Forró das Minas fala sobre desafios para alcançarem cachês mais justos
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00:00Um dos pilores muito legais do Forro das Minas é a geração de renda justa e colaborativa para as integrantes.
00:08Vamos saber então como é que funciona esse modelo na prática, quais os impactos que ele tem gerado, como é que é esse negócio?
00:15A gente procura ter uma remuneração coerente, todo mundo receber o mesmo valor, a gente valorizar o cachê, que já é difícil.
00:26Então quando a gente consegue um bom cachê, todas as musicistas ganham equivalente, igual, não tem essa coisa, uma ganha mais que a outra.
00:35Então a gente procura deixar num padrão que na verdade a gente queria que fosse em todo canto, todo mundo ganhando igual, igual aos homens.
00:45E eu acho importante, Rafa, aproveitando o gancho aqui, eu sou a Paola, trabalho aqui como sanfoneira no coletivo,
00:53que eu acho que é um movimento muito importante de mulheres, por si só é um movimento político, por ser um espaço das mulheres fazerem.
01:02Mas essa dimensão justamente que você perguntou sobre permitir mais espaços para as mulheres tocarem, para serem autônomas,
01:12conseguirem pagar as contas no final do mês, isso é muito importante.
01:16Porque às vezes fica, ai, que lindo, as mulheres tocando, parecendo que estão fazendo um favor, como elas foram colocadas assim, de uma cota, de ter mulher, uma representatividade.
01:25Não, as mulheres têm que pagar suas contas, muitas são mães, muitas precisam de arcar com aquilo tudo para justamente também conseguirem se desenvolver artisticamente.
01:35Então tem uma base aí, né, gente, que a gente sabe que é uma infraestrutura,
01:38que é importante que o coletivo, eu acho que tem conseguido cada vez mais proporcionar isso para as integrantes, né?
01:45Eu mesmo tenho, pago bastante conta.
01:48Bastante babá também.
01:50Tem que pagar babá para ficar com as crianças, né, para poder tocar.
01:53É, e a gente sabe que boa parte das famílias no Brasil hoje, a cabeça de família é a mulher mesmo, né,
01:59que faz a jornada dupla ou tripla, muitas vezes, né, está na rua, trabalhando também, está tocando,
02:05está ganhando seu dinheiro, mas tem que voltar, tem que cuidar da casa, cuidar das crianças.
02:10É o seu caso também, sanfoneira?
02:11Exato, eu tenho dois filhos, né, um de dez e uma de quase três, então é uma correria danada.
02:17E eu acho que é importante também pensar que isso foi justamente o que por muito tempo invisibilizou a presença das mulheres na música, né,
02:27porque justamente elas tinham que ficar em casa cuidando, não tinha, né, essa autonomia,
02:31justamente essa valorização do trabalho, né, também doméstico, que ainda não é valorizado,
02:39e isso somava para que a mulher não podia justamente se dedicar para um instrumento.
02:46Isso, historicamente, né, a gente está...
02:48Por que que se fica, ah, nossa, os caras tocam melhor, tipo assim,
02:51tem um lugar comum de achar, assim, que o homem instrumentista tem uma supremacia, uma coisa assim,
02:57na verdade tem a ver com essa estrutura, diz que a gente está falando, de criar condições para as mulheres serem autônomas
03:04e sobrar tempo para estudar seu instrumento, para se dedicar para a sua arte, para se dedicar para o seu trabalho,
03:09e isso é uma roda, né, então uma coisa vai gerando a outra, e hoje em dia é isso, eu consigo me dedicar,
03:15mas eu acho que também tem a ver com a luta de mulheres anteriores, né.
03:18Então, as coisas estão, os espaços vão sendo abertos, a estrada está aí, a gente está caminhando para ficar cada vez melhor
03:26para as mulheres, para as próximas gerações também.