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AprendizadoTranscrição
00:00Lidiane ainda luta contra as lembranças do passado e os vícios do presente.
00:05O drama de Lidiane para se livrar das drogas é o mesmo de milhares de brasileiros.
00:11Gente que abandona a casa, família, emprego e se entrega às ruas.
00:16A reportagem que você vai assistir agora mostra a cracolândia de um ângulo diferente.
00:23Vista de cima, sobrevoamos o centro de São Paulo para mostrar o exército de zumbis.
00:29Como eles mesmos se referem ao mundo em que vivem.
00:34O que você está vendo agora não são imagens de uma zona de guerra.
00:40Ali é o verdadeiro inferno.
00:42Não são imagens da destruição típica das batalhas armadas.
00:48Nada como os conflitos na Síria, na Líbia ou no Iraque.
00:56Aqui, guerra é outra.
00:59Pode fechar o olho e acordar no outro dia, como você não pode nem acordar.
01:06Uma luta permanente contra a dependência química.
01:11Zumbis, pessoas magras, pessoas usando as drogas, pessoas bebendo.
01:16Estamos em São Paulo, a maior metrópole da América do Sul.
01:20Na maior cracolândia do mundo.
01:25A cracolândia é um inferno que tem que acabar.
01:30Você pode até já ter visto essas imagens antes.
01:34E se impressionado com as cenas.
01:37Mas não é o suficiente.
01:39Crianças viciadas, mãos, crianças, fumando a droga com o filho.
01:46Prepare-se para ver a cracolândia de um novo ângulo.
01:49E conhecer os segredos desta região.
01:52Com os depoimentos daqueles que não têm voz.
01:55Daqueles que nunca têm vez.
01:57Os usuários que fazem das ruas o próprio lar.
02:04Não tem ninguém.
02:05Eu sou sozinho.
02:06Eu e Deus.
02:10Cracolândia.
02:11O retrato do caos.
02:14O craque.
02:16A morte.
02:17A morte das famílias.
02:22A destruição do ser humano.
02:26E o roubo da alma.
02:29Perdi tudo por causa da droga.
02:32Então, para mim, ter sido a ruína.
02:34É um prazer maldito.
02:36O ser humano, ele é movido a prazer.
02:37Só que esse prazer vai acabar com a minha vida.
02:41Te alivia.
02:43Te faz feliz por um momento.
02:45Tira, você esquece de tudo.
02:48Eu perdi minha vida inteira.
02:50Perdi mulher, perdi tudo.
02:52Eu sou um lixo.
02:56São Paulo.
02:58Capital.
02:59No centro da cidade.
03:01A maior cracolândia do mundo.
03:04Milhares de pessoas se rendem ao vício.
03:09De cima, o que vemos é um formigueiro humano.
03:12Pessoas andam em zigue-zague sem parar.
03:18Mas parecem zumbis.
03:20Eu sou usuário.
03:21Eu uso.
03:23Carregam colchões.
03:25A fumaça de um churrasco improvisado se mistura dos cachinhos de craque.
03:31É o pior lugar do mundo.
03:35Móveis são arrastados ao longo da rua.
03:38O movimento é intenso.
03:40É rua, é um lugar onde não tem lei.
03:44Você não tem seguro.
03:45Você está ali, é exposto a tudo.
03:48Céu limpo.
03:4923 graus.
03:52Os dependentes se escondem debaixo dos guarda-sóis para consumir a droga.
03:56A cracolândia é só droga.
03:59O lado mais obscuro da dependência química é visto aqui.
04:06O vício prende.
04:08Então você, às vezes, tem até dificuldade de sair dali.
04:13À noite, a cracolândia ganha outros contornos.
04:18Nesta época do ano, a temperatura chega aos 13 graus.
04:22Para se proteger do frio, fogueira e cobertores encolados nas costas.
04:31Você praticamente fica à mercê do vento, na verdade.
04:38Você vai para onde o vento te levar.
04:41No chão, lixo e todo o material coletado ao longo do dia.
04:46E muita gente.
04:50Viver na cracolândia é muito difícil.
04:52Quem não é acostumado, apanha direto.
04:54É muita briga, muitas confusões.
04:57Pessoas jogadas no asfalto e exaustas pelo uso de entorpecentes.
05:03A cracolândia é um portal entre o mal e o bem.
05:07Do lado de fora da cracolândia é o bem.
05:09Quando você entra do lado de dentro da cracolândia,
05:12é o lado espiritual maligno.
05:13Tudo é um pesado.
05:17A impressão que se tem é que os usuários caminham em círculos.
05:22Muitos atrás de droga.
05:25Aí tem uns que falar, eu quero três reais.
05:27Fala, eu te dou em droga.
05:29Geralmente as substâncias são vendidas nos pontos cobertos por lonas e barracas improvisadas.
05:34O ser humano, ele perde toda a sua mistura naquele momento, naquele trago.
05:41Ele está perdendo a sua família, a sua liberdade.
05:45O acende e apaga dos isqueiros é constante.
05:48As chamas que mantêm o vício seguem queimando.
05:52E o consumo do crack invade a madrugada.
05:55Minha mãe um dia apareceu na minha casa e falou assim,
06:00Ai meu, para de fumar maconha.
06:03Fuma um crack.
06:05Crack não fede.
06:06Paraná na cracolândia em 1999.
06:10Deixa eu experimentar um crack.
06:12Vamos experimentar.
06:13A primeira apreensão de crack na cidade de São Paulo aconteceu em 22 de junho de 1990.
06:43Pensei que era doce.
06:46Aí depois o traficazinho falou assim,
06:48Vem aqui.
06:50Ele falou, só colocar aqui você vai comer.
06:52Ele falou assim, colocar no cachimbo.
06:56Aí eu fui.
06:58Soltou aquela fumaça no meu rosto.
07:01Estava meio me amolecendo.
07:03Eu soube que algo ali não estava bem.
07:06Falei, tá bom.
07:07Deixa eu ver como que é isso aí.
07:08Fui bem pequenininho.
07:10Às vezes a gente quer descobrir como é que é também.
07:12Como é que funciona.
07:14Cada pedra de crack pesa em média 0,25 gramas.
07:19E é vendida por 5 reais.
07:22Os sentimentos começaram a mudar.
07:25As atitudes.
07:25Na Cracolândia, o comércio de drogas é feito sem constrangimento.
07:36Nesta imagem, em plena luz do dia, traficantes encapuzados vendem as drogas.
07:42Uma mesa, duas cadeiras e um prato com pedra de crack.
07:47Bastam para montar o escritório do tráfego.
07:50E ali é como se fosse uma fumaça no comércio, né?
07:54Um usuário de monitor preto parece entregar o cachimbo.
07:59É garantia de negócio fechado.
08:01O vício.
08:06Aí eu falei, mãe, vou fumar meu computador.
08:09Vem de por mil e quinhentos, essa é a minha prima.
08:14Dói.
08:14Perdi família, perdi emprego, não tem moradia, tô na rua.
08:25A única roupa que eu tenho é essa que tá aqui no couro.
08:29Aí eu falei, mãe, que a gente vai fumar depois de pôr o computador?
08:33Eu falei, meu, o meu ventilador, tá ligado?
08:37O cara falou assim, então vamos lá, vou te dar 200, pra você ficar a noite toda comigo.
08:44Tem 200 reais.
08:46No outro dia, deixei anotecer.
08:50Agora foi tudo.
08:53O efeito do crack é quase imediato.
08:57Ele vai do cachimbo ao cérebro em apenas 10 segundos.
09:01Eu sou professor de educação física.
09:05Eu fumei a minha academia, na verdade.
09:07Nesse mundo da droga que mais me incomoda é ver...
09:11Crianças.
09:15O negar é ver crianças usando droga.
09:17E chegar pra mim e pedir o cachimbo.
09:22E eu não poder negar, porque se eu negar, o outro ali vai negar, mas vai bater.
09:26São pessoas que estão se ajoelhando por um pedaço de droga.
09:41Então, na verdade, eu tô dominado por um pedacinho de pedra.
09:49Esse pedacinho, ele me comanda.
09:51É 24 por 48, não para.
09:53É o fluxo.
09:56O fluxo, na gíria dos viciados, é onde centenas de pessoas fumam crack ao mesmo tempo.
10:05Na Cracolândia, 91% dos usuários de crack são homens e apenas 9% são mulheres.
10:13Você vai encontrar pessoas falando sozinha, pessoas que já estão doidas, gente bilíngue.
10:21Várias tribos, várias regiões, estados.
10:25Por quem passou pelo sistema carcerário, o Carandiru, o Carandiru é a Disneylândia, perto da Cracolândia.
10:33Em média, os usuários têm 36 anos, são de cor parda e cursaram apenas o ensino fundamental.
10:41O que tem de bom, Lácio?
10:46Ah, droga!
10:47De bom?
10:50Pessoas que ainda não cantam, né?
10:53Pessoas que ainda não dão risada, conversam, contam piada, contam histórias.
10:59Pessoas que ainda também têm esperança de viver ainda uma vida melhor.
11:03Pessoas que ainda não têm esperança de ser maisED à partir da F nos Leeuva.
11:08Por que exatamente, sabe?