“A vida é trânsito, é dia útil e não é domingo”, diz Nany People
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00:00Interessante, porque nessa fase, né, a partir dos 50, muitos artistas entram no ostracismo.
00:05Não são mais chamados pra nada, especialmente as mulheres, né?
00:08O mundo é muito cruel com as atrizes.
00:11A menina tava deixando de ser a juventude.
00:12Porque o Brasil tem isso também, né, Jeff? O Glauco também.
00:16É um país muito jovem e que vai ter cada vez mais gente de idade daqui pra frente
00:21e é loucubrando a juventude que é, sabe, irracional.
00:25Porque, assim, é um país que vai ter mais aposentados.
00:27Você vê, aumenta, se a qualidade de vida hoje nos deu a possibilidade de estender a nossa existência,
00:34o que vai ter mais gente de idade.
00:35Eu tô vendo 60 anos e meus amigos todos falaram, antes sempre foi distraída, até pra ficar velha.
00:39Mas essa coisa de conceito do velho é muito relativo.
00:42E eu, assim, não é essa coisa de fazer, ah, porque isso só faz teatro.
00:44Não, eu pego teatro, eu pego avião, eu alugo o carro, eu vou de madrugada dirigindo.
00:48É assim, é como diz Nelson Rodrigues, num texto que ficou a Bárbara Bruno,
00:51a vida é trânsito, é dia, é correria, a vida é trânsito, é dia útil, não é domingo.
00:56A vida é trânsito, é dia útil, não é domingo.
00:58Então, você chega na cidade, não tem avião pra outra,
01:02você aluga o carro, vai fazer um pim-pam-pum.
01:03Eu fiz uma turnê agora pelo Paraná, desci no Maringá, no Maringá,
01:07aluguei um carro, fui até Londrina e eu dirigindo.
01:10Telma e Luís no seu corpo.
01:11Vai, faz espetáculo, minha produção, junto comigo, sai, vai pra Curitiba.
01:15Agora fizemos o presidente prudente, fiz agora, fim de semana,
01:17Cachoeira, também Mirim, Vitória.
01:19Cheguei em São Paulo, peguei avião, fui pra Goiânia,
01:21de Goiânia pegamos um carro, fui até Brasília e assim vai.
01:23E viajando cada cidade, um solo.
01:26Ah, você mistura um pouco?
01:27Às vezes dá uma misturada.
01:29Esse texto não é daqui.
01:31E eu não tive essa crise,
01:33porque eu lembrei de uma coisa do Paulo Gustavo, maravilhoso.
01:36Quando eu tinha saído daquele filme de terror chamado A Fazenda,
01:39eu fazia uma temporada no Teatro dos Grandes Atores, no Rio.
01:42E ele estava estreando o Imperativo,
01:44estreando o Imperativo.
01:46E ele fazia às nove, fazia às onze e meia.
01:48Fazia pra ele desocupar, às onze e meia da noite.
01:50Falei, é, minha filha, tá certo, né?
01:51Se a gente não faz, a gente inventar a nossa história,
01:55a gente não é chamado pra nada.
01:56Só chama a gente fazer o quê?
01:57O garçom, a garçonete, a cabeleireira, entendeu?
02:00É isso.
02:01Então a gente tem que inventar a nossa história,
02:02ser protagonista das nossas próprias histórias,
02:05pra gente não se deixar levar nessa crítica equivocada do povo.
02:08Ah, você não tem idade mais pra isso.
02:09Idade é uma coisa que não pega.
02:11Até agora não pegou.
02:12Não pesou a chegada dos 60?
02:13Nada, nada.
02:14Nada.
02:14E continua pegando os de 20,
02:16que você acha que é o que faz a vida valer a pena.
02:19Tudo vale a pena se o testosterona não é pequeno.