoas

00:16:21procuram

00:16:22um melhor preço

00:16:22e melhor qualidade.

00:16:24Ponto.

00:16:25Comércio justo

00:16:25é a coisa mais difícil

00:16:26de definir.

00:16:27O que é um comércio justo?

00:16:28É pagar mais

00:16:29por um produto

00:16:30que nos preços

00:16:31de mercado

00:16:31seria

00:16:32mais rentável

00:16:34para os consumidores,

00:16:35não é?

00:16:35O Lula tentou fazer isso

00:16:37no seu primeiro mandato

00:16:39quando recomendou

00:16:40que nós importássemos

00:16:41mais dos irmãos

00:16:42da América do Sul,

00:16:43mesmo que fosse mais caro

00:16:45ou de menor qualidade.

00:16:46Eu não acredito

00:16:47que algum importador

00:16:48sensato

00:16:49tenha feito isso,

00:16:50porque seria

00:16:51perder mercado,

00:16:53não é?

00:16:54Os importadores

00:16:54continuarem importando

00:16:55dos melhores fornecedores

00:16:57para o melhor preço,

00:16:58pela melhor qualidade,

00:16:59enfim,

00:16:59aquilo que eles conseguiriam

00:17:01vender, não é?

00:17:02Então,

00:17:03essa coisa

00:17:04de comércio justo

00:17:04finalmente não

00:17:06tem muito significado.

00:17:08Isso geralmente

00:17:08significa protecionismo

00:17:10de um lado,

00:17:10não é?

00:17:11País ricos,

00:17:11talvez,

00:17:12reclamando da alta

00:17:13dos preços do petróleo

00:17:14ou de outras

00:17:15mercadorias,

00:17:17digamos,

00:17:18matérias-primas,

00:17:19ou países em desenvolvimento

00:17:20que reclamam

00:17:21do preço dos manufaturados.

00:17:22Ora,

00:17:23ninguém fixa preços,

00:17:24o mercado tem

00:17:25uma lei da oferta

00:17:26da procura

00:17:26que desde Adão e Eva

00:17:28permanece igual,

00:17:29não é?

00:17:30E o Adam Smith

00:17:30já tinha afirmado

00:17:32que o melhor comércio

00:17:33é o comércio livre.

00:17:34Então,

00:17:34vamos esquecer

00:17:35essa coisa

00:17:36de comércio justo.

00:17:38Isso não existe,

00:17:39existe comércio,

00:17:40ponto,

00:17:40e o Brasil tem

00:17:41suas relações

00:17:42com a China,

00:17:42por exemplo,

00:17:43o principal parceiro

00:17:44há 13 anos,

00:17:45com os preços

00:17:47que são fixados

00:17:47pelo mercado.

00:17:48Eu me lembro

00:17:48quando eu estava

00:17:49na China em 2010,

00:17:50a soja chegou

00:17:51a 600 dólares

00:17:52a tonelada,

00:17:53os agricultores

00:17:54estavam nadando

00:17:54em dólares,

00:17:55não é?

00:17:55O minério de ferro

00:17:56estava quase 200 dólares

00:17:58a tonelada,

00:17:58depois caíram,

00:18:00mas isso é a realidade

00:18:01do mercado.

00:18:01Quanto à ordem mundial

00:18:04pacífica,

00:18:05ninguém pode ser contra,

00:18:06evidentemente,

00:18:07mas essa tentativa

00:18:08de criar uma ordem mundial,

00:18:09isso é muito utópico,

00:18:11não é?

00:18:12Ordem mundial surge

00:18:13com grandes catástrofes,

00:18:14né?

00:18:15Grande guerra,

00:18:16Primeira Guerra Mundial,

00:18:17Segunda Guerra,

00:18:19houve uma ordem mundial,

00:18:20uma ordem econômica

00:18:21que está conosco,

00:18:22a ordem de Bretton Woods,

00:18:23FMI, Banco Mundial,

00:18:24e a China e a União Soviética

00:18:26que estiveram ausentes

00:18:27dessa ordem econômica

00:18:28de mercados,

00:18:29não é?

00:18:30Se alinharam

00:18:31nos anos 90,

00:18:32não é?

00:18:32A China foi a primeira

00:18:33e a Rússia foi a segunda,

00:18:36aliás,

00:18:37a Rússia aderiu ao GAT

00:18:38só 10 anos atrás,

00:18:40não é?

00:18:40Menos de 10 anos atrás

00:18:41e ainda não é bem

00:18:43uma economia de mercado,

00:18:44o que a China já é,

00:18:45não é?

00:18:45A China não é um socialismo

00:18:47com características chinesas,

00:18:48ela é um capitalismo

00:18:49com características chinesas,

00:18:51é um sistema de mercado,

00:18:52apenas que o país é dirigido

00:18:54pelo Partido Comunista,

00:18:55que são um pouco como

00:18:55os mandarins da antiguidade,

00:18:58do Império do Meio,

00:18:59que são bons administradores.

00:19:01Então, a ordem mundial

00:19:02você não impõe

00:19:04segundo a sua vontade,

00:19:05ah, vamos fazer

00:19:06uma nova ordem mundial.

00:19:07E isso tem a ver

00:19:08com os dois conceitos

00:19:09que o Lula citou,

00:19:11o multilateralismo,

00:19:12ele é um mero instrumento,

00:19:14é um método,

00:19:15você tem relações bilaterais,

00:19:16país a país,

00:19:17tem relações regionais

00:19:18na sua região,

00:19:19pode fazer

00:19:20zonas de livre comércio,

00:19:23uniões aduaneiras,

00:19:24mercado comum,

00:19:25e tem relações multilaterais,

00:19:26que são aquelas feitas

00:19:27nos grandes organismos,

00:19:28nas agências da ONU.

00:19:31Tudo bem,

00:19:32com o multilateralismo,

00:19:33todo mundo é a favor,

00:19:34menos o Ernesto Araújo,

00:19:36o nosso primeiro chanceler acidental,

00:19:38e talvez

00:19:39o próprio Bolsonaro

00:19:40e seu amigo Trump,

00:19:42que eram contra o Bolsonaro,

00:19:43contra o multilateralismo,

00:19:46aquelas teorias conspiratórias,

00:19:47etc.

00:19:47Agora,

00:19:48quando se fala em multipolaridade,

00:19:50isso é um conceito político,

00:19:52e a gente sabe que o PT,

00:19:54junto com outros partidos de esquerda,

00:19:56não gosta dos imperialistas hegemônicos,

00:19:58colonialistas e outrora,

00:20:00sejam os europeus,

00:20:00sejam os Estados Unidos,

00:20:02então eles querem a multipolaridade,

00:20:04a multipolaridade é ir para um lado,

00:20:07ou neutro,

00:20:08não alinhado,

00:20:09digamos assim,

00:20:09ou favorecer interesses da China e da Rússia,

00:20:12que são atualmente o contraste

00:20:14com as democracias ocidentais,

00:20:17as democracias de mercado,

00:20:19então quando se fala em multipolaridade,

00:20:21é um pouco o desejo de que os americanos

00:20:23não dominem tanto o mundo,

00:20:24ora, os americanos estão aí há 100 anos,

00:20:26desde 1917,

00:20:27quando eles foram para a grande guerra,

00:20:31eles são a grande potência econômica,

00:20:33isso não é da vontade de ninguém

00:20:35que eles fossem assim,

00:20:36mas eles foram assim pela evolução,

00:20:37assim como a Alemanha comandou três guerras

00:20:40que destruíram o poder europeu sobre o mundo,

00:20:43entre 1870 e 1945,

00:20:45a Alemanha foi responsável por três guerras

00:20:47que desmantelaram o velho colonialismo,

00:20:50o velho imperialismo europeu,

00:20:52hoje nós temos, digamos,

00:20:54três impérios e meio,

00:20:55império americano,

00:20:57ainda é a economia economicamente,

00:20:59tecnologicamente, militarmente mais poderosa,

00:21:02o império chinês,

00:21:02que vem em segundo lugar,

00:21:04e a China já ultrapassou todos os países do G7,

00:21:06menos os Estados Unidos,

00:21:08não é?

00:21:09Ultrapassou Japão, Alemanha, França,

00:21:11Grã-Bretanha, Canadá,

00:21:12os Estados Unidos talvez vá ultrapassar

00:21:14daqui a alguns anos,

00:21:16cinco ou dez anos,

00:21:17dependendo do seu ritmo de crescimento,

00:21:19mas nunca vai ultrapassar

00:21:20a renda per capita dos americanos,

00:21:22isso vai demorar 100 ou 150 anos,

00:21:25não é?

00:21:25E o terceiro império,

00:21:26mas apenas militar,

00:21:28apenas geopolítico,

00:21:29digamos assim,

00:21:29é o império russo,

00:21:30é a tentativa do Putin

00:21:31de recriar a grande influência

00:21:34da ex-União Soviética

00:21:36sobre a sua zona de influência,

00:21:39Europa Central, Oriental,

00:21:40Ásia do Sul, etc.

00:21:42E depois nós temos o meio império,

00:21:43que são os europeus, não é?

00:21:46Porque eles foram diminuídos

00:21:47por suas próprias guerras,

00:21:49eles se mataram durante 500 anos,

00:21:51há 90 anos atrás,

00:21:53eles entravam na segunda grande guerra,

00:21:56e com isso eles ficaram a escanteio

00:21:58do poder mundial,

00:22:00que eles dominaram nos 500 anos anteriores.

00:22:02E hoje,

00:22:03no plano econômico comercial,

00:22:06o mundo está deixando de ser

00:22:07norte-atlântico, não é?

00:22:09Ou euro-atlântico,

00:22:10como foi durante 400 anos,

00:22:12e está se bandeando

00:22:13para a zona do Pacífico.

00:22:15Nós temos dois grandes

00:22:16eixos de comércio mundial,

00:22:19um é o TPP,

00:22:21que era a 12,

00:22:22mas o Trump saiu fora,

00:22:24mas os 11 países restantes

00:22:25confirmaram o TPP a 11,

00:22:27e a China pediu para entrar,

00:22:28inclusive.

00:22:28O outro é o RCEP,

00:22:30que é uma área de livre comércio

00:22:32da ASEAN com a China,

00:22:34Austrália e Nova Zelândia

00:22:36e outros países,

00:22:36que também,

00:22:37se eles se juntassem,

00:22:39seria a maior zona

00:22:40de livre comércio do mundo,

00:22:42não é?

00:22:43Essa é a realidade.

00:22:44A Ásia Pacífico

00:22:44vai dominar a economia mundial

00:22:46pelo restante desse século.

00:22:49Ou seja,

00:22:50quando a gente escuta o Lula

00:22:51falar de multipolaridade,

00:22:53é mais um ranço anti-americano

00:22:55do que, enfim,

00:22:56a questão do comércio

00:22:58vai por outro caminho,

00:22:59tem esses super grandes blocos,

00:23:03que o Brasil meio que está

00:23:04meio fora disso.

00:23:07Exato.

00:23:07O Brasil,

00:23:08se a gente olhar um mapa do mundo

00:23:10por cadeias de valor,

00:23:12porque hoje a maior parte

00:23:13do comércio internacional

00:23:14não é de produtos acabados,

00:23:17produtos finitos,

00:23:17e sim de partes,

00:23:18peças e acessórios,

00:23:19insumos,

00:23:20não é?

00:23:21Porque existe

00:23:21todo esse movimento

00:23:23de investimento,

00:23:24de alocação de investimento,

00:23:25segundo recursos ótimos

00:23:28para energia,

00:23:29mão de obra,

00:23:31mercado,

00:23:32finanças, etc.

00:23:34Então,

00:23:34o comércio,

00:23:35a mais de 60%,

00:23:36é o comércio de partes,

00:23:38peças e acessórios,

00:23:39são as cadeias de valor.

00:23:40E as grandes bolas,

00:23:42ou seja,

00:23:42os grandes focos

00:23:43de cadeias de valor

00:23:45estão no Atlântico Norte,

00:23:48Europa e Estados Unidos,

00:23:50e no Pacífico Norte,

00:23:51que é justamente

00:23:53Canadá,

00:23:54Estados Unidos,

00:23:54um ou outro país

00:23:55latino-americano,

00:23:57México, Chile,

00:23:59e os grandes países

00:24:00da franja asiática,

00:24:01ASEAN,

00:24:02China,

00:24:03e mesmo

00:24:03Austalha e Nova Zelanda.

00:24:04E no Cone Sul,

00:24:06no Mercosul,

00:24:07digamos,

00:24:07não é uma bola muito pequena,

00:24:09é uma bola que corresponde

00:24:10às multinacionais

00:24:11instaladas no Brasil,

00:24:12na Argentina,

00:24:13no México,

00:24:14e é tudo.

00:24:15Nós estamos ausentes

00:24:16das cadeias de valor,

00:24:17ou seja,

00:24:17da grande divisão

00:24:18de trabalho

00:24:19que caracteriza

00:24:21os mercados atualmente.

00:24:23Tá.

00:24:24Embaixador,

00:24:25o quarto trecho

00:24:27é um que tem um tema

00:24:29que eu gosto aqui,

00:24:31já vi o senhor

00:24:31comentando a respeito,

00:24:32que é a história

00:24:33do Conselho de Segurança

00:24:35da ONU.

00:24:37Jouto, por favor.

00:24:39Voltamos

00:24:40para propor

00:24:41uma nova governança global.

00:24:43O mundo de hoje

00:24:44não é o mesmo

00:24:45de 1945.

00:24:47é preciso

00:24:48incluir mais países

00:24:50no Conselho

00:24:50de Segurança

00:24:51da ONU

00:24:52e acabar

00:24:53com o privilégio

00:24:54do veto.

00:24:55Hoje,

00:24:56hoje,

00:24:59restrito

00:24:59a alguns poucos

00:25:01para a efetiva

00:25:02promoção

00:25:03do equilíbrio

00:25:04e da paz.

00:25:07Eu sei que

00:25:08esse tema

00:25:09aí do Conselho

00:25:10de Segurança

00:25:11do Brasil

00:25:11tem uma vaga

00:25:12permanente

00:25:13no Conselho.

00:25:14isso é muito presente

00:25:16tanto dentro

00:25:17entre os diplomatas,

00:25:20mas também

00:25:21entre os militares,

00:25:23na academia.

00:25:25Mas aí

00:25:25eu queria

00:25:26uma opinião

00:25:26sincera

00:25:27sua.

00:25:28Que vantagem

00:25:29a gente leva

00:25:30se o Brasil

00:25:30virar membro

00:25:31permanente

00:25:32do Conselho

00:25:32de Segurança

00:25:33da ONU?

00:25:35Veja,

00:25:35essa é uma hipótese

00:25:36antiga.

00:25:38O Brasil

00:25:38sempre aspirou

00:25:39a fazer parte

00:25:40do chamado

00:25:41inner circle,

00:25:42o círculo

00:25:43decisório.

00:25:44isso aconteceu

00:25:45na Liga das Nações,

00:25:47nós tentamos

00:25:47fazer parte

00:25:48do Conselho

00:25:49de forma permanente,

00:25:50não é?

00:25:50Acabamos saindo,

00:25:51batendo a porta,

00:25:53porque o presidente

00:25:53Arturo Bernardes

00:25:54tinha concepções

00:25:55muito equivocadas

00:25:56sobre as relações

00:25:57internacionais,

00:25:58não é?

00:25:59Quando o Conselho

00:26:00foi renovado,

00:26:01o Brasil tinha

00:26:01um mandato temporário,

00:26:03quando o Conselho

00:26:03foi renovado

00:26:04em 1926,

00:26:06a Alemanha,

00:26:07que tinha sido

00:26:07derrotada na guerra,

00:26:09foi admitida

00:26:10e aí nós

00:26:11batemos a porta

00:26:11e saímos.

00:26:12Em 1945,

00:26:13o Brasil

00:26:13quase

00:26:14entrou

00:26:15no Conselho,

00:26:16o Franklin Roosevelt,

00:26:17que não gostava

00:26:17dos colonialistas europeus,

00:26:19até favorecia

00:26:20a participação

00:26:21do Brasil.

00:26:21Infelizmente,

00:26:22o Vargas

00:26:23chutou fora

00:26:24o Oswaldo Aranha,

00:26:25que tinha sido

00:26:25seu chanceler

00:26:26desde 1938,

00:26:27mas em 1944,

00:26:28ele impediu

00:26:29que o Oswaldo Aranha

00:26:30fosse ao Washington

00:26:30falar com o Roosevelt

00:26:31no planejamento

00:26:32do pós-guerra,

00:26:33justamente,

00:26:34e o Brasil

00:26:34ficou de fora,

00:26:35mas o Brasil

00:26:36não tinha capacitação

00:26:37militar,

00:26:38econômica,

00:26:38tecnológica,

00:26:39para fazer parte

00:26:41daquele círculo

00:26:42dos países

00:26:42vencedores

00:26:43das potências

00:26:46fascistas

00:26:46militaristas,

00:26:47Alemanha,

00:26:48Itália,

00:26:48Japão.

00:26:49Então,

00:26:49o Brasil

00:26:50não tinha condições,

00:26:50inclusive porque

00:26:51não tinha relações

00:26:51com a União Soviética,

00:26:53os britânicos

00:26:54não queriam,

00:26:55a França

00:26:56acabou entrando

00:26:57no último minuto,

00:27:00não é?

00:27:00Porque antes

00:27:01você tinha apenas

00:27:02China,

00:27:02Estados Unidos,

00:27:03Grã-Bretanha

00:27:03e União Soviética.

00:27:05E depois

00:27:06os militares

00:27:07e os diplomatas

00:27:08sempre aspiraram

00:27:09a que o Brasil

00:27:10acedesse.

00:27:11Em 1945,

00:27:12quando foi assinada

00:27:13a Carta da ONU

00:27:14em São Francisco,

00:27:15nós fizemos justamente

00:27:16um discurso

00:27:17contra o direito

00:27:18de veto,

00:27:19porque isso vai contra

00:27:20a doutrina brasileira

00:27:21desde o Rui Barbosa,

00:27:22desde a segunda

00:27:23conferência da paz

00:27:24da AI em 1907,

00:27:26que o Rui Barbosa

00:27:27proclama,

00:27:27isso é doutrina

00:27:28brasileira

00:27:29da diplomacia,

00:27:30a igualdade soberana

00:27:32dos Estados,

00:27:32ou seja,

00:27:33nenhum Estado

00:27:34pode ter privilégio

00:27:35sobre os demais.

00:27:36Mas a gente sabe

00:27:37que as guerras

00:27:38conduzem a vencedores

00:27:39e perdedores,

00:27:40assim foi no Congresso

00:27:41de Viena em 1815,

00:27:43quando derrotaram

00:27:43o Napoleão,

00:27:45assim foi na Grande Guerra,

00:27:46na Conferência da Paz

00:27:48de Paris em 1919,

00:27:49a Alemanha

00:27:49foi condenada

00:27:50a pagar reparações

00:27:51durante 40 anos,

00:27:52se estenderia

00:27:53até os anos 60,

00:27:54mas o Hitler

00:27:55acabou com isso

00:27:57logo quando ele entrou

00:27:58em 1933

00:27:59e na Segunda Guerra,

00:28:02em que as quatro potências

00:28:03decidiram muito antes

00:28:04de São Francisco,

00:28:05em Dumbarton-Walks

00:28:06em 43,

00:28:0744,

00:28:08e depois em Alta,

00:28:09né,

00:28:09fevereiro de 45,

00:28:11quem estaria

00:28:12nesse Conselho

00:28:12com direito a veto,

00:28:14ou seja,

00:28:15nenhuma grande potência

00:28:16que empenhou recursos,

00:28:18sacrificou muitos homens,

00:28:20milhares de pessoas,

00:28:21milhões no caso

00:28:22da Rússia,

00:28:24nenhuma grande potência

00:28:26permitiria um órgão

00:28:27igualitário,

00:28:28como é a Assembleia Geral,

00:28:30que todos têm direito

00:28:31a voto.

00:28:32Então,

00:28:32para defender

00:28:33os interesses nacionais,

00:28:35eles impuseram

00:28:35o direito de veto.

00:28:37É muito difícil,

00:28:39praticamente impossível,

00:28:41que eles renunciem

00:28:42a esse direito de veto.

00:28:43e mesmo a reforma

00:28:45da Carta da ONU

00:28:46para ampliar

00:28:47o número de membros

00:28:48permanentes,

00:28:49de cinco para dez,

00:28:50ou onze,

00:28:50como que era a África,

00:28:51com dois representantes,

00:28:53não é?

00:28:54É muito difícil,

00:28:55é um assunto que já

00:28:55vem sendo debatido

00:28:56há décadas

00:28:57e não se resolve,

00:28:58porque a realidade

00:28:59é o seguinte,

00:29:00quem tem poder

00:29:01não quer dividir o poder.

00:29:03E é uma ilusão

00:29:05da diplomacia brasileira

00:29:06achar que

00:29:07a ampliação

00:29:08de cinco para dez

00:29:09membros permanentes

00:29:10vai democratizar

00:29:11as relações internacionais.

00:29:13não vai.

00:29:14O Conselho de Segurança

00:29:15é um poder oligárquico,

00:29:17quer ele esteja no direito

00:29:19ou não,

00:29:19é ele quem faz

00:29:20a lei internacional,

00:29:21é ele quem impõe a ordem

00:29:22pelas missões de paz,

00:29:24de manutenção da paz,

00:29:27peacekeeping,

00:29:28ou pelas missões

00:29:29de imposição da paz,

00:29:31peacemaking,

00:29:31como houve na Coreia,

00:29:33como houve no Iraque,

00:29:34na Primeira Guerra

00:29:35do Golfo, etc.

00:29:37Então,

00:29:37é improvável

00:29:39que essa reforma

00:29:40se faça,

00:29:40porque não há acordo

00:29:41entre

00:29:42as grandes potências

00:29:43sobre quem deveria entrar,

00:29:45não é?

00:29:45Mas se,

00:29:46por acaso,

00:29:47por um

00:29:48arcanjo Gabriel

00:29:49que se iluminasse

00:29:51esses cinco,

00:29:51eles autorizassem

00:29:52a ampliação,

00:29:54o Brasil estaria dentro,

00:29:55o Brasil é um candidato

00:29:56natural na América Latina,

00:29:57ainda que a gente

00:29:58tivesse que fazer

00:29:59um esforço,

00:29:59não apenas financeiro,

00:30:00de contribuir mais,

00:30:02não só financeiramente,

00:30:03como para missões

00:30:04de peacekeeping

00:30:05e de peacemaking,

00:30:06não é?

00:30:06coisa que a gente

00:30:07não faz

00:30:07porque a nossa

00:30:08Constituição

00:30:09não permite,

00:30:10teríamos que ter

00:30:11autorização do Congresso

00:30:12para enviar

00:30:13soldados

00:30:14para uma guerra,

00:30:15não é?

00:30:16Para uma missão

00:30:17realmente de imposição

00:30:18da paz,

00:30:18e não apenas de

00:30:19manutenção da paz,

00:30:21mas você teria

00:30:23muitas responsabilidades

00:30:25que,

00:30:25não sei se o Brasil

00:30:26está em condições

00:30:27de cumprir atualmente,

00:30:28eu não atribuo

00:30:29nenhuma,

00:30:30pessoalmente,

00:30:31prioridade

00:30:32ao ingresso do Brasil

00:30:33no Conselho,

00:30:34inclusive o PT,

00:30:35na sua origem,

00:30:36não tinha essa aspiração

00:30:37no seu programa,

00:30:38quando surgiu lá

00:30:39nos anos 80,

00:30:40não falavam nada

00:30:41de Conselho de Segurança,

00:30:42eles queriam uma nova

00:30:43ordem econômica internacional,

00:30:44aquelas coisas de

00:30:45relações norte-sul,

00:30:46etc,

00:30:46quem botou essa ideia

00:30:47na cabeça deles

00:30:48foi o Celso Amorim,

00:30:49que participou

00:30:51de muitas negociações

00:30:53para a reforma

00:30:54da carta,

00:30:55foi nosso representante

00:30:56em Nova Iorque,

00:30:57não é?

00:30:58Muito respeitado,

00:30:59e que colocou

00:31:01essa ideia

00:31:02de prestígio

00:31:03na cabeça do Lula,

00:31:04eu considero

00:31:05que a gente

00:31:05não deva fazer

00:31:06disso uma prioridade,

00:31:08a nossa prioridade

00:31:08é educação,

00:31:09saneamento básico,

00:31:11qualificação do Brasil

00:31:12no plano econômico-social,

00:31:14no desenvolvimento,

00:31:16na sustentabilidade,

00:31:17e quando o Brasil

00:31:18participar de missões

00:31:20humanitárias,

00:31:21como faz o Canadá,

00:31:22como faz a Itália,

00:31:23como faz o Japão,

00:31:24a própria China faz,

00:31:25ele será convidado,

00:31:26e será o representante

00:31:27natural da América Latina,

00:31:29é incontornável,

00:31:30mas eu não atribuo

00:31:31prioridade,

00:31:32eu acho que nós

00:31:33temos muitas prioridades,

00:31:34sobretudo internas,

00:31:35e na cooperação

00:31:36internacional.

00:31:38No seu livro,

00:31:40Nunca Antes

00:31:40Na Diplomacia,

00:31:42eu estava relendo,

00:31:43e vi ali que o Fernando Henrique

00:31:44não dava muita importância

00:31:46para o Conselho de Segurança

00:31:47da ONU,

00:31:49um pouco para não melindrar

00:31:50a Argentina,

00:31:51acho que até ele falou

00:31:52isso para você.

00:31:53Exato.

00:31:54Foi uma entrevista

00:31:55que eu fiz com ele

00:31:56em Washington,

00:31:56juntamente,

00:31:57quando ele passou por lá,

00:31:58eu falei,

00:31:59olha,

00:31:59o Sarney falou

00:32:00que gostaria de entrar,

00:32:01mesmo sem direito a veto,

00:32:03não é?

00:32:03O Collor também chegou a falar,

00:32:06mas ele depois

00:32:07não tornou,

00:32:08e ele me falou,

00:32:09olha,

00:32:09eu prefiro

00:32:10não melindrar os argentinos

00:32:12a entrar no Conselho,

00:32:14se for para

00:32:15desgostar os nossos vizinhos,

00:32:17eu não vou fazer

00:32:18disser uma prioridade

00:32:19do meu governo,

00:32:19e realmente nunca fez,

00:32:21o chanceler Luiz Felipe Lampreia

00:32:24também não,

00:32:24e acredito que eles estão corretos.

00:32:26Quando,

00:32:28e se for feita a reforma,

00:32:29o Brasil estará dentro,

00:32:31porque quando ele tentou

00:32:32entrar no Conselho,

00:32:34durante o Lula 1 e Lula 2,

00:32:36não é?

00:32:37Os argentinos sabotaram

00:32:38essa pretensão,

00:32:39junto com os mexicanos,

00:32:41etc.

00:32:42Assim como a China

00:32:43sabota a pretensão do Japão

00:32:45a ingressar no Conselho,

00:32:47não é?

00:32:48E também a da Índia,

00:32:49não é?

00:32:50E outros europeus

00:32:51sabotam a pretensão

00:32:52da Alemanha

00:32:53a ser membro permanente,

00:32:55não é?

00:32:56Espanhóis, italianos,

00:32:58não querem a Alemanha.

00:32:59Então,

00:33:00um dos erros do PT

00:33:01também foi ter feito

00:33:02aquele G4,

00:33:03G4 Brasil,

00:33:05Índia,

00:33:06Japão e Alemanha

00:33:07para ingressar no Conselho.

00:33:09Eu acho que isso nos trouxe

00:33:10oposições

00:33:12que nós não teríamos

00:33:13ficando apenas

00:33:14com as nossas aspirações próprias.

00:33:16A gente sabe que

00:33:17a China não vai apoiar

00:33:19o Japão

00:33:19nem a Índia

00:33:20e outros europeus

00:33:21não vão apoiar a Alemanha.

00:33:23Então,

00:33:23para que criar

00:33:23uma quesilha

00:33:25com essas outras

00:33:26grandes potências?

00:33:27E tudo depende

00:33:28dos Estados Unidos

00:33:28e da China,

00:33:29exclusivamente

00:33:30desses dois países,

00:33:31não é?

00:33:32Porque criar uma quesilha

00:33:33com eles

00:33:34quando a gente

00:33:35sozinho

00:33:35temos qualificação

00:33:37para tal.

00:33:38Esse cenário

00:33:39que você mostra,

00:33:41a gente vê que

00:33:41vai ser muito difícil,

00:33:43então,

00:33:43uma mudança

00:33:44no Conselho

00:33:45de Segurança.

00:33:47Agora,

00:33:48ainda que isso seja difícil,

00:33:50uma vez

00:33:51que essa ambição

00:33:52volta

00:33:53com o Celso Amorim

00:33:55e o Lula

00:33:56com o Lula,

00:33:57por influência

00:33:58do Celso,

00:34:00o brasileiro

00:34:01comum

00:34:02vai ter que pagar

00:34:03essa conta

00:34:04porque o Lula,

00:34:06quando tinha

00:34:07essa ambição

00:34:08de aparecer

00:34:08no Conselho de Segurança

00:34:09e ter vaga permanente,

00:34:12ele tomou iniciativas

00:34:14de mandar tropa

00:34:16para o Haiti,

00:34:18construir um monte

00:34:19de embaixada,

00:34:20não é isso?

00:34:20Nós vamos pagar

00:34:21essa conta no final?

00:34:22Exato.

00:34:24Pagamos direto

00:34:25ou indiretamente.

00:34:26Veja,

00:34:26quando o Lula

00:34:27criou embaixadas

00:34:28em todos os países

00:34:29do hemisfério americano,

00:34:30nós tínhamos mais embaixadas

00:34:31do que qualquer potência

00:34:32ex-colonialista

00:34:33na região,

00:34:35não é?

00:34:35E também na África

00:34:36muitas embaixadas,

00:34:38muito bem,

00:34:38para a cooperação,

00:34:39mas tudo isso tem um custo,

00:34:40uma embaixada,

00:34:41mesmo pequena,

00:34:41tem meio milhão

00:34:42de dólares por ano

00:34:43ou mais,

00:34:43não é?

00:34:44E depois isso não se resolve

00:34:46por votação

00:34:47na Assembleia Geral.

00:34:49Nós podemos ter

00:34:49190 votos

00:34:51a favor do ingresso

00:34:52do Brasil

00:34:52no Conselho de Segurança

00:34:53na Assembleia Geral,

00:34:55mas quem decide

00:34:55é o próprio

00:34:56Conselho de Segurança

00:34:57e o Conselho de Segurança

00:34:58há cinco,

00:34:59não é?

00:35:00Pode hipocitamente dizer

00:35:01que é a favor

00:35:02deste ou daquele país,

00:35:03mas a gente sabe

00:35:04que eles confiam

00:35:07em que um outro

00:35:08vai vetar

00:35:09qualquer reforma.

00:35:11Por exemplo,

00:35:11por quê?

00:35:12Se já é difícil

00:35:13você ter um acordo

00:35:14no Conselho

00:35:15com cinco membros

00:35:16permanentes

00:35:16para resolver

00:35:17grandes crises

00:35:18no Oriente Médio,

00:35:19na África,

00:35:20na Ásia do Sul,

00:35:21na própria América Latina,

00:35:23imagine a 10.

00:35:24Aí você teria

00:35:24interesses ampliados

00:35:26para as regiões

00:35:27e cada país

00:35:28ou cada representante,

00:35:29por mais se diga

00:35:30multilateralista,

00:35:32ele vai visar

00:35:33as suas relações regionais,

00:35:35bilaterais,

00:35:36os seus interesses

00:35:37nacionais

00:35:37quando for considerar

00:35:39o caso

00:35:40de uma guerra civil,

00:35:41uma guerra entre estados,

00:35:43conflito interétnico,

00:35:45religioso,

00:35:46sempre haverá

00:35:47considerações nacionais.

00:35:49E se a 5

00:35:50é muito difícil,

00:35:51imagine a 10,

00:35:52não é?

00:35:53Então,

00:35:53e depois tem

00:35:54o direito de veto,

00:35:55os países entrariam

00:35:56supostamente

00:35:57sem o direito de veto,

00:35:59porque senão

00:36:00paralisaria de vez

00:36:02o Conselho de Segurança.

00:36:03O Conselho de Segurança,

00:36:04ele enviou tropas

00:36:06para a Coreia em 1950,

00:36:08ele puniu a África do Sul

00:36:09pelo regime do Apartheid,

00:36:11a Rodésia do Sul,

00:36:12não é?

00:36:12E o Saddam Hussein

00:36:13quando ele invadiu

00:36:14o Kuwait em 1990.

00:36:16Então,

00:36:17você imagine

00:36:1710 países

00:36:18tentando resolver

00:36:20esses problemas

00:36:21de guerras civis

00:36:22ou de guerras

00:36:23entre estados,

00:36:24conflitos religiosos

00:36:26ou quaisquer outros

00:36:27graves problemas,

00:36:29com 10 países

00:36:30tendo que decidir

00:36:32no voto

00:36:33o que o Conselho

00:36:34vai fazer,

00:36:35organizar uma missão

00:36:36de imposição da paz,

00:36:38inclusive,

00:36:38diga-se de passagem

00:36:39que a ONU

00:36:40nunca correspondeu

00:36:41à carta original.

00:36:42A carta original

00:36:43previa uma comissão militar,

00:36:45justamente dirigida

00:36:46pelos cinco países

00:36:47membros permanentes,

00:36:49para enviar tropas

00:36:50da ONU.

00:36:51E, na verdade,

00:36:51as tropas da ONU

00:36:52só usam aquele capacete azul,

00:36:54mas, na verdade,

00:36:55elas recebem ordens

00:36:56dos seus generais

00:36:56ou dos seus governos,

00:36:57quando foi a Guerra do Golfo,

00:37:01a Primeira Guerra do Golfo

00:37:02no Kuwait,

00:37:02eram os americanos

00:37:03que estavam lá,

00:37:04ainda que autorizados

00:37:05pela ONU,

00:37:06pelo Conselho de Segurança.

00:37:08A invasão do Afeganistão

00:37:09contra o regime Talebã

00:37:10foi autorizada

00:37:12pelo Conselho de Segurança,

00:37:13mas foram os americanos

00:37:15que fizeram

00:37:15com seus aliados da OTAN.

00:37:17Então,

00:37:18há muita ficção política

00:37:19em torno de quem

00:37:20detém o poder, etc.

00:37:22O direito de veto

00:37:23realmente é uma excrescência

00:37:24da Segunda Guerra

00:37:25e ele, infelizmente,

00:37:27perdura,

00:37:28porque as potências

00:37:29não vão permitir

00:37:30que ele seja eliminado.

00:37:33O que pode ocorrer

00:37:34se a Assembleia Geral

00:37:36e toda a comunidade internacional

00:37:37fazer muita pressão

00:37:39é que um infrator,

00:37:42mesmo entre os cinco

00:37:44membros permanentes,

00:37:44um infrator da Carta da ONU,

00:37:46como é a Rússia atualmente,

00:37:47porque ela violou

00:37:49a Carta da ONU,

00:37:50artigos 1 e 2,

00:37:51invadiu um país,

00:37:53não teve nenhuma ameaça

00:37:54contra ela,

00:37:55ela invadiu o país,

00:37:56que um país infrator

00:37:58da Carta da ONU

00:37:58não possa usar

00:37:59o direito de veto

00:38:00a seu próprio favor

00:38:02quando ele é

00:38:03o violador.

00:38:04Mas, mesmo isso,

00:38:05eu acho muito difícil

00:38:07que seja implementado

00:38:08nos próximos 10 ou 15 anos.

00:38:11Vai demorar muito tempo

00:38:12para que a comunidade internacional

00:38:13evolua a esse ponto.

00:38:14A desigualdade entre ricos e pobres

00:38:23manifesta-se até mesmo

00:38:25nos esforços

00:38:26para a redução

00:38:27das mudanças climáticas.

00:38:29o 1% mais rico

00:38:32da população do planeta

00:38:34vai ultrapassar

00:38:36em 30 vezes

00:38:37o limite

00:38:37das emissões

00:38:38de gás carbônico

00:38:39necessário

00:38:41para evitar

00:38:41que o aumento

00:38:42da temperatura global

00:38:43ultrapasse a meta

00:38:45de 1,5 grau

00:38:46centígrado

00:38:46até 2030.

00:38:49Esse 1% mais rico

00:38:51está a caminho

00:38:53de emitir

00:38:5370 toneladas

00:38:55de gás carbônico

00:38:56per capita por ano.

00:38:58Enquanto isso,

00:38:59os 50% mais pobres

00:39:01do mundo

00:39:01emitirão, em média,

00:39:03apenas 1 tonelada

00:39:04per capita

00:39:05segundo o estudo

00:39:07produzido pela ONG

00:39:08Oxfam

00:39:08e apresentada

00:39:10na COP26.

00:39:12Por isso,

00:39:14a luta contra

00:39:15o acrescimento

00:39:16global

00:39:17é indissociável

00:39:18da luta

00:39:19contra a pobreza

00:39:21e por um mundo

00:39:22menos desigual

00:39:23e mais justo.

00:39:26Bom, embaixador,

00:39:28eu separei

00:39:29esse trecho

00:39:29porque traz um pouco

00:39:31essa visão

00:39:31do Lula

00:39:32de que o mundo

00:39:33está dividido

00:39:34entre uma parte

00:39:35pequenininha

00:39:36de países ricos

00:39:37e outra parte

00:39:38de países pobres

00:39:39e ele vê

00:39:40essa desigualdade,

00:39:42essa exploração

00:39:43e isso antes

00:39:45e aí traz

00:39:45esses dados

00:39:46da Oxfam

00:39:47que é especialista

00:39:48nesse tipo

00:39:49de dado

00:39:49e lembrei

00:39:51que em 2009

00:39:53o Lula

00:39:54quando teve

00:39:55a crise financeira

00:39:56global

00:39:57que aqui chegou

00:39:58como uma marolinha

00:39:59palavras do Lula

00:40:01ele disse

00:40:03que a crise

00:40:03tinha sido criada

00:40:04por gente branca

00:40:06de olhos azuis

00:40:07e essa mentalidade

00:40:10ele continua

00:40:11né?

00:40:13Exato,

00:40:14veja,

00:40:14o Lula

00:40:15como os outros

00:40:16partidos socialistas

00:40:17esquerdistas

00:40:17etc

00:40:18tem essa ideia

00:40:20de que

00:40:20há uma exploração

00:40:21do norte

00:40:22dos ricos

00:40:23dos poderosos

00:40:24dos hegemônicos

00:40:24dos colonialistas

00:40:26sobre os pobres

00:40:27né?

00:40:28Ora,

00:40:28até para você explorar

00:40:29um pobre

00:40:30você precisa ter capacitação

00:40:31não é?

00:40:32Não basta invadir

00:40:33um território

00:40:33se instalar

00:40:34e explorar

00:40:35você precisa transferir

00:40:36a tecnologia

00:40:36etc

00:40:37os europeus

00:40:38fizeram

00:40:38na África

00:40:39durante

00:40:40os últimos

00:40:41150 anos

00:40:42aquilo que os chineses

00:40:43estão fazendo atualmente

00:40:44né?

00:40:44Chegar com

00:40:45a sua tecnologia

00:40:46instalar portos

00:40:47ferrovias

00:40:48para retirar minérios

00:40:49matérias-primas

00:40:51etc

00:40:51né?

00:40:52Os chineses

00:40:52só não estão

00:40:53fazendo a escravidão

00:40:54que os europeus

00:40:56também praticaram

00:40:56no Congo

00:40:57em outros países

00:40:58durante a sua

00:40:59dominação

00:41:00mas essa divisão

00:41:01entre norte e sul

00:41:02entre ricos e pobres

00:41:03é uma velha arenga

00:41:04do marxismo clássico

00:41:07não é?

00:41:08Se eu sou rico

00:41:09é porque eu tirei

00:41:10isso de alguém

00:41:11isso vem do Rousseau

00:41:12passou pela

00:41:13revolução francesa

00:41:14chegou no marxismo

00:41:15e se estabeleceu

00:41:16é uma concepção

00:41:17absolutamente errada

00:41:18não é?

00:41:19inclusive o grande

00:41:21jornalista uruguaio

00:41:23Eduardo Galeano

00:41:23que escreveu um livro

00:41:24famoso

00:41:25As Veias Abertas

00:41:26da América Latina

00:41:26no final da vida

00:41:27se arrependeu

00:41:28achou seu livro

00:41:29muito simplista

00:41:29e errado

00:41:30não é?

00:41:31ao atribuir

00:41:31o nosso subdesenvolvimento

00:41:33a exploração dos ricos

00:41:34não

00:41:34nós temos uma formação

00:41:35cultural

00:41:36econômica

00:41:37institucional

00:41:38muito diferente

00:41:39a não capacitação

00:41:40educacional

00:41:41etc

00:41:41então

00:41:41esses relatórios

00:41:43da Oxfam

00:41:43são hipócritas

00:41:44são equivocados

00:41:46não é?

00:41:46inclusive porque

00:41:47mesmo na área ambiental

00:41:49que o Lula citou

00:41:50a realidade

00:41:51não é tão prosaica

00:41:52assim

00:41:53indianos e chineses

00:41:55são responsáveis

00:41:56por grande poluição

00:41:58no mundo

00:41:58justamente por combustíveis

00:41:59fósseis

00:42:00inclusive usando carvão

00:42:01de baixa qualidade

00:42:02não é?

00:42:03e depois petróleo

00:42:04etc

00:42:04mas veja

00:42:05se os chineses

00:42:07são os maiores

00:42:08poluidores

00:42:09hoje

00:42:09no meio ambiente

00:42:10os americanos

00:42:11consomem 25 vezes

00:42:13mais energia

00:42:14do que um chinês

00:42:15então

00:42:16o chinês

00:42:17pela sua dimensão

00:42:18a China

00:42:18pela sua dimensão

00:42:20realmente é uma grande

00:42:20poluidora

00:42:21o Brasil mais

00:42:22pelo desmatamento

00:42:23não é?

00:42:24pela devastação

00:42:25pelas queimadas

00:42:26e não pela poluição

00:42:27fóssil

00:42:29não é?

00:42:29nós temos

00:42:29uma matriz energética

00:42:30muito limpa

00:42:31mas

00:42:31o mundo

00:42:33não aguentaria

00:42:34os chineses

00:42:36com a renda

00:42:36per capita americana

00:42:37e consumindo

00:42:38tanta energia

00:42:38quanto os americanos

00:42:40então os americanos

00:42:41também

00:42:41são responsáveis

00:42:42em grande parte

00:42:43pela

00:42:43estoque de poluição

00:42:45passada

00:42:46de emissão

00:42:47e é nesse argumento

00:42:48de que eles se industrializaram

00:42:49na primeira e na segunda

00:42:50revolução industrial

00:42:51e poluíram

00:42:52destruíram as suas florestas

00:42:54que se baseiam

00:42:54essas demandas

00:42:55dos países

00:42:56subdesenvolvidos

00:42:57por ajuda

00:42:57transferência de tecnologia

00:42:58essa é uma conversa

00:43:00que está na ONU

00:43:01desde sempre

00:43:02eu me lembro

00:43:03em Genebra

00:43:03antes

00:43:04depois

00:43:05aquela coalizão

00:43:07do G77

00:43:08dos países pobres

00:43:09demandando

00:43:10mais recursos

00:43:12mais transferência

00:43:12mais tecnologia

00:43:14para os países ricos

00:43:15não é?

00:43:16ora

00:43:16muita

00:43:17economia de mercado

00:43:19são empresas

00:43:20que investiram

00:43:21milhões de dólares

00:43:22nos seus processos

00:43:24etc

00:43:24e usam aquilo

00:43:27para o benefício

00:43:28das suas populações

00:43:29a capacitação

00:43:30em novas tecnologias

00:43:32não poluidoras

00:43:33ambientalmente saudáveis

00:43:34digamos

00:43:35é uma capacitação

00:43:36que pode sim

00:43:37ser transferida

00:43:37mas em termos

00:43:39razoáveis

00:43:39em termos

00:43:40que compatibilizam

00:43:42digamos

00:43:42as possibilidades

00:43:43agora nós vimos

00:43:44que em Charmel Shake

00:43:46na COP27

00:43:47se aprovou

00:43:48um princípio

00:43:49de reparação

00:43:50por perdas e danos

00:43:51mas ninguém se comprometeu

00:43:53com valores e com prazo

00:43:54isso ocorre há décadas

00:43:56eu assisti

00:43:57em Genebra

00:43:58em outras conferências

00:43:59a mesma conversa

00:44:00as mesmas demandas

00:44:01não é?

00:44:02e o assunto

00:44:03vai progredindo

00:44:04e os países

00:44:05tem que se capacitar

00:44:06nacionalmente

00:44:07com seus próprios esforços

00:44:08e não esperar que

00:44:09assistência pública

00:44:10internacional

00:44:11valha

00:44:12e a Oxfam

00:44:13faz esse relatório

00:44:14sobre distribuição

00:44:15da renda

00:44:15é absolutamente

00:44:16equivocado

00:44:18porque eles

00:44:19utilizam

00:44:20a riqueza financeira

00:44:21não é?

00:44:22de grandes bilionários

00:44:23dizem que

00:44:2410 bilionários

00:44:25no mundo

00:44:26tem mais riqueza

00:44:26do que metade

00:44:27da população

00:44:28como se isso fosse

00:44:29fazer alguma diferença

00:44:30para a eliminação

00:44:31da pobreza mundial

00:44:32se você tirar

00:44:33os 3, 4, 5 trilhões

00:44:36de dólares

00:44:36dos ricos

00:44:37e dividir pelos

00:44:385 bilhões

00:44:39de pobres

00:44:40no mundo

00:44:40você daria

00:44:4150 dólares

00:44:42para cada um

00:44:43eles consumiriam isso

00:44:44no primeiro empório

00:44:46não é?

00:44:46em bens de alimentação

00:44:48ou bens de consumo

00:44:49mais durável

00:44:50e ficariam

00:44:51na mesma pobreza

00:44:52então o problema

00:44:53não é a distribuição

00:44:55do estoque existente

00:44:56de riqueza

00:44:57e sim a criação

00:44:58de riqueza

00:44:59são os fluxos

00:45:00de riqueza

00:45:00que devem ser taxados

00:45:01inclusive o PT

00:45:03que esteve durante

00:45:0313 anos e meio

00:45:04no poder

00:45:05não criou nenhum imposto

00:45:06sobre os ricos

00:45:07sobre os dividendos

00:45:08sobre as grandes fortunas

00:45:09não é?

00:45:10e não fez a reforma

00:45:11tributária

00:45:12o Brasil tem uma estrutura

00:45:13tributária

00:45:14absolutamente injusta

00:45:15regressiva

00:45:15os pobres

00:45:16pagam mais impostos

00:45:18proporcionamento

00:45:18do que os ricos

00:45:19e o PT

00:45:20não corrigiu isso

00:45:21durante 13 anos e meio

00:45:22espero que ele faça isso

00:45:23o Armínio Fraga

00:45:24acaba de recomendar

00:45:25isso

00:45:26maior taxação

00:45:27sobre os ricos

00:45:28para financiar

00:45:29programas

00:45:30de qualificação

00:45:30profissional

00:45:31dos pobres

00:45:32não é?

00:45:32e não apenas

00:45:33um distributivismo

00:45:35estéreo

00:45:36que vai se esgotar

00:45:38na distribuição

00:45:39do estoque

00:45:39existente

00:45:40de riqueza

00:45:40ótimo

00:45:42bom

00:45:42o sexto trechinho

00:45:44que eu selecionei

00:45:46vai tocar

00:45:47numa palavra

00:45:47que aparece também

00:45:49muito no discurso

00:45:51do Jair Bolsonaro

00:45:52atual presidente

00:45:53que é soberania

00:45:55vamos lá para o sexto

00:45:57estamos abertos

00:45:58a cooperação internacional

00:46:00para preservar

00:46:02nossos biomas

00:46:03seja em forma

00:46:04de investimento

00:46:05ou pesquisa científica

00:46:07mas sempre

00:46:08sobre a liderança

00:46:10do Brasil

00:46:10sem jamais

00:46:12renunciarmos

00:46:13a nossa soberania

00:46:15eu te pergunto

00:46:19a nossa soberania

00:46:21está ameaçada?

00:46:22como é que o senhor

00:46:23vê essa questão?

00:46:25eu ouço essa conversa

00:46:27da internacionalização

00:46:28da Amazônia

00:46:28há muito tempo

00:46:29tudo isso é muito ridículo

00:46:30os militares usam isso

00:46:32talvez para conseguir

00:46:32mais orçamento próprio

00:46:34que eles gastam

00:46:35no Rio de Janeiro

00:46:36em Brasília

00:46:37e não tanto

00:46:37na Amazônia

00:46:38essa coisa

00:46:40da soberania

00:46:41é aquela velha coisa

00:46:42de se enrolar

00:46:42na bandeira

00:46:43aquele chovinismo

00:46:45aquele patriotismo

00:46:46que não quer dizer muito

00:46:49o Bolsonaro justamente

00:46:50defendeu a soberania

00:46:51da Amazônia

00:46:51para destruir

00:46:52a Amazônia

00:46:54e se a gente

00:46:55quisesse referir

00:46:56a Amazônia

00:46:57mais ou menos

00:46:58desenvolvida

00:46:59vamos nos referir

00:47:00ao Bunda Borracha

00:47:01a Amazônia foi rica

00:47:02naquela época

00:47:03quando ela estava

00:47:03muito mais

00:47:04internacionalizada

00:47:05do que

00:47:06a partir de 1913

00:47:09quando os britânicos

00:47:10entraram

00:47:10com a nossa

00:47:11évia que levaram

00:47:12para Kill Gardens

00:47:13e plantaram

00:47:14na Malásia

00:47:15plantações ordenadas

00:47:17e entrou a borracha

00:47:18de plantação

00:47:19no mercado mundial

00:47:21e a Amazônia

00:47:21então

00:47:22entrou na decadência

00:47:23e ficou assim

00:47:24durante décadas

00:47:26até que os militares

00:47:27no regime militar

00:47:28criaram a SUFRAMA

00:47:29a Zona Franca

00:47:30de Manaus

00:47:31que é uma coisa

00:47:31absolutamente artificial

00:47:33a SUFRAMA

00:47:34a Zona Franca

00:47:35de Manaus

00:47:35não tem absolutamente

00:47:36nada a ver

00:47:37com as vantagens

00:47:38comparativas

00:47:39com as capacidades

00:47:40produtivas

00:47:42da Amazônia

00:47:43é um enclave

00:47:44é um enclave

00:47:45uma zona franca

00:47:45mas que você tem

00:47:46que trazer tudo

00:47:47de fora

00:47:47transformar

00:47:48usar a mão de obra

00:47:49local

00:47:50e depois exportar

00:47:51para outros mercados

00:47:52consumidores

00:47:53então se a Amazônia

00:47:54fosse um pouco

00:47:55mais internacionalizada

00:47:56como que era o Lula

00:47:57aliás

00:47:57de integração

00:47:58de cooperação estrangeira

00:48:00na pesquisa

00:48:00na utilização

00:48:02dos recursos

00:48:02da biodiversidade

00:48:03muito bem

00:48:04a soberania

00:48:05é uma bandeira

00:48:05que todos os populistas

00:48:07usam

00:48:07e que ela não precisa

00:48:08ser proclamada

00:48:09você defende a soberania

00:48:10na prática

00:48:11desenvolvendo o seu país

00:48:12de forma sustentável

00:48:14sem a destruição

00:48:15que fez o Bolsonaro

00:48:16soberanamente

00:48:17nos últimos quatro anos

00:48:18e que deixou o Brasil

00:48:20totalmente isolado

00:48:21no mundo

00:48:21então o Lula

00:48:22está convidado

00:48:23a convidar

00:48:24empresas estrangeiras

00:48:26institutos de pesquisa

00:48:27cooperação internacional

00:48:28como a Alemanha

00:48:29e a Noruega

00:48:30faziam no fundo

00:48:31Amazônico

00:48:32que foi

00:48:33sabotado

00:48:34pelo ministro

00:48:36do meio ambiente

00:48:38e pelo próprio

00:48:38Bolsonaro

00:48:39Ricardo Salles

00:48:40vamos preservar

00:48:41a nossa soberania

00:48:43integrando o Brasil

00:48:44ao mundo

00:48:45sim

00:48:46gostei da palavra

00:48:48que você usou

00:48:49sabotagem

00:48:50do fundo Amazônia

00:48:51um dinheirão

00:48:52que está lá

00:48:52parado

00:48:53e não usa

00:48:54porque enfim

00:48:55uma bobagem

00:48:57aí do comitê

00:48:58e tudo mais

00:48:59bom então vamos

00:49:01para o último

00:49:02trechinho

00:49:02Joelto por favor

00:49:04enfatizo

00:49:06ainda que em 2024

00:49:09o Brasil vai presidir

00:49:11o G20

00:49:11estejam certos

00:49:14de que a agenda

00:49:16climática

00:49:16será uma das prioridades

00:49:19bom então

00:49:22temos aí

00:49:23o Lula citando

00:49:24o G20

00:49:25o Brasil

00:49:27vai presidir

00:49:28então o G20

00:49:30e se a gente

00:49:31for acreditar

00:49:32no Lula

00:49:33não só vai presidir

00:49:34como também vai direcionar

00:49:35o G20

00:49:36mas eu te pergunto

00:49:38que importância

00:49:39que tem esse

00:49:40e outros fóruns

00:49:41também né

00:49:42que a gente tem no mundo

00:49:43mas o G20

00:49:44no caso

00:49:44que é esse que o Brasil

00:49:45vai presidir

00:49:47a partir de 2024

00:49:48olha nós tivemos

00:49:50muitas crises mundiais

00:49:52e depois de cada crise

00:49:53seja uma guerra

00:49:54seja uma grande crise econômica

00:49:55uma depressão

00:49:56uma grande recessão

00:49:57sempre surgem ideias

00:49:58de organização

00:50:00de coordenação

00:50:02e consulta

00:50:04entre os países

00:50:05para evitar os desastres

00:50:07né

00:50:07a grande guerra

00:50:08foi uma devastação enorme

00:50:11por isso chamado

00:50:11de grande guerra

00:50:12e se criou a Liga das Nações

00:50:13que não deu conta

00:50:14do recado

00:50:15e na segunda guerra

00:50:17se criou a ONU

00:50:18teoricamente

00:50:19com um instrumento

00:50:22de defesa coletiva

00:50:23né

00:50:23a cargo do Conselho de Segurança

00:50:25que deveria ser mais funcional

00:50:26do que foi a Liga das Nações

00:50:28mas também

00:50:28não resolveu

00:50:29nem Vietnã

00:50:30nem Oriente Médio

00:50:31nem muitas outras guerras civis

00:50:33ainda que

00:50:33se tenha introduzido

00:50:35o direito de intervir

00:50:36né

00:50:37que é

00:50:38a intervenção humanitária

00:50:40né

00:50:40que foi usada

00:50:41na Primavera Árabe

00:50:42na Líbia

00:50:43nem sempre com bons resultados

00:50:44mas o G20

00:50:46ele foi criado

00:50:47após uma crise

00:50:49de países ricos

00:50:50né

00:50:51as crises anteriores

00:50:51crise da dívida latino-americana

00:50:53nos anos 80

00:50:54crise dos mercados financeiros asiáticos

00:50:56e da moratória russa

00:50:57nos anos 90

00:50:58e finalmente

00:50:59a crise imobiliária americana

00:51:01de 2007

00:51:01e crise financeira

00:51:03em 2008

00:51:042009

00:51:05e foi aí

00:51:06quando o George Bush

00:51:07filho

00:51:08mesmo que tinha invadido

00:51:09o Iraque

00:51:09provocou

00:51:10todo aquele desastre

00:51:12no Oriente Médio

00:51:13até hoje aliás

00:51:14chamou

00:51:15a um órgão

00:51:16que já existia

00:51:17porque nas crises financeiras

00:51:19dos anos 90

00:51:19o FMI

00:51:21então dirigido

00:51:22pelo francês

00:51:22Michel Candessy

00:51:23criou

00:51:24o Fórum de Estabilidade Financeira

00:51:26que já era

00:51:28de 20 países

00:51:29mais a União Europeia

00:51:30mais a OCDE

00:51:31e mais alguns outros órgãos

00:51:33FMI

00:51:34Banco Mundial

00:51:34etc

00:51:35entende

00:51:35então já havia

00:51:36o Fórum de Estabilidade Financeira

00:51:37que funcionava

00:51:38junto com o Banco de Basileia

00:51:40o Banco de Compensações Internacionais

00:51:42para estabelecer

00:51:43regras

00:51:43para que não houvesse

00:51:45mais crises

00:51:45bancárias

00:51:46ou financeiras

00:51:47regras

00:51:48de medidas

00:51:49prudenciais

00:51:50e o Banco de Basileia

00:51:51vem emitindo

00:51:52Basileia 1

00:51:53Basileia 2

00:51:54Basileia 3

00:51:54que são aquelas regras

00:51:56de capitalização

00:51:56de depósitos

00:51:58de garantias

00:51:59uma série

00:52:00de normas

00:52:01prudenciais

00:52:02que o Brasil

00:52:02segue aliás

00:52:03mas a crise

00:52:04de 2008

00:52:05foi devastadora

00:52:06para o País Rico

00:52:07a Espanha

00:52:07foi atingida

00:52:08a Grã-Bretanha

00:52:09a Irlanda

00:52:09a Itália

00:52:10a Grécia

00:52:11que teve que ser ajudada

00:52:12pela Troika

00:52:13Internacional

00:52:15União Europeia

00:52:16Banco Mundial

00:52:17Fundo Monetário

00:52:18então

00:52:19foi criado

00:52:20esse G20

00:52:21que era o Fórum de Estabilidade Financeira

00:52:23com um mandato

00:52:25para coordenação política

00:52:26não vamos nos iludir

00:52:28não vai criar

00:52:29um novo Bretton Woods

00:52:30não é?

00:52:31não vai

00:52:31reformar

00:52:32a Ordem Econômica Internacional

00:52:34a menos de uma nova

00:52:35grande catástrofe

00:52:36mas ele permitiu

00:52:38uma consulta

00:52:39entre os países

00:52:39aliás a Rússia

00:52:40saída da União Soviética

00:52:43nos anos 90

00:52:43foi incorporada

00:52:46ao G7

00:52:47G7 são as sete

00:52:48grandes economias

00:52:49mundiais

00:52:50não é?

00:52:50que até hoje

00:52:51continua funcionando

00:52:52mas virou um G8

00:52:53a partir de

00:52:541998

00:52:5599

00:52:56até a invasão

00:52:57da Crimeia

00:52:58pelo Putin

00:52:59em 2014

00:52:59quando ela foi

00:53:00expelida

00:53:01digamos

00:53:01o G7

00:53:02continua funcionando

00:53:03e o G20

00:53:03é um fórum

00:53:04maior

00:53:05não é?

00:53:05que representa

00:53:07talvez 90%

00:53:08do PIB mundial

00:53:09talvez mais até

00:53:10do que isso

00:53:10e grande parte

00:53:11do comércio internacional

00:53:12que está aí assim

00:53:13em condições

00:53:14de

00:53:15digamos

00:53:16dirigir

00:53:17grandes aspectos

00:53:19dos

00:53:20comons

00:53:20né?

00:53:21dos problemas

00:53:22comuns

00:53:23que são

00:53:23os do meio ambiente

00:53:25da criminalidade

00:53:25internacional

00:53:26da lavagem de dinheiro

00:53:27de uma fiscalidade

00:53:29sobre grandes transferências

00:53:31de capitais

00:53:32internacionais

00:53:33e também

00:53:34do combate

00:53:35à criminalidade

00:53:36e garantir

00:53:38a paz e a segurança

00:53:38internacional

00:53:39que é função

00:53:39princípua

00:53:40do Conselho de Segurança

00:53:42mas que nem sempre consegue

00:53:43né?

00:53:43O G20

00:53:44seria uma espécie

00:53:44de diálogo

00:53:45ou seja

00:53:45um conclave

00:53:46anual

00:53:47em que os chefes

00:53:48de Estado

00:53:48vêm

00:53:48na verdade

00:53:49aquilo é preparado

00:53:51religiosamente

00:53:51pelos Sherpas

00:53:52que são os funcionários

00:53:53né?

00:53:53que preparam um ano

00:53:54antes

00:53:55a agenda

00:53:56a declaração

00:53:57e os chefes de Estado

00:53:58vão lá

00:53:59para uma foto

00:53:59opportunity

00:54:00para uma ocasião

00:54:01de palanque

00:54:01faz um belo discurso

00:54:03prometem coisas

00:54:04transferência

00:54:05de dinheiro

00:54:05etc

00:54:06depois as coisas

00:54:07vão caminhar

00:54:07muito lentamente

00:54:08não é?

00:54:09mas hoje você está

00:54:10num

00:54:10talvez numa nova divisão

00:54:13entre os países ocidentais

00:54:15de economia de mercado

00:54:17democracias

00:54:17respeitando liberdades

00:54:19democráticas

00:54:20direitos humanos

00:54:21etc

00:54:21e duas grandes autocracias

00:54:24que são a Rússia

00:54:26do Putin

00:54:27não é?

00:54:27pelo menos a Rússia

00:54:28do Putin

00:54:28não é?

00:54:29a do Yeltsin

00:54:29era um pouco diferente

00:54:30talvez

00:54:31e a China

00:54:33que acaba de se adquirir

00:54:34um novo imperador

00:54:35porque o Deng Xiaoping

00:54:36quando montou

00:54:38um sistema de alternância

00:54:39no poder

00:54:40entre líderes

00:54:41do Partido Comunista

00:54:42Chinês

00:54:43não é?

00:54:44ele fez isso

00:54:44dois mandatos

00:54:45e depois

00:54:46dá espaço

00:54:47para uma nova geração

00:54:48e um certo equilíbrio

00:54:49entre as várias tendências

00:54:51do Partido Comunista

00:54:52os mais globalistas

00:54:53os antigos comunistas

00:54:55os centralistas

00:54:56etc

00:54:56isso acabou

00:54:57agora temos um imperador

00:54:59que promete ficar

00:55:00até o fim dos dias

00:55:01como o próprio

00:55:02Putin

00:55:04talvez

00:55:04planeje ficar

00:55:05lá na Rússia

00:55:06como um novo czar

00:55:07não é?

00:55:07o czar

00:55:08então

00:55:09eles têm

00:55:10uma demanda

00:55:12por uma nova ordem mundial

00:55:13eu acredito

00:55:14que esse seja

00:55:14um momento crucial

00:55:17da diplomacia brasileira

00:55:18a diplomacia brasileira

00:55:19sempre

00:55:19buscou autonomia

00:55:20não é?

00:55:21buscou um equilíbrio

00:55:23entre

00:55:24os diversos componentes

00:55:25dessa ordem mundial

00:55:26antigamente

00:55:27os comunistas

00:55:28os capitalistas

00:55:29hoje não temos

00:55:30mais comunistas

00:55:31a não ser

00:55:31em Cuba

00:55:33na Coreia do Norte

00:55:34talvez na Venezuela

00:55:35e Nicarágua

00:55:36mas todo mundo

00:55:37participa da economia

00:55:38de mercado

00:55:39a China

00:55:39intensamente

00:55:40a Rússia também

00:55:42com a sua

00:55:43cleptocracia

00:55:44mas hoje nós temos

00:55:45uma demanda

00:55:46por uma nova ordem mundial

00:55:47a tal de

00:55:48multipolaridade

00:55:49como disse o Lula

00:55:50que é uma demanda

00:55:52para

00:55:52digamos

00:55:53não dar

00:55:55tanto espaço

00:55:56para

00:55:56as chamadas

00:55:57potências

00:55:58hegemônicas

00:55:59que para os

00:56:00esquerdistas

00:56:00são sempre

00:56:01os americanos

00:56:03e os europeus

00:56:04e haver um equilíbrio

00:56:06com as novas potências

00:56:07ascendentes

00:56:08e os emergentes

00:56:10dentre os quais

00:56:11o grupo do BRICS

00:56:13que eu considero

00:56:14um problema

00:56:15muito sério

00:56:16na diplomacia brasileira

00:56:17porque o Brasil

00:56:17supostamente

00:56:18é um aliado

00:56:19de um país

00:56:19que violou

00:56:20flagrantemente

00:56:21a carta da ONU

00:56:23invadiu um país

00:56:24e está perpetrando

00:56:25crimes de guerra

00:56:26crimes contra a humanidade

00:56:27crime contra a paz

00:56:29os mesmos crimes

00:56:30pelos quais

00:56:30foram processados

00:56:32e condenados

00:56:32os criminosos

00:56:33de guerra nazistas

00:56:34em Nuremberg

00:56:35em 1946

00:56:36o Putin

00:56:38provavelmente

00:56:39merece o Nuremberg

00:56:40para si próprio

00:56:42exclusivamente

00:56:44não sabemos

00:56:45se isso vai ocorrer

00:56:46mas o fato do Brasil

00:56:47ser leniente

00:56:48condescendente

00:56:49com o país

00:56:50transgressor

00:56:51da ordem internacional

00:56:52isso viola

00:56:54os nossos princípios

00:56:55e valores

00:56:55inclusive

00:56:55eu me permito

00:56:57aqui citar

00:56:57que nem

00:56:58o Estado Novo

00:56:59seja o Estado Novo

00:57:01do Vargas

00:57:01de 1937

00:57:031945

00:57:03violou

00:57:05a doutrina

00:57:06jurídica

00:57:07da diplomacia

00:57:08brasileira

00:57:09quando

00:57:09o Hitler

00:57:10invadiu a Polônia

00:57:12o nosso representante

00:57:14lá

00:57:14o ministro

00:57:15em Varsóvia

00:57:16perguntou

00:57:17qual seria

00:57:17a atitude do Brasil

00:57:18e a atitude do Brasil

00:57:19em 1940

00:57:21ou melhor

00:57:21em 1939

00:57:22não é

00:57:23disse olha

00:57:24siga

00:57:25o governo

00:57:26no exílio

00:57:27da Polônia

00:57:28e quando

00:57:29a União Soviética

00:57:30invadiu os três

00:57:31países bálticos

00:57:32em 1940

00:57:33países que nós

00:57:35reconhecíamos

00:57:36desde 1919

00:57:37porque os países

00:57:38bálticos saíram

00:57:39do Império

00:57:40Kizarista

00:57:40e se tornaram

00:57:41países independentes

00:57:42em 1919

00:57:43nas negociações

00:57:44de paz

00:57:44de Paris

00:57:45nós não reconhecemos

00:57:47essa invasão

00:57:48os países bálticos

00:57:50mantiveram

00:57:50relações diplomáticas

00:57:51com o Brasil

00:57:52de 1940

00:57:54governo no exílio

00:57:56até 1961

00:57:57quando o Jânio Quadros

00:57:59finalmente reatou

00:58:00relações com a União Soviética

00:58:02e aí

00:58:03se desfez

00:58:04digamos

00:58:05as representações

00:58:06diplomáticas

00:58:08dos países bálticos

00:58:09no Rio de Janeiro

00:58:09mas se manteve ainda

00:58:11durante os anos 60

00:58:12a representação consular

00:58:13de um ou de dois

00:58:15países bálticos

00:58:16no Rio de Janeiro

00:58:16ou seja

00:58:16nem ditaduras

00:58:18como a do Estado Novo

00:58:20e talvez a ditadura

00:58:21militar

00:58:22não rompeu tanto

00:58:23a doutrina jurídica

00:58:25do Brasil

00:58:26quanto fez agora

00:58:28o Bolsonaro

00:58:28porque ele foi

00:58:29pusilânime

00:58:31nas votações

00:58:33tanto do Conselho de Segurança

00:58:34quanto da Assembleia Geral

00:58:36e no Comitê de Direitos Humanos

00:58:38em Genebra

00:58:39nenhuma delas

00:58:41acusando a Rússia

00:58:43diretamente

00:58:44não é

00:58:44houve a condenação

00:58:45da Rússia

00:58:46pela invasão

00:58:48mas em termos

00:58:49muito diluídos

00:58:51muito vagos

00:58:52o Brasil

00:58:52achou que

00:58:53deveria se promover

00:58:54a paz

00:58:54por negociações pacíficas

00:58:56como se

00:58:56a Ucrânia

00:58:57tivesse

00:58:58alguma vez

00:58:58ameaçado a Rússia

00:59:00não é

00:59:00se opôs ao fornecimento

00:59:01de armas

00:59:02e se opôs a sanções

00:59:03como se

00:59:05a Ucrânia

00:59:05devesse render

00:59:06ao seu vizinho

00:59:07mais poderoso

00:59:08é uma posição

00:59:09muito negativa

00:59:11para nós

00:59:12acredito que isso

00:59:13vai custar

00:59:13um certo esforço

00:59:15para o Lula

00:59:16ajustar

00:59:17porque

00:59:18até agora

00:59:19os BRICS

00:59:20se mantiveram neutros

00:59:21não é

00:59:21alguns até

00:59:23aproveitando

00:59:24da guerra

00:59:24para fazer negócio

00:59:25com a Rússia

00:59:26a Índia importou

00:59:27muito petróleo barato

00:59:28a China mantém

00:59:29suas relações

00:59:31talvez ela

00:59:32revise isso

00:59:33ela acaba de condenar

00:59:34o uso de armas nucleares

00:59:35não é

00:59:36nessa reunião

00:59:37do G20

00:59:38em Bali

00:59:39e

00:59:40eu acredito que o Brasil

00:59:41também deveria tomar

00:59:42uma atitude

00:59:43condizente com valores

00:59:44e princípios

00:59:45da diplomacia

00:59:45brasileira

00:59:46embaixador

00:59:48gostei bastante

00:59:49dessa sua

00:59:49comparação

00:59:50histórica

00:59:52acho até que

00:59:53é um pouco

00:59:53reconfortante

00:59:55saber que

00:59:56o Brasil

00:59:57ainda que

00:59:58no Estado Novo

00:59:59ou na ditadura

01:00:00militar

01:00:00não aceitou

01:00:02assim tão de barato

01:00:03que um país

01:00:04fosse lá

01:00:05e invadisse

01:00:06o outro

01:00:06agora

01:00:07o que está acontecendo

01:00:09agora

01:00:10essa invasão

01:00:10da Ucrânia

01:00:12o Bolsonaro

01:00:13foi leniente

01:00:15como o senhor

01:00:15colocou

01:00:16mas o discurso

01:00:17do Lula

01:00:18também não difere

01:00:19tanto

01:00:20um pouco

01:00:21também faltou

01:00:22uma condenação

01:00:23da Rússia

01:00:24por parte do

01:00:24petista

01:00:25exatamente

01:00:27o Lula

01:00:28em primeira

01:00:29manifestação

01:00:30que ele fez

01:00:30logo em fevereiro

01:00:32ou uma semana

01:00:32depois

01:00:33dizendo que os helenses

01:00:34que eram igualmente

01:00:34culpados

01:00:35culpados por

01:00:36querer entrar

01:00:37na OTAN

01:00:37e aí provocar

01:00:39os russos

01:00:40essa é a visão

01:00:40da esquerda

01:00:42dos socialistas

01:00:43dos comunistas

01:00:44dos aliados

01:00:45da Rússia

01:00:45da China

01:00:47que são

01:00:48anti-OTAN

01:00:48não é?

01:00:49acredito que

01:00:50os militares

01:00:51brasileiros

01:00:52seriam mais cautelosos

01:00:53porque eles têm

01:00:54imensa interface

01:00:56de relacionamento

01:00:57tecnológico

01:00:57militar

01:00:58de assistência

01:00:59de treinamento

01:00:59de cooperação

01:01:00com os Estados Unidos

01:01:02com outros países

01:01:03da OTAN

01:01:04e a cooperação

01:01:05com a China

01:01:06e com a Rússia

01:01:07nesses setores

01:01:07não é tão significativa

01:01:10quanto foi historicamente

01:01:11nas últimas décadas

01:01:12não é?

01:01:13então

01:01:13ele sim foi

01:01:15reproduziu

01:01:16a postura esquerdista

01:01:18não é?

01:01:18de que a OTAN

01:01:19é culpada

01:01:20por ameaçar

01:01:23a Rússia

01:01:23não é?

01:01:25é uma violação

01:01:26inclusive

01:01:27da constituição brasileira

01:01:28aonde está

01:01:29a não intervenção

01:01:31nos assuntos internos

01:01:32dos países

01:01:33não é?

01:01:34e a igualdade

01:01:35soberana das nações

01:01:36isso está com a gente

01:01:37desde Rui Barbosa

01:01:38em 1907

01:01:391916

01:01:40e os países

01:01:42que saindo

01:01:43da esfera soviética

01:01:44ingressaram na OTAN

01:01:46não foi por pressão

01:01:47da OTAN

01:01:47demanda da OTAN

01:01:48foram soberanamente

01:01:50pediram

01:01:51porque eles

01:01:51não gostavam

01:01:52do abraço

01:01:53do urso russo

01:01:54não é?

01:01:54os três bálticos

01:01:55imediatamente

01:01:56a Polônia

01:01:57um pouco depois

01:01:57a Tchecoslováquia

01:01:58a Bulgária

01:02:00a Romênia

01:02:01até a Albânia

01:02:02que foi o último

01:02:03país comunista

01:02:04dos Balcãs

01:02:05até a Albânia

01:02:06entrou na OTAN

01:02:06ainda que não tenha

01:02:07ingressado na União Europeia

01:02:09até hoje

01:02:09então

01:02:10esses países

01:02:10em lugar do abraço russo

01:02:13não é?

01:02:13do urso russo

01:02:14preferiram ficar

01:02:15com a OTAN

01:02:16como garantia

01:02:17do que está ocorrendo

01:02:18agora com a Ucrânia

01:02:19se a Ucrânia

01:02:20tivesse entrado

01:02:21na OTAN

01:02:22nos anos 90

01:02:23quando a Rússia

01:02:24estava naquela

01:02:24imensa

01:02:25imenso declínio

01:02:27econômico

01:02:27militar

01:02:28geopolítico

01:02:29não é?

01:02:30talvez a Ucrânia

01:02:30não tivesse sido invadido

01:02:31os bálticos

01:02:33a Polônia

01:02:34a Tchecoslováquia

01:02:35a Romênia

01:02:36a Hungria

01:02:37a Albânia

01:02:37fizeram o seu seguro

01:02:38não é?

01:02:39o seu seguro

01:02:40foi ingressar na OTAN

01:02:41então

01:02:42por que?

01:02:44os urtanianos

01:02:44se julgavam

01:02:45irmãos dos russos

01:02:46e na verdade

01:02:47são irmãos

01:02:48que foram durante séculos

01:02:49a civilização russa

01:02:51aliás deve muito mais

01:02:52a Kiev

01:02:52do que a Moscou

01:02:54como disse erradamente

01:02:55o Putin

01:02:56não é?

01:02:57então

01:02:57eu acredito que

01:02:58no espaço de 4 ou 5 anos

01:03:00a Ucrânia

01:03:01independente

01:03:02não sabemos

01:03:03com qual território

01:03:04exatamente

01:03:04a Ucrânia

01:03:05vai ingressar

01:03:05na União Europeia

01:03:06e talvez em 10 ou 15 anos

01:03:08ela ingresse na OTAN

01:03:10se a OTAN existir

01:03:11não é?

01:03:12são resquícios

01:03:14da Guerra Fria

01:03:15que foram renascendo

01:03:18agora

01:03:18com essa nova

01:03:19Guerra Fria Econômica

01:03:20entre China

01:03:21e Estados Unidos

01:03:22e eu acredito que

01:03:24essa Guerra Fria Econômica

01:03:25é em grande parte

01:03:26o resultado

01:03:27da arrogância americana

01:03:28não é?

01:03:29porque quando o Nixon

01:03:31incorporou a China

01:03:32à ONU

01:03:33não é?

01:03:34retirando o Taiwan

01:03:35e dando o lugar

01:03:36no Conselho de Segurança

01:03:37para a República Popular

01:03:38da China

01:03:38China comunista

01:03:40ele também favoreceu

01:03:41isso até o Clinton

01:03:43não é?

01:03:43favoreceu o ingresso

01:03:44da China

01:03:44na economia mundial

01:03:45a China finalmente

01:03:47entrou no GAT

01:03:48OMC em 2001

01:03:49e teve um

01:03:50um desenvolvimento

01:03:51fulgurante

01:03:52mas desde os anos 90

01:03:54quando a Rússia

01:03:55estava

01:03:56numa postura

01:03:57absolutamente

01:03:58sem qualquer

01:04:00significado

01:04:01geopolítico

01:04:02ela tinha um PIB

01:04:03menor do que do Brasil

01:04:04nos anos 90

01:04:06uma população

01:04:07também

01:04:08menor

01:04:08depois que ela

01:04:09foi dividida

01:04:10em 15

01:04:10repúblicas

01:04:11federadas

01:04:12federativas

01:04:13enfim

01:04:14a China

01:04:16julgava

01:04:17ainda

01:04:17como resquício

01:04:18dos anos 70

01:04:19que os Estados Unidos

01:04:21eram um aliado

01:04:21natural

01:04:22da China

01:04:23com respeito

01:04:25à Rússia

01:04:25ou à União Soviética

01:04:27ou ao Império

01:04:27Kizarista

01:04:28o Império Kizarista

01:04:29tomou Vladivostok

01:04:30da China

01:04:31invadiu a Manchúria

01:04:32a capital da Manchúria

01:04:34Harbin

01:04:34foi fundada

01:04:35por engenheiros

01:04:36militares russos

01:04:37pois eles recuperaram

01:04:38antes que o Japão

01:04:39invadisse

01:04:40então durante 40 anos

01:04:42os chineses

01:04:43consideraram que

01:04:44os Estados Unidos

01:04:45seriam um aliado

01:04:45natural

01:04:46contra a Rússia

01:04:47que em algum momento

01:04:48vai ser colonizado

01:04:49economicamente

01:04:50pela China

01:04:51mas quando os Estados Unidos

01:04:52tiveram aquela

01:04:53postura arrogante

01:04:55a Ubris

01:04:55de tentar

01:04:57conter a China

01:04:58no seu crescimento

01:04:59aí os chineses

01:05:01invertiram a posição

01:05:02viram que os Estados Unidos

01:05:03não eram tão amigos assim

01:05:04e

01:05:05se

01:05:06decidiram

01:05:08se reencontrar

01:05:09com a Rússia

01:05:09novamente

01:05:10e aí

01:05:11em fevereiro

01:05:12duas ou três semanas

01:05:14antes da invasão

01:05:15no dia 4 de fevereiro

01:05:16se não me engano

01:05:17Xi Jinping

01:05:18e Putin

01:05:20em Beijing

01:05:20na inauguração

01:05:22dos Jogos Olímpicos

01:05:24de inverno

01:05:24declararam

01:05:25essa aliança

01:05:26sem limites

01:05:26isso é um

01:05:28é de alto

01:05:29significado

01:05:30geopolítico

01:05:31e é muito

01:05:32desastroso

01:05:33para o mundo

01:05:33eu não sei

01:05:34o que vão fazer

01:05:35as grandes potências

01:05:36provavelmente

01:05:36continuarão

01:05:37a sua corrida

01:05:38armamentista

01:05:39com armas

01:05:40que nunca serão

01:05:40usadas

01:05:41armas sofisticadas

01:05:43armas

01:05:43digamos assim

01:05:45nucleares

01:05:45nunca serão usadas

01:05:46serão apenas

01:05:47para dissuasão

01:05:48ou contenção

01:05:49mas o simples

01:05:50fato de você

01:05:51criar uma nova

01:05:52corrida armamentista

01:05:53e uma nova

01:05:54competição

01:05:55hegemônica

01:05:56é muito ruim

01:05:57para os países

01:05:57pobres justamente

01:05:58porque não vamos

01:05:59esquecer

01:06:00que China

01:06:01e Estados Unidos

01:06:02são absolutamente

01:06:03complementares

01:06:04no plano econômico

01:06:05complementares

01:06:05em todos os sentidos

01:06:07entre mercados

01:06:08investimentos

01:06:09tecnologia

01:06:10finanças

01:06:11cooperação

01:06:11ao mundo

01:06:12se China

01:06:13e Estados Unidos

01:06:14estivessem unidos

01:06:15como queria aquele

01:06:15historiador

01:06:16Nyle Ferguson

01:06:17chimérica

01:06:18não é?

01:06:18China e América

01:06:19nós eliminaríamos

01:06:21a pobreza do mundo

01:06:22em menos de 50 anos

01:06:24agora isso está

01:06:25afastado

01:06:26infelizmente

01:06:27e vai demorar

01:06:28muito mais tempo

01:06:29até que se dissolva

01:06:30essa animosidade

01:06:31hostilidade

01:06:32enfrentamento

01:06:34competição

01:06:35não é?

01:06:36existe até

01:06:37um acadêmico americano

01:06:39Graham Ellison

01:06:40que escreveu

01:06:41um brilhante livro

01:06:42sobre a crise

01:06:42dos foguetes soviéticos

01:06:44em Cuba

01:06:44em 1962

01:06:45que tem um livro

01:06:46publicado no Brasil

01:06:48Condenados à Guerra

01:06:49Armadilha de Tucídides

01:06:51Armadilha de Tucídides

01:06:52é aquela luta

01:06:53entre Atenas Democrática

01:06:55e Esparta Autocrática

01:06:56na Guerra

01:06:57do Peloponesa

01:06:58que foi historiada

01:06:59pelo Tucídides

01:07:00que acabou

01:07:02aliás

01:07:02com Esparta

01:07:04vencedora

01:07:05ou seja

01:07:05se Esparta

01:07:06é a China

01:07:07e Estados Unidos

01:07:08é Atenas

01:07:09Atenas perdeu

01:07:09porque errou

01:07:10diplomaticamente

01:07:11nas suas alianças

01:07:12da Liga Ateniense

01:07:13teve peste

01:07:14teve má condição

01:07:15dos seus negócios

01:07:16Esparta ganhou

01:07:17a Guerra

01:07:18do Peloponeso

01:07:19mas isso não vai ocorrer

01:07:20a Armadilha de Tucídides

01:07:22o Graham Ellison

01:07:23acha que não deve ser

01:07:25travada

01:07:26essa competição

01:07:28adversária

01:07:29entre Estados Unidos

01:07:30e China

01:07:31não pode redundar

01:07:32num conflito global

01:07:34como houve

01:07:35na primeira metade

01:07:36do século XX

01:07:37seria muito triste

01:07:38para a humanidade

01:07:40eu acredito

01:07:41que vai persistir

01:07:42a Guerra Fria

01:07:42Econômica

01:07:43já que

01:07:43os Estados Unidos

01:07:44tem esse objetivo

01:07:46utópico

01:07:47de conter a China

01:07:48a China não pode ser contida

01:07:50ela vai continuar

01:07:50progredindo

01:07:52hoje ela já está

01:07:52na quarta

01:07:53ou na quinta

01:07:53revolução industrial

01:07:55faz um pouco

01:07:56de espionagem

01:07:57pirataria

01:07:58isso tudo

01:08:00que as grandes potências

01:08:01sempre fizeram

01:08:02vai se qualificar

01:08:03inclusive no domínio espacial

01:08:05numa marinha

01:08:06de águas azuis

01:08:07na cooperação internacional

01:08:09nos investimentos

01:08:10na finança

01:08:10já é a maior potência

01:08:12comercial

01:08:12do mundo

01:08:13então

01:08:14o racional

01:08:16o ideal

01:08:16seria que China

01:08:18e Estados Unidos

01:08:18se entendesse

01:08:19em benefício

01:08:19de países pobres

01:08:20e isso talvez

01:08:22ocorra daqui a

01:08:2320, 30 ou 40 anos

01:08:25infelizmente

01:08:26o orgulho

01:08:28das grandes potências

01:08:30é muito grande

01:08:31ou

01:08:31dos

01:08:34dos planejadores

01:08:35militares

01:08:36os paranóicos

01:08:37do Pentágono

01:08:37os militares

01:08:38são pagos

01:08:39para serem paranóicos

01:08:40para planejarem

01:08:41todas as hipóteses

01:08:42o triste

01:08:43é quando

01:08:43acadêmicos

01:08:44inteligentes

01:08:45também

01:08:46pegam essa doença

01:08:48dos generais

01:08:49do Pentágono

01:08:49se tornam

01:08:50paranóicos

01:08:50também

01:08:51é como

01:08:52o Alexander Duggin

01:08:54na Rússia

01:08:55não é

01:08:55ou outros malucos

01:08:57que existem

01:08:57por aí

01:08:58Putin

01:08:59e outros

01:09:00eu espero que

01:09:01volte a razão

01:09:03e que haja

01:09:05um

01:09:07um itinerário

01:09:08muito mais próximo

01:09:09ao da

01:09:10meia potência imperial

01:09:12que é a União Europeia

01:09:13não é

01:09:13é o projeto

01:09:14de unificação

01:09:15econômica

01:09:16monetária

01:09:17de direitos humanos

01:09:18de liberdades

01:09:20mais exitoso

01:09:21que existe no mundo

01:09:22mas isso não vamos esquecer

01:09:23é o resultado

01:09:24de duas grandes guerras

01:09:25no século XX

01:09:26e de dezenas

01:09:27de outras guerras

01:09:28nos séculos anteriores

01:09:29né

01:09:29os europeus aprenderam

01:09:31vamos ver se chineses

01:09:33americanos

01:09:33e russos

01:09:34também aprendem

01:09:35ótimo

01:09:36embaixador

01:09:37foi uma ótima

01:09:39aula aí

01:09:40de relações internacionais

01:09:42também achei

01:09:43um bom mergulho

01:09:45na cabeça

01:09:46do Lula

01:09:47influenciado

01:09:48né

01:09:49pelo Celso Amorim

01:09:50e pelo PT

01:09:51acho que

01:09:52deu bem

01:09:53pra tentar

01:09:54prever

01:09:54o que pode acontecer

01:09:56nos próximos

01:09:56quatro anos

01:09:57muito obrigado

01:09:59pelo seu tempo

01:10:01essa tarde

01:10:02esse foi

01:10:03mais um podcast

01:10:04Latitude

01:10:05toda terça-feira

01:10:06nove da noite

01:10:08entra

01:10:09vai ao ar

01:10:10um novo programa

01:10:11discutindo

01:10:12e analisando

01:10:13os principais fatos

01:10:14do mundo

01:10:15e também

01:10:15a nossa diplomacia

01:10:17se você gostou

01:10:18recomende

01:10:19clica aí

01:10:20no sininho

01:10:21embaixador

01:10:22muito obrigado

01:10:23pela participação

01:10:24hoje

01:10:24até a próxima vez

01:10:27meu caro Duda Teixeira

01:10:28muito obrigado

01:10:28pelo convite

01:10:29tchau

01:10:30um abraço

01:10:31até mais

01:10:40tchau

Latitude #02 - Paulo Roberto de Almeida: Os 7 erros diplomáticos de Lula

Categoria

Transcrição

Recomendado