Yavuz Baydar: "o sistema judicial turco está desatualizado"

  • há 7 anos
A euronews entrevistou o jornalista veterano turco Yavuz Baydar sobre a tentativa de golpe de Estado falhado, no ano passado, na Turquia.

euronews: “Na noite de 15 de julho de 2016, o povo turco enfrentou os golpistas e protegeu a democracia. Um ano depois como está a democracia na Turquia?”

Yavuz Baydar: “A tentativa de golpe de Estado fez do último ano um pesadelo. O que restava da democracia turca afundou-se numa noite. Foi como uma missão suicida coletiva lançada por um grupo de militares vampiros. Mas, as coisas continuaram com um contragolpe. A questão principal continua a ser a de saber se a tentativa de golpe e a revolta militar podiam ter sido evitadas. Ainda não conseguimos ter resposta a essa pergunta”.

euronews: “Qual foi a reação da comunicação social na noite do golpe e depois do golpe?”

Yavuz Baydar: “A cobertura em direto dos meios de comunicação social, nessa noite, foi dinâmica e bastante reativa. Mas, temos de olhar para as coisas numa perspetiva mais alargada e analisar a cobertura nos dias, semanas e meses seguintes. A comunicação social não foi capaz de colocar as várias questões às partes envolvidas na situação. A tentativa de golpe e os seus desenvolvimentos não foram verdadeiramente questionados. Infelizmente, o sistema judicial turco está desatualizado e tem criado sempre problemas. Foi assim nos anos 80 e nos anos 90 e assim continua. Houve muitos casos deste tipo, no passado, como o julgamento em que o próprio Erdoğan foi condenado e preso por ler um poema, o caso Ergenekon, o caso Sledgehamer e as últimas tentativas de golpe. Em nenhum destes casos houve justiça. Penso que o princípio fundamental é a responsabilidade criminal individual. Se há um crime grave, o sistema judicial tem de encontrar cada um dos culpados e obter provas convincentes, só levando a julgamento e condenando as pessoas realmente culpadas. Caso contrário, tal como já aconteceu no passado, o que se passa é que as pessoas são divididas em grupos, todas as pessoas consideradas como parte desses grupos são colocadas no mesmo cesto e detidas durante meses e anos, o que é contrário aos tratados europeus de direitos humanos. Não é possível ter justiça dessa maneira”.

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