O Povo Brasileiro - Ep. 04/10: Encontros e Desencontros

  • há 3 anos
O Povo Brasileiro

Ep. 04/10: Encontros e Desencontros

No capítulo 4 de “O Povo Brasileiro”, as três matrizes se encontram, no que Darcy chama de uma cultura de retalhos, sementeira cultural de gentes, fusão genética e espiritual “que nos plasmou como povo mestiço, herdeiros de todas as taras e talentos da humanidade”.
No primeiro ato, portugueses, índios e índias. Para os homens, o trabalho, o aprendizado do primeiro desmatamento, na troca de pau-brasil por espelhos e missangas. Para as mulheres, o sexo e a produção de crianças condenadas ao que Darcy chama de “ninguendade”. Nem índios, nem portugueses, entregues à catequese que mistura crianças de diferentes povos, de diferentes línguas, forçando-os ao uso do português e à aculturação, para se submeterem. Genocídio, etnocídio e ainda uma verdadeira guerra biológica, que dizima, mata.
No segundo ato, o escambo se transforma em escravidão. E agora já não será mais Caramuru com suas 30 mulheres, mas o estupro claro e impiedoso, produzindo novas forças de trabalho e novas meninas a serem violentadas. No trecho de “Benguelê, do Grupo Corpo, o movimento repetitivo e cansado, atravessando o palco, expressa melhor que nada a violência da submissão pelo cansaço.
Este programa será dedicado ao tema da gestação étnica de um povo novo - o povo brasileiro -, configurando-se num processo de mestiçagem permanente, desde o momento em que o primeiro europeu passou por aqui. De saída, a mistura luso-ameríndia. Os náufragos e degredados gerando filhos mestiços nas redes ou "inis" das cunhãs tupinambás. Nascem assim os mamelucos ou brasilíndios, espraiando-se por todo o litoral brasílico, para militar nas "bandeiras" ou formar núcleos habitacionais na orla marítima do Rio de Janeiro ou do Maranhão. Em seguida, os cruzamentos entre portugueses e negros e entre negros e índios. São os mulatos e cafuzos que vão se multiplicando pelo território conquistado ou em vias de conquista. Tais mestiços já não eram brancos, nem índios, nem negros. "O brasilíndio como o afro-brasileiro existiam numa terra de ninguém, etnicamente falando, e é a partir dessa carência essencial, para livrar-se da “ninguendade” de não-índios, não-europeus e não-negros, que eles se veem forçados a criar sua própria identidade étnica: a brasileira", sustenta a tese central de Darcy Ribeiro. Do plano físico ao espiritual, define-se aí de fato, e desde os primeiros tempos coloniais, a personalidade do Brasil como sociedade mestiça e sincrética dos trópicos, distinta das matrizes que lhe deram origem.

Título: O Povo Brasileiro
Ano de produção: 2000
Direção: Isa Grinspum Ferraz
Elenco: Chico Buarque, Gilberto Gil, Luiz Melodia, Darcy Ribeiro, Antonio Candido, Tom Zé, Aziz Ab´Saber, Judith Cortesão

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