A Ilha na História do Brasil (Revista Vida Juvenil - 1951)

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A ILHA NA HISTÓRIA DO BRASIL
Prof. FERNANDO BARRETO MACHADO.

VIDA JUVENIL
15 de Novembro-1951 — Pág. 47
Supervlsao do Prof. NEY CIDADE PALMEIRO.

Esparsas pelo litoral, mais ou menos afastadas, as ilhas têm representado, na história do Brasil, um papel importante e curioso.
Pela própria situação geográfica foram um convite ao invasor, uma base mais firme, pois que o mar as defendia dos perigos de agressões inesperadas.
O progresso as fortificou, transformando-as em sentinelas aguerridas. Foram, e continuam sendo, sítios de recreio e descanso; mirantes das lindas paisagens marinhas, inspiradoras de lendas e, num reverso doloroso, asilo seguro para prisioneiros.

O nosso próprio Brasil, tão grande, é, pela primeira vez, designado aos povos ocidentais pelo topônimo «Ilha de Vera Cruz».

Foi a fantástica ilusão dos descobridores, talvez obcecados pela Guanahani do genovês.
Num ilhéu — o da «Coroa Vermelha» - também pela primeira vez, um sacerdote católico — Frei Henrique de Coimbra — pronunciou as palavras litúrgicas da missa, presagiando a comovedora colheita de almas, que os jesuítas iriam empreender entre os gentios.

Em recompensa a trabalhos relevantes era comum, nos séculos XVI e XVII, a doação de ilhas, por parte do rei aos vassalos da coroa : Fernão de Noronha é entregue, em 1504, sob a designação de S. João, ao seu descobridor, cujo nome tomaria; Ascenção, hoje Trindade,
a Belchior Camacho e Marajó, em 1655, a António de Souza Macedo.

Nem só a privilegiada situação ante o colosso fluvial, que é o Amazonas, nem mesmo seus rebanhos célebres de gado bovino trouxeram a Marajó seu renome entre as ilhas brasileiras. Mereceu-o pela cerâmica de seus primitivos habitantes, que marcou, no gênero, o inconfundível estilo marajoara.

Vila de Vitória foi erguida, em 1558, por Vasco Fernandes Coutinho na ilha fronteiriça à capitania que recebera de D. João III, e fora numa ilha a das Palmas que Marfim Afonso de Souza esperou seu irmão Pero Lopes, por ele enviado a explorar o Rio da Prata.

Generosas ilhas estrangeiras contribui-ram para o progresso do Brasil-menino : a Madeira e os Açores enviaram cana de açúcar e as de Cabo-Verde as primeiras cabeças de gado.
Para as ilhas Canárias se volta o coração brasileiro agradecido ante o presente régio, o mais precioso que jamais lhe ofertaram : José de Anchieta.

Ilhas houve que se mancharam de sangue, naqueles tempos bárbaros de canibalismo : em Itaparica, foram trucidados, pelos tupinambás, Francisco Pereira Coutinho, donatário da Bahia, e seus companheiros de naufrágio; nos Baixios de Dom Rodrigo conheceu o martírio, entre os caetés, D. Pero Fernandes, 1° bispo do Brasil.

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